Análise: Tarzan é o ambivalente herói anglo-saxão criado entre macacos


Viril, violento, racista, ele é também um tipo que aprende rápido as regras da sociedade em que seus ancestrais viveram

Por Antonio Gonçalves Filho

Não admira que o novo filme de Tarzan comece em Londres e termine na selva. Há no mundo “civilizado” uma febre regressiva, tribalista, que ecoa o grito primal do rei dos macacos. Mais que isso: um desejo inconsciente do triunfo do primitivo, como no história original de Edgar Rice Burroughs (1875-1950), Tarzan dos Macacos (Tarzan of the Apes, 1912), que deu origem a duas dúzias de volumes nem sempre geniais, mas transparentes, sobre a ambivalente posição de Burroughs a respeito da civilização. Por ter sido criado e passado a vida toda entre macacos, Tarzan conserva, claro, traços de um “incivilizado” - e, portanto, de um sujeito viril e pouco amistoso, segundo a lógica de Burroughs, que carrega no racismo do órfão aristocrata inglês. Por razões pouco claras, ele é afável com os macacos, mas age com violência contra os negros africanos, que vê como inimigos. Caucasianos são promovidos à categoria de dominadores naturais. A “civilização” está em suas mãos. A propósito: Tarzan, na língua dos mangani, os grandes macacos criados por Burroughs, quer dizer “pele branca”. Os negros africanos, vistos como inferiores por Tarzan, descem à condição de suspeitos, traiçoeiros. No livro original, Burroughs sente-se na obrigação de resolver esse paradoxo. Como um aristocrata de sangue azul, o anglo-saxão perfeito, pode ser também o exemplo máximo do atleta viril, selvagem e racista, que cultiva suas paixões sem culpa, rejeitando aquilo que a sociedade dos brancos lhe oferece? Burroughs resolve esse dilema fazendo com que Tarzan evolua e venha a entender que nem toda a violência é justificável - assim, ele deixa de implicar com toda a raça negra, ainda que trucide um ou outro africano, obedecendo à lógica interna dessa obra serialista.

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A supremacia anglo-saxônica parece não se ajustar ao desejo carnal, à paixão física, de um Tarzan simiesco. O mundo civilizado é feminino demais segundo a lógica de Burroughs - por essa razão, Tarzan encontra mais ressonância entre o público masculino, identificado com o macho voluntarioso. Jane, antes de ceder, recusa a oferta de casamento de Tarzan no fim do livro seminal de Burroughs, justamente porque a versão civilizada do “homem macaco” lhe parece pouco interessante (ou viril, quem sabe). Entre um selvagem com ligeiras noções de ética e um lorde consciente do seu direito à propriedade, Jane fica com os dois, tentando se adaptar à lei da selva, onde o mais forte tem a última palavra. Burroughs criaria ainda outro herói deslocado de seu meio: John Carter, herói da Guerra Civil Americana abduzido por marcianos. Não por coincidência, inventado em 1912, ano em que nasceu Tarzan numa revista pulp.

Não admira que o novo filme de Tarzan comece em Londres e termine na selva. Há no mundo “civilizado” uma febre regressiva, tribalista, que ecoa o grito primal do rei dos macacos. Mais que isso: um desejo inconsciente do triunfo do primitivo, como no história original de Edgar Rice Burroughs (1875-1950), Tarzan dos Macacos (Tarzan of the Apes, 1912), que deu origem a duas dúzias de volumes nem sempre geniais, mas transparentes, sobre a ambivalente posição de Burroughs a respeito da civilização. Por ter sido criado e passado a vida toda entre macacos, Tarzan conserva, claro, traços de um “incivilizado” - e, portanto, de um sujeito viril e pouco amistoso, segundo a lógica de Burroughs, que carrega no racismo do órfão aristocrata inglês. Por razões pouco claras, ele é afável com os macacos, mas age com violência contra os negros africanos, que vê como inimigos. Caucasianos são promovidos à categoria de dominadores naturais. A “civilização” está em suas mãos. A propósito: Tarzan, na língua dos mangani, os grandes macacos criados por Burroughs, quer dizer “pele branca”. Os negros africanos, vistos como inferiores por Tarzan, descem à condição de suspeitos, traiçoeiros. No livro original, Burroughs sente-se na obrigação de resolver esse paradoxo. Como um aristocrata de sangue azul, o anglo-saxão perfeito, pode ser também o exemplo máximo do atleta viril, selvagem e racista, que cultiva suas paixões sem culpa, rejeitando aquilo que a sociedade dos brancos lhe oferece? Burroughs resolve esse dilema fazendo com que Tarzan evolua e venha a entender que nem toda a violência é justificável - assim, ele deixa de implicar com toda a raça negra, ainda que trucide um ou outro africano, obedecendo à lógica interna dessa obra serialista.

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A supremacia anglo-saxônica parece não se ajustar ao desejo carnal, à paixão física, de um Tarzan simiesco. O mundo civilizado é feminino demais segundo a lógica de Burroughs - por essa razão, Tarzan encontra mais ressonância entre o público masculino, identificado com o macho voluntarioso. Jane, antes de ceder, recusa a oferta de casamento de Tarzan no fim do livro seminal de Burroughs, justamente porque a versão civilizada do “homem macaco” lhe parece pouco interessante (ou viril, quem sabe). Entre um selvagem com ligeiras noções de ética e um lorde consciente do seu direito à propriedade, Jane fica com os dois, tentando se adaptar à lei da selva, onde o mais forte tem a última palavra. Burroughs criaria ainda outro herói deslocado de seu meio: John Carter, herói da Guerra Civil Americana abduzido por marcianos. Não por coincidência, inventado em 1912, ano em que nasceu Tarzan numa revista pulp.

Não admira que o novo filme de Tarzan comece em Londres e termine na selva. Há no mundo “civilizado” uma febre regressiva, tribalista, que ecoa o grito primal do rei dos macacos. Mais que isso: um desejo inconsciente do triunfo do primitivo, como no história original de Edgar Rice Burroughs (1875-1950), Tarzan dos Macacos (Tarzan of the Apes, 1912), que deu origem a duas dúzias de volumes nem sempre geniais, mas transparentes, sobre a ambivalente posição de Burroughs a respeito da civilização. Por ter sido criado e passado a vida toda entre macacos, Tarzan conserva, claro, traços de um “incivilizado” - e, portanto, de um sujeito viril e pouco amistoso, segundo a lógica de Burroughs, que carrega no racismo do órfão aristocrata inglês. Por razões pouco claras, ele é afável com os macacos, mas age com violência contra os negros africanos, que vê como inimigos. Caucasianos são promovidos à categoria de dominadores naturais. A “civilização” está em suas mãos. A propósito: Tarzan, na língua dos mangani, os grandes macacos criados por Burroughs, quer dizer “pele branca”. Os negros africanos, vistos como inferiores por Tarzan, descem à condição de suspeitos, traiçoeiros. No livro original, Burroughs sente-se na obrigação de resolver esse paradoxo. Como um aristocrata de sangue azul, o anglo-saxão perfeito, pode ser também o exemplo máximo do atleta viril, selvagem e racista, que cultiva suas paixões sem culpa, rejeitando aquilo que a sociedade dos brancos lhe oferece? Burroughs resolve esse dilema fazendo com que Tarzan evolua e venha a entender que nem toda a violência é justificável - assim, ele deixa de implicar com toda a raça negra, ainda que trucide um ou outro africano, obedecendo à lógica interna dessa obra serialista.

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A supremacia anglo-saxônica parece não se ajustar ao desejo carnal, à paixão física, de um Tarzan simiesco. O mundo civilizado é feminino demais segundo a lógica de Burroughs - por essa razão, Tarzan encontra mais ressonância entre o público masculino, identificado com o macho voluntarioso. Jane, antes de ceder, recusa a oferta de casamento de Tarzan no fim do livro seminal de Burroughs, justamente porque a versão civilizada do “homem macaco” lhe parece pouco interessante (ou viril, quem sabe). Entre um selvagem com ligeiras noções de ética e um lorde consciente do seu direito à propriedade, Jane fica com os dois, tentando se adaptar à lei da selva, onde o mais forte tem a última palavra. Burroughs criaria ainda outro herói deslocado de seu meio: John Carter, herói da Guerra Civil Americana abduzido por marcianos. Não por coincidência, inventado em 1912, ano em que nasceu Tarzan numa revista pulp.

Não admira que o novo filme de Tarzan comece em Londres e termine na selva. Há no mundo “civilizado” uma febre regressiva, tribalista, que ecoa o grito primal do rei dos macacos. Mais que isso: um desejo inconsciente do triunfo do primitivo, como no história original de Edgar Rice Burroughs (1875-1950), Tarzan dos Macacos (Tarzan of the Apes, 1912), que deu origem a duas dúzias de volumes nem sempre geniais, mas transparentes, sobre a ambivalente posição de Burroughs a respeito da civilização. Por ter sido criado e passado a vida toda entre macacos, Tarzan conserva, claro, traços de um “incivilizado” - e, portanto, de um sujeito viril e pouco amistoso, segundo a lógica de Burroughs, que carrega no racismo do órfão aristocrata inglês. Por razões pouco claras, ele é afável com os macacos, mas age com violência contra os negros africanos, que vê como inimigos. Caucasianos são promovidos à categoria de dominadores naturais. A “civilização” está em suas mãos. A propósito: Tarzan, na língua dos mangani, os grandes macacos criados por Burroughs, quer dizer “pele branca”. Os negros africanos, vistos como inferiores por Tarzan, descem à condição de suspeitos, traiçoeiros. No livro original, Burroughs sente-se na obrigação de resolver esse paradoxo. Como um aristocrata de sangue azul, o anglo-saxão perfeito, pode ser também o exemplo máximo do atleta viril, selvagem e racista, que cultiva suas paixões sem culpa, rejeitando aquilo que a sociedade dos brancos lhe oferece? Burroughs resolve esse dilema fazendo com que Tarzan evolua e venha a entender que nem toda a violência é justificável - assim, ele deixa de implicar com toda a raça negra, ainda que trucide um ou outro africano, obedecendo à lógica interna dessa obra serialista.

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A supremacia anglo-saxônica parece não se ajustar ao desejo carnal, à paixão física, de um Tarzan simiesco. O mundo civilizado é feminino demais segundo a lógica de Burroughs - por essa razão, Tarzan encontra mais ressonância entre o público masculino, identificado com o macho voluntarioso. Jane, antes de ceder, recusa a oferta de casamento de Tarzan no fim do livro seminal de Burroughs, justamente porque a versão civilizada do “homem macaco” lhe parece pouco interessante (ou viril, quem sabe). Entre um selvagem com ligeiras noções de ética e um lorde consciente do seu direito à propriedade, Jane fica com os dois, tentando se adaptar à lei da selva, onde o mais forte tem a última palavra. Burroughs criaria ainda outro herói deslocado de seu meio: John Carter, herói da Guerra Civil Americana abduzido por marcianos. Não por coincidência, inventado em 1912, ano em que nasceu Tarzan numa revista pulp.

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