'Bola de Sebo', filme soviético de 1934, ganha reedição em DVD


Novela de Guy de Maupassant inspirou pelo menos 10 adaptações, esta entre elas

Por Luiz Zanin Oricchio

Em 1880, Guy de Maupassant publicou Bola de Sebo, novela classificada por Gustave Flaubert de “verdadeira obra-prima”. Tal julgamento do perfeccionista autor de Madame Bovary deve ser levado em consideração. A história é narrada com todo rigor. E o estilo realista presta-se com perfeição para o cinema, arte e indústria que não existiam no tempo do seu autor. Só viria a ser “inventado” 15 anos depois, na própria França, pelos irmãos Lumière. 

Uma das primeiras adaptações da obra foi feita pelo cinema soviético. Ainda atuando na fase silenciosa, Mikhail Romm levou à tela a incrível história da personagem-título. Ela, na verdade, se chama Élizabeth Rousset, “Bola de Sebo” por ser meio gordinha. Está entre os dez passageiros de uma diligência que foge de Rouen rumo ao Havre, pois a cidade havia sido tomada pelos soldados inimigos. Estamos na guerra de 1970, que opôs França e Prússia. A ideia inicial da história é fazer da diligência um microcosmo da sociedade francesa. Neste, há representantes de várias camadas da sociedade. Nobres, burgueses e um comerciante de vinhos, todos acompanhados de suas esposas, e também Bola de Sebo, prostituta sobre quem se abatem os preconceitos das personalidades “respeitáveis”. 

Realismo. Filme é adaptação do conto homônimo de Guy de Maupassant Foto:
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O que não os impede de partilhar as provisões de Bola de Sebo durante a viagem, pois foi ela a única a levar alimentos em sua cesta. Pode ser proletária e de “má vida”, mas a comida é bem-vinda entre os burgueses famintos. Na primeira parada, estes também não hesitarão em exigir de Bola de Sebo outro sacrifício em nome do bem comum. Atendido o pedido, a moça roliça será relegada ao canto de onde nunca havia saído, aquele reservado à escória que não merece conviver com os bem-nascidos e endinheirados. 

Um tema como este não poderia passar despercebido ao cinema social soviético. Romm constrói sua versão como de praxe na era do chamado cinema mudo. Não podendo se apoiar em diálogos, é na expressividade das imagens que se concentram suas atenções.  O filme foi realizado em 1934 e, em 1955, ganhou versão sonora supervisionada por Romm. Acrescenta uma narração off para acompanhar a ação vista na tela. Não prejudica a obra, mas também nada lhe acrescenta. 

O poder da prosa social e crítica de Maupassant é tal que Bola de Sebo inspirou pelo menos umas dez adaptações cinematográficas. A de Romm pertence ao grupo das pioneiras, mas há outras, clássicas, como No Tempo das Diligências (1939), de John Ford, e Casanova e a Revolução (1982), de Ettore Scola. A ideia de base é sempre a mesma. A carruagem é um mundo em miniatura, habitado por seres diferentes, obrigados a um convívio que não existe no tempo normal de vida e ao qual não estão habituados. Dessa convivência forçada, sai o retrato expressivo da sociedade de classes, com suas grandezas e abjeções, gestos de generosidade e deformações de caráter. 

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Em grandes traços, essa pintura pouco lisonjeira destaca a hipocrisia dos homens, que se aproveitam dos que de fato desprezam e não hesitam em lhes voltar as costas quando tudo retorna ao normal. Brecht se inspirou na personagem de Bola de Sebo para a criação de uma Jenny de temperamento oposto em sua Ópera dos Três Vinténs, enquanto no brasileiro A Ópera do Malandro, Chico Buarque e Ruy Guerra recriaram na personagem de Geni o modelo original de Maupassant. A hipocrisia é sempre um tema forte, mesmo quando nos habituamos a ela. Basta olhar em volta. 

BOLA DE SEBO

Diretor: Mikhail Romm

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Distribuição: CPC-Umes Filmes 

Gênero: Drama, 1934, 90 min. P&B Versão sonorizada com narrativa em off

Preço: R$ 26

Em 1880, Guy de Maupassant publicou Bola de Sebo, novela classificada por Gustave Flaubert de “verdadeira obra-prima”. Tal julgamento do perfeccionista autor de Madame Bovary deve ser levado em consideração. A história é narrada com todo rigor. E o estilo realista presta-se com perfeição para o cinema, arte e indústria que não existiam no tempo do seu autor. Só viria a ser “inventado” 15 anos depois, na própria França, pelos irmãos Lumière. 

Uma das primeiras adaptações da obra foi feita pelo cinema soviético. Ainda atuando na fase silenciosa, Mikhail Romm levou à tela a incrível história da personagem-título. Ela, na verdade, se chama Élizabeth Rousset, “Bola de Sebo” por ser meio gordinha. Está entre os dez passageiros de uma diligência que foge de Rouen rumo ao Havre, pois a cidade havia sido tomada pelos soldados inimigos. Estamos na guerra de 1970, que opôs França e Prússia. A ideia inicial da história é fazer da diligência um microcosmo da sociedade francesa. Neste, há representantes de várias camadas da sociedade. Nobres, burgueses e um comerciante de vinhos, todos acompanhados de suas esposas, e também Bola de Sebo, prostituta sobre quem se abatem os preconceitos das personalidades “respeitáveis”. 

Realismo. Filme é adaptação do conto homônimo de Guy de Maupassant Foto:

O que não os impede de partilhar as provisões de Bola de Sebo durante a viagem, pois foi ela a única a levar alimentos em sua cesta. Pode ser proletária e de “má vida”, mas a comida é bem-vinda entre os burgueses famintos. Na primeira parada, estes também não hesitarão em exigir de Bola de Sebo outro sacrifício em nome do bem comum. Atendido o pedido, a moça roliça será relegada ao canto de onde nunca havia saído, aquele reservado à escória que não merece conviver com os bem-nascidos e endinheirados. 

Um tema como este não poderia passar despercebido ao cinema social soviético. Romm constrói sua versão como de praxe na era do chamado cinema mudo. Não podendo se apoiar em diálogos, é na expressividade das imagens que se concentram suas atenções.  O filme foi realizado em 1934 e, em 1955, ganhou versão sonora supervisionada por Romm. Acrescenta uma narração off para acompanhar a ação vista na tela. Não prejudica a obra, mas também nada lhe acrescenta. 

O poder da prosa social e crítica de Maupassant é tal que Bola de Sebo inspirou pelo menos umas dez adaptações cinematográficas. A de Romm pertence ao grupo das pioneiras, mas há outras, clássicas, como No Tempo das Diligências (1939), de John Ford, e Casanova e a Revolução (1982), de Ettore Scola. A ideia de base é sempre a mesma. A carruagem é um mundo em miniatura, habitado por seres diferentes, obrigados a um convívio que não existe no tempo normal de vida e ao qual não estão habituados. Dessa convivência forçada, sai o retrato expressivo da sociedade de classes, com suas grandezas e abjeções, gestos de generosidade e deformações de caráter. 

Em grandes traços, essa pintura pouco lisonjeira destaca a hipocrisia dos homens, que se aproveitam dos que de fato desprezam e não hesitam em lhes voltar as costas quando tudo retorna ao normal. Brecht se inspirou na personagem de Bola de Sebo para a criação de uma Jenny de temperamento oposto em sua Ópera dos Três Vinténs, enquanto no brasileiro A Ópera do Malandro, Chico Buarque e Ruy Guerra recriaram na personagem de Geni o modelo original de Maupassant. A hipocrisia é sempre um tema forte, mesmo quando nos habituamos a ela. Basta olhar em volta. 

BOLA DE SEBO

Diretor: Mikhail Romm

Distribuição: CPC-Umes Filmes 

Gênero: Drama, 1934, 90 min. P&B Versão sonorizada com narrativa em off

Preço: R$ 26

Em 1880, Guy de Maupassant publicou Bola de Sebo, novela classificada por Gustave Flaubert de “verdadeira obra-prima”. Tal julgamento do perfeccionista autor de Madame Bovary deve ser levado em consideração. A história é narrada com todo rigor. E o estilo realista presta-se com perfeição para o cinema, arte e indústria que não existiam no tempo do seu autor. Só viria a ser “inventado” 15 anos depois, na própria França, pelos irmãos Lumière. 

Uma das primeiras adaptações da obra foi feita pelo cinema soviético. Ainda atuando na fase silenciosa, Mikhail Romm levou à tela a incrível história da personagem-título. Ela, na verdade, se chama Élizabeth Rousset, “Bola de Sebo” por ser meio gordinha. Está entre os dez passageiros de uma diligência que foge de Rouen rumo ao Havre, pois a cidade havia sido tomada pelos soldados inimigos. Estamos na guerra de 1970, que opôs França e Prússia. A ideia inicial da história é fazer da diligência um microcosmo da sociedade francesa. Neste, há representantes de várias camadas da sociedade. Nobres, burgueses e um comerciante de vinhos, todos acompanhados de suas esposas, e também Bola de Sebo, prostituta sobre quem se abatem os preconceitos das personalidades “respeitáveis”. 

Realismo. Filme é adaptação do conto homônimo de Guy de Maupassant Foto:

O que não os impede de partilhar as provisões de Bola de Sebo durante a viagem, pois foi ela a única a levar alimentos em sua cesta. Pode ser proletária e de “má vida”, mas a comida é bem-vinda entre os burgueses famintos. Na primeira parada, estes também não hesitarão em exigir de Bola de Sebo outro sacrifício em nome do bem comum. Atendido o pedido, a moça roliça será relegada ao canto de onde nunca havia saído, aquele reservado à escória que não merece conviver com os bem-nascidos e endinheirados. 

Um tema como este não poderia passar despercebido ao cinema social soviético. Romm constrói sua versão como de praxe na era do chamado cinema mudo. Não podendo se apoiar em diálogos, é na expressividade das imagens que se concentram suas atenções.  O filme foi realizado em 1934 e, em 1955, ganhou versão sonora supervisionada por Romm. Acrescenta uma narração off para acompanhar a ação vista na tela. Não prejudica a obra, mas também nada lhe acrescenta. 

O poder da prosa social e crítica de Maupassant é tal que Bola de Sebo inspirou pelo menos umas dez adaptações cinematográficas. A de Romm pertence ao grupo das pioneiras, mas há outras, clássicas, como No Tempo das Diligências (1939), de John Ford, e Casanova e a Revolução (1982), de Ettore Scola. A ideia de base é sempre a mesma. A carruagem é um mundo em miniatura, habitado por seres diferentes, obrigados a um convívio que não existe no tempo normal de vida e ao qual não estão habituados. Dessa convivência forçada, sai o retrato expressivo da sociedade de classes, com suas grandezas e abjeções, gestos de generosidade e deformações de caráter. 

Em grandes traços, essa pintura pouco lisonjeira destaca a hipocrisia dos homens, que se aproveitam dos que de fato desprezam e não hesitam em lhes voltar as costas quando tudo retorna ao normal. Brecht se inspirou na personagem de Bola de Sebo para a criação de uma Jenny de temperamento oposto em sua Ópera dos Três Vinténs, enquanto no brasileiro A Ópera do Malandro, Chico Buarque e Ruy Guerra recriaram na personagem de Geni o modelo original de Maupassant. A hipocrisia é sempre um tema forte, mesmo quando nos habituamos a ela. Basta olhar em volta. 

BOLA DE SEBO

Diretor: Mikhail Romm

Distribuição: CPC-Umes Filmes 

Gênero: Drama, 1934, 90 min. P&B Versão sonorizada com narrativa em off

Preço: R$ 26

Em 1880, Guy de Maupassant publicou Bola de Sebo, novela classificada por Gustave Flaubert de “verdadeira obra-prima”. Tal julgamento do perfeccionista autor de Madame Bovary deve ser levado em consideração. A história é narrada com todo rigor. E o estilo realista presta-se com perfeição para o cinema, arte e indústria que não existiam no tempo do seu autor. Só viria a ser “inventado” 15 anos depois, na própria França, pelos irmãos Lumière. 

Uma das primeiras adaptações da obra foi feita pelo cinema soviético. Ainda atuando na fase silenciosa, Mikhail Romm levou à tela a incrível história da personagem-título. Ela, na verdade, se chama Élizabeth Rousset, “Bola de Sebo” por ser meio gordinha. Está entre os dez passageiros de uma diligência que foge de Rouen rumo ao Havre, pois a cidade havia sido tomada pelos soldados inimigos. Estamos na guerra de 1970, que opôs França e Prússia. A ideia inicial da história é fazer da diligência um microcosmo da sociedade francesa. Neste, há representantes de várias camadas da sociedade. Nobres, burgueses e um comerciante de vinhos, todos acompanhados de suas esposas, e também Bola de Sebo, prostituta sobre quem se abatem os preconceitos das personalidades “respeitáveis”. 

Realismo. Filme é adaptação do conto homônimo de Guy de Maupassant Foto:

O que não os impede de partilhar as provisões de Bola de Sebo durante a viagem, pois foi ela a única a levar alimentos em sua cesta. Pode ser proletária e de “má vida”, mas a comida é bem-vinda entre os burgueses famintos. Na primeira parada, estes também não hesitarão em exigir de Bola de Sebo outro sacrifício em nome do bem comum. Atendido o pedido, a moça roliça será relegada ao canto de onde nunca havia saído, aquele reservado à escória que não merece conviver com os bem-nascidos e endinheirados. 

Um tema como este não poderia passar despercebido ao cinema social soviético. Romm constrói sua versão como de praxe na era do chamado cinema mudo. Não podendo se apoiar em diálogos, é na expressividade das imagens que se concentram suas atenções.  O filme foi realizado em 1934 e, em 1955, ganhou versão sonora supervisionada por Romm. Acrescenta uma narração off para acompanhar a ação vista na tela. Não prejudica a obra, mas também nada lhe acrescenta. 

O poder da prosa social e crítica de Maupassant é tal que Bola de Sebo inspirou pelo menos umas dez adaptações cinematográficas. A de Romm pertence ao grupo das pioneiras, mas há outras, clássicas, como No Tempo das Diligências (1939), de John Ford, e Casanova e a Revolução (1982), de Ettore Scola. A ideia de base é sempre a mesma. A carruagem é um mundo em miniatura, habitado por seres diferentes, obrigados a um convívio que não existe no tempo normal de vida e ao qual não estão habituados. Dessa convivência forçada, sai o retrato expressivo da sociedade de classes, com suas grandezas e abjeções, gestos de generosidade e deformações de caráter. 

Em grandes traços, essa pintura pouco lisonjeira destaca a hipocrisia dos homens, que se aproveitam dos que de fato desprezam e não hesitam em lhes voltar as costas quando tudo retorna ao normal. Brecht se inspirou na personagem de Bola de Sebo para a criação de uma Jenny de temperamento oposto em sua Ópera dos Três Vinténs, enquanto no brasileiro A Ópera do Malandro, Chico Buarque e Ruy Guerra recriaram na personagem de Geni o modelo original de Maupassant. A hipocrisia é sempre um tema forte, mesmo quando nos habituamos a ela. Basta olhar em volta. 

BOLA DE SEBO

Diretor: Mikhail Romm

Distribuição: CPC-Umes Filmes 

Gênero: Drama, 1934, 90 min. P&B Versão sonorizada com narrativa em off

Preço: R$ 26

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