Filme 'O Caseiro' pretende provocar medo


Diretor Julio Santi fala de suspense no longa sobre fantasmas 'internos'

Por Luiz Carlos Merten

Nos últimos anos, tem havido, no cinema brasileiro, uma tentativa de se apossar de códigos de gêneros. Mas os novos diretores – pois são novos diretores – também querem subverter esses códigos. Nisso seguem uma tendência já antiga. Mesmo que o cinema nacional não tenha tradição no gênero, Ivan Cardoso, nos anos 1970, criou o terrir – terror com riso, filtrando suas narrativas pelo filme B e pela chanchada. Nos exemplares recentes, Sinfonia da Necrópole é terror cantado e dançado, Vampiro 40º é terror em forma de gibi e assim por diante. Estamos falando de terror. Julio Santi quer provocar medo, mas, mais que terror, adotou o suspense.

Santi começou a escrever o argumento com o irmão, Felipe. Deram livre margem à imaginação. “Meu irmão tem mais de mil DVDs e Blu-Rays. Vemos muito suspense, dissecamos os clássicos. Depois do argumento, coescrevi o roteiro com João Segall. De novo, a gente não se policiou. Não sabíamos se o filme seria produzido, então escrevemos a história do jeito que gostaríamos de vê-la contada.” Levada à Orion, a proposta foi encampada pela produtora Rita Buzzar e virou o filme O Caseiro, que estreia nesta quinta, 23. A imagem inicial é deslumbrante – uma canoa no meio de um rio, um homem com uma capa, de pé, a paisagem esfumada ao fundo.

“Essa imagem vem de um filme coreano que vi e não me lembro”, diz o diretor. O repórter ajuda – é A Ilha, de Kim Ki-duk. “Queríamos uma imagem forte que já colocasse o público no clima, por isso ela fica um tempo na tela.” Bruno Garcia faz o protagonista, um professor. Não é propriamente um caça-fantasmas brasileiro, mas se interessa pelo estudo do sobrenatural. Uma aluna lhe pede ajuda – sua irmã está sendo agredida por uma entidade misteriosa no sítio que pertence à família. Ele vai para oferecer socorro. “Estudamos muito os clássicos do gênero e a estrutura em três anos. Essa questão estrutural foi muito importante para a gente. Não queríamos, em momento algum, que o espectador soubesse mais que os personagens. Ele faz suas descobertas com o Bruno.”

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Existem ecos de muitos filmes – os gêmeos sinistros de A Inocente Face do Terror, de Robert Mulligan, as duas meninas no corredor de O Iluminado, de Stanley Kubrick. “Mais até que as meninas, o garoto protagonista de Kubrick foi uma inspiração. A menina que faz Júlia e está no cartaz é muito parecida com ele, mas foi uma coisa que aconteceu. Não a procuramos por isso. Da mesma forma, durante o processo, houve uma troca de diretor de fotografia e o que terminou fazendo O Caseiro – Ulrich Burtin – me deu um livro que achava que ia me interessar. A Outra Volta do Parafuso, de Henry James, deu origem ao filme Os Inocentes (de Jack Clayton). Foi muito importante.”

O decisivo nisso tudo é que O Caseiro marca a segunda experiência no longa de um cineasta que frequentou o curta e desenvolveu importante atividade teatral. Santi formou-se em Letras na USP e fez mestrado em Literatura Brasileira na Unicamp. Possui formação de ator de teatro pela escola Célia Helena, onde também se iniciou como dramaturgo. Em 2012, escreveu e dirigiu o primeiro longa-metragem, O Circo da Noite, produção independente premiada no Festival Internacional de Oaxaca. Foi também melhor diretor no Rengo Internacional Film Festival, no Chile.

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Ele admite estar ansioso com a estreia de O Caseiro. “O filme foi feito com pouco dinheiro, e isso, se por um lado é bom, porque implica em menos pressão de resultado, de outro cria dificuldades porque é duro trabalhar com poucos recursos. É preciso se desdobrar quando a gente não tem dinheiro. Não estou reclamando. É a história que queríamos contar, e contamos como queríamos, ou conseguimos.”

A ideia é provocar medo com recursos simples, e não sendo explícito. E Santi diz uma coisa que também bate com o que pensa o roteirista João Segall (leia ao lado). “A gente trabalhou muito com referências, no roteiro e na direção, acreditando numa norma do cinema de Hollywood. Eles são ótimos na reinvenção de seus códigos. Modestamente, queremos fazer bem uma coisa que sabemos que atrai público.” A pergunta que não quer calar – fantasma existe? “No filme, dizemos que sim, mas o pior fantasma é sempre aquele que vive no interior das pessoas.” É disso que fala O Caseiro.

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João Segall - ROTEIRISTA - 'Mais que sustos pensávamos nos personagens'

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João Segall é um jovem escritor, de 23 anos, que assina com O Caseiro seu primeiro roteiro importante.

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Por que o cinema de gênero? Porque é muito interessante trabalhar com códigos já estabelecidos e tentar algo novo. Hollywood faz isso muito bem. Ninguém reinventa, como eles, os códigos que já dominam. Respeito as tentativas de outros roteiristas e diretores, o terror cantado e dançado etc e tal, mas, no nosso caso, seguimos outro caminho. Fomos fiéis a certos códigos, só diferimos por incorporar elementos brasileiros, que estão no nosso imaginário, como o espiritismo.

Vocês já pensavam nos sustos ao escrever? O que a gente pensava era nos personagens. O espectador pode nem se dar conta, mas a gente pensou muito cada personagem. Construiu uma vida para cada um deles. A Gabi, a irmã do meio, foi bastante pensada. O aluno de Bruno Garcia. 

Nesse sentido, as duas meninas são muito interessantes... ...Não digo que o filme seja perfeito, porque não é, mas estamos orgulhosos de muita coisa. Sei que não vai ser muita gente a rever o filme, mas quem fizer isso vai ver que colocamos muitas pistas antecipando o desfecho. De primeira, pode-se perder, mas na revisão aparece.

Nos últimos anos, tem havido, no cinema brasileiro, uma tentativa de se apossar de códigos de gêneros. Mas os novos diretores – pois são novos diretores – também querem subverter esses códigos. Nisso seguem uma tendência já antiga. Mesmo que o cinema nacional não tenha tradição no gênero, Ivan Cardoso, nos anos 1970, criou o terrir – terror com riso, filtrando suas narrativas pelo filme B e pela chanchada. Nos exemplares recentes, Sinfonia da Necrópole é terror cantado e dançado, Vampiro 40º é terror em forma de gibi e assim por diante. Estamos falando de terror. Julio Santi quer provocar medo, mas, mais que terror, adotou o suspense.

Santi começou a escrever o argumento com o irmão, Felipe. Deram livre margem à imaginação. “Meu irmão tem mais de mil DVDs e Blu-Rays. Vemos muito suspense, dissecamos os clássicos. Depois do argumento, coescrevi o roteiro com João Segall. De novo, a gente não se policiou. Não sabíamos se o filme seria produzido, então escrevemos a história do jeito que gostaríamos de vê-la contada.” Levada à Orion, a proposta foi encampada pela produtora Rita Buzzar e virou o filme O Caseiro, que estreia nesta quinta, 23. A imagem inicial é deslumbrante – uma canoa no meio de um rio, um homem com uma capa, de pé, a paisagem esfumada ao fundo.

“Essa imagem vem de um filme coreano que vi e não me lembro”, diz o diretor. O repórter ajuda – é A Ilha, de Kim Ki-duk. “Queríamos uma imagem forte que já colocasse o público no clima, por isso ela fica um tempo na tela.” Bruno Garcia faz o protagonista, um professor. Não é propriamente um caça-fantasmas brasileiro, mas se interessa pelo estudo do sobrenatural. Uma aluna lhe pede ajuda – sua irmã está sendo agredida por uma entidade misteriosa no sítio que pertence à família. Ele vai para oferecer socorro. “Estudamos muito os clássicos do gênero e a estrutura em três anos. Essa questão estrutural foi muito importante para a gente. Não queríamos, em momento algum, que o espectador soubesse mais que os personagens. Ele faz suas descobertas com o Bruno.”

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Existem ecos de muitos filmes – os gêmeos sinistros de A Inocente Face do Terror, de Robert Mulligan, as duas meninas no corredor de O Iluminado, de Stanley Kubrick. “Mais até que as meninas, o garoto protagonista de Kubrick foi uma inspiração. A menina que faz Júlia e está no cartaz é muito parecida com ele, mas foi uma coisa que aconteceu. Não a procuramos por isso. Da mesma forma, durante o processo, houve uma troca de diretor de fotografia e o que terminou fazendo O Caseiro – Ulrich Burtin – me deu um livro que achava que ia me interessar. A Outra Volta do Parafuso, de Henry James, deu origem ao filme Os Inocentes (de Jack Clayton). Foi muito importante.”

O decisivo nisso tudo é que O Caseiro marca a segunda experiência no longa de um cineasta que frequentou o curta e desenvolveu importante atividade teatral. Santi formou-se em Letras na USP e fez mestrado em Literatura Brasileira na Unicamp. Possui formação de ator de teatro pela escola Célia Helena, onde também se iniciou como dramaturgo. Em 2012, escreveu e dirigiu o primeiro longa-metragem, O Circo da Noite, produção independente premiada no Festival Internacional de Oaxaca. Foi também melhor diretor no Rengo Internacional Film Festival, no Chile.

Ele admite estar ansioso com a estreia de O Caseiro. “O filme foi feito com pouco dinheiro, e isso, se por um lado é bom, porque implica em menos pressão de resultado, de outro cria dificuldades porque é duro trabalhar com poucos recursos. É preciso se desdobrar quando a gente não tem dinheiro. Não estou reclamando. É a história que queríamos contar, e contamos como queríamos, ou conseguimos.”

A ideia é provocar medo com recursos simples, e não sendo explícito. E Santi diz uma coisa que também bate com o que pensa o roteirista João Segall (leia ao lado). “A gente trabalhou muito com referências, no roteiro e na direção, acreditando numa norma do cinema de Hollywood. Eles são ótimos na reinvenção de seus códigos. Modestamente, queremos fazer bem uma coisa que sabemos que atrai público.” A pergunta que não quer calar – fantasma existe? “No filme, dizemos que sim, mas o pior fantasma é sempre aquele que vive no interior das pessoas.” É disso que fala O Caseiro.

João Segall - ROTEIRISTA - 'Mais que sustos pensávamos nos personagens'

João Segall é um jovem escritor, de 23 anos, que assina com O Caseiro seu primeiro roteiro importante.

Por que o cinema de gênero? Porque é muito interessante trabalhar com códigos já estabelecidos e tentar algo novo. Hollywood faz isso muito bem. Ninguém reinventa, como eles, os códigos que já dominam. Respeito as tentativas de outros roteiristas e diretores, o terror cantado e dançado etc e tal, mas, no nosso caso, seguimos outro caminho. Fomos fiéis a certos códigos, só diferimos por incorporar elementos brasileiros, que estão no nosso imaginário, como o espiritismo.

Vocês já pensavam nos sustos ao escrever? O que a gente pensava era nos personagens. O espectador pode nem se dar conta, mas a gente pensou muito cada personagem. Construiu uma vida para cada um deles. A Gabi, a irmã do meio, foi bastante pensada. O aluno de Bruno Garcia. 

Nesse sentido, as duas meninas são muito interessantes... ...Não digo que o filme seja perfeito, porque não é, mas estamos orgulhosos de muita coisa. Sei que não vai ser muita gente a rever o filme, mas quem fizer isso vai ver que colocamos muitas pistas antecipando o desfecho. De primeira, pode-se perder, mas na revisão aparece.

Nos últimos anos, tem havido, no cinema brasileiro, uma tentativa de se apossar de códigos de gêneros. Mas os novos diretores – pois são novos diretores – também querem subverter esses códigos. Nisso seguem uma tendência já antiga. Mesmo que o cinema nacional não tenha tradição no gênero, Ivan Cardoso, nos anos 1970, criou o terrir – terror com riso, filtrando suas narrativas pelo filme B e pela chanchada. Nos exemplares recentes, Sinfonia da Necrópole é terror cantado e dançado, Vampiro 40º é terror em forma de gibi e assim por diante. Estamos falando de terror. Julio Santi quer provocar medo, mas, mais que terror, adotou o suspense.

Santi começou a escrever o argumento com o irmão, Felipe. Deram livre margem à imaginação. “Meu irmão tem mais de mil DVDs e Blu-Rays. Vemos muito suspense, dissecamos os clássicos. Depois do argumento, coescrevi o roteiro com João Segall. De novo, a gente não se policiou. Não sabíamos se o filme seria produzido, então escrevemos a história do jeito que gostaríamos de vê-la contada.” Levada à Orion, a proposta foi encampada pela produtora Rita Buzzar e virou o filme O Caseiro, que estreia nesta quinta, 23. A imagem inicial é deslumbrante – uma canoa no meio de um rio, um homem com uma capa, de pé, a paisagem esfumada ao fundo.

“Essa imagem vem de um filme coreano que vi e não me lembro”, diz o diretor. O repórter ajuda – é A Ilha, de Kim Ki-duk. “Queríamos uma imagem forte que já colocasse o público no clima, por isso ela fica um tempo na tela.” Bruno Garcia faz o protagonista, um professor. Não é propriamente um caça-fantasmas brasileiro, mas se interessa pelo estudo do sobrenatural. Uma aluna lhe pede ajuda – sua irmã está sendo agredida por uma entidade misteriosa no sítio que pertence à família. Ele vai para oferecer socorro. “Estudamos muito os clássicos do gênero e a estrutura em três anos. Essa questão estrutural foi muito importante para a gente. Não queríamos, em momento algum, que o espectador soubesse mais que os personagens. Ele faz suas descobertas com o Bruno.”

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Existem ecos de muitos filmes – os gêmeos sinistros de A Inocente Face do Terror, de Robert Mulligan, as duas meninas no corredor de O Iluminado, de Stanley Kubrick. “Mais até que as meninas, o garoto protagonista de Kubrick foi uma inspiração. A menina que faz Júlia e está no cartaz é muito parecida com ele, mas foi uma coisa que aconteceu. Não a procuramos por isso. Da mesma forma, durante o processo, houve uma troca de diretor de fotografia e o que terminou fazendo O Caseiro – Ulrich Burtin – me deu um livro que achava que ia me interessar. A Outra Volta do Parafuso, de Henry James, deu origem ao filme Os Inocentes (de Jack Clayton). Foi muito importante.”

O decisivo nisso tudo é que O Caseiro marca a segunda experiência no longa de um cineasta que frequentou o curta e desenvolveu importante atividade teatral. Santi formou-se em Letras na USP e fez mestrado em Literatura Brasileira na Unicamp. Possui formação de ator de teatro pela escola Célia Helena, onde também se iniciou como dramaturgo. Em 2012, escreveu e dirigiu o primeiro longa-metragem, O Circo da Noite, produção independente premiada no Festival Internacional de Oaxaca. Foi também melhor diretor no Rengo Internacional Film Festival, no Chile.

Ele admite estar ansioso com a estreia de O Caseiro. “O filme foi feito com pouco dinheiro, e isso, se por um lado é bom, porque implica em menos pressão de resultado, de outro cria dificuldades porque é duro trabalhar com poucos recursos. É preciso se desdobrar quando a gente não tem dinheiro. Não estou reclamando. É a história que queríamos contar, e contamos como queríamos, ou conseguimos.”

A ideia é provocar medo com recursos simples, e não sendo explícito. E Santi diz uma coisa que também bate com o que pensa o roteirista João Segall (leia ao lado). “A gente trabalhou muito com referências, no roteiro e na direção, acreditando numa norma do cinema de Hollywood. Eles são ótimos na reinvenção de seus códigos. Modestamente, queremos fazer bem uma coisa que sabemos que atrai público.” A pergunta que não quer calar – fantasma existe? “No filme, dizemos que sim, mas o pior fantasma é sempre aquele que vive no interior das pessoas.” É disso que fala O Caseiro.

João Segall - ROTEIRISTA - 'Mais que sustos pensávamos nos personagens'

João Segall é um jovem escritor, de 23 anos, que assina com O Caseiro seu primeiro roteiro importante.

Por que o cinema de gênero? Porque é muito interessante trabalhar com códigos já estabelecidos e tentar algo novo. Hollywood faz isso muito bem. Ninguém reinventa, como eles, os códigos que já dominam. Respeito as tentativas de outros roteiristas e diretores, o terror cantado e dançado etc e tal, mas, no nosso caso, seguimos outro caminho. Fomos fiéis a certos códigos, só diferimos por incorporar elementos brasileiros, que estão no nosso imaginário, como o espiritismo.

Vocês já pensavam nos sustos ao escrever? O que a gente pensava era nos personagens. O espectador pode nem se dar conta, mas a gente pensou muito cada personagem. Construiu uma vida para cada um deles. A Gabi, a irmã do meio, foi bastante pensada. O aluno de Bruno Garcia. 

Nesse sentido, as duas meninas são muito interessantes... ...Não digo que o filme seja perfeito, porque não é, mas estamos orgulhosos de muita coisa. Sei que não vai ser muita gente a rever o filme, mas quem fizer isso vai ver que colocamos muitas pistas antecipando o desfecho. De primeira, pode-se perder, mas na revisão aparece.

Nos últimos anos, tem havido, no cinema brasileiro, uma tentativa de se apossar de códigos de gêneros. Mas os novos diretores – pois são novos diretores – também querem subverter esses códigos. Nisso seguem uma tendência já antiga. Mesmo que o cinema nacional não tenha tradição no gênero, Ivan Cardoso, nos anos 1970, criou o terrir – terror com riso, filtrando suas narrativas pelo filme B e pela chanchada. Nos exemplares recentes, Sinfonia da Necrópole é terror cantado e dançado, Vampiro 40º é terror em forma de gibi e assim por diante. Estamos falando de terror. Julio Santi quer provocar medo, mas, mais que terror, adotou o suspense.

Santi começou a escrever o argumento com o irmão, Felipe. Deram livre margem à imaginação. “Meu irmão tem mais de mil DVDs e Blu-Rays. Vemos muito suspense, dissecamos os clássicos. Depois do argumento, coescrevi o roteiro com João Segall. De novo, a gente não se policiou. Não sabíamos se o filme seria produzido, então escrevemos a história do jeito que gostaríamos de vê-la contada.” Levada à Orion, a proposta foi encampada pela produtora Rita Buzzar e virou o filme O Caseiro, que estreia nesta quinta, 23. A imagem inicial é deslumbrante – uma canoa no meio de um rio, um homem com uma capa, de pé, a paisagem esfumada ao fundo.

“Essa imagem vem de um filme coreano que vi e não me lembro”, diz o diretor. O repórter ajuda – é A Ilha, de Kim Ki-duk. “Queríamos uma imagem forte que já colocasse o público no clima, por isso ela fica um tempo na tela.” Bruno Garcia faz o protagonista, um professor. Não é propriamente um caça-fantasmas brasileiro, mas se interessa pelo estudo do sobrenatural. Uma aluna lhe pede ajuda – sua irmã está sendo agredida por uma entidade misteriosa no sítio que pertence à família. Ele vai para oferecer socorro. “Estudamos muito os clássicos do gênero e a estrutura em três anos. Essa questão estrutural foi muito importante para a gente. Não queríamos, em momento algum, que o espectador soubesse mais que os personagens. Ele faz suas descobertas com o Bruno.”

reference

Existem ecos de muitos filmes – os gêmeos sinistros de A Inocente Face do Terror, de Robert Mulligan, as duas meninas no corredor de O Iluminado, de Stanley Kubrick. “Mais até que as meninas, o garoto protagonista de Kubrick foi uma inspiração. A menina que faz Júlia e está no cartaz é muito parecida com ele, mas foi uma coisa que aconteceu. Não a procuramos por isso. Da mesma forma, durante o processo, houve uma troca de diretor de fotografia e o que terminou fazendo O Caseiro – Ulrich Burtin – me deu um livro que achava que ia me interessar. A Outra Volta do Parafuso, de Henry James, deu origem ao filme Os Inocentes (de Jack Clayton). Foi muito importante.”

O decisivo nisso tudo é que O Caseiro marca a segunda experiência no longa de um cineasta que frequentou o curta e desenvolveu importante atividade teatral. Santi formou-se em Letras na USP e fez mestrado em Literatura Brasileira na Unicamp. Possui formação de ator de teatro pela escola Célia Helena, onde também se iniciou como dramaturgo. Em 2012, escreveu e dirigiu o primeiro longa-metragem, O Circo da Noite, produção independente premiada no Festival Internacional de Oaxaca. Foi também melhor diretor no Rengo Internacional Film Festival, no Chile.

Ele admite estar ansioso com a estreia de O Caseiro. “O filme foi feito com pouco dinheiro, e isso, se por um lado é bom, porque implica em menos pressão de resultado, de outro cria dificuldades porque é duro trabalhar com poucos recursos. É preciso se desdobrar quando a gente não tem dinheiro. Não estou reclamando. É a história que queríamos contar, e contamos como queríamos, ou conseguimos.”

A ideia é provocar medo com recursos simples, e não sendo explícito. E Santi diz uma coisa que também bate com o que pensa o roteirista João Segall (leia ao lado). “A gente trabalhou muito com referências, no roteiro e na direção, acreditando numa norma do cinema de Hollywood. Eles são ótimos na reinvenção de seus códigos. Modestamente, queremos fazer bem uma coisa que sabemos que atrai público.” A pergunta que não quer calar – fantasma existe? “No filme, dizemos que sim, mas o pior fantasma é sempre aquele que vive no interior das pessoas.” É disso que fala O Caseiro.

João Segall - ROTEIRISTA - 'Mais que sustos pensávamos nos personagens'

João Segall é um jovem escritor, de 23 anos, que assina com O Caseiro seu primeiro roteiro importante.

Por que o cinema de gênero? Porque é muito interessante trabalhar com códigos já estabelecidos e tentar algo novo. Hollywood faz isso muito bem. Ninguém reinventa, como eles, os códigos que já dominam. Respeito as tentativas de outros roteiristas e diretores, o terror cantado e dançado etc e tal, mas, no nosso caso, seguimos outro caminho. Fomos fiéis a certos códigos, só diferimos por incorporar elementos brasileiros, que estão no nosso imaginário, como o espiritismo.

Vocês já pensavam nos sustos ao escrever? O que a gente pensava era nos personagens. O espectador pode nem se dar conta, mas a gente pensou muito cada personagem. Construiu uma vida para cada um deles. A Gabi, a irmã do meio, foi bastante pensada. O aluno de Bruno Garcia. 

Nesse sentido, as duas meninas são muito interessantes... ...Não digo que o filme seja perfeito, porque não é, mas estamos orgulhosos de muita coisa. Sei que não vai ser muita gente a rever o filme, mas quem fizer isso vai ver que colocamos muitas pistas antecipando o desfecho. De primeira, pode-se perder, mas na revisão aparece.

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