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É Tudo Verdade 2014: Curta intimista traz história de garota vietnamita que busca seu papel na vida do pai


Por Adriana Plut

Pesquisa, roteiro, produção, fotografia, som, direção, edição... Essas são apenas algumas etapas de qualquer filme. Em um set de filmagem, cada um deve se preocupar com a sua função para que o trabalho de todos dê resultado. Cinema é trabalho em equipe. Mas há exceções. Prova disso é o novo curta do diretor Mauricio Osaki, "A Poeira de Suas Fotos", exibido na Competição de Curtas Metragens do Festival É Tudo Verdade. Foi graças a sua habilidade de trafegar por todas as áreas que Osaki conseguiu realizar o curta sobre uma garota vietnamita que busca encontrar seu papel na vida do pai. Prestes a completar 20 anos, a jovem fotógrafa Tien percebe que não tem fotos ao lado de seu pai, talvez apenas uma, em que ela mal consegue se reconhecer. Osaki acompanha a busca de Tien por sua identidade, registrando momentos da vida da menina: conversas com os parentes e amigos, suas voltas pela capital vietnamita e a preparação de uma exibição. Tudo de modo observacional, ou seja, sem a ação do investigador - Osaki, no caso. O resultado são momentos intimistas, como uma briga de Tien com seu pai durante um jantar ou uma conversa reveladora que tem com sua mãe enquanto esta a ajuda a tingir o cabelo. Cenas como estas não poderiam ter sido gravadas por uma equipe que não fosse de um homem só. Aí que reside a beleza de "A Poeira de Suas Fotos". Nesta entrevista, Mauricio Osaki conta como encontrou a história de Tien, fala sobre os desafios de gravar uma produção sozinho e de sua relação com a Ásia.

Este foi o seu segundo curta gravado no Vietnã. O primeiro foi a ficção "O Caminhão do Meu Pai", selecionado para o Festival de Berlim de 2013. Você pode falar um pouco sobre a sua relação com o país? Por que escolheu o Vintes como locação de seus dois últimos filmes? Eu estava fazendo meu mestrado na Universidade de Nova York (NYU) e além do campus em NYC eles têm também um campus na Ásia, na cidade de Cingapura. Eu achei que me mudar para o campus de Cingapura seria uma oportunidade única de viver na Ásia e poder viajar pelo continente de onde vieram meus avós. Então nestas viagens pela Ásia e em especial pelo sudeste asiático eu fui parar no interior de Vietnã. Foi uma surpresa enorme ver tantas similaridades pelo interior do país com o interior do próprio Brasil, onde as pessoas ainda vivem uma vida mais rural, com pouca infraestrutura, muita informalidade e muita dureza. Isso me motivou a escrever o roteiro do curta "O Caminhão do Meu Pai", que rodamos no final de 2012. Durante o processo de preparação eu fiquei morando três meses no Vietnã e conheci pessoas incríveis que colaboraram no filme ou simplesmente circulavam na cena artística contemporânea do país. Uma destas pessoas foi a jovem fotógrafa Thuy Tien. Ela me contou que gostava muito do roteiro do "O Caminhão do Meu Pai" porque ela mesmo havia tido uma relação complicado com o pai. Quando ela me contou em detalhes sobre o desaparecimento do pai eu achei incrível e sabia que havia uma história ali que também merecia ser contada. E isso sempre me ficou na cabeça. No final de 2013 eu voltei à Hanói para apresentar o curta em uma sessão especial na cinemateca e estava também pesquisando para o projeto de longa "Os Caminhos do Meu Pai", baseado no curta. Ao mesmo tempo a Tien estava fazendo uma exposição sobre o pai dela, e eu achei que foi o momento perfeito para filmarmos essa história.

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A história da Tien e da relação dela com o pai é contada de uma maneira muito poética e observacional. Chama a atenção as cenas íntimas que você foi capaz de gravar, como a briga dos dois durante o jantar ou aquela conversa da Tien com a mãe, enquanto tinge o cabelo. Como você conseguiu esse efeito tão intimista? Isso foi possível graças à escolha do processo de gravação e minha amizade profunda com a Tien. Somos amigos desde que filmei o curta e sempre mantivemos contato. Eu falei que se fossemos gravar o documentário eu precisaria ficar o mais próximo possível e gostaria de ter acesso a vida dela. Isso exigiria confiança de ambas as partes. O fato de a equipe ser somente eu ajudou também. Eu já conhecia a família dela, e passávamos a tarde juntos quando possível. Eu a visitava durante a preparação da exposição e as vezes íamos jantar na sua casa.  Como meu equipamento era leve e cabia em uma mochila eu podia sacar a câmera e fazer imagens a qualquer momento. No começo talvez era estranho para ela, e as vezes a Tien me falava diretamente ; "Não quero que você grave isso!" , mas aos poucos fomos nos ajustando e ficou claro para ela que esta não seria a história dela, mas o meu ponto de vista.  Um fato que também ajudou por mais estranho que possa parecer, é que eu não entendo a língua, logo ela se sentia mais a vontade para discutir com o pai ou conversar com a mãe, sendo que eu só entenderia todo o contexto depois. No entanto, assim como no curta "O Caminhão do Meu Pai" eu acho que a linguagem corporal, os gestos e os sentimentos são sempre visuais e era totalmente possível eu compreender que tipo de interação estava ocorrendo na minha frente. No total foram mais de 2 meses gravando, acompanhando-a no processo de criação da exposição dela, junto com a família e amigos.

Você foi para o Vietnã com outra ideia, não foi? Eu também tinha um projeto com o Trung Anh, um dos atores de "O Caminhão do Meu Pai", que era gravar a viagem que ele faz todo ano até o túmulo da família, que fica em uma cidade do interior. Ele foi um dos poucos sobreviventes de um bombardeio aéreo durante a guerra, e o túmulo da família virou o fio de conexão deles com o passado. Então eu já havia levado uma pequena câmera e um gravador de áudio.  Eu acabei gravando bastante material para a pesquisa do longa, e a estória da Tien faz parte deste material. Ainda vou cortar o material que fiz com o Trung Anh e algumas outras entrevistas.

Você foi o responsável pela fotografia e pelo som do curta. Considera que isso te ajudou a entrar na intimidade da família? Isto foi fundamental. Se tivéssemos uma "equipe", mesmo que fossem três pessoas, isso já destruiria toda a situação, além de fisicamente ser impossível gravar da maneira como eu gravei. Na cena que ela conversa com a mãe dela, eu me sentei ali atrás da banheira, coloquei a câmera apoiada no meu joelho e fiquei gravando, enquanto a Tien tingia o cabelo, por exemplo.

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Você assina também o roteiro, montagem e, é claro, a direção. Quais as vantagens e desvantagens de trabalhar assim? Alguma área te interessa mais? Também trafega entre o documentário e a ficção. Algum gênero te interessa mais? Eu gosto muito de contar histórias que acho necessárias e me identifico. A história da Tien era importante ser contada, me diz muito sobre o país onde seu pai nasceu e quão diferente é do que ela nasceu.  As estruturas familiares no sudeste asiático e no mundo. Eu também encontro uma ressonância em minha própria família parte ocidental, parte oriental. As vezes é possível ter uma equipe de fotografia como no curta. Eu adoro trabalhar com o Pierre de Kerchove (fotógrafo), a gente se da super bem no set e com certeza ele vai fotografar meu longa. Mas é impossível eu pedir para ele ficar comigo dois meses no Vietnam gravando pesquisa para o longa. O mesmo vale para o som. Cada projeto tem uma necessidade diferente. Neste eu acho que o estilo "um homem só" foi o mais adequado. Eu adoro fotografar também, o que vai no quadro é tão importante quanto o que fica fora e isso é um exercício de direção incrível. Eu gosto de pensar nas lentes que vou usar, qual vai ser o "design" do filme e tudo. Mas em um filme maior é necessário uma equipe, colaboradores em todas as áreas, então tudo vai depender do projeto. Em relação a ficção-documentário, um alimenta-se do outro, as pessoas esperam uma certa lógica na ficção, já na vida, os fatos ocorrem ao acaso, e eu busco dar um sentido quando eu faço a montagem, não um significado final, apenas meu ponto de vista sobre aqueles eventos.

Pesquisa, roteiro, produção, fotografia, som, direção, edição... Essas são apenas algumas etapas de qualquer filme. Em um set de filmagem, cada um deve se preocupar com a sua função para que o trabalho de todos dê resultado. Cinema é trabalho em equipe. Mas há exceções. Prova disso é o novo curta do diretor Mauricio Osaki, "A Poeira de Suas Fotos", exibido na Competição de Curtas Metragens do Festival É Tudo Verdade. Foi graças a sua habilidade de trafegar por todas as áreas que Osaki conseguiu realizar o curta sobre uma garota vietnamita que busca encontrar seu papel na vida do pai. Prestes a completar 20 anos, a jovem fotógrafa Tien percebe que não tem fotos ao lado de seu pai, talvez apenas uma, em que ela mal consegue se reconhecer. Osaki acompanha a busca de Tien por sua identidade, registrando momentos da vida da menina: conversas com os parentes e amigos, suas voltas pela capital vietnamita e a preparação de uma exibição. Tudo de modo observacional, ou seja, sem a ação do investigador - Osaki, no caso. O resultado são momentos intimistas, como uma briga de Tien com seu pai durante um jantar ou uma conversa reveladora que tem com sua mãe enquanto esta a ajuda a tingir o cabelo. Cenas como estas não poderiam ter sido gravadas por uma equipe que não fosse de um homem só. Aí que reside a beleza de "A Poeira de Suas Fotos". Nesta entrevista, Mauricio Osaki conta como encontrou a história de Tien, fala sobre os desafios de gravar uma produção sozinho e de sua relação com a Ásia.

Este foi o seu segundo curta gravado no Vietnã. O primeiro foi a ficção "O Caminhão do Meu Pai", selecionado para o Festival de Berlim de 2013. Você pode falar um pouco sobre a sua relação com o país? Por que escolheu o Vintes como locação de seus dois últimos filmes? Eu estava fazendo meu mestrado na Universidade de Nova York (NYU) e além do campus em NYC eles têm também um campus na Ásia, na cidade de Cingapura. Eu achei que me mudar para o campus de Cingapura seria uma oportunidade única de viver na Ásia e poder viajar pelo continente de onde vieram meus avós. Então nestas viagens pela Ásia e em especial pelo sudeste asiático eu fui parar no interior de Vietnã. Foi uma surpresa enorme ver tantas similaridades pelo interior do país com o interior do próprio Brasil, onde as pessoas ainda vivem uma vida mais rural, com pouca infraestrutura, muita informalidade e muita dureza. Isso me motivou a escrever o roteiro do curta "O Caminhão do Meu Pai", que rodamos no final de 2012. Durante o processo de preparação eu fiquei morando três meses no Vietnã e conheci pessoas incríveis que colaboraram no filme ou simplesmente circulavam na cena artística contemporânea do país. Uma destas pessoas foi a jovem fotógrafa Thuy Tien. Ela me contou que gostava muito do roteiro do "O Caminhão do Meu Pai" porque ela mesmo havia tido uma relação complicado com o pai. Quando ela me contou em detalhes sobre o desaparecimento do pai eu achei incrível e sabia que havia uma história ali que também merecia ser contada. E isso sempre me ficou na cabeça. No final de 2013 eu voltei à Hanói para apresentar o curta em uma sessão especial na cinemateca e estava também pesquisando para o projeto de longa "Os Caminhos do Meu Pai", baseado no curta. Ao mesmo tempo a Tien estava fazendo uma exposição sobre o pai dela, e eu achei que foi o momento perfeito para filmarmos essa história.

A história da Tien e da relação dela com o pai é contada de uma maneira muito poética e observacional. Chama a atenção as cenas íntimas que você foi capaz de gravar, como a briga dos dois durante o jantar ou aquela conversa da Tien com a mãe, enquanto tinge o cabelo. Como você conseguiu esse efeito tão intimista? Isso foi possível graças à escolha do processo de gravação e minha amizade profunda com a Tien. Somos amigos desde que filmei o curta e sempre mantivemos contato. Eu falei que se fossemos gravar o documentário eu precisaria ficar o mais próximo possível e gostaria de ter acesso a vida dela. Isso exigiria confiança de ambas as partes. O fato de a equipe ser somente eu ajudou também. Eu já conhecia a família dela, e passávamos a tarde juntos quando possível. Eu a visitava durante a preparação da exposição e as vezes íamos jantar na sua casa.  Como meu equipamento era leve e cabia em uma mochila eu podia sacar a câmera e fazer imagens a qualquer momento. No começo talvez era estranho para ela, e as vezes a Tien me falava diretamente ; "Não quero que você grave isso!" , mas aos poucos fomos nos ajustando e ficou claro para ela que esta não seria a história dela, mas o meu ponto de vista.  Um fato que também ajudou por mais estranho que possa parecer, é que eu não entendo a língua, logo ela se sentia mais a vontade para discutir com o pai ou conversar com a mãe, sendo que eu só entenderia todo o contexto depois. No entanto, assim como no curta "O Caminhão do Meu Pai" eu acho que a linguagem corporal, os gestos e os sentimentos são sempre visuais e era totalmente possível eu compreender que tipo de interação estava ocorrendo na minha frente. No total foram mais de 2 meses gravando, acompanhando-a no processo de criação da exposição dela, junto com a família e amigos.

Você foi para o Vietnã com outra ideia, não foi? Eu também tinha um projeto com o Trung Anh, um dos atores de "O Caminhão do Meu Pai", que era gravar a viagem que ele faz todo ano até o túmulo da família, que fica em uma cidade do interior. Ele foi um dos poucos sobreviventes de um bombardeio aéreo durante a guerra, e o túmulo da família virou o fio de conexão deles com o passado. Então eu já havia levado uma pequena câmera e um gravador de áudio.  Eu acabei gravando bastante material para a pesquisa do longa, e a estória da Tien faz parte deste material. Ainda vou cortar o material que fiz com o Trung Anh e algumas outras entrevistas.

Você foi o responsável pela fotografia e pelo som do curta. Considera que isso te ajudou a entrar na intimidade da família? Isto foi fundamental. Se tivéssemos uma "equipe", mesmo que fossem três pessoas, isso já destruiria toda a situação, além de fisicamente ser impossível gravar da maneira como eu gravei. Na cena que ela conversa com a mãe dela, eu me sentei ali atrás da banheira, coloquei a câmera apoiada no meu joelho e fiquei gravando, enquanto a Tien tingia o cabelo, por exemplo.

Você assina também o roteiro, montagem e, é claro, a direção. Quais as vantagens e desvantagens de trabalhar assim? Alguma área te interessa mais? Também trafega entre o documentário e a ficção. Algum gênero te interessa mais? Eu gosto muito de contar histórias que acho necessárias e me identifico. A história da Tien era importante ser contada, me diz muito sobre o país onde seu pai nasceu e quão diferente é do que ela nasceu.  As estruturas familiares no sudeste asiático e no mundo. Eu também encontro uma ressonância em minha própria família parte ocidental, parte oriental. As vezes é possível ter uma equipe de fotografia como no curta. Eu adoro trabalhar com o Pierre de Kerchove (fotógrafo), a gente se da super bem no set e com certeza ele vai fotografar meu longa. Mas é impossível eu pedir para ele ficar comigo dois meses no Vietnam gravando pesquisa para o longa. O mesmo vale para o som. Cada projeto tem uma necessidade diferente. Neste eu acho que o estilo "um homem só" foi o mais adequado. Eu adoro fotografar também, o que vai no quadro é tão importante quanto o que fica fora e isso é um exercício de direção incrível. Eu gosto de pensar nas lentes que vou usar, qual vai ser o "design" do filme e tudo. Mas em um filme maior é necessário uma equipe, colaboradores em todas as áreas, então tudo vai depender do projeto. Em relação a ficção-documentário, um alimenta-se do outro, as pessoas esperam uma certa lógica na ficção, já na vida, os fatos ocorrem ao acaso, e eu busco dar um sentido quando eu faço a montagem, não um significado final, apenas meu ponto de vista sobre aqueles eventos.

Pesquisa, roteiro, produção, fotografia, som, direção, edição... Essas são apenas algumas etapas de qualquer filme. Em um set de filmagem, cada um deve se preocupar com a sua função para que o trabalho de todos dê resultado. Cinema é trabalho em equipe. Mas há exceções. Prova disso é o novo curta do diretor Mauricio Osaki, "A Poeira de Suas Fotos", exibido na Competição de Curtas Metragens do Festival É Tudo Verdade. Foi graças a sua habilidade de trafegar por todas as áreas que Osaki conseguiu realizar o curta sobre uma garota vietnamita que busca encontrar seu papel na vida do pai. Prestes a completar 20 anos, a jovem fotógrafa Tien percebe que não tem fotos ao lado de seu pai, talvez apenas uma, em que ela mal consegue se reconhecer. Osaki acompanha a busca de Tien por sua identidade, registrando momentos da vida da menina: conversas com os parentes e amigos, suas voltas pela capital vietnamita e a preparação de uma exibição. Tudo de modo observacional, ou seja, sem a ação do investigador - Osaki, no caso. O resultado são momentos intimistas, como uma briga de Tien com seu pai durante um jantar ou uma conversa reveladora que tem com sua mãe enquanto esta a ajuda a tingir o cabelo. Cenas como estas não poderiam ter sido gravadas por uma equipe que não fosse de um homem só. Aí que reside a beleza de "A Poeira de Suas Fotos". Nesta entrevista, Mauricio Osaki conta como encontrou a história de Tien, fala sobre os desafios de gravar uma produção sozinho e de sua relação com a Ásia.

Este foi o seu segundo curta gravado no Vietnã. O primeiro foi a ficção "O Caminhão do Meu Pai", selecionado para o Festival de Berlim de 2013. Você pode falar um pouco sobre a sua relação com o país? Por que escolheu o Vintes como locação de seus dois últimos filmes? Eu estava fazendo meu mestrado na Universidade de Nova York (NYU) e além do campus em NYC eles têm também um campus na Ásia, na cidade de Cingapura. Eu achei que me mudar para o campus de Cingapura seria uma oportunidade única de viver na Ásia e poder viajar pelo continente de onde vieram meus avós. Então nestas viagens pela Ásia e em especial pelo sudeste asiático eu fui parar no interior de Vietnã. Foi uma surpresa enorme ver tantas similaridades pelo interior do país com o interior do próprio Brasil, onde as pessoas ainda vivem uma vida mais rural, com pouca infraestrutura, muita informalidade e muita dureza. Isso me motivou a escrever o roteiro do curta "O Caminhão do Meu Pai", que rodamos no final de 2012. Durante o processo de preparação eu fiquei morando três meses no Vietnã e conheci pessoas incríveis que colaboraram no filme ou simplesmente circulavam na cena artística contemporânea do país. Uma destas pessoas foi a jovem fotógrafa Thuy Tien. Ela me contou que gostava muito do roteiro do "O Caminhão do Meu Pai" porque ela mesmo havia tido uma relação complicado com o pai. Quando ela me contou em detalhes sobre o desaparecimento do pai eu achei incrível e sabia que havia uma história ali que também merecia ser contada. E isso sempre me ficou na cabeça. No final de 2013 eu voltei à Hanói para apresentar o curta em uma sessão especial na cinemateca e estava também pesquisando para o projeto de longa "Os Caminhos do Meu Pai", baseado no curta. Ao mesmo tempo a Tien estava fazendo uma exposição sobre o pai dela, e eu achei que foi o momento perfeito para filmarmos essa história.

A história da Tien e da relação dela com o pai é contada de uma maneira muito poética e observacional. Chama a atenção as cenas íntimas que você foi capaz de gravar, como a briga dos dois durante o jantar ou aquela conversa da Tien com a mãe, enquanto tinge o cabelo. Como você conseguiu esse efeito tão intimista? Isso foi possível graças à escolha do processo de gravação e minha amizade profunda com a Tien. Somos amigos desde que filmei o curta e sempre mantivemos contato. Eu falei que se fossemos gravar o documentário eu precisaria ficar o mais próximo possível e gostaria de ter acesso a vida dela. Isso exigiria confiança de ambas as partes. O fato de a equipe ser somente eu ajudou também. Eu já conhecia a família dela, e passávamos a tarde juntos quando possível. Eu a visitava durante a preparação da exposição e as vezes íamos jantar na sua casa.  Como meu equipamento era leve e cabia em uma mochila eu podia sacar a câmera e fazer imagens a qualquer momento. No começo talvez era estranho para ela, e as vezes a Tien me falava diretamente ; "Não quero que você grave isso!" , mas aos poucos fomos nos ajustando e ficou claro para ela que esta não seria a história dela, mas o meu ponto de vista.  Um fato que também ajudou por mais estranho que possa parecer, é que eu não entendo a língua, logo ela se sentia mais a vontade para discutir com o pai ou conversar com a mãe, sendo que eu só entenderia todo o contexto depois. No entanto, assim como no curta "O Caminhão do Meu Pai" eu acho que a linguagem corporal, os gestos e os sentimentos são sempre visuais e era totalmente possível eu compreender que tipo de interação estava ocorrendo na minha frente. No total foram mais de 2 meses gravando, acompanhando-a no processo de criação da exposição dela, junto com a família e amigos.

Você foi para o Vietnã com outra ideia, não foi? Eu também tinha um projeto com o Trung Anh, um dos atores de "O Caminhão do Meu Pai", que era gravar a viagem que ele faz todo ano até o túmulo da família, que fica em uma cidade do interior. Ele foi um dos poucos sobreviventes de um bombardeio aéreo durante a guerra, e o túmulo da família virou o fio de conexão deles com o passado. Então eu já havia levado uma pequena câmera e um gravador de áudio.  Eu acabei gravando bastante material para a pesquisa do longa, e a estória da Tien faz parte deste material. Ainda vou cortar o material que fiz com o Trung Anh e algumas outras entrevistas.

Você foi o responsável pela fotografia e pelo som do curta. Considera que isso te ajudou a entrar na intimidade da família? Isto foi fundamental. Se tivéssemos uma "equipe", mesmo que fossem três pessoas, isso já destruiria toda a situação, além de fisicamente ser impossível gravar da maneira como eu gravei. Na cena que ela conversa com a mãe dela, eu me sentei ali atrás da banheira, coloquei a câmera apoiada no meu joelho e fiquei gravando, enquanto a Tien tingia o cabelo, por exemplo.

Você assina também o roteiro, montagem e, é claro, a direção. Quais as vantagens e desvantagens de trabalhar assim? Alguma área te interessa mais? Também trafega entre o documentário e a ficção. Algum gênero te interessa mais? Eu gosto muito de contar histórias que acho necessárias e me identifico. A história da Tien era importante ser contada, me diz muito sobre o país onde seu pai nasceu e quão diferente é do que ela nasceu.  As estruturas familiares no sudeste asiático e no mundo. Eu também encontro uma ressonância em minha própria família parte ocidental, parte oriental. As vezes é possível ter uma equipe de fotografia como no curta. Eu adoro trabalhar com o Pierre de Kerchove (fotógrafo), a gente se da super bem no set e com certeza ele vai fotografar meu longa. Mas é impossível eu pedir para ele ficar comigo dois meses no Vietnam gravando pesquisa para o longa. O mesmo vale para o som. Cada projeto tem uma necessidade diferente. Neste eu acho que o estilo "um homem só" foi o mais adequado. Eu adoro fotografar também, o que vai no quadro é tão importante quanto o que fica fora e isso é um exercício de direção incrível. Eu gosto de pensar nas lentes que vou usar, qual vai ser o "design" do filme e tudo. Mas em um filme maior é necessário uma equipe, colaboradores em todas as áreas, então tudo vai depender do projeto. Em relação a ficção-documentário, um alimenta-se do outro, as pessoas esperam uma certa lógica na ficção, já na vida, os fatos ocorrem ao acaso, e eu busco dar um sentido quando eu faço a montagem, não um significado final, apenas meu ponto de vista sobre aqueles eventos.

Pesquisa, roteiro, produção, fotografia, som, direção, edição... Essas são apenas algumas etapas de qualquer filme. Em um set de filmagem, cada um deve se preocupar com a sua função para que o trabalho de todos dê resultado. Cinema é trabalho em equipe. Mas há exceções. Prova disso é o novo curta do diretor Mauricio Osaki, "A Poeira de Suas Fotos", exibido na Competição de Curtas Metragens do Festival É Tudo Verdade. Foi graças a sua habilidade de trafegar por todas as áreas que Osaki conseguiu realizar o curta sobre uma garota vietnamita que busca encontrar seu papel na vida do pai. Prestes a completar 20 anos, a jovem fotógrafa Tien percebe que não tem fotos ao lado de seu pai, talvez apenas uma, em que ela mal consegue se reconhecer. Osaki acompanha a busca de Tien por sua identidade, registrando momentos da vida da menina: conversas com os parentes e amigos, suas voltas pela capital vietnamita e a preparação de uma exibição. Tudo de modo observacional, ou seja, sem a ação do investigador - Osaki, no caso. O resultado são momentos intimistas, como uma briga de Tien com seu pai durante um jantar ou uma conversa reveladora que tem com sua mãe enquanto esta a ajuda a tingir o cabelo. Cenas como estas não poderiam ter sido gravadas por uma equipe que não fosse de um homem só. Aí que reside a beleza de "A Poeira de Suas Fotos". Nesta entrevista, Mauricio Osaki conta como encontrou a história de Tien, fala sobre os desafios de gravar uma produção sozinho e de sua relação com a Ásia.

Este foi o seu segundo curta gravado no Vietnã. O primeiro foi a ficção "O Caminhão do Meu Pai", selecionado para o Festival de Berlim de 2013. Você pode falar um pouco sobre a sua relação com o país? Por que escolheu o Vintes como locação de seus dois últimos filmes? Eu estava fazendo meu mestrado na Universidade de Nova York (NYU) e além do campus em NYC eles têm também um campus na Ásia, na cidade de Cingapura. Eu achei que me mudar para o campus de Cingapura seria uma oportunidade única de viver na Ásia e poder viajar pelo continente de onde vieram meus avós. Então nestas viagens pela Ásia e em especial pelo sudeste asiático eu fui parar no interior de Vietnã. Foi uma surpresa enorme ver tantas similaridades pelo interior do país com o interior do próprio Brasil, onde as pessoas ainda vivem uma vida mais rural, com pouca infraestrutura, muita informalidade e muita dureza. Isso me motivou a escrever o roteiro do curta "O Caminhão do Meu Pai", que rodamos no final de 2012. Durante o processo de preparação eu fiquei morando três meses no Vietnã e conheci pessoas incríveis que colaboraram no filme ou simplesmente circulavam na cena artística contemporânea do país. Uma destas pessoas foi a jovem fotógrafa Thuy Tien. Ela me contou que gostava muito do roteiro do "O Caminhão do Meu Pai" porque ela mesmo havia tido uma relação complicado com o pai. Quando ela me contou em detalhes sobre o desaparecimento do pai eu achei incrível e sabia que havia uma história ali que também merecia ser contada. E isso sempre me ficou na cabeça. No final de 2013 eu voltei à Hanói para apresentar o curta em uma sessão especial na cinemateca e estava também pesquisando para o projeto de longa "Os Caminhos do Meu Pai", baseado no curta. Ao mesmo tempo a Tien estava fazendo uma exposição sobre o pai dela, e eu achei que foi o momento perfeito para filmarmos essa história.

A história da Tien e da relação dela com o pai é contada de uma maneira muito poética e observacional. Chama a atenção as cenas íntimas que você foi capaz de gravar, como a briga dos dois durante o jantar ou aquela conversa da Tien com a mãe, enquanto tinge o cabelo. Como você conseguiu esse efeito tão intimista? Isso foi possível graças à escolha do processo de gravação e minha amizade profunda com a Tien. Somos amigos desde que filmei o curta e sempre mantivemos contato. Eu falei que se fossemos gravar o documentário eu precisaria ficar o mais próximo possível e gostaria de ter acesso a vida dela. Isso exigiria confiança de ambas as partes. O fato de a equipe ser somente eu ajudou também. Eu já conhecia a família dela, e passávamos a tarde juntos quando possível. Eu a visitava durante a preparação da exposição e as vezes íamos jantar na sua casa.  Como meu equipamento era leve e cabia em uma mochila eu podia sacar a câmera e fazer imagens a qualquer momento. No começo talvez era estranho para ela, e as vezes a Tien me falava diretamente ; "Não quero que você grave isso!" , mas aos poucos fomos nos ajustando e ficou claro para ela que esta não seria a história dela, mas o meu ponto de vista.  Um fato que também ajudou por mais estranho que possa parecer, é que eu não entendo a língua, logo ela se sentia mais a vontade para discutir com o pai ou conversar com a mãe, sendo que eu só entenderia todo o contexto depois. No entanto, assim como no curta "O Caminhão do Meu Pai" eu acho que a linguagem corporal, os gestos e os sentimentos são sempre visuais e era totalmente possível eu compreender que tipo de interação estava ocorrendo na minha frente. No total foram mais de 2 meses gravando, acompanhando-a no processo de criação da exposição dela, junto com a família e amigos.

Você foi para o Vietnã com outra ideia, não foi? Eu também tinha um projeto com o Trung Anh, um dos atores de "O Caminhão do Meu Pai", que era gravar a viagem que ele faz todo ano até o túmulo da família, que fica em uma cidade do interior. Ele foi um dos poucos sobreviventes de um bombardeio aéreo durante a guerra, e o túmulo da família virou o fio de conexão deles com o passado. Então eu já havia levado uma pequena câmera e um gravador de áudio.  Eu acabei gravando bastante material para a pesquisa do longa, e a estória da Tien faz parte deste material. Ainda vou cortar o material que fiz com o Trung Anh e algumas outras entrevistas.

Você foi o responsável pela fotografia e pelo som do curta. Considera que isso te ajudou a entrar na intimidade da família? Isto foi fundamental. Se tivéssemos uma "equipe", mesmo que fossem três pessoas, isso já destruiria toda a situação, além de fisicamente ser impossível gravar da maneira como eu gravei. Na cena que ela conversa com a mãe dela, eu me sentei ali atrás da banheira, coloquei a câmera apoiada no meu joelho e fiquei gravando, enquanto a Tien tingia o cabelo, por exemplo.

Você assina também o roteiro, montagem e, é claro, a direção. Quais as vantagens e desvantagens de trabalhar assim? Alguma área te interessa mais? Também trafega entre o documentário e a ficção. Algum gênero te interessa mais? Eu gosto muito de contar histórias que acho necessárias e me identifico. A história da Tien era importante ser contada, me diz muito sobre o país onde seu pai nasceu e quão diferente é do que ela nasceu.  As estruturas familiares no sudeste asiático e no mundo. Eu também encontro uma ressonância em minha própria família parte ocidental, parte oriental. As vezes é possível ter uma equipe de fotografia como no curta. Eu adoro trabalhar com o Pierre de Kerchove (fotógrafo), a gente se da super bem no set e com certeza ele vai fotografar meu longa. Mas é impossível eu pedir para ele ficar comigo dois meses no Vietnam gravando pesquisa para o longa. O mesmo vale para o som. Cada projeto tem uma necessidade diferente. Neste eu acho que o estilo "um homem só" foi o mais adequado. Eu adoro fotografar também, o que vai no quadro é tão importante quanto o que fica fora e isso é um exercício de direção incrível. Eu gosto de pensar nas lentes que vou usar, qual vai ser o "design" do filme e tudo. Mas em um filme maior é necessário uma equipe, colaboradores em todas as áreas, então tudo vai depender do projeto. Em relação a ficção-documentário, um alimenta-se do outro, as pessoas esperam uma certa lógica na ficção, já na vida, os fatos ocorrem ao acaso, e eu busco dar um sentido quando eu faço a montagem, não um significado final, apenas meu ponto de vista sobre aqueles eventos.

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