Box reúne melhores trilhas sonoras de Quincy Jones


'The Cinema of Quincy Jones' traz 6 discos com pontos altos da carreira do músico

Por Antonio Gonçalves Filho
Quincy Jones produziu 'Thriller', de Michael Jackson, disco mais vendido em todos os tempos Foto: Adrees Latif/Reuters

Há exatamente 60 anos o maestro e compositor norte-americano Quincy Jones, hoje com 84, desembarcou em Paris para estudar composição com Nadia Boulanger (1887-1979), a mítica professora de Leonard Bernstein, Aaron Copland e do brasileiro Egberto Gismonti. Em 1957, ele era apenas um músico talentoso de 24 anos com um objetivo claro em mente: compor para o cinema. Para pagar as aulas de Boulanger, Jones arranjou um emprego na Barclay, a distribuidora francesa da Mercury, escrevendo arranjos para Charles Aznavour, Jacques Brel e outros. Acabou se tornando o primeiro presidente negro da Mercury e fez amizade com muitos franceses, que hoje retribuem o afeto com uma caixa de seis CDs recentemente lançada na França, The Cinema of Quincy Jones, disponível apenas em sua versão original.

Concebido por Stéphane Lerouge dentro de sua coleção Écoutez Le Cinéma, que tem 130 títulos dedicados ao cinema (trilhas de Georges Delerue, Michel Legrand, Nino Rota), o box dedicado a Quincy Jones reúne, de fato, suas melhores trilhas sonoras, duas delas para filmes de seu amigo Sidney Lumet (The Pawnbroker e The Deadly Affair, respectivamente O Homem do Prego e Chamada para um Morto). Lumet (1924-2011), reconhece Jones em entrevista a Lerouge, foi o diretor que o levou a realizar seu sonho de adolescente. Aos 14 anos, em Seattle, o futuro compositor faltava às aulas para ver filmes. O cinema, diz, foi sua verdadeira escola de música. Só de ouvir dois compassos era capaz de afirmar se uma trilha era de Alfred Newman ou Victor Young. Quando rodava O Homem do Prego, em 1963, Lumet buscava um músico capaz de traduzir musicalmente o conflito pessoal do proprietário judeu de uma casa de penhores (Rod Steiger) no Harlem, que, fugindo da perseguição nazista na Europa, se dá conta de sua morte espiritual ao viver entre os negros do bairro. Lumet ouvira falar de Jones e de suas aulas com Boulanger, o que por si garantia a polarização desejada pelo cineasta, o confronto de duas culturas – a clássica, europeia, e a popular, o jazz, ou seja, o Velho Mundo, representado pelas cordas da música erudita, e o Novo, pelos sopros das bandas de jazz.

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Para Lumet o compositor também escreveu uma trilha “conceitual’ em Chamada para Um Morto, thriller de espionagem baseado em John Le Carré sobre espiões comunistas em plena guerra fria. Jones, um dos primeiros músicos norte-americanos a ser seduzido pela bossa nova, compôs uma trilha monotemática, derivada do tema principal, cantado no filme pela brasileira Astrud Gilberto (Who Needs Forever?). Esse tratamento combina com a paleta monocromática do diretor de fotografia Freddie Young – uma técnica de pré-exposição do negativo conhecida como “flashing” –, fazendo com que o infinito número de variações do tema corresponda a um pequeno leitmotiv de cada um dos personagens.

Cena do filme 'Chamada para um Morto' ('The Deadly Affair'), de Sidney Luet, com trilha de Qunicy Jones Foto: Columbia Pictures

Não se deve esquecer que Quincy Jones ficaria mais tarde conhecido como o Midas dos arranjos e da produção (de Thrilher, de Michael Jackson, o disco mais vendido de toda a história da indústria fonográfica). E são os arranjos da trilha considerada por ele seu melhor trabalho para o cinema (A Sangue Frio/In Cold Blood) que se destacam na caixa agora lançada. Pela primeira vez editada em CD, a trilha (em 1967) contou com a participação de alguns dos maiores músicos de jazz (entre eles o baixista Ray Brown, o guitarrista brasileiro Laurindo de Almeida e o percussionista Don Elliott). Truman Capote, o autor do livro que deu origem ao filme, não queria Jones. “Por que um negro escrevendo música num filme que só tem brancos? Chame Leonard Bernstein”, recomendou Capote ao diretor Richard Brooks, que, naturalmente, rejeitou a sugestão. “Depois da mixagem, Capote me telefonou, chorando, e pediu desculpas”, conta Jones na entrevista a Lerouge.

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O produtor francês, sempre criterioso, decidiu que a caixa dedicada a Quincy Jones teria apenas trilhas compostas entre 1964 (The Pawnbroker) e 1972 (The Getawa/Os Implacáveis), considerado por ele o melhor período de produção do músicos para o cinema (há no sexto CD temas de filmes dos anos 1980, como A Cor Púrpura, mas são highlights para destacar a parceria de Jones com grandes músicos que mais gravaram com ele, como o belga Toots Thielemans, morto no ano passado). Thielemans, aliás, é a estrela absoluta na trilha de The Getaway, tocando o tema principal com sua inesquecível harmônica.

A lista dos intérpretes convocados por Jones para temas de abertura dos filmes é feita de superastros e estrelas: Sarah Vaughan (O Homem do Prego), Ray Charles (No Calor da Noite) e Shirley Horn (A Dandy in Aspic) são apenas três deles. Trata-se, enfim, de uma caixa histórica.

Capa do box 'The Cinema of Quincy Jones', que reúne trilhas sonoras do músico para filmes como 'Chamada para um Morto' e 'A Sangue Frio' Foto:
Quincy Jones produziu 'Thriller', de Michael Jackson, disco mais vendido em todos os tempos Foto: Adrees Latif/Reuters

Há exatamente 60 anos o maestro e compositor norte-americano Quincy Jones, hoje com 84, desembarcou em Paris para estudar composição com Nadia Boulanger (1887-1979), a mítica professora de Leonard Bernstein, Aaron Copland e do brasileiro Egberto Gismonti. Em 1957, ele era apenas um músico talentoso de 24 anos com um objetivo claro em mente: compor para o cinema. Para pagar as aulas de Boulanger, Jones arranjou um emprego na Barclay, a distribuidora francesa da Mercury, escrevendo arranjos para Charles Aznavour, Jacques Brel e outros. Acabou se tornando o primeiro presidente negro da Mercury e fez amizade com muitos franceses, que hoje retribuem o afeto com uma caixa de seis CDs recentemente lançada na França, The Cinema of Quincy Jones, disponível apenas em sua versão original.

Concebido por Stéphane Lerouge dentro de sua coleção Écoutez Le Cinéma, que tem 130 títulos dedicados ao cinema (trilhas de Georges Delerue, Michel Legrand, Nino Rota), o box dedicado a Quincy Jones reúne, de fato, suas melhores trilhas sonoras, duas delas para filmes de seu amigo Sidney Lumet (The Pawnbroker e The Deadly Affair, respectivamente O Homem do Prego e Chamada para um Morto). Lumet (1924-2011), reconhece Jones em entrevista a Lerouge, foi o diretor que o levou a realizar seu sonho de adolescente. Aos 14 anos, em Seattle, o futuro compositor faltava às aulas para ver filmes. O cinema, diz, foi sua verdadeira escola de música. Só de ouvir dois compassos era capaz de afirmar se uma trilha era de Alfred Newman ou Victor Young. Quando rodava O Homem do Prego, em 1963, Lumet buscava um músico capaz de traduzir musicalmente o conflito pessoal do proprietário judeu de uma casa de penhores (Rod Steiger) no Harlem, que, fugindo da perseguição nazista na Europa, se dá conta de sua morte espiritual ao viver entre os negros do bairro. Lumet ouvira falar de Jones e de suas aulas com Boulanger, o que por si garantia a polarização desejada pelo cineasta, o confronto de duas culturas – a clássica, europeia, e a popular, o jazz, ou seja, o Velho Mundo, representado pelas cordas da música erudita, e o Novo, pelos sopros das bandas de jazz.

Para Lumet o compositor também escreveu uma trilha “conceitual’ em Chamada para Um Morto, thriller de espionagem baseado em John Le Carré sobre espiões comunistas em plena guerra fria. Jones, um dos primeiros músicos norte-americanos a ser seduzido pela bossa nova, compôs uma trilha monotemática, derivada do tema principal, cantado no filme pela brasileira Astrud Gilberto (Who Needs Forever?). Esse tratamento combina com a paleta monocromática do diretor de fotografia Freddie Young – uma técnica de pré-exposição do negativo conhecida como “flashing” –, fazendo com que o infinito número de variações do tema corresponda a um pequeno leitmotiv de cada um dos personagens.

Cena do filme 'Chamada para um Morto' ('The Deadly Affair'), de Sidney Luet, com trilha de Qunicy Jones Foto: Columbia Pictures

Não se deve esquecer que Quincy Jones ficaria mais tarde conhecido como o Midas dos arranjos e da produção (de Thrilher, de Michael Jackson, o disco mais vendido de toda a história da indústria fonográfica). E são os arranjos da trilha considerada por ele seu melhor trabalho para o cinema (A Sangue Frio/In Cold Blood) que se destacam na caixa agora lançada. Pela primeira vez editada em CD, a trilha (em 1967) contou com a participação de alguns dos maiores músicos de jazz (entre eles o baixista Ray Brown, o guitarrista brasileiro Laurindo de Almeida e o percussionista Don Elliott). Truman Capote, o autor do livro que deu origem ao filme, não queria Jones. “Por que um negro escrevendo música num filme que só tem brancos? Chame Leonard Bernstein”, recomendou Capote ao diretor Richard Brooks, que, naturalmente, rejeitou a sugestão. “Depois da mixagem, Capote me telefonou, chorando, e pediu desculpas”, conta Jones na entrevista a Lerouge.

O produtor francês, sempre criterioso, decidiu que a caixa dedicada a Quincy Jones teria apenas trilhas compostas entre 1964 (The Pawnbroker) e 1972 (The Getawa/Os Implacáveis), considerado por ele o melhor período de produção do músicos para o cinema (há no sexto CD temas de filmes dos anos 1980, como A Cor Púrpura, mas são highlights para destacar a parceria de Jones com grandes músicos que mais gravaram com ele, como o belga Toots Thielemans, morto no ano passado). Thielemans, aliás, é a estrela absoluta na trilha de The Getaway, tocando o tema principal com sua inesquecível harmônica.

A lista dos intérpretes convocados por Jones para temas de abertura dos filmes é feita de superastros e estrelas: Sarah Vaughan (O Homem do Prego), Ray Charles (No Calor da Noite) e Shirley Horn (A Dandy in Aspic) são apenas três deles. Trata-se, enfim, de uma caixa histórica.

Capa do box 'The Cinema of Quincy Jones', que reúne trilhas sonoras do músico para filmes como 'Chamada para um Morto' e 'A Sangue Frio' Foto:
Quincy Jones produziu 'Thriller', de Michael Jackson, disco mais vendido em todos os tempos Foto: Adrees Latif/Reuters

Há exatamente 60 anos o maestro e compositor norte-americano Quincy Jones, hoje com 84, desembarcou em Paris para estudar composição com Nadia Boulanger (1887-1979), a mítica professora de Leonard Bernstein, Aaron Copland e do brasileiro Egberto Gismonti. Em 1957, ele era apenas um músico talentoso de 24 anos com um objetivo claro em mente: compor para o cinema. Para pagar as aulas de Boulanger, Jones arranjou um emprego na Barclay, a distribuidora francesa da Mercury, escrevendo arranjos para Charles Aznavour, Jacques Brel e outros. Acabou se tornando o primeiro presidente negro da Mercury e fez amizade com muitos franceses, que hoje retribuem o afeto com uma caixa de seis CDs recentemente lançada na França, The Cinema of Quincy Jones, disponível apenas em sua versão original.

Concebido por Stéphane Lerouge dentro de sua coleção Écoutez Le Cinéma, que tem 130 títulos dedicados ao cinema (trilhas de Georges Delerue, Michel Legrand, Nino Rota), o box dedicado a Quincy Jones reúne, de fato, suas melhores trilhas sonoras, duas delas para filmes de seu amigo Sidney Lumet (The Pawnbroker e The Deadly Affair, respectivamente O Homem do Prego e Chamada para um Morto). Lumet (1924-2011), reconhece Jones em entrevista a Lerouge, foi o diretor que o levou a realizar seu sonho de adolescente. Aos 14 anos, em Seattle, o futuro compositor faltava às aulas para ver filmes. O cinema, diz, foi sua verdadeira escola de música. Só de ouvir dois compassos era capaz de afirmar se uma trilha era de Alfred Newman ou Victor Young. Quando rodava O Homem do Prego, em 1963, Lumet buscava um músico capaz de traduzir musicalmente o conflito pessoal do proprietário judeu de uma casa de penhores (Rod Steiger) no Harlem, que, fugindo da perseguição nazista na Europa, se dá conta de sua morte espiritual ao viver entre os negros do bairro. Lumet ouvira falar de Jones e de suas aulas com Boulanger, o que por si garantia a polarização desejada pelo cineasta, o confronto de duas culturas – a clássica, europeia, e a popular, o jazz, ou seja, o Velho Mundo, representado pelas cordas da música erudita, e o Novo, pelos sopros das bandas de jazz.

Para Lumet o compositor também escreveu uma trilha “conceitual’ em Chamada para Um Morto, thriller de espionagem baseado em John Le Carré sobre espiões comunistas em plena guerra fria. Jones, um dos primeiros músicos norte-americanos a ser seduzido pela bossa nova, compôs uma trilha monotemática, derivada do tema principal, cantado no filme pela brasileira Astrud Gilberto (Who Needs Forever?). Esse tratamento combina com a paleta monocromática do diretor de fotografia Freddie Young – uma técnica de pré-exposição do negativo conhecida como “flashing” –, fazendo com que o infinito número de variações do tema corresponda a um pequeno leitmotiv de cada um dos personagens.

Cena do filme 'Chamada para um Morto' ('The Deadly Affair'), de Sidney Luet, com trilha de Qunicy Jones Foto: Columbia Pictures

Não se deve esquecer que Quincy Jones ficaria mais tarde conhecido como o Midas dos arranjos e da produção (de Thrilher, de Michael Jackson, o disco mais vendido de toda a história da indústria fonográfica). E são os arranjos da trilha considerada por ele seu melhor trabalho para o cinema (A Sangue Frio/In Cold Blood) que se destacam na caixa agora lançada. Pela primeira vez editada em CD, a trilha (em 1967) contou com a participação de alguns dos maiores músicos de jazz (entre eles o baixista Ray Brown, o guitarrista brasileiro Laurindo de Almeida e o percussionista Don Elliott). Truman Capote, o autor do livro que deu origem ao filme, não queria Jones. “Por que um negro escrevendo música num filme que só tem brancos? Chame Leonard Bernstein”, recomendou Capote ao diretor Richard Brooks, que, naturalmente, rejeitou a sugestão. “Depois da mixagem, Capote me telefonou, chorando, e pediu desculpas”, conta Jones na entrevista a Lerouge.

O produtor francês, sempre criterioso, decidiu que a caixa dedicada a Quincy Jones teria apenas trilhas compostas entre 1964 (The Pawnbroker) e 1972 (The Getawa/Os Implacáveis), considerado por ele o melhor período de produção do músicos para o cinema (há no sexto CD temas de filmes dos anos 1980, como A Cor Púrpura, mas são highlights para destacar a parceria de Jones com grandes músicos que mais gravaram com ele, como o belga Toots Thielemans, morto no ano passado). Thielemans, aliás, é a estrela absoluta na trilha de The Getaway, tocando o tema principal com sua inesquecível harmônica.

A lista dos intérpretes convocados por Jones para temas de abertura dos filmes é feita de superastros e estrelas: Sarah Vaughan (O Homem do Prego), Ray Charles (No Calor da Noite) e Shirley Horn (A Dandy in Aspic) são apenas três deles. Trata-se, enfim, de uma caixa histórica.

Capa do box 'The Cinema of Quincy Jones', que reúne trilhas sonoras do músico para filmes como 'Chamada para um Morto' e 'A Sangue Frio' Foto:
Quincy Jones produziu 'Thriller', de Michael Jackson, disco mais vendido em todos os tempos Foto: Adrees Latif/Reuters

Há exatamente 60 anos o maestro e compositor norte-americano Quincy Jones, hoje com 84, desembarcou em Paris para estudar composição com Nadia Boulanger (1887-1979), a mítica professora de Leonard Bernstein, Aaron Copland e do brasileiro Egberto Gismonti. Em 1957, ele era apenas um músico talentoso de 24 anos com um objetivo claro em mente: compor para o cinema. Para pagar as aulas de Boulanger, Jones arranjou um emprego na Barclay, a distribuidora francesa da Mercury, escrevendo arranjos para Charles Aznavour, Jacques Brel e outros. Acabou se tornando o primeiro presidente negro da Mercury e fez amizade com muitos franceses, que hoje retribuem o afeto com uma caixa de seis CDs recentemente lançada na França, The Cinema of Quincy Jones, disponível apenas em sua versão original.

Concebido por Stéphane Lerouge dentro de sua coleção Écoutez Le Cinéma, que tem 130 títulos dedicados ao cinema (trilhas de Georges Delerue, Michel Legrand, Nino Rota), o box dedicado a Quincy Jones reúne, de fato, suas melhores trilhas sonoras, duas delas para filmes de seu amigo Sidney Lumet (The Pawnbroker e The Deadly Affair, respectivamente O Homem do Prego e Chamada para um Morto). Lumet (1924-2011), reconhece Jones em entrevista a Lerouge, foi o diretor que o levou a realizar seu sonho de adolescente. Aos 14 anos, em Seattle, o futuro compositor faltava às aulas para ver filmes. O cinema, diz, foi sua verdadeira escola de música. Só de ouvir dois compassos era capaz de afirmar se uma trilha era de Alfred Newman ou Victor Young. Quando rodava O Homem do Prego, em 1963, Lumet buscava um músico capaz de traduzir musicalmente o conflito pessoal do proprietário judeu de uma casa de penhores (Rod Steiger) no Harlem, que, fugindo da perseguição nazista na Europa, se dá conta de sua morte espiritual ao viver entre os negros do bairro. Lumet ouvira falar de Jones e de suas aulas com Boulanger, o que por si garantia a polarização desejada pelo cineasta, o confronto de duas culturas – a clássica, europeia, e a popular, o jazz, ou seja, o Velho Mundo, representado pelas cordas da música erudita, e o Novo, pelos sopros das bandas de jazz.

Para Lumet o compositor também escreveu uma trilha “conceitual’ em Chamada para Um Morto, thriller de espionagem baseado em John Le Carré sobre espiões comunistas em plena guerra fria. Jones, um dos primeiros músicos norte-americanos a ser seduzido pela bossa nova, compôs uma trilha monotemática, derivada do tema principal, cantado no filme pela brasileira Astrud Gilberto (Who Needs Forever?). Esse tratamento combina com a paleta monocromática do diretor de fotografia Freddie Young – uma técnica de pré-exposição do negativo conhecida como “flashing” –, fazendo com que o infinito número de variações do tema corresponda a um pequeno leitmotiv de cada um dos personagens.

Cena do filme 'Chamada para um Morto' ('The Deadly Affair'), de Sidney Luet, com trilha de Qunicy Jones Foto: Columbia Pictures

Não se deve esquecer que Quincy Jones ficaria mais tarde conhecido como o Midas dos arranjos e da produção (de Thrilher, de Michael Jackson, o disco mais vendido de toda a história da indústria fonográfica). E são os arranjos da trilha considerada por ele seu melhor trabalho para o cinema (A Sangue Frio/In Cold Blood) que se destacam na caixa agora lançada. Pela primeira vez editada em CD, a trilha (em 1967) contou com a participação de alguns dos maiores músicos de jazz (entre eles o baixista Ray Brown, o guitarrista brasileiro Laurindo de Almeida e o percussionista Don Elliott). Truman Capote, o autor do livro que deu origem ao filme, não queria Jones. “Por que um negro escrevendo música num filme que só tem brancos? Chame Leonard Bernstein”, recomendou Capote ao diretor Richard Brooks, que, naturalmente, rejeitou a sugestão. “Depois da mixagem, Capote me telefonou, chorando, e pediu desculpas”, conta Jones na entrevista a Lerouge.

O produtor francês, sempre criterioso, decidiu que a caixa dedicada a Quincy Jones teria apenas trilhas compostas entre 1964 (The Pawnbroker) e 1972 (The Getawa/Os Implacáveis), considerado por ele o melhor período de produção do músicos para o cinema (há no sexto CD temas de filmes dos anos 1980, como A Cor Púrpura, mas são highlights para destacar a parceria de Jones com grandes músicos que mais gravaram com ele, como o belga Toots Thielemans, morto no ano passado). Thielemans, aliás, é a estrela absoluta na trilha de The Getaway, tocando o tema principal com sua inesquecível harmônica.

A lista dos intérpretes convocados por Jones para temas de abertura dos filmes é feita de superastros e estrelas: Sarah Vaughan (O Homem do Prego), Ray Charles (No Calor da Noite) e Shirley Horn (A Dandy in Aspic) são apenas três deles. Trata-se, enfim, de uma caixa histórica.

Capa do box 'The Cinema of Quincy Jones', que reúne trilhas sonoras do músico para filmes como 'Chamada para um Morto' e 'A Sangue Frio' Foto:
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