Análise: 'Ponto Zero' mostra um adolescente em crise numa família disfuncional


Longa traça um rito de passagem filmado com todo rigor

Por Luiz Zanin Oricchio

No início do filme, ouvem-se duas vozes. A mais jovem fala do Cosmo. Uma história de astronautas em que um deles, ao sair da nave para missão de rotina, comete um descuido e perde-se no espaço. Tão perto da nave e, ao mesmo tempo, a uma distância infinita. Aquela que separa a vida da morte. A essas falas, sobrepõem-se imagens. Não do Cosmo, mas da água, em que um menino cai numa piscina e parece se afogar. Estas mesmas falas e imagens iniciam e voltam mais tarde em Ponto Zero, longa de estreia do cineasta gaúcho José Pedro Goulart.

Goulart fez parte do grupo inicial da Casa de Cinema de Porto Alegre. É autor de um curta-metragem seminal, O Dia em Que Dorival Encarou a Guarda, em parceria com Jorge Furtado e baseado em conto de Tabajara Ruas. Realizou outros curtas, fez carreira em publicidade, escreveu crônicas e livros, trabalhou em TV e maturou por muitos anos esse longa-metragem. O filme traz as marcas do esmero e do amadurecimento.

E é sobre um rito de passagem que ele trabalha. No caso, do adolescente Ênio (Sandro Aliprandini). Se fosse norte-americano, Ênio seria chamado de “loser”, perdedor, o pior insulto naquele estranho país. No Brasil, país não menos estranho, é um garoto fraquinho, hostilizado por colegas mais fortes. Logo no começo da história, é submetido a humilhação na rua, diante de meninas que cobiça. Depois vai para casa, que não significa necessariamente um abrigo. A mãe (Patricia Selonk) é sofrida e insegura. O pai (Eucir de Souza) é um macho alfa. Radialista, mulherengo e agressivo, comanda um programa sensacionalista, no qual pobres coitados são estimulados (com dinheiro) a discutir dramas íntimos em público.

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Nesse ambiente tóxico, Ênio sente o despertar do desejo sexual. Uma noite, ele resolve sair para a aventura. Com o telefone de uma garota de programa na mão, toma emprestado o carro do pai e vai à luta. Não conta com os acidentes de percurso que vai encontrar pelo caminho. A noite de prazer torna-se pesadelo e a chuva torrencial vem como estorvo a mais, e não como referente simbólico da purificação.

À sua maneira, o filme recorre a algumas referências. De A Fogueira das Vaidades (Brian De Palma, baseado em romance de Tom Wolfe), tira a ideia do acidente que altera toda a dinâmica do enredo. De Depois das Horas, de Martin Scorsese, saca a dificuldade em voltar para casa, em que cada tentativa de solução acaba por enredar ainda mais o personagem. Em termos visuais, o filme segue padrão bastante homogêneo e impactante, com destaque em cenas noturnas, ótimo trabalho de luz contra a chuva incessante.

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Há muitos outros méritos no longa, a começar pelo garoto que faz o papel principal. Como não se comover com esse adolescente frágil além da conta, de poucas palavras e rosto escondido pela cabeleira sempre caída sobre os olhos? Como se adotasse a carapaça que o proteja do mundo, o que deve ser isso mesmo. Sua cabeleira é como o capacete do astronauta na metáfora espacial do início. Sem ela, fica nu. Não respira. Eucir de Souza está bem como sempre e Patricia Selonk compõe uma mater dolorosa exasperante em sua instabilidade.

Ponto Zero impressiona pela precisão, capricho e longos planos-sequência bem desenhados. Como pode acontecer com obras pensadas e decantadas ao longo de anos, paga a consistência com certa contenção excessiva, pelo, digamos assim, excesso de planejamento. Às vezes, falta leveza, o encantamento do improviso. É o preço.

No início do filme, ouvem-se duas vozes. A mais jovem fala do Cosmo. Uma história de astronautas em que um deles, ao sair da nave para missão de rotina, comete um descuido e perde-se no espaço. Tão perto da nave e, ao mesmo tempo, a uma distância infinita. Aquela que separa a vida da morte. A essas falas, sobrepõem-se imagens. Não do Cosmo, mas da água, em que um menino cai numa piscina e parece se afogar. Estas mesmas falas e imagens iniciam e voltam mais tarde em Ponto Zero, longa de estreia do cineasta gaúcho José Pedro Goulart.

Goulart fez parte do grupo inicial da Casa de Cinema de Porto Alegre. É autor de um curta-metragem seminal, O Dia em Que Dorival Encarou a Guarda, em parceria com Jorge Furtado e baseado em conto de Tabajara Ruas. Realizou outros curtas, fez carreira em publicidade, escreveu crônicas e livros, trabalhou em TV e maturou por muitos anos esse longa-metragem. O filme traz as marcas do esmero e do amadurecimento.

E é sobre um rito de passagem que ele trabalha. No caso, do adolescente Ênio (Sandro Aliprandini). Se fosse norte-americano, Ênio seria chamado de “loser”, perdedor, o pior insulto naquele estranho país. No Brasil, país não menos estranho, é um garoto fraquinho, hostilizado por colegas mais fortes. Logo no começo da história, é submetido a humilhação na rua, diante de meninas que cobiça. Depois vai para casa, que não significa necessariamente um abrigo. A mãe (Patricia Selonk) é sofrida e insegura. O pai (Eucir de Souza) é um macho alfa. Radialista, mulherengo e agressivo, comanda um programa sensacionalista, no qual pobres coitados são estimulados (com dinheiro) a discutir dramas íntimos em público.

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Nesse ambiente tóxico, Ênio sente o despertar do desejo sexual. Uma noite, ele resolve sair para a aventura. Com o telefone de uma garota de programa na mão, toma emprestado o carro do pai e vai à luta. Não conta com os acidentes de percurso que vai encontrar pelo caminho. A noite de prazer torna-se pesadelo e a chuva torrencial vem como estorvo a mais, e não como referente simbólico da purificação.

À sua maneira, o filme recorre a algumas referências. De A Fogueira das Vaidades (Brian De Palma, baseado em romance de Tom Wolfe), tira a ideia do acidente que altera toda a dinâmica do enredo. De Depois das Horas, de Martin Scorsese, saca a dificuldade em voltar para casa, em que cada tentativa de solução acaba por enredar ainda mais o personagem. Em termos visuais, o filme segue padrão bastante homogêneo e impactante, com destaque em cenas noturnas, ótimo trabalho de luz contra a chuva incessante.

Há muitos outros méritos no longa, a começar pelo garoto que faz o papel principal. Como não se comover com esse adolescente frágil além da conta, de poucas palavras e rosto escondido pela cabeleira sempre caída sobre os olhos? Como se adotasse a carapaça que o proteja do mundo, o que deve ser isso mesmo. Sua cabeleira é como o capacete do astronauta na metáfora espacial do início. Sem ela, fica nu. Não respira. Eucir de Souza está bem como sempre e Patricia Selonk compõe uma mater dolorosa exasperante em sua instabilidade.

Ponto Zero impressiona pela precisão, capricho e longos planos-sequência bem desenhados. Como pode acontecer com obras pensadas e decantadas ao longo de anos, paga a consistência com certa contenção excessiva, pelo, digamos assim, excesso de planejamento. Às vezes, falta leveza, o encantamento do improviso. É o preço.

No início do filme, ouvem-se duas vozes. A mais jovem fala do Cosmo. Uma história de astronautas em que um deles, ao sair da nave para missão de rotina, comete um descuido e perde-se no espaço. Tão perto da nave e, ao mesmo tempo, a uma distância infinita. Aquela que separa a vida da morte. A essas falas, sobrepõem-se imagens. Não do Cosmo, mas da água, em que um menino cai numa piscina e parece se afogar. Estas mesmas falas e imagens iniciam e voltam mais tarde em Ponto Zero, longa de estreia do cineasta gaúcho José Pedro Goulart.

Goulart fez parte do grupo inicial da Casa de Cinema de Porto Alegre. É autor de um curta-metragem seminal, O Dia em Que Dorival Encarou a Guarda, em parceria com Jorge Furtado e baseado em conto de Tabajara Ruas. Realizou outros curtas, fez carreira em publicidade, escreveu crônicas e livros, trabalhou em TV e maturou por muitos anos esse longa-metragem. O filme traz as marcas do esmero e do amadurecimento.

E é sobre um rito de passagem que ele trabalha. No caso, do adolescente Ênio (Sandro Aliprandini). Se fosse norte-americano, Ênio seria chamado de “loser”, perdedor, o pior insulto naquele estranho país. No Brasil, país não menos estranho, é um garoto fraquinho, hostilizado por colegas mais fortes. Logo no começo da história, é submetido a humilhação na rua, diante de meninas que cobiça. Depois vai para casa, que não significa necessariamente um abrigo. A mãe (Patricia Selonk) é sofrida e insegura. O pai (Eucir de Souza) é um macho alfa. Radialista, mulherengo e agressivo, comanda um programa sensacionalista, no qual pobres coitados são estimulados (com dinheiro) a discutir dramas íntimos em público.

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Nesse ambiente tóxico, Ênio sente o despertar do desejo sexual. Uma noite, ele resolve sair para a aventura. Com o telefone de uma garota de programa na mão, toma emprestado o carro do pai e vai à luta. Não conta com os acidentes de percurso que vai encontrar pelo caminho. A noite de prazer torna-se pesadelo e a chuva torrencial vem como estorvo a mais, e não como referente simbólico da purificação.

À sua maneira, o filme recorre a algumas referências. De A Fogueira das Vaidades (Brian De Palma, baseado em romance de Tom Wolfe), tira a ideia do acidente que altera toda a dinâmica do enredo. De Depois das Horas, de Martin Scorsese, saca a dificuldade em voltar para casa, em que cada tentativa de solução acaba por enredar ainda mais o personagem. Em termos visuais, o filme segue padrão bastante homogêneo e impactante, com destaque em cenas noturnas, ótimo trabalho de luz contra a chuva incessante.

Há muitos outros méritos no longa, a começar pelo garoto que faz o papel principal. Como não se comover com esse adolescente frágil além da conta, de poucas palavras e rosto escondido pela cabeleira sempre caída sobre os olhos? Como se adotasse a carapaça que o proteja do mundo, o que deve ser isso mesmo. Sua cabeleira é como o capacete do astronauta na metáfora espacial do início. Sem ela, fica nu. Não respira. Eucir de Souza está bem como sempre e Patricia Selonk compõe uma mater dolorosa exasperante em sua instabilidade.

Ponto Zero impressiona pela precisão, capricho e longos planos-sequência bem desenhados. Como pode acontecer com obras pensadas e decantadas ao longo de anos, paga a consistência com certa contenção excessiva, pelo, digamos assim, excesso de planejamento. Às vezes, falta leveza, o encantamento do improviso. É o preço.

No início do filme, ouvem-se duas vozes. A mais jovem fala do Cosmo. Uma história de astronautas em que um deles, ao sair da nave para missão de rotina, comete um descuido e perde-se no espaço. Tão perto da nave e, ao mesmo tempo, a uma distância infinita. Aquela que separa a vida da morte. A essas falas, sobrepõem-se imagens. Não do Cosmo, mas da água, em que um menino cai numa piscina e parece se afogar. Estas mesmas falas e imagens iniciam e voltam mais tarde em Ponto Zero, longa de estreia do cineasta gaúcho José Pedro Goulart.

Goulart fez parte do grupo inicial da Casa de Cinema de Porto Alegre. É autor de um curta-metragem seminal, O Dia em Que Dorival Encarou a Guarda, em parceria com Jorge Furtado e baseado em conto de Tabajara Ruas. Realizou outros curtas, fez carreira em publicidade, escreveu crônicas e livros, trabalhou em TV e maturou por muitos anos esse longa-metragem. O filme traz as marcas do esmero e do amadurecimento.

E é sobre um rito de passagem que ele trabalha. No caso, do adolescente Ênio (Sandro Aliprandini). Se fosse norte-americano, Ênio seria chamado de “loser”, perdedor, o pior insulto naquele estranho país. No Brasil, país não menos estranho, é um garoto fraquinho, hostilizado por colegas mais fortes. Logo no começo da história, é submetido a humilhação na rua, diante de meninas que cobiça. Depois vai para casa, que não significa necessariamente um abrigo. A mãe (Patricia Selonk) é sofrida e insegura. O pai (Eucir de Souza) é um macho alfa. Radialista, mulherengo e agressivo, comanda um programa sensacionalista, no qual pobres coitados são estimulados (com dinheiro) a discutir dramas íntimos em público.

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Nesse ambiente tóxico, Ênio sente o despertar do desejo sexual. Uma noite, ele resolve sair para a aventura. Com o telefone de uma garota de programa na mão, toma emprestado o carro do pai e vai à luta. Não conta com os acidentes de percurso que vai encontrar pelo caminho. A noite de prazer torna-se pesadelo e a chuva torrencial vem como estorvo a mais, e não como referente simbólico da purificação.

À sua maneira, o filme recorre a algumas referências. De A Fogueira das Vaidades (Brian De Palma, baseado em romance de Tom Wolfe), tira a ideia do acidente que altera toda a dinâmica do enredo. De Depois das Horas, de Martin Scorsese, saca a dificuldade em voltar para casa, em que cada tentativa de solução acaba por enredar ainda mais o personagem. Em termos visuais, o filme segue padrão bastante homogêneo e impactante, com destaque em cenas noturnas, ótimo trabalho de luz contra a chuva incessante.

Há muitos outros méritos no longa, a começar pelo garoto que faz o papel principal. Como não se comover com esse adolescente frágil além da conta, de poucas palavras e rosto escondido pela cabeleira sempre caída sobre os olhos? Como se adotasse a carapaça que o proteja do mundo, o que deve ser isso mesmo. Sua cabeleira é como o capacete do astronauta na metáfora espacial do início. Sem ela, fica nu. Não respira. Eucir de Souza está bem como sempre e Patricia Selonk compõe uma mater dolorosa exasperante em sua instabilidade.

Ponto Zero impressiona pela precisão, capricho e longos planos-sequência bem desenhados. Como pode acontecer com obras pensadas e decantadas ao longo de anos, paga a consistência com certa contenção excessiva, pelo, digamos assim, excesso de planejamento. Às vezes, falta leveza, o encantamento do improviso. É o preço.

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