Abel Ferrara reconstitui as horas finais do cineasta Pasolini


Diretor encena imagens do seu derradeiro filme, nunca realizado

Por Luiz Zanin Oricchio

Pasolini, de Abel Ferrara, foi apresentado no Festival de Veneza do ano passado e causou certo pasmo na plateia e entre os críticos. Entende-se. O tema continua a despertar polêmica na Itália, embora Pier Paolo Pasolini tenha sido assassinado há 40 anos. Acredita-se que o autor do delito tenha sido o garoto de programa Giuseppe Pelosi. Mas há quem afirme ter sido crime cometido por várias pessoas. Aconteceu na praia de Óstia, próxima a Roma, num ponto de encontros sexuais.

Porém, existe quem amplie a culpa pela morte do cineasta, poeta, escritor, polemista e uma das personalidades mais atuantes e influentes de sua época. Em Pasolini – Um Delito Italiano, o diretor Marco Tullio Giordana sugere uma espécie de crime coletivo, do qual teria participado toda a nação italiana, independentemente do fato de que a mão que tenha massacrado Pasolini seja uma só ou várias. A Itália, em seu conservadorismo e indiferença teria, em peso, contribuído para o assassinato do artista. Ou, na melhor das hipóteses, teria sido cúmplice.

De modo que causou mesmo espanto que um norte-americano (embora de origem italiana), como Ferrara, seja autor de um apaixonado retrato de Pasolini em seu último dia. Sim, porque esta é a opção e que faz do filme um concentrado da vida do cineasta. Nas horas que precedem seu assassinato em Óstia, Pasolini é visto em polêmicas com a Democracia Cristã, dialogando com amigos que tentam dissuadi-lo de posições radicais, entrevistando-se com a mãe, Susanna, e a amiga Laura Betti.

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Ferrara vai na contramão da linguagem realista. Registra as últimas horas de Pasolini em tonalidade onírica. Como se o próprio frenesi que Pasolini impôs à sua vida o levasse a uma vertigem permanente. Era alguém em rota de colisão contra alguma coisa, que podia ser a Democracia Cristã, a sociedade de consumo que se esboçava, a crítica retrógrada, o conservadorismo de base da nação italiana (a “Italieta”, como ele a chamava). Pelosi, ou quem quer que tenha massacrado o corpo físico do artista, cumpria assim o desígnio da nação, de livrar-se de um crítico incômodo e incansável. Sem qualquer discurso teórico a respeito, Ferrara capta a pulsão dessa nitroglicerina viva que era Pasolini.

Dafoe, que consegue até se parecer fisicamente a Pasolini, é o destaque do elenco. Grande ator, se metamorfoseia em seus personagens, sempre deixando-se reconhecer a sua marca de ator autoral. Ele é outro e sempre ele mesmo. Além disso, não tem medo de papéis arriscados, tendo trabalhado ultimamente com Ferrara, Lars Von Trier (Anticristo) e Hector Babenco (Meu Amigo Hindu). Adriana Asti faz Susanna Pasolini, mãe do cineasta e com quem ele tinha relação muito próxima. A aportuguesa Maria de Medeiros vive Laura Betti, amiga íntima e atriz de vários dos seus filmes. No entanto, presença de fato marcante é a de Ninetto Davoli, ator de onze filmes de Pasolini, entre os quais Teorema e Gaviões e Passarinhos (no qual contracena com Totò).

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No Pasolini de Ferrara, Ninetto participa (e rouba as cenas) na mais poética e intensa das sequências. É quando ele interpreta Epifanio, papel que seria de Eduardo de Filippo em Porno-Teo-Kolossal, projeto não realizado de Pasolini. Ninetto contracena com Ricardo Scarmaccio, que vive Nunzio, papel destinado ao próprio Ninetto no filme nunca realizado. Em tom bastante felliniano, Epifanio e Nunzio empreendem uma peregrinação terrestre, no qual visitam o reino de Sodoma e presenciam uma orgia. Depois da experiência carnal, contemplam a Terra, vista da Lua, e meditam sobre a vacuidade dos homens que lá habitam. Depois da carne, o ponto de vista do espírito, dualidade que talvez nunca tenha existido para Pasolini.

De qualquer forma, Ferrara acerta ao evocar esse filme não realizado ao reconstituir o dia da morte do grande cineasta. Era como uma utopia. A possibilidade de a poesia iluminar um mundo devastado pelo consumismo avassalador que já mostrava a que vinha.  

Pasolini, de Abel Ferrara, foi apresentado no Festival de Veneza do ano passado e causou certo pasmo na plateia e entre os críticos. Entende-se. O tema continua a despertar polêmica na Itália, embora Pier Paolo Pasolini tenha sido assassinado há 40 anos. Acredita-se que o autor do delito tenha sido o garoto de programa Giuseppe Pelosi. Mas há quem afirme ter sido crime cometido por várias pessoas. Aconteceu na praia de Óstia, próxima a Roma, num ponto de encontros sexuais.

Porém, existe quem amplie a culpa pela morte do cineasta, poeta, escritor, polemista e uma das personalidades mais atuantes e influentes de sua época. Em Pasolini – Um Delito Italiano, o diretor Marco Tullio Giordana sugere uma espécie de crime coletivo, do qual teria participado toda a nação italiana, independentemente do fato de que a mão que tenha massacrado Pasolini seja uma só ou várias. A Itália, em seu conservadorismo e indiferença teria, em peso, contribuído para o assassinato do artista. Ou, na melhor das hipóteses, teria sido cúmplice.

De modo que causou mesmo espanto que um norte-americano (embora de origem italiana), como Ferrara, seja autor de um apaixonado retrato de Pasolini em seu último dia. Sim, porque esta é a opção e que faz do filme um concentrado da vida do cineasta. Nas horas que precedem seu assassinato em Óstia, Pasolini é visto em polêmicas com a Democracia Cristã, dialogando com amigos que tentam dissuadi-lo de posições radicais, entrevistando-se com a mãe, Susanna, e a amiga Laura Betti.

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Ferrara vai na contramão da linguagem realista. Registra as últimas horas de Pasolini em tonalidade onírica. Como se o próprio frenesi que Pasolini impôs à sua vida o levasse a uma vertigem permanente. Era alguém em rota de colisão contra alguma coisa, que podia ser a Democracia Cristã, a sociedade de consumo que se esboçava, a crítica retrógrada, o conservadorismo de base da nação italiana (a “Italieta”, como ele a chamava). Pelosi, ou quem quer que tenha massacrado o corpo físico do artista, cumpria assim o desígnio da nação, de livrar-se de um crítico incômodo e incansável. Sem qualquer discurso teórico a respeito, Ferrara capta a pulsão dessa nitroglicerina viva que era Pasolini.

Dafoe, que consegue até se parecer fisicamente a Pasolini, é o destaque do elenco. Grande ator, se metamorfoseia em seus personagens, sempre deixando-se reconhecer a sua marca de ator autoral. Ele é outro e sempre ele mesmo. Além disso, não tem medo de papéis arriscados, tendo trabalhado ultimamente com Ferrara, Lars Von Trier (Anticristo) e Hector Babenco (Meu Amigo Hindu). Adriana Asti faz Susanna Pasolini, mãe do cineasta e com quem ele tinha relação muito próxima. A aportuguesa Maria de Medeiros vive Laura Betti, amiga íntima e atriz de vários dos seus filmes. No entanto, presença de fato marcante é a de Ninetto Davoli, ator de onze filmes de Pasolini, entre os quais Teorema e Gaviões e Passarinhos (no qual contracena com Totò).

No Pasolini de Ferrara, Ninetto participa (e rouba as cenas) na mais poética e intensa das sequências. É quando ele interpreta Epifanio, papel que seria de Eduardo de Filippo em Porno-Teo-Kolossal, projeto não realizado de Pasolini. Ninetto contracena com Ricardo Scarmaccio, que vive Nunzio, papel destinado ao próprio Ninetto no filme nunca realizado. Em tom bastante felliniano, Epifanio e Nunzio empreendem uma peregrinação terrestre, no qual visitam o reino de Sodoma e presenciam uma orgia. Depois da experiência carnal, contemplam a Terra, vista da Lua, e meditam sobre a vacuidade dos homens que lá habitam. Depois da carne, o ponto de vista do espírito, dualidade que talvez nunca tenha existido para Pasolini.

De qualquer forma, Ferrara acerta ao evocar esse filme não realizado ao reconstituir o dia da morte do grande cineasta. Era como uma utopia. A possibilidade de a poesia iluminar um mundo devastado pelo consumismo avassalador que já mostrava a que vinha.  

Pasolini, de Abel Ferrara, foi apresentado no Festival de Veneza do ano passado e causou certo pasmo na plateia e entre os críticos. Entende-se. O tema continua a despertar polêmica na Itália, embora Pier Paolo Pasolini tenha sido assassinado há 40 anos. Acredita-se que o autor do delito tenha sido o garoto de programa Giuseppe Pelosi. Mas há quem afirme ter sido crime cometido por várias pessoas. Aconteceu na praia de Óstia, próxima a Roma, num ponto de encontros sexuais.

Porém, existe quem amplie a culpa pela morte do cineasta, poeta, escritor, polemista e uma das personalidades mais atuantes e influentes de sua época. Em Pasolini – Um Delito Italiano, o diretor Marco Tullio Giordana sugere uma espécie de crime coletivo, do qual teria participado toda a nação italiana, independentemente do fato de que a mão que tenha massacrado Pasolini seja uma só ou várias. A Itália, em seu conservadorismo e indiferença teria, em peso, contribuído para o assassinato do artista. Ou, na melhor das hipóteses, teria sido cúmplice.

De modo que causou mesmo espanto que um norte-americano (embora de origem italiana), como Ferrara, seja autor de um apaixonado retrato de Pasolini em seu último dia. Sim, porque esta é a opção e que faz do filme um concentrado da vida do cineasta. Nas horas que precedem seu assassinato em Óstia, Pasolini é visto em polêmicas com a Democracia Cristã, dialogando com amigos que tentam dissuadi-lo de posições radicais, entrevistando-se com a mãe, Susanna, e a amiga Laura Betti.

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Ferrara vai na contramão da linguagem realista. Registra as últimas horas de Pasolini em tonalidade onírica. Como se o próprio frenesi que Pasolini impôs à sua vida o levasse a uma vertigem permanente. Era alguém em rota de colisão contra alguma coisa, que podia ser a Democracia Cristã, a sociedade de consumo que se esboçava, a crítica retrógrada, o conservadorismo de base da nação italiana (a “Italieta”, como ele a chamava). Pelosi, ou quem quer que tenha massacrado o corpo físico do artista, cumpria assim o desígnio da nação, de livrar-se de um crítico incômodo e incansável. Sem qualquer discurso teórico a respeito, Ferrara capta a pulsão dessa nitroglicerina viva que era Pasolini.

Dafoe, que consegue até se parecer fisicamente a Pasolini, é o destaque do elenco. Grande ator, se metamorfoseia em seus personagens, sempre deixando-se reconhecer a sua marca de ator autoral. Ele é outro e sempre ele mesmo. Além disso, não tem medo de papéis arriscados, tendo trabalhado ultimamente com Ferrara, Lars Von Trier (Anticristo) e Hector Babenco (Meu Amigo Hindu). Adriana Asti faz Susanna Pasolini, mãe do cineasta e com quem ele tinha relação muito próxima. A aportuguesa Maria de Medeiros vive Laura Betti, amiga íntima e atriz de vários dos seus filmes. No entanto, presença de fato marcante é a de Ninetto Davoli, ator de onze filmes de Pasolini, entre os quais Teorema e Gaviões e Passarinhos (no qual contracena com Totò).

No Pasolini de Ferrara, Ninetto participa (e rouba as cenas) na mais poética e intensa das sequências. É quando ele interpreta Epifanio, papel que seria de Eduardo de Filippo em Porno-Teo-Kolossal, projeto não realizado de Pasolini. Ninetto contracena com Ricardo Scarmaccio, que vive Nunzio, papel destinado ao próprio Ninetto no filme nunca realizado. Em tom bastante felliniano, Epifanio e Nunzio empreendem uma peregrinação terrestre, no qual visitam o reino de Sodoma e presenciam uma orgia. Depois da experiência carnal, contemplam a Terra, vista da Lua, e meditam sobre a vacuidade dos homens que lá habitam. Depois da carne, o ponto de vista do espírito, dualidade que talvez nunca tenha existido para Pasolini.

De qualquer forma, Ferrara acerta ao evocar esse filme não realizado ao reconstituir o dia da morte do grande cineasta. Era como uma utopia. A possibilidade de a poesia iluminar um mundo devastado pelo consumismo avassalador que já mostrava a que vinha.  

Pasolini, de Abel Ferrara, foi apresentado no Festival de Veneza do ano passado e causou certo pasmo na plateia e entre os críticos. Entende-se. O tema continua a despertar polêmica na Itália, embora Pier Paolo Pasolini tenha sido assassinado há 40 anos. Acredita-se que o autor do delito tenha sido o garoto de programa Giuseppe Pelosi. Mas há quem afirme ter sido crime cometido por várias pessoas. Aconteceu na praia de Óstia, próxima a Roma, num ponto de encontros sexuais.

Porém, existe quem amplie a culpa pela morte do cineasta, poeta, escritor, polemista e uma das personalidades mais atuantes e influentes de sua época. Em Pasolini – Um Delito Italiano, o diretor Marco Tullio Giordana sugere uma espécie de crime coletivo, do qual teria participado toda a nação italiana, independentemente do fato de que a mão que tenha massacrado Pasolini seja uma só ou várias. A Itália, em seu conservadorismo e indiferença teria, em peso, contribuído para o assassinato do artista. Ou, na melhor das hipóteses, teria sido cúmplice.

De modo que causou mesmo espanto que um norte-americano (embora de origem italiana), como Ferrara, seja autor de um apaixonado retrato de Pasolini em seu último dia. Sim, porque esta é a opção e que faz do filme um concentrado da vida do cineasta. Nas horas que precedem seu assassinato em Óstia, Pasolini é visto em polêmicas com a Democracia Cristã, dialogando com amigos que tentam dissuadi-lo de posições radicais, entrevistando-se com a mãe, Susanna, e a amiga Laura Betti.

reference

Ferrara vai na contramão da linguagem realista. Registra as últimas horas de Pasolini em tonalidade onírica. Como se o próprio frenesi que Pasolini impôs à sua vida o levasse a uma vertigem permanente. Era alguém em rota de colisão contra alguma coisa, que podia ser a Democracia Cristã, a sociedade de consumo que se esboçava, a crítica retrógrada, o conservadorismo de base da nação italiana (a “Italieta”, como ele a chamava). Pelosi, ou quem quer que tenha massacrado o corpo físico do artista, cumpria assim o desígnio da nação, de livrar-se de um crítico incômodo e incansável. Sem qualquer discurso teórico a respeito, Ferrara capta a pulsão dessa nitroglicerina viva que era Pasolini.

Dafoe, que consegue até se parecer fisicamente a Pasolini, é o destaque do elenco. Grande ator, se metamorfoseia em seus personagens, sempre deixando-se reconhecer a sua marca de ator autoral. Ele é outro e sempre ele mesmo. Além disso, não tem medo de papéis arriscados, tendo trabalhado ultimamente com Ferrara, Lars Von Trier (Anticristo) e Hector Babenco (Meu Amigo Hindu). Adriana Asti faz Susanna Pasolini, mãe do cineasta e com quem ele tinha relação muito próxima. A aportuguesa Maria de Medeiros vive Laura Betti, amiga íntima e atriz de vários dos seus filmes. No entanto, presença de fato marcante é a de Ninetto Davoli, ator de onze filmes de Pasolini, entre os quais Teorema e Gaviões e Passarinhos (no qual contracena com Totò).

No Pasolini de Ferrara, Ninetto participa (e rouba as cenas) na mais poética e intensa das sequências. É quando ele interpreta Epifanio, papel que seria de Eduardo de Filippo em Porno-Teo-Kolossal, projeto não realizado de Pasolini. Ninetto contracena com Ricardo Scarmaccio, que vive Nunzio, papel destinado ao próprio Ninetto no filme nunca realizado. Em tom bastante felliniano, Epifanio e Nunzio empreendem uma peregrinação terrestre, no qual visitam o reino de Sodoma e presenciam uma orgia. Depois da experiência carnal, contemplam a Terra, vista da Lua, e meditam sobre a vacuidade dos homens que lá habitam. Depois da carne, o ponto de vista do espírito, dualidade que talvez nunca tenha existido para Pasolini.

De qualquer forma, Ferrara acerta ao evocar esse filme não realizado ao reconstituir o dia da morte do grande cineasta. Era como uma utopia. A possibilidade de a poesia iluminar um mundo devastado pelo consumismo avassalador que já mostrava a que vinha.  

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