Filme inédito registra funeral do jornalista e escritor João do Rio


Rolo com treze minutos de duração gravado em 1921 mostra as mais de 100 mil pessoas no enterro e personalidades como Ruy Barbosa

Por Leandro Nunes

Quem saltava do bonde no centro do Rio antigo tinha a visão do céu e do inferno, ao mesmo tempo. De um lado, ainda havia a extinta Praia de Santa Luzia e do outro lado, o clima sombrio da Santa Casa e do necrotério, rodeado dos chamados ‘urubus’. Em 1910, o jornalista, escritor e teatrólogo João do Rio registrou em A Alma Encantadora das Ruas o trabalho peculiar de sujeitos que vendiam serviços funerários para pessoas em luto, que saltavam do bonde a caminho do necrotério. “Quando quiser uma coroa...”, ofereceu um deles ao escritor. “Deus queira que não”, respondeu o jornalista.

Onze anos depois, a morte visitada por João do Rio naquele dia chegaria para ficar. Pseudônimo de Paulo Barreto, o jornalista que fez de seus passeios pela cidade retratos mais que encantadores do cotidiano carioca, morreu em 23 de junho de 1921. Um registro do cortejo de seu funeral foi encontrado em filme inédito pelo pesquisador Antonio Venancio. O enterro de Barreto esteve entre os mais frequentados do Brasil, com um público estimado de 100 mil pessoas, ao lado de Getúlio Vargas (300 mil) e Carmen Miranda (60 mil). 

Restauro.Antonio Venancio assistiu ao filme que ficou perdidopor anos Foto: WILTON JUNIOR/ESTADAO
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O trabalho de Venancio para encontrar o filme foi tão minucioso quanto as derivas do jornalista pela ruas cariocas. Ele conta que há cinco anos assistiu ao filme do enterro durante uma mostra da Cinemateca do Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro, que incluía na programação a filmagem de uma corrida de cavalos no Jockey Club de São Paulo, da mesma época. “Mais tarde busquei pelo filme, e entrei em contato com os responsáveis pela Cinemateca e o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, mas ninguém sabia de seu paradeiro.” Assim como na vida de João do Rio, algumas informações preferem bater à porta. E elas também chegaram na casa de Venancio. “Uma mulher me procurou e disse que tinha um filme de meu interesse. Nas mãos ela tinha a lata com o filme do enterro de João do Rio.” 

O filme com 13 minutos de duração exibe diversos pontos do trajeto até o cemitério São João Batista, mesmo local em que Carmen Miranda e, recentemente, a cantora Miúcha, foram sepultadas. Em um dos trechos, um quadro informa, na grafia da época: “Quando a morte cruel, e implacável, arrebatou do seio dos vivos a figura iminente do ‘escriptor’ e jornalista Paulo Barreto, um manto de crepe, descerrou-se sobre a cidade do Rio de Janeiro, estendendo-se por todo o Brasil e desdobrando-se ‘atravez’ do oceano para enlutar Portugal também.” Em outro trecho, o quadro anuncia a passagem do cortejo pelo palacete em que vivia “o grande amigo e defensor dos ‘opprimidos’.” 

Colegas de trabalho da redação do jornal A Pátria também aparecem reunidos na última homenagem. Na época, o folhetim carioca criado pelo jornalista tinha um posicionamento pró-colônia portuguesa e custou-lhe ameaças de morte e ofensas pessoais, de cunho racista, por ser negro, gordo, e também por sua homossexualidade assumida. No filme, também há a presença de Ruy Barbosa, “o expoente máximo da nossa nacionalidade, foi pessoalmente render a sua homenagem a Paulo Barreto.”

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Segundo o pesquisador, o filme fabricado em nitrato de celulose estava bastante danificado, com sinais de deterioração por tempo e mal acondicionamento. O material produzido a partir da polpa da madeira com ácido nítrico é altamente inflamável.  No Brasil, há longos históricos de incêndio em estúdios e acervos de filmes por combustão espontânea. Em 2016, a Cinemateca Brasileira, um dos maiores acervos da América Latina, perdeu mais de 500 obras. Entre os rolos originais destruídos estava filmes de cinejornais da década de 40 e títulos não divulgados. Na época, a Cinemateca informou que todo o material estava preservado em cópias. Foi o quarto incêndio registrado na Cinemateca, depois de 1957, 1969 e 1982.

Despedida. Enterro de João do Rio Foto: REPRODUÇÃO

Mas não foram só os museus que tiveram seus arquivos perdidos. Entre os anos 1960 e 1990, quase todas as emissoras de TV enfrentaram tragédias semelhantes. Em 1969, 1971 e 1976, a Rede Globo perdeu filmes e fragmentos da década de 1960 em um incêndio na sede paulista. Estima-se a destruição de 920 a 1.500 fitas, de novelas a telejornais. Em 1969, a Rede Bandeirantes perdeu alguns materiais mas conseguiu preservar fitas dos teleteatros de Cacilda Becker e dos jogos do Brasil na Copa 1970. Em 1991, o SBT lamentou a destruição de arquivo raros como a passagem de Silvio Santos pela TV Tupi, Paulista, Globo e Record.

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A solução para o documento encontrado por Venancio foi buscar a produtora Afinal Filmes que converteu o material em um filme digital em 4K. “É um processo que quase ninguém faz no Brasil”, aponta Venancio. “O equipamento é um scanner por onde passa o filme de nitrato. Uma luz emitida, envia um sinal digital de cada frame, convertendo o filme.” Após a restauração, Venancio pretende organizar a exibição do filme e posteriormente depositá-lo no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro.

Demanda de filmes restaurados poderia abastecer streaming

De obras clássicas, a documentários, mercado tem potencial para oferecer conteúdo mas há poucos restauradores

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Após a boa notícia de que o filme do enterro do João do Rio foi encontrado, o que o pesquisador tinha nas mãos não era tão estimulante. A lata com o rolo de 13 minutos estava em mau estado de conservação. Com o tempo, a película gruda – quando não sofre combustão espontânea – e danifica a imagem de modo permanente. 

O pesquisador Antonio Venancio levou o material até a Afinal Filmes, uma produtora audiovisual no Rio, que além de realizar processos de pós produção e produção de audiovisual, tem um setor destinado à restauração de filmes antigos. O equipamento utilizado não é tão comum no País. O conjunto de scanner, roletes e lente e outros elementos faz o trabalho de transformar as imagens da película em um filme de resolução 4k, em tempo real. Se o filme tem 50 minutos, a conversão em 4k durará os mesmos 50 minutos.

Mas não foi o que aconteceu com o filme do enterro, conta o sócio da produtora Marcelo Pedrazzi. “O material estava mesmo danificado, com muitas partes grudadas.” Ele conta que, antes, foi preciso realizar um processo de limpeza em todo o rolo para, em seguida, escanear os quadros, levando mais que 13 minutos, a duração total do filme. “Quando o filme passa pela lente, uma luz é emitida e um sinal enviado cria um arquivo digital”, explica Pedrazzi. Desde que a aquisição do equipamento em 2016, a Afinal realiza processos de restauração para diversos casos, como a conversão de arquivos para uso em documentários, no caso da inserção de trechos, e a recuperação de materiais antigos. 

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A atividade abriu caminho para um mercado interessante, mas com demanda reprimida, conta Pedrazzi. “Alguns nos procuram para restaurar filmes em outros formatos, como Super 8, por exemplo, o que essa máquina não faz.” Ele conta que em todo Brasil, a Cinemateca Brasileira deveria ser o principal polo para esse tipo de serviço de recuperação. “Por um tempo, chegou-se a fazer, mas a Cinemateca perdeu capacidade ao longo dos anos.” 

Em dezembro do ano passado, o extinto MinC lançou edital específico para restauro e digitalização de conteúdos audiovisuais. De acordo com o site, devem ser investidos em 2019 R$ 23.375 milhões para projetos de recuperação de obras audiovisuais e de migração de suporte de origem da obra para formato digital. Para os projetos de restauro selecionados, o valor destinado será R$ 1.250 milhão, totalizando R$ 10 milhões. Já os de digitalização receberão R$ 750 mil, com investimento total de R$ 13, 375 milhões. No âmbito estadual, há editais na área arquivos, da Secretária de Cultura, que destina anualmente R$ 100 mil a projetos de difusão e acesso em arquivos permanentes, e R$ 100 mil para projetos de gestão e preservação de arquivos permanentes.

Desde 2016, a restauração de filmes na produtora carioca rendeu um acúmulo de mais de 5o títulos. O resultado pode ser visto em 2018 com a primeira edição do festival Remaster, Clássicos do Cinema Brasileiro, mostra que vai na mão do ineditismo e acontece de forma simultânea no Rio e em São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Porto Alegre e Salvador. 

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Na programação, circularam longas como Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos, O Homem da Capa Preta (1976), de Sergio Rezende, República dos Assassinos (1976), de Miguel Faria Jr., Luz del Fuego (1982), de Roberto Farias e os documentário Os Doces Bárbaros (1977), de Jom Tob Azulay, e Carmen Miranda: Banana is My Bussiness (1955), de Helena Solberg.

Para Pedrazzi, a recuperação de filmes brasileiros poderia tornar-se um mercado que atenderia muito mais que o gosto local por clássicos. “Há uma busca pelo cinema nacional antigo, desde pesquisadores até o público comum. A restauração impulsionaria uma cadeia produtiva para atender plataformas de streaming, como a Netflix, por exemplo. É um jeito de ampliar o acesso à produção audiovisual brasileira.”

Quem é 

João do Rio

João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto nasceu no Rio em 1881. Fundou o jornal A Pátria e se destacou como teatrólogo e grande cronista carioca. Morreu em 1921, na capital fluminense.

Quem saltava do bonde no centro do Rio antigo tinha a visão do céu e do inferno, ao mesmo tempo. De um lado, ainda havia a extinta Praia de Santa Luzia e do outro lado, o clima sombrio da Santa Casa e do necrotério, rodeado dos chamados ‘urubus’. Em 1910, o jornalista, escritor e teatrólogo João do Rio registrou em A Alma Encantadora das Ruas o trabalho peculiar de sujeitos que vendiam serviços funerários para pessoas em luto, que saltavam do bonde a caminho do necrotério. “Quando quiser uma coroa...”, ofereceu um deles ao escritor. “Deus queira que não”, respondeu o jornalista.

Onze anos depois, a morte visitada por João do Rio naquele dia chegaria para ficar. Pseudônimo de Paulo Barreto, o jornalista que fez de seus passeios pela cidade retratos mais que encantadores do cotidiano carioca, morreu em 23 de junho de 1921. Um registro do cortejo de seu funeral foi encontrado em filme inédito pelo pesquisador Antonio Venancio. O enterro de Barreto esteve entre os mais frequentados do Brasil, com um público estimado de 100 mil pessoas, ao lado de Getúlio Vargas (300 mil) e Carmen Miranda (60 mil). 

Restauro.Antonio Venancio assistiu ao filme que ficou perdidopor anos Foto: WILTON JUNIOR/ESTADAO

O trabalho de Venancio para encontrar o filme foi tão minucioso quanto as derivas do jornalista pela ruas cariocas. Ele conta que há cinco anos assistiu ao filme do enterro durante uma mostra da Cinemateca do Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro, que incluía na programação a filmagem de uma corrida de cavalos no Jockey Club de São Paulo, da mesma época. “Mais tarde busquei pelo filme, e entrei em contato com os responsáveis pela Cinemateca e o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, mas ninguém sabia de seu paradeiro.” Assim como na vida de João do Rio, algumas informações preferem bater à porta. E elas também chegaram na casa de Venancio. “Uma mulher me procurou e disse que tinha um filme de meu interesse. Nas mãos ela tinha a lata com o filme do enterro de João do Rio.” 

O filme com 13 minutos de duração exibe diversos pontos do trajeto até o cemitério São João Batista, mesmo local em que Carmen Miranda e, recentemente, a cantora Miúcha, foram sepultadas. Em um dos trechos, um quadro informa, na grafia da época: “Quando a morte cruel, e implacável, arrebatou do seio dos vivos a figura iminente do ‘escriptor’ e jornalista Paulo Barreto, um manto de crepe, descerrou-se sobre a cidade do Rio de Janeiro, estendendo-se por todo o Brasil e desdobrando-se ‘atravez’ do oceano para enlutar Portugal também.” Em outro trecho, o quadro anuncia a passagem do cortejo pelo palacete em que vivia “o grande amigo e defensor dos ‘opprimidos’.” 

Colegas de trabalho da redação do jornal A Pátria também aparecem reunidos na última homenagem. Na época, o folhetim carioca criado pelo jornalista tinha um posicionamento pró-colônia portuguesa e custou-lhe ameaças de morte e ofensas pessoais, de cunho racista, por ser negro, gordo, e também por sua homossexualidade assumida. No filme, também há a presença de Ruy Barbosa, “o expoente máximo da nossa nacionalidade, foi pessoalmente render a sua homenagem a Paulo Barreto.”

Segundo o pesquisador, o filme fabricado em nitrato de celulose estava bastante danificado, com sinais de deterioração por tempo e mal acondicionamento. O material produzido a partir da polpa da madeira com ácido nítrico é altamente inflamável.  No Brasil, há longos históricos de incêndio em estúdios e acervos de filmes por combustão espontânea. Em 2016, a Cinemateca Brasileira, um dos maiores acervos da América Latina, perdeu mais de 500 obras. Entre os rolos originais destruídos estava filmes de cinejornais da década de 40 e títulos não divulgados. Na época, a Cinemateca informou que todo o material estava preservado em cópias. Foi o quarto incêndio registrado na Cinemateca, depois de 1957, 1969 e 1982.

Despedida. Enterro de João do Rio Foto: REPRODUÇÃO

Mas não foram só os museus que tiveram seus arquivos perdidos. Entre os anos 1960 e 1990, quase todas as emissoras de TV enfrentaram tragédias semelhantes. Em 1969, 1971 e 1976, a Rede Globo perdeu filmes e fragmentos da década de 1960 em um incêndio na sede paulista. Estima-se a destruição de 920 a 1.500 fitas, de novelas a telejornais. Em 1969, a Rede Bandeirantes perdeu alguns materiais mas conseguiu preservar fitas dos teleteatros de Cacilda Becker e dos jogos do Brasil na Copa 1970. Em 1991, o SBT lamentou a destruição de arquivo raros como a passagem de Silvio Santos pela TV Tupi, Paulista, Globo e Record.

A solução para o documento encontrado por Venancio foi buscar a produtora Afinal Filmes que converteu o material em um filme digital em 4K. “É um processo que quase ninguém faz no Brasil”, aponta Venancio. “O equipamento é um scanner por onde passa o filme de nitrato. Uma luz emitida, envia um sinal digital de cada frame, convertendo o filme.” Após a restauração, Venancio pretende organizar a exibição do filme e posteriormente depositá-lo no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro.

Demanda de filmes restaurados poderia abastecer streaming

De obras clássicas, a documentários, mercado tem potencial para oferecer conteúdo mas há poucos restauradores

Após a boa notícia de que o filme do enterro do João do Rio foi encontrado, o que o pesquisador tinha nas mãos não era tão estimulante. A lata com o rolo de 13 minutos estava em mau estado de conservação. Com o tempo, a película gruda – quando não sofre combustão espontânea – e danifica a imagem de modo permanente. 

O pesquisador Antonio Venancio levou o material até a Afinal Filmes, uma produtora audiovisual no Rio, que além de realizar processos de pós produção e produção de audiovisual, tem um setor destinado à restauração de filmes antigos. O equipamento utilizado não é tão comum no País. O conjunto de scanner, roletes e lente e outros elementos faz o trabalho de transformar as imagens da película em um filme de resolução 4k, em tempo real. Se o filme tem 50 minutos, a conversão em 4k durará os mesmos 50 minutos.

Mas não foi o que aconteceu com o filme do enterro, conta o sócio da produtora Marcelo Pedrazzi. “O material estava mesmo danificado, com muitas partes grudadas.” Ele conta que, antes, foi preciso realizar um processo de limpeza em todo o rolo para, em seguida, escanear os quadros, levando mais que 13 minutos, a duração total do filme. “Quando o filme passa pela lente, uma luz é emitida e um sinal enviado cria um arquivo digital”, explica Pedrazzi. Desde que a aquisição do equipamento em 2016, a Afinal realiza processos de restauração para diversos casos, como a conversão de arquivos para uso em documentários, no caso da inserção de trechos, e a recuperação de materiais antigos. 

A atividade abriu caminho para um mercado interessante, mas com demanda reprimida, conta Pedrazzi. “Alguns nos procuram para restaurar filmes em outros formatos, como Super 8, por exemplo, o que essa máquina não faz.” Ele conta que em todo Brasil, a Cinemateca Brasileira deveria ser o principal polo para esse tipo de serviço de recuperação. “Por um tempo, chegou-se a fazer, mas a Cinemateca perdeu capacidade ao longo dos anos.” 

Em dezembro do ano passado, o extinto MinC lançou edital específico para restauro e digitalização de conteúdos audiovisuais. De acordo com o site, devem ser investidos em 2019 R$ 23.375 milhões para projetos de recuperação de obras audiovisuais e de migração de suporte de origem da obra para formato digital. Para os projetos de restauro selecionados, o valor destinado será R$ 1.250 milhão, totalizando R$ 10 milhões. Já os de digitalização receberão R$ 750 mil, com investimento total de R$ 13, 375 milhões. No âmbito estadual, há editais na área arquivos, da Secretária de Cultura, que destina anualmente R$ 100 mil a projetos de difusão e acesso em arquivos permanentes, e R$ 100 mil para projetos de gestão e preservação de arquivos permanentes.

Desde 2016, a restauração de filmes na produtora carioca rendeu um acúmulo de mais de 5o títulos. O resultado pode ser visto em 2018 com a primeira edição do festival Remaster, Clássicos do Cinema Brasileiro, mostra que vai na mão do ineditismo e acontece de forma simultânea no Rio e em São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Porto Alegre e Salvador. 

Na programação, circularam longas como Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos, O Homem da Capa Preta (1976), de Sergio Rezende, República dos Assassinos (1976), de Miguel Faria Jr., Luz del Fuego (1982), de Roberto Farias e os documentário Os Doces Bárbaros (1977), de Jom Tob Azulay, e Carmen Miranda: Banana is My Bussiness (1955), de Helena Solberg.

Para Pedrazzi, a recuperação de filmes brasileiros poderia tornar-se um mercado que atenderia muito mais que o gosto local por clássicos. “Há uma busca pelo cinema nacional antigo, desde pesquisadores até o público comum. A restauração impulsionaria uma cadeia produtiva para atender plataformas de streaming, como a Netflix, por exemplo. É um jeito de ampliar o acesso à produção audiovisual brasileira.”

Quem é 

João do Rio

João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto nasceu no Rio em 1881. Fundou o jornal A Pátria e se destacou como teatrólogo e grande cronista carioca. Morreu em 1921, na capital fluminense.

Quem saltava do bonde no centro do Rio antigo tinha a visão do céu e do inferno, ao mesmo tempo. De um lado, ainda havia a extinta Praia de Santa Luzia e do outro lado, o clima sombrio da Santa Casa e do necrotério, rodeado dos chamados ‘urubus’. Em 1910, o jornalista, escritor e teatrólogo João do Rio registrou em A Alma Encantadora das Ruas o trabalho peculiar de sujeitos que vendiam serviços funerários para pessoas em luto, que saltavam do bonde a caminho do necrotério. “Quando quiser uma coroa...”, ofereceu um deles ao escritor. “Deus queira que não”, respondeu o jornalista.

Onze anos depois, a morte visitada por João do Rio naquele dia chegaria para ficar. Pseudônimo de Paulo Barreto, o jornalista que fez de seus passeios pela cidade retratos mais que encantadores do cotidiano carioca, morreu em 23 de junho de 1921. Um registro do cortejo de seu funeral foi encontrado em filme inédito pelo pesquisador Antonio Venancio. O enterro de Barreto esteve entre os mais frequentados do Brasil, com um público estimado de 100 mil pessoas, ao lado de Getúlio Vargas (300 mil) e Carmen Miranda (60 mil). 

Restauro.Antonio Venancio assistiu ao filme que ficou perdidopor anos Foto: WILTON JUNIOR/ESTADAO

O trabalho de Venancio para encontrar o filme foi tão minucioso quanto as derivas do jornalista pela ruas cariocas. Ele conta que há cinco anos assistiu ao filme do enterro durante uma mostra da Cinemateca do Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro, que incluía na programação a filmagem de uma corrida de cavalos no Jockey Club de São Paulo, da mesma época. “Mais tarde busquei pelo filme, e entrei em contato com os responsáveis pela Cinemateca e o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, mas ninguém sabia de seu paradeiro.” Assim como na vida de João do Rio, algumas informações preferem bater à porta. E elas também chegaram na casa de Venancio. “Uma mulher me procurou e disse que tinha um filme de meu interesse. Nas mãos ela tinha a lata com o filme do enterro de João do Rio.” 

O filme com 13 minutos de duração exibe diversos pontos do trajeto até o cemitério São João Batista, mesmo local em que Carmen Miranda e, recentemente, a cantora Miúcha, foram sepultadas. Em um dos trechos, um quadro informa, na grafia da época: “Quando a morte cruel, e implacável, arrebatou do seio dos vivos a figura iminente do ‘escriptor’ e jornalista Paulo Barreto, um manto de crepe, descerrou-se sobre a cidade do Rio de Janeiro, estendendo-se por todo o Brasil e desdobrando-se ‘atravez’ do oceano para enlutar Portugal também.” Em outro trecho, o quadro anuncia a passagem do cortejo pelo palacete em que vivia “o grande amigo e defensor dos ‘opprimidos’.” 

Colegas de trabalho da redação do jornal A Pátria também aparecem reunidos na última homenagem. Na época, o folhetim carioca criado pelo jornalista tinha um posicionamento pró-colônia portuguesa e custou-lhe ameaças de morte e ofensas pessoais, de cunho racista, por ser negro, gordo, e também por sua homossexualidade assumida. No filme, também há a presença de Ruy Barbosa, “o expoente máximo da nossa nacionalidade, foi pessoalmente render a sua homenagem a Paulo Barreto.”

Segundo o pesquisador, o filme fabricado em nitrato de celulose estava bastante danificado, com sinais de deterioração por tempo e mal acondicionamento. O material produzido a partir da polpa da madeira com ácido nítrico é altamente inflamável.  No Brasil, há longos históricos de incêndio em estúdios e acervos de filmes por combustão espontânea. Em 2016, a Cinemateca Brasileira, um dos maiores acervos da América Latina, perdeu mais de 500 obras. Entre os rolos originais destruídos estava filmes de cinejornais da década de 40 e títulos não divulgados. Na época, a Cinemateca informou que todo o material estava preservado em cópias. Foi o quarto incêndio registrado na Cinemateca, depois de 1957, 1969 e 1982.

Despedida. Enterro de João do Rio Foto: REPRODUÇÃO

Mas não foram só os museus que tiveram seus arquivos perdidos. Entre os anos 1960 e 1990, quase todas as emissoras de TV enfrentaram tragédias semelhantes. Em 1969, 1971 e 1976, a Rede Globo perdeu filmes e fragmentos da década de 1960 em um incêndio na sede paulista. Estima-se a destruição de 920 a 1.500 fitas, de novelas a telejornais. Em 1969, a Rede Bandeirantes perdeu alguns materiais mas conseguiu preservar fitas dos teleteatros de Cacilda Becker e dos jogos do Brasil na Copa 1970. Em 1991, o SBT lamentou a destruição de arquivo raros como a passagem de Silvio Santos pela TV Tupi, Paulista, Globo e Record.

A solução para o documento encontrado por Venancio foi buscar a produtora Afinal Filmes que converteu o material em um filme digital em 4K. “É um processo que quase ninguém faz no Brasil”, aponta Venancio. “O equipamento é um scanner por onde passa o filme de nitrato. Uma luz emitida, envia um sinal digital de cada frame, convertendo o filme.” Após a restauração, Venancio pretende organizar a exibição do filme e posteriormente depositá-lo no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro.

Demanda de filmes restaurados poderia abastecer streaming

De obras clássicas, a documentários, mercado tem potencial para oferecer conteúdo mas há poucos restauradores

Após a boa notícia de que o filme do enterro do João do Rio foi encontrado, o que o pesquisador tinha nas mãos não era tão estimulante. A lata com o rolo de 13 minutos estava em mau estado de conservação. Com o tempo, a película gruda – quando não sofre combustão espontânea – e danifica a imagem de modo permanente. 

O pesquisador Antonio Venancio levou o material até a Afinal Filmes, uma produtora audiovisual no Rio, que além de realizar processos de pós produção e produção de audiovisual, tem um setor destinado à restauração de filmes antigos. O equipamento utilizado não é tão comum no País. O conjunto de scanner, roletes e lente e outros elementos faz o trabalho de transformar as imagens da película em um filme de resolução 4k, em tempo real. Se o filme tem 50 minutos, a conversão em 4k durará os mesmos 50 minutos.

Mas não foi o que aconteceu com o filme do enterro, conta o sócio da produtora Marcelo Pedrazzi. “O material estava mesmo danificado, com muitas partes grudadas.” Ele conta que, antes, foi preciso realizar um processo de limpeza em todo o rolo para, em seguida, escanear os quadros, levando mais que 13 minutos, a duração total do filme. “Quando o filme passa pela lente, uma luz é emitida e um sinal enviado cria um arquivo digital”, explica Pedrazzi. Desde que a aquisição do equipamento em 2016, a Afinal realiza processos de restauração para diversos casos, como a conversão de arquivos para uso em documentários, no caso da inserção de trechos, e a recuperação de materiais antigos. 

A atividade abriu caminho para um mercado interessante, mas com demanda reprimida, conta Pedrazzi. “Alguns nos procuram para restaurar filmes em outros formatos, como Super 8, por exemplo, o que essa máquina não faz.” Ele conta que em todo Brasil, a Cinemateca Brasileira deveria ser o principal polo para esse tipo de serviço de recuperação. “Por um tempo, chegou-se a fazer, mas a Cinemateca perdeu capacidade ao longo dos anos.” 

Em dezembro do ano passado, o extinto MinC lançou edital específico para restauro e digitalização de conteúdos audiovisuais. De acordo com o site, devem ser investidos em 2019 R$ 23.375 milhões para projetos de recuperação de obras audiovisuais e de migração de suporte de origem da obra para formato digital. Para os projetos de restauro selecionados, o valor destinado será R$ 1.250 milhão, totalizando R$ 10 milhões. Já os de digitalização receberão R$ 750 mil, com investimento total de R$ 13, 375 milhões. No âmbito estadual, há editais na área arquivos, da Secretária de Cultura, que destina anualmente R$ 100 mil a projetos de difusão e acesso em arquivos permanentes, e R$ 100 mil para projetos de gestão e preservação de arquivos permanentes.

Desde 2016, a restauração de filmes na produtora carioca rendeu um acúmulo de mais de 5o títulos. O resultado pode ser visto em 2018 com a primeira edição do festival Remaster, Clássicos do Cinema Brasileiro, mostra que vai na mão do ineditismo e acontece de forma simultânea no Rio e em São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Porto Alegre e Salvador. 

Na programação, circularam longas como Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos, O Homem da Capa Preta (1976), de Sergio Rezende, República dos Assassinos (1976), de Miguel Faria Jr., Luz del Fuego (1982), de Roberto Farias e os documentário Os Doces Bárbaros (1977), de Jom Tob Azulay, e Carmen Miranda: Banana is My Bussiness (1955), de Helena Solberg.

Para Pedrazzi, a recuperação de filmes brasileiros poderia tornar-se um mercado que atenderia muito mais que o gosto local por clássicos. “Há uma busca pelo cinema nacional antigo, desde pesquisadores até o público comum. A restauração impulsionaria uma cadeia produtiva para atender plataformas de streaming, como a Netflix, por exemplo. É um jeito de ampliar o acesso à produção audiovisual brasileira.”

Quem é 

João do Rio

João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto nasceu no Rio em 1881. Fundou o jornal A Pátria e se destacou como teatrólogo e grande cronista carioca. Morreu em 1921, na capital fluminense.

Quem saltava do bonde no centro do Rio antigo tinha a visão do céu e do inferno, ao mesmo tempo. De um lado, ainda havia a extinta Praia de Santa Luzia e do outro lado, o clima sombrio da Santa Casa e do necrotério, rodeado dos chamados ‘urubus’. Em 1910, o jornalista, escritor e teatrólogo João do Rio registrou em A Alma Encantadora das Ruas o trabalho peculiar de sujeitos que vendiam serviços funerários para pessoas em luto, que saltavam do bonde a caminho do necrotério. “Quando quiser uma coroa...”, ofereceu um deles ao escritor. “Deus queira que não”, respondeu o jornalista.

Onze anos depois, a morte visitada por João do Rio naquele dia chegaria para ficar. Pseudônimo de Paulo Barreto, o jornalista que fez de seus passeios pela cidade retratos mais que encantadores do cotidiano carioca, morreu em 23 de junho de 1921. Um registro do cortejo de seu funeral foi encontrado em filme inédito pelo pesquisador Antonio Venancio. O enterro de Barreto esteve entre os mais frequentados do Brasil, com um público estimado de 100 mil pessoas, ao lado de Getúlio Vargas (300 mil) e Carmen Miranda (60 mil). 

Restauro.Antonio Venancio assistiu ao filme que ficou perdidopor anos Foto: WILTON JUNIOR/ESTADAO

O trabalho de Venancio para encontrar o filme foi tão minucioso quanto as derivas do jornalista pela ruas cariocas. Ele conta que há cinco anos assistiu ao filme do enterro durante uma mostra da Cinemateca do Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro, que incluía na programação a filmagem de uma corrida de cavalos no Jockey Club de São Paulo, da mesma época. “Mais tarde busquei pelo filme, e entrei em contato com os responsáveis pela Cinemateca e o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, mas ninguém sabia de seu paradeiro.” Assim como na vida de João do Rio, algumas informações preferem bater à porta. E elas também chegaram na casa de Venancio. “Uma mulher me procurou e disse que tinha um filme de meu interesse. Nas mãos ela tinha a lata com o filme do enterro de João do Rio.” 

O filme com 13 minutos de duração exibe diversos pontos do trajeto até o cemitério São João Batista, mesmo local em que Carmen Miranda e, recentemente, a cantora Miúcha, foram sepultadas. Em um dos trechos, um quadro informa, na grafia da época: “Quando a morte cruel, e implacável, arrebatou do seio dos vivos a figura iminente do ‘escriptor’ e jornalista Paulo Barreto, um manto de crepe, descerrou-se sobre a cidade do Rio de Janeiro, estendendo-se por todo o Brasil e desdobrando-se ‘atravez’ do oceano para enlutar Portugal também.” Em outro trecho, o quadro anuncia a passagem do cortejo pelo palacete em que vivia “o grande amigo e defensor dos ‘opprimidos’.” 

Colegas de trabalho da redação do jornal A Pátria também aparecem reunidos na última homenagem. Na época, o folhetim carioca criado pelo jornalista tinha um posicionamento pró-colônia portuguesa e custou-lhe ameaças de morte e ofensas pessoais, de cunho racista, por ser negro, gordo, e também por sua homossexualidade assumida. No filme, também há a presença de Ruy Barbosa, “o expoente máximo da nossa nacionalidade, foi pessoalmente render a sua homenagem a Paulo Barreto.”

Segundo o pesquisador, o filme fabricado em nitrato de celulose estava bastante danificado, com sinais de deterioração por tempo e mal acondicionamento. O material produzido a partir da polpa da madeira com ácido nítrico é altamente inflamável.  No Brasil, há longos históricos de incêndio em estúdios e acervos de filmes por combustão espontânea. Em 2016, a Cinemateca Brasileira, um dos maiores acervos da América Latina, perdeu mais de 500 obras. Entre os rolos originais destruídos estava filmes de cinejornais da década de 40 e títulos não divulgados. Na época, a Cinemateca informou que todo o material estava preservado em cópias. Foi o quarto incêndio registrado na Cinemateca, depois de 1957, 1969 e 1982.

Despedida. Enterro de João do Rio Foto: REPRODUÇÃO

Mas não foram só os museus que tiveram seus arquivos perdidos. Entre os anos 1960 e 1990, quase todas as emissoras de TV enfrentaram tragédias semelhantes. Em 1969, 1971 e 1976, a Rede Globo perdeu filmes e fragmentos da década de 1960 em um incêndio na sede paulista. Estima-se a destruição de 920 a 1.500 fitas, de novelas a telejornais. Em 1969, a Rede Bandeirantes perdeu alguns materiais mas conseguiu preservar fitas dos teleteatros de Cacilda Becker e dos jogos do Brasil na Copa 1970. Em 1991, o SBT lamentou a destruição de arquivo raros como a passagem de Silvio Santos pela TV Tupi, Paulista, Globo e Record.

A solução para o documento encontrado por Venancio foi buscar a produtora Afinal Filmes que converteu o material em um filme digital em 4K. “É um processo que quase ninguém faz no Brasil”, aponta Venancio. “O equipamento é um scanner por onde passa o filme de nitrato. Uma luz emitida, envia um sinal digital de cada frame, convertendo o filme.” Após a restauração, Venancio pretende organizar a exibição do filme e posteriormente depositá-lo no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro.

Demanda de filmes restaurados poderia abastecer streaming

De obras clássicas, a documentários, mercado tem potencial para oferecer conteúdo mas há poucos restauradores

Após a boa notícia de que o filme do enterro do João do Rio foi encontrado, o que o pesquisador tinha nas mãos não era tão estimulante. A lata com o rolo de 13 minutos estava em mau estado de conservação. Com o tempo, a película gruda – quando não sofre combustão espontânea – e danifica a imagem de modo permanente. 

O pesquisador Antonio Venancio levou o material até a Afinal Filmes, uma produtora audiovisual no Rio, que além de realizar processos de pós produção e produção de audiovisual, tem um setor destinado à restauração de filmes antigos. O equipamento utilizado não é tão comum no País. O conjunto de scanner, roletes e lente e outros elementos faz o trabalho de transformar as imagens da película em um filme de resolução 4k, em tempo real. Se o filme tem 50 minutos, a conversão em 4k durará os mesmos 50 minutos.

Mas não foi o que aconteceu com o filme do enterro, conta o sócio da produtora Marcelo Pedrazzi. “O material estava mesmo danificado, com muitas partes grudadas.” Ele conta que, antes, foi preciso realizar um processo de limpeza em todo o rolo para, em seguida, escanear os quadros, levando mais que 13 minutos, a duração total do filme. “Quando o filme passa pela lente, uma luz é emitida e um sinal enviado cria um arquivo digital”, explica Pedrazzi. Desde que a aquisição do equipamento em 2016, a Afinal realiza processos de restauração para diversos casos, como a conversão de arquivos para uso em documentários, no caso da inserção de trechos, e a recuperação de materiais antigos. 

A atividade abriu caminho para um mercado interessante, mas com demanda reprimida, conta Pedrazzi. “Alguns nos procuram para restaurar filmes em outros formatos, como Super 8, por exemplo, o que essa máquina não faz.” Ele conta que em todo Brasil, a Cinemateca Brasileira deveria ser o principal polo para esse tipo de serviço de recuperação. “Por um tempo, chegou-se a fazer, mas a Cinemateca perdeu capacidade ao longo dos anos.” 

Em dezembro do ano passado, o extinto MinC lançou edital específico para restauro e digitalização de conteúdos audiovisuais. De acordo com o site, devem ser investidos em 2019 R$ 23.375 milhões para projetos de recuperação de obras audiovisuais e de migração de suporte de origem da obra para formato digital. Para os projetos de restauro selecionados, o valor destinado será R$ 1.250 milhão, totalizando R$ 10 milhões. Já os de digitalização receberão R$ 750 mil, com investimento total de R$ 13, 375 milhões. No âmbito estadual, há editais na área arquivos, da Secretária de Cultura, que destina anualmente R$ 100 mil a projetos de difusão e acesso em arquivos permanentes, e R$ 100 mil para projetos de gestão e preservação de arquivos permanentes.

Desde 2016, a restauração de filmes na produtora carioca rendeu um acúmulo de mais de 5o títulos. O resultado pode ser visto em 2018 com a primeira edição do festival Remaster, Clássicos do Cinema Brasileiro, mostra que vai na mão do ineditismo e acontece de forma simultânea no Rio e em São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Porto Alegre e Salvador. 

Na programação, circularam longas como Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos, O Homem da Capa Preta (1976), de Sergio Rezende, República dos Assassinos (1976), de Miguel Faria Jr., Luz del Fuego (1982), de Roberto Farias e os documentário Os Doces Bárbaros (1977), de Jom Tob Azulay, e Carmen Miranda: Banana is My Bussiness (1955), de Helena Solberg.

Para Pedrazzi, a recuperação de filmes brasileiros poderia tornar-se um mercado que atenderia muito mais que o gosto local por clássicos. “Há uma busca pelo cinema nacional antigo, desde pesquisadores até o público comum. A restauração impulsionaria uma cadeia produtiva para atender plataformas de streaming, como a Netflix, por exemplo. É um jeito de ampliar o acesso à produção audiovisual brasileira.”

Quem é 

João do Rio

João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto nasceu no Rio em 1881. Fundou o jornal A Pátria e se destacou como teatrólogo e grande cronista carioca. Morreu em 1921, na capital fluminense.

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