Filme 'Tangerine' agrada a todos porque é espontâneo


Longa supera carência de produção com a vivacidade das personagens; confira o trailer

Por Luiz Zanin Oricchio
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Em geral, não se dá muita atenção aos modos de produção de um filme, a não ser em casos especiais. Quando é muito caro ou muito barato, por exemplo. Ou quando é filmado com um iPhone 5 S, como foi o caso de Tangerine, de Sean Baker. Nesse caso, a primeira reação é admirar-se mais com a possibilidade de criar com um desses gadgets da vida moderna do que com a obra em si. Ok, a tecnologia democratizou o cinema (ao menos em sua fase de filmagem).

Não se é mais dependente dos custosos aparatos do passado, do preço da película e da iluminação, e o cinema pode então viver a utopia antecipada pelo crítico e diretor francês Alexandre Astruc em seu artigo Caméra-stylo: a câmera deveria ser tão econômica e ágil para o cineasta quanto a caneta o é para o escritor. Bastam, para um filme, uma ideia na cabeça e uma câmera (barata) na mão. Era o que também dizia a turma do Cinema Novo brasileiro. A frase é de Glauber Rocha.

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Isso tudo é muito legal. Mas não exatamente novo. Cineastas “independentes” existem às dúzias em cada país. Inclusive no Brasil. Essa independência nada diz sobre a natureza dos filmes. Apenas que esses se produziram em condições livres das imposições econômicas tradicionais. Nada mais. Passada a fase (infantil) de deslumbramento com a nova tecnologia, é preciso voltar a pensar nos filmes em si mesmos. E o que nos traz Sean Baker? Uma história de travestis, passada em Los Angeles. As duas personagens são engraçadas. Não são capazes de pronunciar uma única frase sem a palavra “fucking”. Bem, Tarantino também não é. São desbocadas, alegres, cheias de vida. Mas a realidade delas não é nada romântica. Prostituem-se para sobreviver. E uma delas tem um problema adicional. Soube que seu homem (e cafetão) pulou a cerca. Traiu-a. E com uma mulher, ainda por cima. Boa parte da ação será a busca pela cidade dessa “piranha”. Enquanto isso, sua colega preocupa-se com o show que fará como cantora num boteco noturno.

Backer também está atento à diversidade étnica de Los Angeles. Outro dos personagens principais é um taxista de origem armênia, mas que gosta de frequentar as travestis. Ele é casado com uma bela mulher, tem um filho pequeno, e a sogra lhe atazana a vida.

A história começa sem muito rumo aparente, como se fosse se contentar com o registro semidocumental de uma vida de periferia social. No entanto, com o decorrer do tempo, a dramaturgia se insinua e, quando damos por nós, estamos acompanhando com interesse a trajetória dos personagens e o jeito que arrumarão para resolver seus problemas e acomodar seus desejos.

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Pois é disso que se trata nessa pequena fábula urbana com a duração de uma noite (a véspera de Natal): como sobreviver num mundo hostil sem renunciar ao que se deseja.

Muito do que o filme tem de agradável se deve à espontaneidade das personagens. São interpretadas por duas transgêneros. Sin-Dee Rella (Kitana Kiki Rodrigues) e Alexandra (Mya Taylor) conhecem por dentro o mundo em que se movem suas personagens de ficção. Foi a boa (e lógica) intuição de Baker. Trabalhar com gente por dentro daquele universo, e que podia encará-lo sem problemas e também sem idealização e menos ainda preconceitos.

A filmagem pode ter alguns pontos de precariedade. Mas isso em nada atrapalha o projeto. A boa ideia e a honestidade são fundamentais. A câmera faz o resto.

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Em geral, não se dá muita atenção aos modos de produção de um filme, a não ser em casos especiais. Quando é muito caro ou muito barato, por exemplo. Ou quando é filmado com um iPhone 5 S, como foi o caso de Tangerine, de Sean Baker. Nesse caso, a primeira reação é admirar-se mais com a possibilidade de criar com um desses gadgets da vida moderna do que com a obra em si. Ok, a tecnologia democratizou o cinema (ao menos em sua fase de filmagem).

Não se é mais dependente dos custosos aparatos do passado, do preço da película e da iluminação, e o cinema pode então viver a utopia antecipada pelo crítico e diretor francês Alexandre Astruc em seu artigo Caméra-stylo: a câmera deveria ser tão econômica e ágil para o cineasta quanto a caneta o é para o escritor. Bastam, para um filme, uma ideia na cabeça e uma câmera (barata) na mão. Era o que também dizia a turma do Cinema Novo brasileiro. A frase é de Glauber Rocha.

Isso tudo é muito legal. Mas não exatamente novo. Cineastas “independentes” existem às dúzias em cada país. Inclusive no Brasil. Essa independência nada diz sobre a natureza dos filmes. Apenas que esses se produziram em condições livres das imposições econômicas tradicionais. Nada mais. Passada a fase (infantil) de deslumbramento com a nova tecnologia, é preciso voltar a pensar nos filmes em si mesmos. E o que nos traz Sean Baker? Uma história de travestis, passada em Los Angeles. As duas personagens são engraçadas. Não são capazes de pronunciar uma única frase sem a palavra “fucking”. Bem, Tarantino também não é. São desbocadas, alegres, cheias de vida. Mas a realidade delas não é nada romântica. Prostituem-se para sobreviver. E uma delas tem um problema adicional. Soube que seu homem (e cafetão) pulou a cerca. Traiu-a. E com uma mulher, ainda por cima. Boa parte da ação será a busca pela cidade dessa “piranha”. Enquanto isso, sua colega preocupa-se com o show que fará como cantora num boteco noturno.

Backer também está atento à diversidade étnica de Los Angeles. Outro dos personagens principais é um taxista de origem armênia, mas que gosta de frequentar as travestis. Ele é casado com uma bela mulher, tem um filho pequeno, e a sogra lhe atazana a vida.

A história começa sem muito rumo aparente, como se fosse se contentar com o registro semidocumental de uma vida de periferia social. No entanto, com o decorrer do tempo, a dramaturgia se insinua e, quando damos por nós, estamos acompanhando com interesse a trajetória dos personagens e o jeito que arrumarão para resolver seus problemas e acomodar seus desejos.

Pois é disso que se trata nessa pequena fábula urbana com a duração de uma noite (a véspera de Natal): como sobreviver num mundo hostil sem renunciar ao que se deseja.

Muito do que o filme tem de agradável se deve à espontaneidade das personagens. São interpretadas por duas transgêneros. Sin-Dee Rella (Kitana Kiki Rodrigues) e Alexandra (Mya Taylor) conhecem por dentro o mundo em que se movem suas personagens de ficção. Foi a boa (e lógica) intuição de Baker. Trabalhar com gente por dentro daquele universo, e que podia encará-lo sem problemas e também sem idealização e menos ainda preconceitos.

A filmagem pode ter alguns pontos de precariedade. Mas isso em nada atrapalha o projeto. A boa ideia e a honestidade são fundamentais. A câmera faz o resto.

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Em geral, não se dá muita atenção aos modos de produção de um filme, a não ser em casos especiais. Quando é muito caro ou muito barato, por exemplo. Ou quando é filmado com um iPhone 5 S, como foi o caso de Tangerine, de Sean Baker. Nesse caso, a primeira reação é admirar-se mais com a possibilidade de criar com um desses gadgets da vida moderna do que com a obra em si. Ok, a tecnologia democratizou o cinema (ao menos em sua fase de filmagem).

Não se é mais dependente dos custosos aparatos do passado, do preço da película e da iluminação, e o cinema pode então viver a utopia antecipada pelo crítico e diretor francês Alexandre Astruc em seu artigo Caméra-stylo: a câmera deveria ser tão econômica e ágil para o cineasta quanto a caneta o é para o escritor. Bastam, para um filme, uma ideia na cabeça e uma câmera (barata) na mão. Era o que também dizia a turma do Cinema Novo brasileiro. A frase é de Glauber Rocha.

Isso tudo é muito legal. Mas não exatamente novo. Cineastas “independentes” existem às dúzias em cada país. Inclusive no Brasil. Essa independência nada diz sobre a natureza dos filmes. Apenas que esses se produziram em condições livres das imposições econômicas tradicionais. Nada mais. Passada a fase (infantil) de deslumbramento com a nova tecnologia, é preciso voltar a pensar nos filmes em si mesmos. E o que nos traz Sean Baker? Uma história de travestis, passada em Los Angeles. As duas personagens são engraçadas. Não são capazes de pronunciar uma única frase sem a palavra “fucking”. Bem, Tarantino também não é. São desbocadas, alegres, cheias de vida. Mas a realidade delas não é nada romântica. Prostituem-se para sobreviver. E uma delas tem um problema adicional. Soube que seu homem (e cafetão) pulou a cerca. Traiu-a. E com uma mulher, ainda por cima. Boa parte da ação será a busca pela cidade dessa “piranha”. Enquanto isso, sua colega preocupa-se com o show que fará como cantora num boteco noturno.

Backer também está atento à diversidade étnica de Los Angeles. Outro dos personagens principais é um taxista de origem armênia, mas que gosta de frequentar as travestis. Ele é casado com uma bela mulher, tem um filho pequeno, e a sogra lhe atazana a vida.

A história começa sem muito rumo aparente, como se fosse se contentar com o registro semidocumental de uma vida de periferia social. No entanto, com o decorrer do tempo, a dramaturgia se insinua e, quando damos por nós, estamos acompanhando com interesse a trajetória dos personagens e o jeito que arrumarão para resolver seus problemas e acomodar seus desejos.

Pois é disso que se trata nessa pequena fábula urbana com a duração de uma noite (a véspera de Natal): como sobreviver num mundo hostil sem renunciar ao que se deseja.

Muito do que o filme tem de agradável se deve à espontaneidade das personagens. São interpretadas por duas transgêneros. Sin-Dee Rella (Kitana Kiki Rodrigues) e Alexandra (Mya Taylor) conhecem por dentro o mundo em que se movem suas personagens de ficção. Foi a boa (e lógica) intuição de Baker. Trabalhar com gente por dentro daquele universo, e que podia encará-lo sem problemas e também sem idealização e menos ainda preconceitos.

A filmagem pode ter alguns pontos de precariedade. Mas isso em nada atrapalha o projeto. A boa ideia e a honestidade são fundamentais. A câmera faz o resto.

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Em geral, não se dá muita atenção aos modos de produção de um filme, a não ser em casos especiais. Quando é muito caro ou muito barato, por exemplo. Ou quando é filmado com um iPhone 5 S, como foi o caso de Tangerine, de Sean Baker. Nesse caso, a primeira reação é admirar-se mais com a possibilidade de criar com um desses gadgets da vida moderna do que com a obra em si. Ok, a tecnologia democratizou o cinema (ao menos em sua fase de filmagem).

Não se é mais dependente dos custosos aparatos do passado, do preço da película e da iluminação, e o cinema pode então viver a utopia antecipada pelo crítico e diretor francês Alexandre Astruc em seu artigo Caméra-stylo: a câmera deveria ser tão econômica e ágil para o cineasta quanto a caneta o é para o escritor. Bastam, para um filme, uma ideia na cabeça e uma câmera (barata) na mão. Era o que também dizia a turma do Cinema Novo brasileiro. A frase é de Glauber Rocha.

Isso tudo é muito legal. Mas não exatamente novo. Cineastas “independentes” existem às dúzias em cada país. Inclusive no Brasil. Essa independência nada diz sobre a natureza dos filmes. Apenas que esses se produziram em condições livres das imposições econômicas tradicionais. Nada mais. Passada a fase (infantil) de deslumbramento com a nova tecnologia, é preciso voltar a pensar nos filmes em si mesmos. E o que nos traz Sean Baker? Uma história de travestis, passada em Los Angeles. As duas personagens são engraçadas. Não são capazes de pronunciar uma única frase sem a palavra “fucking”. Bem, Tarantino também não é. São desbocadas, alegres, cheias de vida. Mas a realidade delas não é nada romântica. Prostituem-se para sobreviver. E uma delas tem um problema adicional. Soube que seu homem (e cafetão) pulou a cerca. Traiu-a. E com uma mulher, ainda por cima. Boa parte da ação será a busca pela cidade dessa “piranha”. Enquanto isso, sua colega preocupa-se com o show que fará como cantora num boteco noturno.

Backer também está atento à diversidade étnica de Los Angeles. Outro dos personagens principais é um taxista de origem armênia, mas que gosta de frequentar as travestis. Ele é casado com uma bela mulher, tem um filho pequeno, e a sogra lhe atazana a vida.

A história começa sem muito rumo aparente, como se fosse se contentar com o registro semidocumental de uma vida de periferia social. No entanto, com o decorrer do tempo, a dramaturgia se insinua e, quando damos por nós, estamos acompanhando com interesse a trajetória dos personagens e o jeito que arrumarão para resolver seus problemas e acomodar seus desejos.

Pois é disso que se trata nessa pequena fábula urbana com a duração de uma noite (a véspera de Natal): como sobreviver num mundo hostil sem renunciar ao que se deseja.

Muito do que o filme tem de agradável se deve à espontaneidade das personagens. São interpretadas por duas transgêneros. Sin-Dee Rella (Kitana Kiki Rodrigues) e Alexandra (Mya Taylor) conhecem por dentro o mundo em que se movem suas personagens de ficção. Foi a boa (e lógica) intuição de Baker. Trabalhar com gente por dentro daquele universo, e que podia encará-lo sem problemas e também sem idealização e menos ainda preconceitos.

A filmagem pode ter alguns pontos de precariedade. Mas isso em nada atrapalha o projeto. A boa ideia e a honestidade são fundamentais. A câmera faz o resto.

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