Alain Resnais ganha mostra comemorativa de seu centenário na Cinemateca Brasileira


Cineasta, autor de 'Hiroshima Meu Amor' e 'O Ano Passado em Marienbad' se tornou um dos grandes nomes do cinema

Por Luiz Zanin Oricchio

Éric Rohmer dizia que Alain Resnais era um cubista, “o primeiro cineasta moderno do cinema sonoro”. O autor de Hiroshima Meu Amor, O Ano Passado em Marienbad e outros clássicos nasceu há cem anos, dia 3 de junho de 1922 em Vannes, na Bretanha. A data é lembrada pela Cinemateca Brasileira que, em parceria com a Embaixada da França no Brasil e o Institut Français, realiza uma mostra em sua homenagem. 

Cineasta Alain Resnais no Festival de Cannes de 2012, em que apresentou seu filme 'Vocês Ainda Não Viram Nada!'. Foto: REUTERS/Vincent Kessler/Arquivo - 21/5/2012

Rohmer, que antes de ser cineasta e um dos grandes da nouvelle vague, fora crítico de cinema e ensaísta, fazia essa afirmação sobre Resnais já em 1959, quando este lançava Hiroshima Meu Amor, filme que o celebrizou e para muitos é sua obra-prima. A aproximação com o cubismo não é arbitrária. Nessa dialética entre história e memória, com roteiro de Marguerite Duras, Resnais restabelece perspectivas diferentes entre tempo e lugar, jogando com a Hiroshima nipônica do Holocausto nuclear e a Nevers francesa da Ocupação durante a Segunda Guerra. A síntese - se possível for falar em síntese neste caso - se dá na união dos amantes vividos por Emmanuelle Riva e Eiji Okada

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O Ano Passado em Marienbad é possivelmente, a mais densa reflexão do cinema sobre a questão do tempo, com roteiro do escritor (e cineasta) Alain Robbe-Grillet. "En passant": Resnais gostava de trabalhar com roteiros alheios, partir de um texto escrito por outra pessoa, que estimulasse sua fértil imaginação cinematográfica. Marienbad, filmado em um castelo bávaro, no preto-e-branco onírico de Sacha Vierny, contém diálogos quase saídos diretos do inconsciente. Como este, dos personagens indicados apenas por Ele e Ela (da mesma maneira que em Hiroshima). Ele (Giorgio Albertazzi): “Espero por você há tanto tempo…”. Ela (Delphine Seyrig): “Em seus sonhos?”

Cena de 'Hiroshima, Meu Amor', considerada a obra-prima de Alain Resnais. Foto: Argos Films

Noite e Neblina é exemplo da faceta documental de Resnais debruçando-se, mais uma vez, sobre o horror da Segunda Guerra. Em Hiroshima, era a bomba atômica jogada sobre a população civil por ordem de Truman. Em Noite e Neblina, os campos de extermínio, a matança industrializada sob ordens da racionalidade da morte nazista. 

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Também no intrincado Muriel - Tempo de um Retorno, Resnais (com roteiro anti dramatúrgico de Jean Cayrol), esgarça a “trama” entre memória, inconsciente e história. Hélène (Delphine Seyrig) é uma antiquária que, depois de anos de ausência, decide rever o homem amado, Alphonse. Na busca, reencontra seu enteado, Bernard, egresso da Guerra na Argélia e atormentado pela lembrança de Muriel, jovem militante argelina, torturada pelas tropas coloniais francesas. A montagem fragmentada faz com que a trama pareça rarefeita e flutue entre tempos diversos. 

Stavisky é uma obra biográfica sobre Serge Stavisky, milionário fraudulento cuja morte misteriosa, em 1934, desencadeia uma crise na França. O roteiro é de Jorge Semprún, e o protagonista é vivido por ninguém menos que Jean-Paul Belmondo. A música de Stephen Sondheim, só para ver o nível da gente com quem Resnais trabalhava. 

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Meu Tio da América é considerado um filme de tese, no qual Resnais aplica os conceitos do psicólogo experimental Henri Laborit na construção e comportamento de seus personagens. 

Mais instigante é Smoking, No Smoking, obra dupla, baseada na peça do britânico Alan Ayckbourn. Entra na composição a questão do destino e do acaso. Como uma decisão pode alterar toda a vida posterior de uma pessoa? Resnais parte de casos mínimos. Num dos filmes, o personagem acende um cigarro e começa a fumar; em outro, ele não aceita o cigarro. O desenvolvimento das tramas, nas duas alternativas, é completamente diferente. 

Resta dizer que a mostra apresenta também o vasto trabalho de Resnais com curtas e médias-metragens, entre os quais se destacam obras sobre arte e artistas como Guernica, Van Gogh e Paul Gauguin. Ou médias-metragens como As Estátuas Também Morrem e Toda a Memória do Mundo.

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Alguns filmes serão exibidos em 35mm, outros em digital. No sábado, às 16h, haverá uma palestra do professor da ECA Cristian Borges sobre o cineasta. 

A mostra na Cinemateca é uma oportunidade de reaproximação a uma das obras fundamentais do cinema contemporâneo. Cineasta imenso, Resnais deve ser contado entre os verdadeiramente grandes de sua arte, com uma obra que perdura e é motivo de interpretações renovadas - e sempre parciais, pois ambígua e aberta a leituras contratantes. Obra que, além do mais, apresenta altíssimo nível em sua elaboração artística, qualidade não muito popular entre os que se julgam de vanguarda. 

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Para o teórico Christian Metz, Alain Resnais e Jean-Luc Godard representam os dois grandes pólos da modernidade cinematográfica. Na verdade, as duas obras devem ser estudadas em conjunto, uma oposta à outra, na maneira como trataram e subverteram o realismo no cinema. 

Programação da Mostra 100 anos de Alain Resnais

Quinta-feira, 02 de junho

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  • 20:00 - Hiroshima, Meu Amor (92 min, 35mm)

 Sexta-feira, 03 de junho

  • 19:00 - As Estátuas Também Morrem (30 min, 35mm)
  • Toda a Memória do Mundo (22 min, digital)
  • 20:00 - Mélo (112 min, digital)

 Sábado, 04 de junho

  • 16:00 - Palestra com o Professor da ECA | USP - Dr Cristian Borges
  • 18:00 - O Ano Passado em Marienbad (94 min, 35mm)
  • 20:00 - Smoking (149 min, 35mm)

Domingo, 05 de junho

  • 18:00 - No Smoking (149 min, 35mm)
  • 21:00 - Guernica (13 min, 35mm)
  • Van Gogh (20 min, digital)
  • Paul Gauguin (14 min, digital)
  • O Canto do Estireno (19min, digital)
  • Quinta-feira, 09 de junho
  • 20:00 - Guernica (13 min, 35mm)
  • Van Gogh (20 min, digital)
  • Paul Gauguin (14 min, digital)
  • O Canto do Estireno (19min, digital)

Sexta-feira, 10 de junho

  • 19:00 - Muriel (112 min, 35mm)
  • 21:00 - Stavisky... (120 min, 35mm)

Sábado, 11 de junho

  • 18:00 - Amores Parisienses (120 min, 35mm)
  • 20:30 - Meu Tio da América (125 min, 35mm)

Domingo, 12 de junho

  • 18:00 - Noite e Neblina (32 min, 35mm)
  • Hiroshima, Meu Amor (92 min, 35mm)

Éric Rohmer dizia que Alain Resnais era um cubista, “o primeiro cineasta moderno do cinema sonoro”. O autor de Hiroshima Meu Amor, O Ano Passado em Marienbad e outros clássicos nasceu há cem anos, dia 3 de junho de 1922 em Vannes, na Bretanha. A data é lembrada pela Cinemateca Brasileira que, em parceria com a Embaixada da França no Brasil e o Institut Français, realiza uma mostra em sua homenagem. 

Cineasta Alain Resnais no Festival de Cannes de 2012, em que apresentou seu filme 'Vocês Ainda Não Viram Nada!'. Foto: REUTERS/Vincent Kessler/Arquivo - 21/5/2012

Rohmer, que antes de ser cineasta e um dos grandes da nouvelle vague, fora crítico de cinema e ensaísta, fazia essa afirmação sobre Resnais já em 1959, quando este lançava Hiroshima Meu Amor, filme que o celebrizou e para muitos é sua obra-prima. A aproximação com o cubismo não é arbitrária. Nessa dialética entre história e memória, com roteiro de Marguerite Duras, Resnais restabelece perspectivas diferentes entre tempo e lugar, jogando com a Hiroshima nipônica do Holocausto nuclear e a Nevers francesa da Ocupação durante a Segunda Guerra. A síntese - se possível for falar em síntese neste caso - se dá na união dos amantes vividos por Emmanuelle Riva e Eiji Okada

O Ano Passado em Marienbad é possivelmente, a mais densa reflexão do cinema sobre a questão do tempo, com roteiro do escritor (e cineasta) Alain Robbe-Grillet. "En passant": Resnais gostava de trabalhar com roteiros alheios, partir de um texto escrito por outra pessoa, que estimulasse sua fértil imaginação cinematográfica. Marienbad, filmado em um castelo bávaro, no preto-e-branco onírico de Sacha Vierny, contém diálogos quase saídos diretos do inconsciente. Como este, dos personagens indicados apenas por Ele e Ela (da mesma maneira que em Hiroshima). Ele (Giorgio Albertazzi): “Espero por você há tanto tempo…”. Ela (Delphine Seyrig): “Em seus sonhos?”

Cena de 'Hiroshima, Meu Amor', considerada a obra-prima de Alain Resnais. Foto: Argos Films

Noite e Neblina é exemplo da faceta documental de Resnais debruçando-se, mais uma vez, sobre o horror da Segunda Guerra. Em Hiroshima, era a bomba atômica jogada sobre a população civil por ordem de Truman. Em Noite e Neblina, os campos de extermínio, a matança industrializada sob ordens da racionalidade da morte nazista. 

Também no intrincado Muriel - Tempo de um Retorno, Resnais (com roteiro anti dramatúrgico de Jean Cayrol), esgarça a “trama” entre memória, inconsciente e história. Hélène (Delphine Seyrig) é uma antiquária que, depois de anos de ausência, decide rever o homem amado, Alphonse. Na busca, reencontra seu enteado, Bernard, egresso da Guerra na Argélia e atormentado pela lembrança de Muriel, jovem militante argelina, torturada pelas tropas coloniais francesas. A montagem fragmentada faz com que a trama pareça rarefeita e flutue entre tempos diversos. 

Stavisky é uma obra biográfica sobre Serge Stavisky, milionário fraudulento cuja morte misteriosa, em 1934, desencadeia uma crise na França. O roteiro é de Jorge Semprún, e o protagonista é vivido por ninguém menos que Jean-Paul Belmondo. A música de Stephen Sondheim, só para ver o nível da gente com quem Resnais trabalhava. 

Meu Tio da América é considerado um filme de tese, no qual Resnais aplica os conceitos do psicólogo experimental Henri Laborit na construção e comportamento de seus personagens. 

Mais instigante é Smoking, No Smoking, obra dupla, baseada na peça do britânico Alan Ayckbourn. Entra na composição a questão do destino e do acaso. Como uma decisão pode alterar toda a vida posterior de uma pessoa? Resnais parte de casos mínimos. Num dos filmes, o personagem acende um cigarro e começa a fumar; em outro, ele não aceita o cigarro. O desenvolvimento das tramas, nas duas alternativas, é completamente diferente. 

Resta dizer que a mostra apresenta também o vasto trabalho de Resnais com curtas e médias-metragens, entre os quais se destacam obras sobre arte e artistas como Guernica, Van Gogh e Paul Gauguin. Ou médias-metragens como As Estátuas Também Morrem e Toda a Memória do Mundo.

Alguns filmes serão exibidos em 35mm, outros em digital. No sábado, às 16h, haverá uma palestra do professor da ECA Cristian Borges sobre o cineasta. 

A mostra na Cinemateca é uma oportunidade de reaproximação a uma das obras fundamentais do cinema contemporâneo. Cineasta imenso, Resnais deve ser contado entre os verdadeiramente grandes de sua arte, com uma obra que perdura e é motivo de interpretações renovadas - e sempre parciais, pois ambígua e aberta a leituras contratantes. Obra que, além do mais, apresenta altíssimo nível em sua elaboração artística, qualidade não muito popular entre os que se julgam de vanguarda. 

Para o teórico Christian Metz, Alain Resnais e Jean-Luc Godard representam os dois grandes pólos da modernidade cinematográfica. Na verdade, as duas obras devem ser estudadas em conjunto, uma oposta à outra, na maneira como trataram e subverteram o realismo no cinema. 

Programação da Mostra 100 anos de Alain Resnais

Quinta-feira, 02 de junho

  • 20:00 - Hiroshima, Meu Amor (92 min, 35mm)

 Sexta-feira, 03 de junho

  • 19:00 - As Estátuas Também Morrem (30 min, 35mm)
  • Toda a Memória do Mundo (22 min, digital)
  • 20:00 - Mélo (112 min, digital)

 Sábado, 04 de junho

  • 16:00 - Palestra com o Professor da ECA | USP - Dr Cristian Borges
  • 18:00 - O Ano Passado em Marienbad (94 min, 35mm)
  • 20:00 - Smoking (149 min, 35mm)

Domingo, 05 de junho

  • 18:00 - No Smoking (149 min, 35mm)
  • 21:00 - Guernica (13 min, 35mm)
  • Van Gogh (20 min, digital)
  • Paul Gauguin (14 min, digital)
  • O Canto do Estireno (19min, digital)
  • Quinta-feira, 09 de junho
  • 20:00 - Guernica (13 min, 35mm)
  • Van Gogh (20 min, digital)
  • Paul Gauguin (14 min, digital)
  • O Canto do Estireno (19min, digital)

Sexta-feira, 10 de junho

  • 19:00 - Muriel (112 min, 35mm)
  • 21:00 - Stavisky... (120 min, 35mm)

Sábado, 11 de junho

  • 18:00 - Amores Parisienses (120 min, 35mm)
  • 20:30 - Meu Tio da América (125 min, 35mm)

Domingo, 12 de junho

  • 18:00 - Noite e Neblina (32 min, 35mm)
  • Hiroshima, Meu Amor (92 min, 35mm)

Éric Rohmer dizia que Alain Resnais era um cubista, “o primeiro cineasta moderno do cinema sonoro”. O autor de Hiroshima Meu Amor, O Ano Passado em Marienbad e outros clássicos nasceu há cem anos, dia 3 de junho de 1922 em Vannes, na Bretanha. A data é lembrada pela Cinemateca Brasileira que, em parceria com a Embaixada da França no Brasil e o Institut Français, realiza uma mostra em sua homenagem. 

Cineasta Alain Resnais no Festival de Cannes de 2012, em que apresentou seu filme 'Vocês Ainda Não Viram Nada!'. Foto: REUTERS/Vincent Kessler/Arquivo - 21/5/2012

Rohmer, que antes de ser cineasta e um dos grandes da nouvelle vague, fora crítico de cinema e ensaísta, fazia essa afirmação sobre Resnais já em 1959, quando este lançava Hiroshima Meu Amor, filme que o celebrizou e para muitos é sua obra-prima. A aproximação com o cubismo não é arbitrária. Nessa dialética entre história e memória, com roteiro de Marguerite Duras, Resnais restabelece perspectivas diferentes entre tempo e lugar, jogando com a Hiroshima nipônica do Holocausto nuclear e a Nevers francesa da Ocupação durante a Segunda Guerra. A síntese - se possível for falar em síntese neste caso - se dá na união dos amantes vividos por Emmanuelle Riva e Eiji Okada

O Ano Passado em Marienbad é possivelmente, a mais densa reflexão do cinema sobre a questão do tempo, com roteiro do escritor (e cineasta) Alain Robbe-Grillet. "En passant": Resnais gostava de trabalhar com roteiros alheios, partir de um texto escrito por outra pessoa, que estimulasse sua fértil imaginação cinematográfica. Marienbad, filmado em um castelo bávaro, no preto-e-branco onírico de Sacha Vierny, contém diálogos quase saídos diretos do inconsciente. Como este, dos personagens indicados apenas por Ele e Ela (da mesma maneira que em Hiroshima). Ele (Giorgio Albertazzi): “Espero por você há tanto tempo…”. Ela (Delphine Seyrig): “Em seus sonhos?”

Cena de 'Hiroshima, Meu Amor', considerada a obra-prima de Alain Resnais. Foto: Argos Films

Noite e Neblina é exemplo da faceta documental de Resnais debruçando-se, mais uma vez, sobre o horror da Segunda Guerra. Em Hiroshima, era a bomba atômica jogada sobre a população civil por ordem de Truman. Em Noite e Neblina, os campos de extermínio, a matança industrializada sob ordens da racionalidade da morte nazista. 

Também no intrincado Muriel - Tempo de um Retorno, Resnais (com roteiro anti dramatúrgico de Jean Cayrol), esgarça a “trama” entre memória, inconsciente e história. Hélène (Delphine Seyrig) é uma antiquária que, depois de anos de ausência, decide rever o homem amado, Alphonse. Na busca, reencontra seu enteado, Bernard, egresso da Guerra na Argélia e atormentado pela lembrança de Muriel, jovem militante argelina, torturada pelas tropas coloniais francesas. A montagem fragmentada faz com que a trama pareça rarefeita e flutue entre tempos diversos. 

Stavisky é uma obra biográfica sobre Serge Stavisky, milionário fraudulento cuja morte misteriosa, em 1934, desencadeia uma crise na França. O roteiro é de Jorge Semprún, e o protagonista é vivido por ninguém menos que Jean-Paul Belmondo. A música de Stephen Sondheim, só para ver o nível da gente com quem Resnais trabalhava. 

Meu Tio da América é considerado um filme de tese, no qual Resnais aplica os conceitos do psicólogo experimental Henri Laborit na construção e comportamento de seus personagens. 

Mais instigante é Smoking, No Smoking, obra dupla, baseada na peça do britânico Alan Ayckbourn. Entra na composição a questão do destino e do acaso. Como uma decisão pode alterar toda a vida posterior de uma pessoa? Resnais parte de casos mínimos. Num dos filmes, o personagem acende um cigarro e começa a fumar; em outro, ele não aceita o cigarro. O desenvolvimento das tramas, nas duas alternativas, é completamente diferente. 

Resta dizer que a mostra apresenta também o vasto trabalho de Resnais com curtas e médias-metragens, entre os quais se destacam obras sobre arte e artistas como Guernica, Van Gogh e Paul Gauguin. Ou médias-metragens como As Estátuas Também Morrem e Toda a Memória do Mundo.

Alguns filmes serão exibidos em 35mm, outros em digital. No sábado, às 16h, haverá uma palestra do professor da ECA Cristian Borges sobre o cineasta. 

A mostra na Cinemateca é uma oportunidade de reaproximação a uma das obras fundamentais do cinema contemporâneo. Cineasta imenso, Resnais deve ser contado entre os verdadeiramente grandes de sua arte, com uma obra que perdura e é motivo de interpretações renovadas - e sempre parciais, pois ambígua e aberta a leituras contratantes. Obra que, além do mais, apresenta altíssimo nível em sua elaboração artística, qualidade não muito popular entre os que se julgam de vanguarda. 

Para o teórico Christian Metz, Alain Resnais e Jean-Luc Godard representam os dois grandes pólos da modernidade cinematográfica. Na verdade, as duas obras devem ser estudadas em conjunto, uma oposta à outra, na maneira como trataram e subverteram o realismo no cinema. 

Programação da Mostra 100 anos de Alain Resnais

Quinta-feira, 02 de junho

  • 20:00 - Hiroshima, Meu Amor (92 min, 35mm)

 Sexta-feira, 03 de junho

  • 19:00 - As Estátuas Também Morrem (30 min, 35mm)
  • Toda a Memória do Mundo (22 min, digital)
  • 20:00 - Mélo (112 min, digital)

 Sábado, 04 de junho

  • 16:00 - Palestra com o Professor da ECA | USP - Dr Cristian Borges
  • 18:00 - O Ano Passado em Marienbad (94 min, 35mm)
  • 20:00 - Smoking (149 min, 35mm)

Domingo, 05 de junho

  • 18:00 - No Smoking (149 min, 35mm)
  • 21:00 - Guernica (13 min, 35mm)
  • Van Gogh (20 min, digital)
  • Paul Gauguin (14 min, digital)
  • O Canto do Estireno (19min, digital)
  • Quinta-feira, 09 de junho
  • 20:00 - Guernica (13 min, 35mm)
  • Van Gogh (20 min, digital)
  • Paul Gauguin (14 min, digital)
  • O Canto do Estireno (19min, digital)

Sexta-feira, 10 de junho

  • 19:00 - Muriel (112 min, 35mm)
  • 21:00 - Stavisky... (120 min, 35mm)

Sábado, 11 de junho

  • 18:00 - Amores Parisienses (120 min, 35mm)
  • 20:30 - Meu Tio da América (125 min, 35mm)

Domingo, 12 de junho

  • 18:00 - Noite e Neblina (32 min, 35mm)
  • Hiroshima, Meu Amor (92 min, 35mm)

Éric Rohmer dizia que Alain Resnais era um cubista, “o primeiro cineasta moderno do cinema sonoro”. O autor de Hiroshima Meu Amor, O Ano Passado em Marienbad e outros clássicos nasceu há cem anos, dia 3 de junho de 1922 em Vannes, na Bretanha. A data é lembrada pela Cinemateca Brasileira que, em parceria com a Embaixada da França no Brasil e o Institut Français, realiza uma mostra em sua homenagem. 

Cineasta Alain Resnais no Festival de Cannes de 2012, em que apresentou seu filme 'Vocês Ainda Não Viram Nada!'. Foto: REUTERS/Vincent Kessler/Arquivo - 21/5/2012

Rohmer, que antes de ser cineasta e um dos grandes da nouvelle vague, fora crítico de cinema e ensaísta, fazia essa afirmação sobre Resnais já em 1959, quando este lançava Hiroshima Meu Amor, filme que o celebrizou e para muitos é sua obra-prima. A aproximação com o cubismo não é arbitrária. Nessa dialética entre história e memória, com roteiro de Marguerite Duras, Resnais restabelece perspectivas diferentes entre tempo e lugar, jogando com a Hiroshima nipônica do Holocausto nuclear e a Nevers francesa da Ocupação durante a Segunda Guerra. A síntese - se possível for falar em síntese neste caso - se dá na união dos amantes vividos por Emmanuelle Riva e Eiji Okada

O Ano Passado em Marienbad é possivelmente, a mais densa reflexão do cinema sobre a questão do tempo, com roteiro do escritor (e cineasta) Alain Robbe-Grillet. "En passant": Resnais gostava de trabalhar com roteiros alheios, partir de um texto escrito por outra pessoa, que estimulasse sua fértil imaginação cinematográfica. Marienbad, filmado em um castelo bávaro, no preto-e-branco onírico de Sacha Vierny, contém diálogos quase saídos diretos do inconsciente. Como este, dos personagens indicados apenas por Ele e Ela (da mesma maneira que em Hiroshima). Ele (Giorgio Albertazzi): “Espero por você há tanto tempo…”. Ela (Delphine Seyrig): “Em seus sonhos?”

Cena de 'Hiroshima, Meu Amor', considerada a obra-prima de Alain Resnais. Foto: Argos Films

Noite e Neblina é exemplo da faceta documental de Resnais debruçando-se, mais uma vez, sobre o horror da Segunda Guerra. Em Hiroshima, era a bomba atômica jogada sobre a população civil por ordem de Truman. Em Noite e Neblina, os campos de extermínio, a matança industrializada sob ordens da racionalidade da morte nazista. 

Também no intrincado Muriel - Tempo de um Retorno, Resnais (com roteiro anti dramatúrgico de Jean Cayrol), esgarça a “trama” entre memória, inconsciente e história. Hélène (Delphine Seyrig) é uma antiquária que, depois de anos de ausência, decide rever o homem amado, Alphonse. Na busca, reencontra seu enteado, Bernard, egresso da Guerra na Argélia e atormentado pela lembrança de Muriel, jovem militante argelina, torturada pelas tropas coloniais francesas. A montagem fragmentada faz com que a trama pareça rarefeita e flutue entre tempos diversos. 

Stavisky é uma obra biográfica sobre Serge Stavisky, milionário fraudulento cuja morte misteriosa, em 1934, desencadeia uma crise na França. O roteiro é de Jorge Semprún, e o protagonista é vivido por ninguém menos que Jean-Paul Belmondo. A música de Stephen Sondheim, só para ver o nível da gente com quem Resnais trabalhava. 

Meu Tio da América é considerado um filme de tese, no qual Resnais aplica os conceitos do psicólogo experimental Henri Laborit na construção e comportamento de seus personagens. 

Mais instigante é Smoking, No Smoking, obra dupla, baseada na peça do britânico Alan Ayckbourn. Entra na composição a questão do destino e do acaso. Como uma decisão pode alterar toda a vida posterior de uma pessoa? Resnais parte de casos mínimos. Num dos filmes, o personagem acende um cigarro e começa a fumar; em outro, ele não aceita o cigarro. O desenvolvimento das tramas, nas duas alternativas, é completamente diferente. 

Resta dizer que a mostra apresenta também o vasto trabalho de Resnais com curtas e médias-metragens, entre os quais se destacam obras sobre arte e artistas como Guernica, Van Gogh e Paul Gauguin. Ou médias-metragens como As Estátuas Também Morrem e Toda a Memória do Mundo.

Alguns filmes serão exibidos em 35mm, outros em digital. No sábado, às 16h, haverá uma palestra do professor da ECA Cristian Borges sobre o cineasta. 

A mostra na Cinemateca é uma oportunidade de reaproximação a uma das obras fundamentais do cinema contemporâneo. Cineasta imenso, Resnais deve ser contado entre os verdadeiramente grandes de sua arte, com uma obra que perdura e é motivo de interpretações renovadas - e sempre parciais, pois ambígua e aberta a leituras contratantes. Obra que, além do mais, apresenta altíssimo nível em sua elaboração artística, qualidade não muito popular entre os que se julgam de vanguarda. 

Para o teórico Christian Metz, Alain Resnais e Jean-Luc Godard representam os dois grandes pólos da modernidade cinematográfica. Na verdade, as duas obras devem ser estudadas em conjunto, uma oposta à outra, na maneira como trataram e subverteram o realismo no cinema. 

Programação da Mostra 100 anos de Alain Resnais

Quinta-feira, 02 de junho

  • 20:00 - Hiroshima, Meu Amor (92 min, 35mm)

 Sexta-feira, 03 de junho

  • 19:00 - As Estátuas Também Morrem (30 min, 35mm)
  • Toda a Memória do Mundo (22 min, digital)
  • 20:00 - Mélo (112 min, digital)

 Sábado, 04 de junho

  • 16:00 - Palestra com o Professor da ECA | USP - Dr Cristian Borges
  • 18:00 - O Ano Passado em Marienbad (94 min, 35mm)
  • 20:00 - Smoking (149 min, 35mm)

Domingo, 05 de junho

  • 18:00 - No Smoking (149 min, 35mm)
  • 21:00 - Guernica (13 min, 35mm)
  • Van Gogh (20 min, digital)
  • Paul Gauguin (14 min, digital)
  • O Canto do Estireno (19min, digital)
  • Quinta-feira, 09 de junho
  • 20:00 - Guernica (13 min, 35mm)
  • Van Gogh (20 min, digital)
  • Paul Gauguin (14 min, digital)
  • O Canto do Estireno (19min, digital)

Sexta-feira, 10 de junho

  • 19:00 - Muriel (112 min, 35mm)
  • 21:00 - Stavisky... (120 min, 35mm)

Sábado, 11 de junho

  • 18:00 - Amores Parisienses (120 min, 35mm)
  • 20:30 - Meu Tio da América (125 min, 35mm)

Domingo, 12 de junho

  • 18:00 - Noite e Neblina (32 min, 35mm)
  • Hiroshima, Meu Amor (92 min, 35mm)

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