Documentário devastador sobre Amy Winehouse faz sucesso na Inglaterra


Filme, um verdadeiro diário da destruição, foi o doc britânico de maior sucesso na estreia, arrecadando US$800 mil

Por Manohla Dargis

Em The Dogs Are Eating Your Mother (Os cães estão comendo sua mãe), um poema que Ted Hughes escreveu para seus filhos e, por extensão, para críticos e fãs, ele fala de hienas que rasgam o corpo de sua esposa morta, Sylvia Plath. Depois de desenterrá-la: “They batten/ On the cornucopia / Of her body (elas se banqueteiam com a cornucópia do seu corpo, em tradução literal)”. 

Em Amy, uma biografia devastadora da cantora e compositora inglesa Amy Winehouse, temos a visão de outras hienas toda vez que os paparazzi partem para matar. Os fotógrafos sacam suas câmeras diante do seu rosto e corpo destruídos, rasgando-a a cada clique da máquina. Algumas dessas imagens aparecem em Amy, que descreve o arco da breve e desordenada existência da cantora de jazz de voz rouca, à sensação global da música pop e à sua morte em 2011, aos 27 anos, por intoxicação alcoólica. 

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A visão deste material incomoda, como alguns dos seus dolorosos autorretratos. O diretor, Asif Kapadia, não responde diretamente se o público queria ver Winehouse afundar definitivamente ou, ao contrário, se alimentou insistentemente sua queda, embora esta pergunta paire sobre o filme. Porque, qualquer que tenha sido a causa, ficou difícil evitar que sua degradação fosse persistentemente alimentada no final de sua vida, foto por foto, piada por piada. 

O impressionante agora é descobrir que nós todos estávamos vendo Amy morrer. E ainda estamos, embora haja muito mais neste documentário do que um espetáculo triste. O perfil mais amplo da história de Amy é mais ou menos conhecido, porque já foi empacotado e vendido através da máquina da publicidade e da mídia, os motores mutuamente dependentes da cultura contemporânea da celebridade. 

Kapadia mantém seu olhar – e o nosso – fixo em Amy o tempo todo. De maneira inteligente, ele montou os visuais exclusivamente com imagens de arquivo, vasculhando uma valiosa coleção de vídeos da família, material de concertos, entrevistas para divulgação e sessões de gravação – entre os mais interessantes está uma sessão emocionante com Tony Bennett, dando-lhe todo o seu carinhoso apoio. 

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Amy era surpreendentemente engraçada, à vontade, aparentemente dotada, com uma mente aguda e um profundo autoconhecimento, como sugeria o temor que ela manifestava de se tornar famosa. A fama a afetou rapidamente, de maneira inflexível, impiedosa. Kapadia mostra os aspectos positivos, como o relacionamento com outros músicos, como Yasiin Bey quando ele era conhecido como Mos Def. E também os inevitáveis aspectos negativos, como os que ajudaram a destruir sua saúde, e a transformaram em matéria para tabloides. 

Foi horrível, e às vezes isso nos enfureceu, ver Jay Leno, que a recebeu no Tonight Show, fazer piada com repulsiva insensibilidade sobre o fato de ela se drogar. E embora às vezes ela tentasse evitar o público, parecia incapaz de fugir dele – de nós – por opção ou não. Torna-se progressivamente mais difícil assistir à decadência de Amy, enquanto sua intimidade, que no início parecia bonita, calorosa, confortável, começa a ser invadida de maneira desconfortável. 

Este desconforto é crucial para a complexidade do filme e é por esta razão que funciona como certa provocação ética e intelectual. Com Amy, Kapadia não se limita a revisitar sua vida e morte, mas também – empurrando-nos mais perto dela, de início de maneira agradável e depois desagradável – contando a história de uma celebridade contemporânea e, fundamentalmente, o peso representado pelos fãs. 

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Asif Kapadia fala sobre imagens do filme "Amy", que mostrama cantora em um estúdio de gravações

Obviamente ela gostava de algumas coisas que a fama lhe proporcionara, mas também acumulara bandos de paparazzi e alguns relacionamentos nocivos. A família de Amy queixou-se de que o filme é equivocado e contém graves inverdades. Entretanto, Kapadia, ao que parece, não precisou esforçar-se para que alguns integrantes do círculo da cantora revelassem seu mau caráter; eles fizeram um excelente trabalho neste sentido por conta própria. Os outros, como nós, tampouco saem sentindo-se perfeitamente bem. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Em The Dogs Are Eating Your Mother (Os cães estão comendo sua mãe), um poema que Ted Hughes escreveu para seus filhos e, por extensão, para críticos e fãs, ele fala de hienas que rasgam o corpo de sua esposa morta, Sylvia Plath. Depois de desenterrá-la: “They batten/ On the cornucopia / Of her body (elas se banqueteiam com a cornucópia do seu corpo, em tradução literal)”. 

Em Amy, uma biografia devastadora da cantora e compositora inglesa Amy Winehouse, temos a visão de outras hienas toda vez que os paparazzi partem para matar. Os fotógrafos sacam suas câmeras diante do seu rosto e corpo destruídos, rasgando-a a cada clique da máquina. Algumas dessas imagens aparecem em Amy, que descreve o arco da breve e desordenada existência da cantora de jazz de voz rouca, à sensação global da música pop e à sua morte em 2011, aos 27 anos, por intoxicação alcoólica. 

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A visão deste material incomoda, como alguns dos seus dolorosos autorretratos. O diretor, Asif Kapadia, não responde diretamente se o público queria ver Winehouse afundar definitivamente ou, ao contrário, se alimentou insistentemente sua queda, embora esta pergunta paire sobre o filme. Porque, qualquer que tenha sido a causa, ficou difícil evitar que sua degradação fosse persistentemente alimentada no final de sua vida, foto por foto, piada por piada. 

O impressionante agora é descobrir que nós todos estávamos vendo Amy morrer. E ainda estamos, embora haja muito mais neste documentário do que um espetáculo triste. O perfil mais amplo da história de Amy é mais ou menos conhecido, porque já foi empacotado e vendido através da máquina da publicidade e da mídia, os motores mutuamente dependentes da cultura contemporânea da celebridade. 

Kapadia mantém seu olhar – e o nosso – fixo em Amy o tempo todo. De maneira inteligente, ele montou os visuais exclusivamente com imagens de arquivo, vasculhando uma valiosa coleção de vídeos da família, material de concertos, entrevistas para divulgação e sessões de gravação – entre os mais interessantes está uma sessão emocionante com Tony Bennett, dando-lhe todo o seu carinhoso apoio. 

Amy era surpreendentemente engraçada, à vontade, aparentemente dotada, com uma mente aguda e um profundo autoconhecimento, como sugeria o temor que ela manifestava de se tornar famosa. A fama a afetou rapidamente, de maneira inflexível, impiedosa. Kapadia mostra os aspectos positivos, como o relacionamento com outros músicos, como Yasiin Bey quando ele era conhecido como Mos Def. E também os inevitáveis aspectos negativos, como os que ajudaram a destruir sua saúde, e a transformaram em matéria para tabloides. 

Foi horrível, e às vezes isso nos enfureceu, ver Jay Leno, que a recebeu no Tonight Show, fazer piada com repulsiva insensibilidade sobre o fato de ela se drogar. E embora às vezes ela tentasse evitar o público, parecia incapaz de fugir dele – de nós – por opção ou não. Torna-se progressivamente mais difícil assistir à decadência de Amy, enquanto sua intimidade, que no início parecia bonita, calorosa, confortável, começa a ser invadida de maneira desconfortável. 

Este desconforto é crucial para a complexidade do filme e é por esta razão que funciona como certa provocação ética e intelectual. Com Amy, Kapadia não se limita a revisitar sua vida e morte, mas também – empurrando-nos mais perto dela, de início de maneira agradável e depois desagradável – contando a história de uma celebridade contemporânea e, fundamentalmente, o peso representado pelos fãs. 

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Obviamente ela gostava de algumas coisas que a fama lhe proporcionara, mas também acumulara bandos de paparazzi e alguns relacionamentos nocivos. A família de Amy queixou-se de que o filme é equivocado e contém graves inverdades. Entretanto, Kapadia, ao que parece, não precisou esforçar-se para que alguns integrantes do círculo da cantora revelassem seu mau caráter; eles fizeram um excelente trabalho neste sentido por conta própria. Os outros, como nós, tampouco saem sentindo-se perfeitamente bem. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Em The Dogs Are Eating Your Mother (Os cães estão comendo sua mãe), um poema que Ted Hughes escreveu para seus filhos e, por extensão, para críticos e fãs, ele fala de hienas que rasgam o corpo de sua esposa morta, Sylvia Plath. Depois de desenterrá-la: “They batten/ On the cornucopia / Of her body (elas se banqueteiam com a cornucópia do seu corpo, em tradução literal)”. 

Em Amy, uma biografia devastadora da cantora e compositora inglesa Amy Winehouse, temos a visão de outras hienas toda vez que os paparazzi partem para matar. Os fotógrafos sacam suas câmeras diante do seu rosto e corpo destruídos, rasgando-a a cada clique da máquina. Algumas dessas imagens aparecem em Amy, que descreve o arco da breve e desordenada existência da cantora de jazz de voz rouca, à sensação global da música pop e à sua morte em 2011, aos 27 anos, por intoxicação alcoólica. 

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A visão deste material incomoda, como alguns dos seus dolorosos autorretratos. O diretor, Asif Kapadia, não responde diretamente se o público queria ver Winehouse afundar definitivamente ou, ao contrário, se alimentou insistentemente sua queda, embora esta pergunta paire sobre o filme. Porque, qualquer que tenha sido a causa, ficou difícil evitar que sua degradação fosse persistentemente alimentada no final de sua vida, foto por foto, piada por piada. 

O impressionante agora é descobrir que nós todos estávamos vendo Amy morrer. E ainda estamos, embora haja muito mais neste documentário do que um espetáculo triste. O perfil mais amplo da história de Amy é mais ou menos conhecido, porque já foi empacotado e vendido através da máquina da publicidade e da mídia, os motores mutuamente dependentes da cultura contemporânea da celebridade. 

Kapadia mantém seu olhar – e o nosso – fixo em Amy o tempo todo. De maneira inteligente, ele montou os visuais exclusivamente com imagens de arquivo, vasculhando uma valiosa coleção de vídeos da família, material de concertos, entrevistas para divulgação e sessões de gravação – entre os mais interessantes está uma sessão emocionante com Tony Bennett, dando-lhe todo o seu carinhoso apoio. 

Amy era surpreendentemente engraçada, à vontade, aparentemente dotada, com uma mente aguda e um profundo autoconhecimento, como sugeria o temor que ela manifestava de se tornar famosa. A fama a afetou rapidamente, de maneira inflexível, impiedosa. Kapadia mostra os aspectos positivos, como o relacionamento com outros músicos, como Yasiin Bey quando ele era conhecido como Mos Def. E também os inevitáveis aspectos negativos, como os que ajudaram a destruir sua saúde, e a transformaram em matéria para tabloides. 

Foi horrível, e às vezes isso nos enfureceu, ver Jay Leno, que a recebeu no Tonight Show, fazer piada com repulsiva insensibilidade sobre o fato de ela se drogar. E embora às vezes ela tentasse evitar o público, parecia incapaz de fugir dele – de nós – por opção ou não. Torna-se progressivamente mais difícil assistir à decadência de Amy, enquanto sua intimidade, que no início parecia bonita, calorosa, confortável, começa a ser invadida de maneira desconfortável. 

Este desconforto é crucial para a complexidade do filme e é por esta razão que funciona como certa provocação ética e intelectual. Com Amy, Kapadia não se limita a revisitar sua vida e morte, mas também – empurrando-nos mais perto dela, de início de maneira agradável e depois desagradável – contando a história de uma celebridade contemporânea e, fundamentalmente, o peso representado pelos fãs. 

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Asif Kapadia fala sobre imagens do filme "Amy", que mostrama cantora em um estúdio de gravações

Obviamente ela gostava de algumas coisas que a fama lhe proporcionara, mas também acumulara bandos de paparazzi e alguns relacionamentos nocivos. A família de Amy queixou-se de que o filme é equivocado e contém graves inverdades. Entretanto, Kapadia, ao que parece, não precisou esforçar-se para que alguns integrantes do círculo da cantora revelassem seu mau caráter; eles fizeram um excelente trabalho neste sentido por conta própria. Os outros, como nós, tampouco saem sentindo-se perfeitamente bem. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Em The Dogs Are Eating Your Mother (Os cães estão comendo sua mãe), um poema que Ted Hughes escreveu para seus filhos e, por extensão, para críticos e fãs, ele fala de hienas que rasgam o corpo de sua esposa morta, Sylvia Plath. Depois de desenterrá-la: “They batten/ On the cornucopia / Of her body (elas se banqueteiam com a cornucópia do seu corpo, em tradução literal)”. 

Em Amy, uma biografia devastadora da cantora e compositora inglesa Amy Winehouse, temos a visão de outras hienas toda vez que os paparazzi partem para matar. Os fotógrafos sacam suas câmeras diante do seu rosto e corpo destruídos, rasgando-a a cada clique da máquina. Algumas dessas imagens aparecem em Amy, que descreve o arco da breve e desordenada existência da cantora de jazz de voz rouca, à sensação global da música pop e à sua morte em 2011, aos 27 anos, por intoxicação alcoólica. 

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A visão deste material incomoda, como alguns dos seus dolorosos autorretratos. O diretor, Asif Kapadia, não responde diretamente se o público queria ver Winehouse afundar definitivamente ou, ao contrário, se alimentou insistentemente sua queda, embora esta pergunta paire sobre o filme. Porque, qualquer que tenha sido a causa, ficou difícil evitar que sua degradação fosse persistentemente alimentada no final de sua vida, foto por foto, piada por piada. 

O impressionante agora é descobrir que nós todos estávamos vendo Amy morrer. E ainda estamos, embora haja muito mais neste documentário do que um espetáculo triste. O perfil mais amplo da história de Amy é mais ou menos conhecido, porque já foi empacotado e vendido através da máquina da publicidade e da mídia, os motores mutuamente dependentes da cultura contemporânea da celebridade. 

Kapadia mantém seu olhar – e o nosso – fixo em Amy o tempo todo. De maneira inteligente, ele montou os visuais exclusivamente com imagens de arquivo, vasculhando uma valiosa coleção de vídeos da família, material de concertos, entrevistas para divulgação e sessões de gravação – entre os mais interessantes está uma sessão emocionante com Tony Bennett, dando-lhe todo o seu carinhoso apoio. 

Amy era surpreendentemente engraçada, à vontade, aparentemente dotada, com uma mente aguda e um profundo autoconhecimento, como sugeria o temor que ela manifestava de se tornar famosa. A fama a afetou rapidamente, de maneira inflexível, impiedosa. Kapadia mostra os aspectos positivos, como o relacionamento com outros músicos, como Yasiin Bey quando ele era conhecido como Mos Def. E também os inevitáveis aspectos negativos, como os que ajudaram a destruir sua saúde, e a transformaram em matéria para tabloides. 

Foi horrível, e às vezes isso nos enfureceu, ver Jay Leno, que a recebeu no Tonight Show, fazer piada com repulsiva insensibilidade sobre o fato de ela se drogar. E embora às vezes ela tentasse evitar o público, parecia incapaz de fugir dele – de nós – por opção ou não. Torna-se progressivamente mais difícil assistir à decadência de Amy, enquanto sua intimidade, que no início parecia bonita, calorosa, confortável, começa a ser invadida de maneira desconfortável. 

Este desconforto é crucial para a complexidade do filme e é por esta razão que funciona como certa provocação ética e intelectual. Com Amy, Kapadia não se limita a revisitar sua vida e morte, mas também – empurrando-nos mais perto dela, de início de maneira agradável e depois desagradável – contando a história de uma celebridade contemporânea e, fundamentalmente, o peso representado pelos fãs. 

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Obviamente ela gostava de algumas coisas que a fama lhe proporcionara, mas também acumulara bandos de paparazzi e alguns relacionamentos nocivos. A família de Amy queixou-se de que o filme é equivocado e contém graves inverdades. Entretanto, Kapadia, ao que parece, não precisou esforçar-se para que alguns integrantes do círculo da cantora revelassem seu mau caráter; eles fizeram um excelente trabalho neste sentido por conta própria. Os outros, como nós, tampouco saem sentindo-se perfeitamente bem. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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