Paulo Pasta lança livro e abre exposição em SP


Concebido durante a pandemia, 'Correspondência' reúne mensagens eletrônicas trocadas entre ele e o crítico Ronaldo Brito

Por Antonio Gonçalves Filho

A correspondência entre pintores e críticos ajudou a enriquecer não só a história da arte, mas, especialmente, a história dos artistas, como comprovam as cartas trocadas entre Cézanne e o escritor Émile Zola. Cézanne, porém, não se expressava com a facilidade com que pintava. Já o pintor paulista Paulo Pasta é igualmente articulado na tela e na teoria crítica (ele é professor, além de tudo). Durante a pandemia, trocou mensagens eletrônicas com o crítico carioca Ronaldo Brito. O resultado dessa troca é o livro Correspondência, que será lançado hoje, 18, na exposição homônima na Galeria Millan com 20 telas de dimensões variadas (a maior com 3 metros de altura). Todas essas pinturas foram produzidas entre abril e setembro de 2020, no auge da crise sanitária e do isolamento de ambos – Paulo Pasta em São Paulo e Ronaldo Brito, no Rio.

O livro, refinada edição a cargo do designer gráfico Raul Loureiro, é um exemplo de organização. Na primeira mensagem trocada entre os dois, o tema da entropia é levantado por Pasta para lembrar uma conversa gravada entre Ronaldo Brito e outro crítico, Paulo Sérgio Duarte, a respeito do veterano pintor Eduardo Sued, cuja pintura passou por uma mudança na década de 1980. Brito responde que é sempre o próprio artista que intui a entropia, o desarranjo de um sistema que pode embotar a criatividade. Franco, Ronaldo Brito chega a escrever que alguns esboços de tela enviados por Pasta em maio de 2020 são variações das “fachadas” de Volpi (que ele teria em sua parede com o maior prazer, admite). E ainda evoca o nome de Sean Scully para falar de uma certa ressonância de seu trabalho nessa pintura.

Um 'portal' produzido no ano passado pelo pintor Foto: Filipe Berndt/Galeira Millan
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Bem, o meio eletrônico não é mesmo o mais apropriado para se ver uma pintura, reconhece Brito. Perdem-se a textura e as intenções do pintor. Volpi é, sim, uma das referências de Pasta, mas os seus “pórticos”, afirma seu interlocutor, se encaixariam perfeitamente no gênero que Brito batizou de “abstração existencial” – e que poderia ser aplicado também em casos como o de Barnett Newman. Volpi, observa Brito, não o praticava – “estava além de seus recursos simbólicos”, justifica. Sued “opera na proximidades”. Milton Dacosta, que vem da pintura metafísica (como Pasta), “inaugura” o gênero, segundo o crítico.

A tela que sugereum novo caminho na pintura de Pasta Foto: Filipe Berndt;Galeria Millan

Em maio do ano passado, a intimidade entre os dois cresceu a ponto de Brito sugerir mudanças nas telas dos pórticos, que ele queria descentrados, à esquerda do quadro. Pasta diz que não se reconheceria numa pintura que se parecesse com um estudo. O tempo da pintura é outro, justifica. E manda pelo celular a imagem de uma telinha com dois tons de azul (a que encerra a exposição, logo à saída). “Sou obrigado a dizer que esse é demais”, escreve Brito diante da reprodução eletrônica desse quadro, obra-prima de luz e simplicidade.

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A tela azul, síntese de uma pintura feita de luz e harmonia Foto: Filipe Berndt/Galeria Millan

As conversas entre os dois não giram apenas em torno de pintura. Fala-se de poesia, de Manuel Bandeira a Hölderlin, de filosofia (Merleau-Ponty) e política – a deterioração das relações sociais na era Bolsonaro, os golpes de gatunos com cartões de crédito durante a pandemia – e, em particular, de Mingau, o gato amarelo de Pasta, um bichano que adora a rua (visto no canto à esquerda da página 31 do livro). Em maio do ano passado os dois concordaram em fazer o livro com essas conversas sem omitir nada – inclusive os caprichos do exótico Mingau, que sonha com tapetes persas e pracinhas de Delacroix, segundo Ronaldo Brito.

Um dos temas mais espinhosos enfrentado nesses diálogos converge justamente para a questão da sensação em pintores como Monet e Cézanne. O mundo, para Pasta, está pedindo cada vez mais estoicismo. “Às vezes sinto que estamos sempre sendo despejados do mundo”, escreve Pasta, ecoando o sentimento de degredados diante de um universo que elegeu a “bad painting”, a pintura rudimentar que promove oportunistas, como denuncia Brito.

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Correspondência Galeria Millan. Rua Fradique Coutinho, 1.416, tel. 3031-6007, Vila Madalena. 2ª/6ª, das 10h às 19h; sábados, das 11h às 15h. Abre hoje (18), 19h/22h. Até 18/12

A correspondência entre pintores e críticos ajudou a enriquecer não só a história da arte, mas, especialmente, a história dos artistas, como comprovam as cartas trocadas entre Cézanne e o escritor Émile Zola. Cézanne, porém, não se expressava com a facilidade com que pintava. Já o pintor paulista Paulo Pasta é igualmente articulado na tela e na teoria crítica (ele é professor, além de tudo). Durante a pandemia, trocou mensagens eletrônicas com o crítico carioca Ronaldo Brito. O resultado dessa troca é o livro Correspondência, que será lançado hoje, 18, na exposição homônima na Galeria Millan com 20 telas de dimensões variadas (a maior com 3 metros de altura). Todas essas pinturas foram produzidas entre abril e setembro de 2020, no auge da crise sanitária e do isolamento de ambos – Paulo Pasta em São Paulo e Ronaldo Brito, no Rio.

O livro, refinada edição a cargo do designer gráfico Raul Loureiro, é um exemplo de organização. Na primeira mensagem trocada entre os dois, o tema da entropia é levantado por Pasta para lembrar uma conversa gravada entre Ronaldo Brito e outro crítico, Paulo Sérgio Duarte, a respeito do veterano pintor Eduardo Sued, cuja pintura passou por uma mudança na década de 1980. Brito responde que é sempre o próprio artista que intui a entropia, o desarranjo de um sistema que pode embotar a criatividade. Franco, Ronaldo Brito chega a escrever que alguns esboços de tela enviados por Pasta em maio de 2020 são variações das “fachadas” de Volpi (que ele teria em sua parede com o maior prazer, admite). E ainda evoca o nome de Sean Scully para falar de uma certa ressonância de seu trabalho nessa pintura.

Um 'portal' produzido no ano passado pelo pintor Foto: Filipe Berndt/Galeira Millan

Bem, o meio eletrônico não é mesmo o mais apropriado para se ver uma pintura, reconhece Brito. Perdem-se a textura e as intenções do pintor. Volpi é, sim, uma das referências de Pasta, mas os seus “pórticos”, afirma seu interlocutor, se encaixariam perfeitamente no gênero que Brito batizou de “abstração existencial” – e que poderia ser aplicado também em casos como o de Barnett Newman. Volpi, observa Brito, não o praticava – “estava além de seus recursos simbólicos”, justifica. Sued “opera na proximidades”. Milton Dacosta, que vem da pintura metafísica (como Pasta), “inaugura” o gênero, segundo o crítico.

A tela que sugereum novo caminho na pintura de Pasta Foto: Filipe Berndt;Galeria Millan

Em maio do ano passado, a intimidade entre os dois cresceu a ponto de Brito sugerir mudanças nas telas dos pórticos, que ele queria descentrados, à esquerda do quadro. Pasta diz que não se reconheceria numa pintura que se parecesse com um estudo. O tempo da pintura é outro, justifica. E manda pelo celular a imagem de uma telinha com dois tons de azul (a que encerra a exposição, logo à saída). “Sou obrigado a dizer que esse é demais”, escreve Brito diante da reprodução eletrônica desse quadro, obra-prima de luz e simplicidade.

A tela azul, síntese de uma pintura feita de luz e harmonia Foto: Filipe Berndt/Galeria Millan

As conversas entre os dois não giram apenas em torno de pintura. Fala-se de poesia, de Manuel Bandeira a Hölderlin, de filosofia (Merleau-Ponty) e política – a deterioração das relações sociais na era Bolsonaro, os golpes de gatunos com cartões de crédito durante a pandemia – e, em particular, de Mingau, o gato amarelo de Pasta, um bichano que adora a rua (visto no canto à esquerda da página 31 do livro). Em maio do ano passado os dois concordaram em fazer o livro com essas conversas sem omitir nada – inclusive os caprichos do exótico Mingau, que sonha com tapetes persas e pracinhas de Delacroix, segundo Ronaldo Brito.

Um dos temas mais espinhosos enfrentado nesses diálogos converge justamente para a questão da sensação em pintores como Monet e Cézanne. O mundo, para Pasta, está pedindo cada vez mais estoicismo. “Às vezes sinto que estamos sempre sendo despejados do mundo”, escreve Pasta, ecoando o sentimento de degredados diante de um universo que elegeu a “bad painting”, a pintura rudimentar que promove oportunistas, como denuncia Brito.

Correspondência Galeria Millan. Rua Fradique Coutinho, 1.416, tel. 3031-6007, Vila Madalena. 2ª/6ª, das 10h às 19h; sábados, das 11h às 15h. Abre hoje (18), 19h/22h. Até 18/12

A correspondência entre pintores e críticos ajudou a enriquecer não só a história da arte, mas, especialmente, a história dos artistas, como comprovam as cartas trocadas entre Cézanne e o escritor Émile Zola. Cézanne, porém, não se expressava com a facilidade com que pintava. Já o pintor paulista Paulo Pasta é igualmente articulado na tela e na teoria crítica (ele é professor, além de tudo). Durante a pandemia, trocou mensagens eletrônicas com o crítico carioca Ronaldo Brito. O resultado dessa troca é o livro Correspondência, que será lançado hoje, 18, na exposição homônima na Galeria Millan com 20 telas de dimensões variadas (a maior com 3 metros de altura). Todas essas pinturas foram produzidas entre abril e setembro de 2020, no auge da crise sanitária e do isolamento de ambos – Paulo Pasta em São Paulo e Ronaldo Brito, no Rio.

O livro, refinada edição a cargo do designer gráfico Raul Loureiro, é um exemplo de organização. Na primeira mensagem trocada entre os dois, o tema da entropia é levantado por Pasta para lembrar uma conversa gravada entre Ronaldo Brito e outro crítico, Paulo Sérgio Duarte, a respeito do veterano pintor Eduardo Sued, cuja pintura passou por uma mudança na década de 1980. Brito responde que é sempre o próprio artista que intui a entropia, o desarranjo de um sistema que pode embotar a criatividade. Franco, Ronaldo Brito chega a escrever que alguns esboços de tela enviados por Pasta em maio de 2020 são variações das “fachadas” de Volpi (que ele teria em sua parede com o maior prazer, admite). E ainda evoca o nome de Sean Scully para falar de uma certa ressonância de seu trabalho nessa pintura.

Um 'portal' produzido no ano passado pelo pintor Foto: Filipe Berndt/Galeira Millan

Bem, o meio eletrônico não é mesmo o mais apropriado para se ver uma pintura, reconhece Brito. Perdem-se a textura e as intenções do pintor. Volpi é, sim, uma das referências de Pasta, mas os seus “pórticos”, afirma seu interlocutor, se encaixariam perfeitamente no gênero que Brito batizou de “abstração existencial” – e que poderia ser aplicado também em casos como o de Barnett Newman. Volpi, observa Brito, não o praticava – “estava além de seus recursos simbólicos”, justifica. Sued “opera na proximidades”. Milton Dacosta, que vem da pintura metafísica (como Pasta), “inaugura” o gênero, segundo o crítico.

A tela que sugereum novo caminho na pintura de Pasta Foto: Filipe Berndt;Galeria Millan

Em maio do ano passado, a intimidade entre os dois cresceu a ponto de Brito sugerir mudanças nas telas dos pórticos, que ele queria descentrados, à esquerda do quadro. Pasta diz que não se reconheceria numa pintura que se parecesse com um estudo. O tempo da pintura é outro, justifica. E manda pelo celular a imagem de uma telinha com dois tons de azul (a que encerra a exposição, logo à saída). “Sou obrigado a dizer que esse é demais”, escreve Brito diante da reprodução eletrônica desse quadro, obra-prima de luz e simplicidade.

A tela azul, síntese de uma pintura feita de luz e harmonia Foto: Filipe Berndt/Galeria Millan

As conversas entre os dois não giram apenas em torno de pintura. Fala-se de poesia, de Manuel Bandeira a Hölderlin, de filosofia (Merleau-Ponty) e política – a deterioração das relações sociais na era Bolsonaro, os golpes de gatunos com cartões de crédito durante a pandemia – e, em particular, de Mingau, o gato amarelo de Pasta, um bichano que adora a rua (visto no canto à esquerda da página 31 do livro). Em maio do ano passado os dois concordaram em fazer o livro com essas conversas sem omitir nada – inclusive os caprichos do exótico Mingau, que sonha com tapetes persas e pracinhas de Delacroix, segundo Ronaldo Brito.

Um dos temas mais espinhosos enfrentado nesses diálogos converge justamente para a questão da sensação em pintores como Monet e Cézanne. O mundo, para Pasta, está pedindo cada vez mais estoicismo. “Às vezes sinto que estamos sempre sendo despejados do mundo”, escreve Pasta, ecoando o sentimento de degredados diante de um universo que elegeu a “bad painting”, a pintura rudimentar que promove oportunistas, como denuncia Brito.

Correspondência Galeria Millan. Rua Fradique Coutinho, 1.416, tel. 3031-6007, Vila Madalena. 2ª/6ª, das 10h às 19h; sábados, das 11h às 15h. Abre hoje (18), 19h/22h. Até 18/12

A correspondência entre pintores e críticos ajudou a enriquecer não só a história da arte, mas, especialmente, a história dos artistas, como comprovam as cartas trocadas entre Cézanne e o escritor Émile Zola. Cézanne, porém, não se expressava com a facilidade com que pintava. Já o pintor paulista Paulo Pasta é igualmente articulado na tela e na teoria crítica (ele é professor, além de tudo). Durante a pandemia, trocou mensagens eletrônicas com o crítico carioca Ronaldo Brito. O resultado dessa troca é o livro Correspondência, que será lançado hoje, 18, na exposição homônima na Galeria Millan com 20 telas de dimensões variadas (a maior com 3 metros de altura). Todas essas pinturas foram produzidas entre abril e setembro de 2020, no auge da crise sanitária e do isolamento de ambos – Paulo Pasta em São Paulo e Ronaldo Brito, no Rio.

O livro, refinada edição a cargo do designer gráfico Raul Loureiro, é um exemplo de organização. Na primeira mensagem trocada entre os dois, o tema da entropia é levantado por Pasta para lembrar uma conversa gravada entre Ronaldo Brito e outro crítico, Paulo Sérgio Duarte, a respeito do veterano pintor Eduardo Sued, cuja pintura passou por uma mudança na década de 1980. Brito responde que é sempre o próprio artista que intui a entropia, o desarranjo de um sistema que pode embotar a criatividade. Franco, Ronaldo Brito chega a escrever que alguns esboços de tela enviados por Pasta em maio de 2020 são variações das “fachadas” de Volpi (que ele teria em sua parede com o maior prazer, admite). E ainda evoca o nome de Sean Scully para falar de uma certa ressonância de seu trabalho nessa pintura.

Um 'portal' produzido no ano passado pelo pintor Foto: Filipe Berndt/Galeira Millan

Bem, o meio eletrônico não é mesmo o mais apropriado para se ver uma pintura, reconhece Brito. Perdem-se a textura e as intenções do pintor. Volpi é, sim, uma das referências de Pasta, mas os seus “pórticos”, afirma seu interlocutor, se encaixariam perfeitamente no gênero que Brito batizou de “abstração existencial” – e que poderia ser aplicado também em casos como o de Barnett Newman. Volpi, observa Brito, não o praticava – “estava além de seus recursos simbólicos”, justifica. Sued “opera na proximidades”. Milton Dacosta, que vem da pintura metafísica (como Pasta), “inaugura” o gênero, segundo o crítico.

A tela que sugereum novo caminho na pintura de Pasta Foto: Filipe Berndt;Galeria Millan

Em maio do ano passado, a intimidade entre os dois cresceu a ponto de Brito sugerir mudanças nas telas dos pórticos, que ele queria descentrados, à esquerda do quadro. Pasta diz que não se reconheceria numa pintura que se parecesse com um estudo. O tempo da pintura é outro, justifica. E manda pelo celular a imagem de uma telinha com dois tons de azul (a que encerra a exposição, logo à saída). “Sou obrigado a dizer que esse é demais”, escreve Brito diante da reprodução eletrônica desse quadro, obra-prima de luz e simplicidade.

A tela azul, síntese de uma pintura feita de luz e harmonia Foto: Filipe Berndt/Galeria Millan

As conversas entre os dois não giram apenas em torno de pintura. Fala-se de poesia, de Manuel Bandeira a Hölderlin, de filosofia (Merleau-Ponty) e política – a deterioração das relações sociais na era Bolsonaro, os golpes de gatunos com cartões de crédito durante a pandemia – e, em particular, de Mingau, o gato amarelo de Pasta, um bichano que adora a rua (visto no canto à esquerda da página 31 do livro). Em maio do ano passado os dois concordaram em fazer o livro com essas conversas sem omitir nada – inclusive os caprichos do exótico Mingau, que sonha com tapetes persas e pracinhas de Delacroix, segundo Ronaldo Brito.

Um dos temas mais espinhosos enfrentado nesses diálogos converge justamente para a questão da sensação em pintores como Monet e Cézanne. O mundo, para Pasta, está pedindo cada vez mais estoicismo. “Às vezes sinto que estamos sempre sendo despejados do mundo”, escreve Pasta, ecoando o sentimento de degredados diante de um universo que elegeu a “bad painting”, a pintura rudimentar que promove oportunistas, como denuncia Brito.

Correspondência Galeria Millan. Rua Fradique Coutinho, 1.416, tel. 3031-6007, Vila Madalena. 2ª/6ª, das 10h às 19h; sábados, das 11h às 15h. Abre hoje (18), 19h/22h. Até 18/12

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