Música clássica decodificada

Marc-André Hamelin na Sala São Paulo


Por Alvaro Siviero

Estou convencido de ter presenciado ontem um dos grandes momentos musicais da história da Sala São Paulo: o recital do pianista canadense Marc-André Hamelin. Detentor de técnica impecável, Hamelin deu seu recado. Apoiado em repertório eclético - Alban Berg, Fauré, Villa-Lobos e Rachmaninov -, os presentes comprovaram que o mito Hamelin tem motivos de sobra para ser mitificado.Ocorreu, durante a execução do pouco tocado Rudepoema, de Villa-Lobos, algo inusitado: percebi que, entre piano e pianista, eu havia perdido o controle de quem acionava e de quem era acionado. Piano e pianista, um diante do outro, pareciam fisicamente se complementar. Mais do que isso, tive a clara impressão de que o dono da bola era o piano. Hamelin somente o obedecia. E acabou ensinando a nós, brasileiros, como se interpreta Villa-Lobos. Seu Fauré, galante, leve, viajava pelos quatro cantos da sala. Ao final da primeira parte do programa, iniciada com sólida versão da Sonata n.1 do contemporâneo Alban Berg, a platéia ganhou consciência do que tinha visto. E, de pé, contundentemente, registrou um ardido aplauso para aquele momento.

A segunda parte do programa iniciou com um conjunto de variações, de sua autoria, sobre o Capricho n.24 de Paganini. Apareceu de tudo: jazz, trechos da quinta sinfonia de Beethoven (sim, aquela do tchã tchã tchã tchã), a célebre La Campanella e pedaços entrecortados de valsas vienenses. Uma senhora ao meu lado, que acompanhava com o olhar cada mínimo detalhe, chegou a segurar-se na cadeira, beirando o desequilíbrio. Em meio a um silêncio memorável por parte da platéia, os dedos de Hamelin se multiplicavam. O respeito do pianista pela arte educou forçosa e imediatamente aqueles que, talvez menos preparados, estivessem na sala por mera curiosidade. E quando o fôlego já havia se esgotado, iniciou-se outro tour de force pianístico: Rachmaninov, incluindo sua segunda sonata para piano. Indescritível. A sala veio abaixo. Como "token of gratitude", Debussy e Radamés Gnatalli.

Nos próximos dias 02, 03 e 04, Hamelin estará solando o Concerto n.19 para piano e orquestra, de Mozart, frente à OSESP. E, quem sabe, após seu Mozart ainda haja espaço para outros "token of gratitude".

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Contaram-me certa vez que a verdade artística sempre convence, impacta. Lembrei-me deste comentário quando, após o recital, deparei-me com o silêncio de alguns, com uma falta de desejo de falar de outros, um olhar mais distante e reflexivo de terceiros, ou até mesmo a euforia de muitos que, ainda em êxtase, vinham me cumprimentar. Eu optei pelo silêncio.

Estou convencido de ter presenciado ontem um dos grandes momentos musicais da história da Sala São Paulo: o recital do pianista canadense Marc-André Hamelin. Detentor de técnica impecável, Hamelin deu seu recado. Apoiado em repertório eclético - Alban Berg, Fauré, Villa-Lobos e Rachmaninov -, os presentes comprovaram que o mito Hamelin tem motivos de sobra para ser mitificado.Ocorreu, durante a execução do pouco tocado Rudepoema, de Villa-Lobos, algo inusitado: percebi que, entre piano e pianista, eu havia perdido o controle de quem acionava e de quem era acionado. Piano e pianista, um diante do outro, pareciam fisicamente se complementar. Mais do que isso, tive a clara impressão de que o dono da bola era o piano. Hamelin somente o obedecia. E acabou ensinando a nós, brasileiros, como se interpreta Villa-Lobos. Seu Fauré, galante, leve, viajava pelos quatro cantos da sala. Ao final da primeira parte do programa, iniciada com sólida versão da Sonata n.1 do contemporâneo Alban Berg, a platéia ganhou consciência do que tinha visto. E, de pé, contundentemente, registrou um ardido aplauso para aquele momento.

A segunda parte do programa iniciou com um conjunto de variações, de sua autoria, sobre o Capricho n.24 de Paganini. Apareceu de tudo: jazz, trechos da quinta sinfonia de Beethoven (sim, aquela do tchã tchã tchã tchã), a célebre La Campanella e pedaços entrecortados de valsas vienenses. Uma senhora ao meu lado, que acompanhava com o olhar cada mínimo detalhe, chegou a segurar-se na cadeira, beirando o desequilíbrio. Em meio a um silêncio memorável por parte da platéia, os dedos de Hamelin se multiplicavam. O respeito do pianista pela arte educou forçosa e imediatamente aqueles que, talvez menos preparados, estivessem na sala por mera curiosidade. E quando o fôlego já havia se esgotado, iniciou-se outro tour de force pianístico: Rachmaninov, incluindo sua segunda sonata para piano. Indescritível. A sala veio abaixo. Como "token of gratitude", Debussy e Radamés Gnatalli.

Nos próximos dias 02, 03 e 04, Hamelin estará solando o Concerto n.19 para piano e orquestra, de Mozart, frente à OSESP. E, quem sabe, após seu Mozart ainda haja espaço para outros "token of gratitude".

Contaram-me certa vez que a verdade artística sempre convence, impacta. Lembrei-me deste comentário quando, após o recital, deparei-me com o silêncio de alguns, com uma falta de desejo de falar de outros, um olhar mais distante e reflexivo de terceiros, ou até mesmo a euforia de muitos que, ainda em êxtase, vinham me cumprimentar. Eu optei pelo silêncio.

Estou convencido de ter presenciado ontem um dos grandes momentos musicais da história da Sala São Paulo: o recital do pianista canadense Marc-André Hamelin. Detentor de técnica impecável, Hamelin deu seu recado. Apoiado em repertório eclético - Alban Berg, Fauré, Villa-Lobos e Rachmaninov -, os presentes comprovaram que o mito Hamelin tem motivos de sobra para ser mitificado.Ocorreu, durante a execução do pouco tocado Rudepoema, de Villa-Lobos, algo inusitado: percebi que, entre piano e pianista, eu havia perdido o controle de quem acionava e de quem era acionado. Piano e pianista, um diante do outro, pareciam fisicamente se complementar. Mais do que isso, tive a clara impressão de que o dono da bola era o piano. Hamelin somente o obedecia. E acabou ensinando a nós, brasileiros, como se interpreta Villa-Lobos. Seu Fauré, galante, leve, viajava pelos quatro cantos da sala. Ao final da primeira parte do programa, iniciada com sólida versão da Sonata n.1 do contemporâneo Alban Berg, a platéia ganhou consciência do que tinha visto. E, de pé, contundentemente, registrou um ardido aplauso para aquele momento.

A segunda parte do programa iniciou com um conjunto de variações, de sua autoria, sobre o Capricho n.24 de Paganini. Apareceu de tudo: jazz, trechos da quinta sinfonia de Beethoven (sim, aquela do tchã tchã tchã tchã), a célebre La Campanella e pedaços entrecortados de valsas vienenses. Uma senhora ao meu lado, que acompanhava com o olhar cada mínimo detalhe, chegou a segurar-se na cadeira, beirando o desequilíbrio. Em meio a um silêncio memorável por parte da platéia, os dedos de Hamelin se multiplicavam. O respeito do pianista pela arte educou forçosa e imediatamente aqueles que, talvez menos preparados, estivessem na sala por mera curiosidade. E quando o fôlego já havia se esgotado, iniciou-se outro tour de force pianístico: Rachmaninov, incluindo sua segunda sonata para piano. Indescritível. A sala veio abaixo. Como "token of gratitude", Debussy e Radamés Gnatalli.

Nos próximos dias 02, 03 e 04, Hamelin estará solando o Concerto n.19 para piano e orquestra, de Mozart, frente à OSESP. E, quem sabe, após seu Mozart ainda haja espaço para outros "token of gratitude".

Contaram-me certa vez que a verdade artística sempre convence, impacta. Lembrei-me deste comentário quando, após o recital, deparei-me com o silêncio de alguns, com uma falta de desejo de falar de outros, um olhar mais distante e reflexivo de terceiros, ou até mesmo a euforia de muitos que, ainda em êxtase, vinham me cumprimentar. Eu optei pelo silêncio.

Estou convencido de ter presenciado ontem um dos grandes momentos musicais da história da Sala São Paulo: o recital do pianista canadense Marc-André Hamelin. Detentor de técnica impecável, Hamelin deu seu recado. Apoiado em repertório eclético - Alban Berg, Fauré, Villa-Lobos e Rachmaninov -, os presentes comprovaram que o mito Hamelin tem motivos de sobra para ser mitificado.Ocorreu, durante a execução do pouco tocado Rudepoema, de Villa-Lobos, algo inusitado: percebi que, entre piano e pianista, eu havia perdido o controle de quem acionava e de quem era acionado. Piano e pianista, um diante do outro, pareciam fisicamente se complementar. Mais do que isso, tive a clara impressão de que o dono da bola era o piano. Hamelin somente o obedecia. E acabou ensinando a nós, brasileiros, como se interpreta Villa-Lobos. Seu Fauré, galante, leve, viajava pelos quatro cantos da sala. Ao final da primeira parte do programa, iniciada com sólida versão da Sonata n.1 do contemporâneo Alban Berg, a platéia ganhou consciência do que tinha visto. E, de pé, contundentemente, registrou um ardido aplauso para aquele momento.

A segunda parte do programa iniciou com um conjunto de variações, de sua autoria, sobre o Capricho n.24 de Paganini. Apareceu de tudo: jazz, trechos da quinta sinfonia de Beethoven (sim, aquela do tchã tchã tchã tchã), a célebre La Campanella e pedaços entrecortados de valsas vienenses. Uma senhora ao meu lado, que acompanhava com o olhar cada mínimo detalhe, chegou a segurar-se na cadeira, beirando o desequilíbrio. Em meio a um silêncio memorável por parte da platéia, os dedos de Hamelin se multiplicavam. O respeito do pianista pela arte educou forçosa e imediatamente aqueles que, talvez menos preparados, estivessem na sala por mera curiosidade. E quando o fôlego já havia se esgotado, iniciou-se outro tour de force pianístico: Rachmaninov, incluindo sua segunda sonata para piano. Indescritível. A sala veio abaixo. Como "token of gratitude", Debussy e Radamés Gnatalli.

Nos próximos dias 02, 03 e 04, Hamelin estará solando o Concerto n.19 para piano e orquestra, de Mozart, frente à OSESP. E, quem sabe, após seu Mozart ainda haja espaço para outros "token of gratitude".

Contaram-me certa vez que a verdade artística sempre convence, impacta. Lembrei-me deste comentário quando, após o recital, deparei-me com o silêncio de alguns, com uma falta de desejo de falar de outros, um olhar mais distante e reflexivo de terceiros, ou até mesmo a euforia de muitos que, ainda em êxtase, vinham me cumprimentar. Eu optei pelo silêncio.

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