Clássico transgressor


Morto há cem anos, August Strindberg inspira releituras de diretores como Nelson Baskerville e Christiane Jatahy

Por Maria Eugenia de Menezes

O cenário é uma casa à beira-mar. Lá, um casal é obrigado a confrontar-se com os vícios e as dinâmicas de poder que regem sua relação. Eis aí, grosso modo, o enredo de Os Credores, um dos mais reverenciados textos de August Strindberg. Mas a mesma sinopse também serviria para dar conta de outra obra, menos conhecida, do dramaturgo sueco: Brincando com Fogo, espetáculo que entra em cartaz hoje, no Sesc Pompeia. Poucas vezes encenada - e inédita no Brasil -, a peça é uma das raras incursões do autor pelo universo cômico. Na atual montagem, assinada por Nelson Baskerville, o humor insinuado no original merece reforço. O absurdo ganha contornos mais nítidos. O ridículo das desavenças amorosas parece amplificado. É curioso como, seja na comédia seja no drama, Strindberg manipula basicamente os mesmos temas. E, mais intrigante ainda, como essas questões persistem quase como enigmas insolúveis. "As dificuldades de se relacionar continuam e só se acirraram", observa Baskerville. O ano de 2012 marca o centenário da morte do autor. Ainda hoje, porém, sua ficção continua a servir de subsídio para as reflexões que tecemos sobre os enfrentamentos entre os sexos, sobre as práticas de dominação e submissão que regem situações sociais e privadas. Tanto é assim que Brincando com Fogo não paira como única montagem de Strindberg em cartaz. Ao contrário, merece a companhia de uma série de outras encenações de peças do dramaturgo, em leituras das mais diversas. Tanto em versões clássicas, como Cruel, encenação de Elias Andreato. Ou completamente transgressoras, caso de Julia, recriação de Christiane Jatahy para o sempre revisitado Senhorita Julia. "É uma obra que sempre me interessou", pontua a diretora, que assina sua primeira montagem de um texto clássico. "Menos pela questão feminista e mais pelas relações de poder entre classes que ele examina. Relações íntimas, perversas e fadadas ao fracasso." A peça, que estreou em 2011 no Rio, volta hoje ao cartaz. E, em abril, integra a mostra oficial do Festival de Curitiba. Com ela, Jatahy leva adiante sua pesquisa cênica. Serve-se de uma criação do século 19 para aprofundar ainda mais o uso de mecanismos do cinema dentro do teatro, procedimento ao qual ela já recorria em trabalhos como Corte Seco. Ao usar câmeras, a encenadora radicaliza a proposta de levar os espectadores para dentro da cena. Intuito que certamente encontra eco no "teatro íntimo" preconizado por Strindberg. Para ver seus textos encenados da forma como julgava adequada, o sueco chegou a criar uma sala de espetáculos. Em 1907, Estocolmo via nascer o Intiman Teatern, um espaço pequeno que aproximava a plateia das ações e renegava as convenções do gênero. Não é apenas pelos assuntos que evoca, portanto, que Strindberg conseguiu manter-se como inspiração. Existe no tipo de realismo adotado pelo escritor um apego ao presente que faz todo o sentido para as encenações contemporâneas. "Em Senhorita Julia, ele concentra todas as ações no mesmo tempo que é partilhado com o público. Não existem elipses nem flashbacks", lembra Jatahy. Descoberta. Apenas em 2004, o País assistiria à primeira encenação de Os Credores. Recentemente, contudo, a peça parece ter caído de vez nas graças dos diretores brasileiros. Há, ao menos, três versões em curso. À frente do grupo Tapa, Eduardo Tolentino abriu mão do palco italiano e equacionou em formato de arena o violento triângulo amoroso em que estão enredados seus personagens. Quem também montou o texto foi Elias Andreato. No espetáculo, o diretor preferiu mudar o título da obra para Cruel. O que não significou, entretanto, que ele tenha feito alterações significativas no original. Na sua versão, cabe a Reynaldo Gianecchini o papel de Gustav, o homem misterioso que vem desestabilizar o combalido casamento de Tekla e Adolf. Por conta do tratamento de câncer do ator, a temporada teve que ser interrompida em julho de 2011. Agora, deve ser retomada com o mesmo elenco e tem reestreia marcada para o dia 13, no Teatro Faap. Uma nova encenação de Os Credores deve vir a público em setembro. Além de Brincando com Fogo, Nelson Baskerville pretende montar também esse texto de Strindberg. E, como é de seu feitio, deve imprimir à criação um olhar particular. "Não tenho nenhuma reverência especial pelo texto do Strindberg", comenta o encenador, que é um dos nomes mais instigantes da atual cena teatral da cidade. Aclamado pelo espetáculo Luís Antônio - Gabriela, Baskerville apresenta um olhar algo carnavalizada de Brincando com Fogo. Vale-se de intervenções com vídeo, canções do Radiohead, máscaras e coreografias desajeitadas. "Aprofundo a comédia e acirro a crítica à burguesia que já estava no texto", diz o diretor. O casamento morno, que busca nova chama ao trazer os amantes para dentro de casa, é visto como um experimento científico. Os atores estão encerrados dentro de uma tenda inflável transparente, expostos à plateia como ratos de laboratório. Baskerville intervém ainda no final que Strindberg dá à obra. Relativiza seu caráter misógino ao propor dois desfechos possíveis: um no qual a mulher padece. Outro, no qual sai vitoriosa.

O cenário é uma casa à beira-mar. Lá, um casal é obrigado a confrontar-se com os vícios e as dinâmicas de poder que regem sua relação. Eis aí, grosso modo, o enredo de Os Credores, um dos mais reverenciados textos de August Strindberg. Mas a mesma sinopse também serviria para dar conta de outra obra, menos conhecida, do dramaturgo sueco: Brincando com Fogo, espetáculo que entra em cartaz hoje, no Sesc Pompeia. Poucas vezes encenada - e inédita no Brasil -, a peça é uma das raras incursões do autor pelo universo cômico. Na atual montagem, assinada por Nelson Baskerville, o humor insinuado no original merece reforço. O absurdo ganha contornos mais nítidos. O ridículo das desavenças amorosas parece amplificado. É curioso como, seja na comédia seja no drama, Strindberg manipula basicamente os mesmos temas. E, mais intrigante ainda, como essas questões persistem quase como enigmas insolúveis. "As dificuldades de se relacionar continuam e só se acirraram", observa Baskerville. O ano de 2012 marca o centenário da morte do autor. Ainda hoje, porém, sua ficção continua a servir de subsídio para as reflexões que tecemos sobre os enfrentamentos entre os sexos, sobre as práticas de dominação e submissão que regem situações sociais e privadas. Tanto é assim que Brincando com Fogo não paira como única montagem de Strindberg em cartaz. Ao contrário, merece a companhia de uma série de outras encenações de peças do dramaturgo, em leituras das mais diversas. Tanto em versões clássicas, como Cruel, encenação de Elias Andreato. Ou completamente transgressoras, caso de Julia, recriação de Christiane Jatahy para o sempre revisitado Senhorita Julia. "É uma obra que sempre me interessou", pontua a diretora, que assina sua primeira montagem de um texto clássico. "Menos pela questão feminista e mais pelas relações de poder entre classes que ele examina. Relações íntimas, perversas e fadadas ao fracasso." A peça, que estreou em 2011 no Rio, volta hoje ao cartaz. E, em abril, integra a mostra oficial do Festival de Curitiba. Com ela, Jatahy leva adiante sua pesquisa cênica. Serve-se de uma criação do século 19 para aprofundar ainda mais o uso de mecanismos do cinema dentro do teatro, procedimento ao qual ela já recorria em trabalhos como Corte Seco. Ao usar câmeras, a encenadora radicaliza a proposta de levar os espectadores para dentro da cena. Intuito que certamente encontra eco no "teatro íntimo" preconizado por Strindberg. Para ver seus textos encenados da forma como julgava adequada, o sueco chegou a criar uma sala de espetáculos. Em 1907, Estocolmo via nascer o Intiman Teatern, um espaço pequeno que aproximava a plateia das ações e renegava as convenções do gênero. Não é apenas pelos assuntos que evoca, portanto, que Strindberg conseguiu manter-se como inspiração. Existe no tipo de realismo adotado pelo escritor um apego ao presente que faz todo o sentido para as encenações contemporâneas. "Em Senhorita Julia, ele concentra todas as ações no mesmo tempo que é partilhado com o público. Não existem elipses nem flashbacks", lembra Jatahy. Descoberta. Apenas em 2004, o País assistiria à primeira encenação de Os Credores. Recentemente, contudo, a peça parece ter caído de vez nas graças dos diretores brasileiros. Há, ao menos, três versões em curso. À frente do grupo Tapa, Eduardo Tolentino abriu mão do palco italiano e equacionou em formato de arena o violento triângulo amoroso em que estão enredados seus personagens. Quem também montou o texto foi Elias Andreato. No espetáculo, o diretor preferiu mudar o título da obra para Cruel. O que não significou, entretanto, que ele tenha feito alterações significativas no original. Na sua versão, cabe a Reynaldo Gianecchini o papel de Gustav, o homem misterioso que vem desestabilizar o combalido casamento de Tekla e Adolf. Por conta do tratamento de câncer do ator, a temporada teve que ser interrompida em julho de 2011. Agora, deve ser retomada com o mesmo elenco e tem reestreia marcada para o dia 13, no Teatro Faap. Uma nova encenação de Os Credores deve vir a público em setembro. Além de Brincando com Fogo, Nelson Baskerville pretende montar também esse texto de Strindberg. E, como é de seu feitio, deve imprimir à criação um olhar particular. "Não tenho nenhuma reverência especial pelo texto do Strindberg", comenta o encenador, que é um dos nomes mais instigantes da atual cena teatral da cidade. Aclamado pelo espetáculo Luís Antônio - Gabriela, Baskerville apresenta um olhar algo carnavalizada de Brincando com Fogo. Vale-se de intervenções com vídeo, canções do Radiohead, máscaras e coreografias desajeitadas. "Aprofundo a comédia e acirro a crítica à burguesia que já estava no texto", diz o diretor. O casamento morno, que busca nova chama ao trazer os amantes para dentro de casa, é visto como um experimento científico. Os atores estão encerrados dentro de uma tenda inflável transparente, expostos à plateia como ratos de laboratório. Baskerville intervém ainda no final que Strindberg dá à obra. Relativiza seu caráter misógino ao propor dois desfechos possíveis: um no qual a mulher padece. Outro, no qual sai vitoriosa.

O cenário é uma casa à beira-mar. Lá, um casal é obrigado a confrontar-se com os vícios e as dinâmicas de poder que regem sua relação. Eis aí, grosso modo, o enredo de Os Credores, um dos mais reverenciados textos de August Strindberg. Mas a mesma sinopse também serviria para dar conta de outra obra, menos conhecida, do dramaturgo sueco: Brincando com Fogo, espetáculo que entra em cartaz hoje, no Sesc Pompeia. Poucas vezes encenada - e inédita no Brasil -, a peça é uma das raras incursões do autor pelo universo cômico. Na atual montagem, assinada por Nelson Baskerville, o humor insinuado no original merece reforço. O absurdo ganha contornos mais nítidos. O ridículo das desavenças amorosas parece amplificado. É curioso como, seja na comédia seja no drama, Strindberg manipula basicamente os mesmos temas. E, mais intrigante ainda, como essas questões persistem quase como enigmas insolúveis. "As dificuldades de se relacionar continuam e só se acirraram", observa Baskerville. O ano de 2012 marca o centenário da morte do autor. Ainda hoje, porém, sua ficção continua a servir de subsídio para as reflexões que tecemos sobre os enfrentamentos entre os sexos, sobre as práticas de dominação e submissão que regem situações sociais e privadas. Tanto é assim que Brincando com Fogo não paira como única montagem de Strindberg em cartaz. Ao contrário, merece a companhia de uma série de outras encenações de peças do dramaturgo, em leituras das mais diversas. Tanto em versões clássicas, como Cruel, encenação de Elias Andreato. Ou completamente transgressoras, caso de Julia, recriação de Christiane Jatahy para o sempre revisitado Senhorita Julia. "É uma obra que sempre me interessou", pontua a diretora, que assina sua primeira montagem de um texto clássico. "Menos pela questão feminista e mais pelas relações de poder entre classes que ele examina. Relações íntimas, perversas e fadadas ao fracasso." A peça, que estreou em 2011 no Rio, volta hoje ao cartaz. E, em abril, integra a mostra oficial do Festival de Curitiba. Com ela, Jatahy leva adiante sua pesquisa cênica. Serve-se de uma criação do século 19 para aprofundar ainda mais o uso de mecanismos do cinema dentro do teatro, procedimento ao qual ela já recorria em trabalhos como Corte Seco. Ao usar câmeras, a encenadora radicaliza a proposta de levar os espectadores para dentro da cena. Intuito que certamente encontra eco no "teatro íntimo" preconizado por Strindberg. Para ver seus textos encenados da forma como julgava adequada, o sueco chegou a criar uma sala de espetáculos. Em 1907, Estocolmo via nascer o Intiman Teatern, um espaço pequeno que aproximava a plateia das ações e renegava as convenções do gênero. Não é apenas pelos assuntos que evoca, portanto, que Strindberg conseguiu manter-se como inspiração. Existe no tipo de realismo adotado pelo escritor um apego ao presente que faz todo o sentido para as encenações contemporâneas. "Em Senhorita Julia, ele concentra todas as ações no mesmo tempo que é partilhado com o público. Não existem elipses nem flashbacks", lembra Jatahy. Descoberta. Apenas em 2004, o País assistiria à primeira encenação de Os Credores. Recentemente, contudo, a peça parece ter caído de vez nas graças dos diretores brasileiros. Há, ao menos, três versões em curso. À frente do grupo Tapa, Eduardo Tolentino abriu mão do palco italiano e equacionou em formato de arena o violento triângulo amoroso em que estão enredados seus personagens. Quem também montou o texto foi Elias Andreato. No espetáculo, o diretor preferiu mudar o título da obra para Cruel. O que não significou, entretanto, que ele tenha feito alterações significativas no original. Na sua versão, cabe a Reynaldo Gianecchini o papel de Gustav, o homem misterioso que vem desestabilizar o combalido casamento de Tekla e Adolf. Por conta do tratamento de câncer do ator, a temporada teve que ser interrompida em julho de 2011. Agora, deve ser retomada com o mesmo elenco e tem reestreia marcada para o dia 13, no Teatro Faap. Uma nova encenação de Os Credores deve vir a público em setembro. Além de Brincando com Fogo, Nelson Baskerville pretende montar também esse texto de Strindberg. E, como é de seu feitio, deve imprimir à criação um olhar particular. "Não tenho nenhuma reverência especial pelo texto do Strindberg", comenta o encenador, que é um dos nomes mais instigantes da atual cena teatral da cidade. Aclamado pelo espetáculo Luís Antônio - Gabriela, Baskerville apresenta um olhar algo carnavalizada de Brincando com Fogo. Vale-se de intervenções com vídeo, canções do Radiohead, máscaras e coreografias desajeitadas. "Aprofundo a comédia e acirro a crítica à burguesia que já estava no texto", diz o diretor. O casamento morno, que busca nova chama ao trazer os amantes para dentro de casa, é visto como um experimento científico. Os atores estão encerrados dentro de uma tenda inflável transparente, expostos à plateia como ratos de laboratório. Baskerville intervém ainda no final que Strindberg dá à obra. Relativiza seu caráter misógino ao propor dois desfechos possíveis: um no qual a mulher padece. Outro, no qual sai vitoriosa.

O cenário é uma casa à beira-mar. Lá, um casal é obrigado a confrontar-se com os vícios e as dinâmicas de poder que regem sua relação. Eis aí, grosso modo, o enredo de Os Credores, um dos mais reverenciados textos de August Strindberg. Mas a mesma sinopse também serviria para dar conta de outra obra, menos conhecida, do dramaturgo sueco: Brincando com Fogo, espetáculo que entra em cartaz hoje, no Sesc Pompeia. Poucas vezes encenada - e inédita no Brasil -, a peça é uma das raras incursões do autor pelo universo cômico. Na atual montagem, assinada por Nelson Baskerville, o humor insinuado no original merece reforço. O absurdo ganha contornos mais nítidos. O ridículo das desavenças amorosas parece amplificado. É curioso como, seja na comédia seja no drama, Strindberg manipula basicamente os mesmos temas. E, mais intrigante ainda, como essas questões persistem quase como enigmas insolúveis. "As dificuldades de se relacionar continuam e só se acirraram", observa Baskerville. O ano de 2012 marca o centenário da morte do autor. Ainda hoje, porém, sua ficção continua a servir de subsídio para as reflexões que tecemos sobre os enfrentamentos entre os sexos, sobre as práticas de dominação e submissão que regem situações sociais e privadas. Tanto é assim que Brincando com Fogo não paira como única montagem de Strindberg em cartaz. Ao contrário, merece a companhia de uma série de outras encenações de peças do dramaturgo, em leituras das mais diversas. Tanto em versões clássicas, como Cruel, encenação de Elias Andreato. Ou completamente transgressoras, caso de Julia, recriação de Christiane Jatahy para o sempre revisitado Senhorita Julia. "É uma obra que sempre me interessou", pontua a diretora, que assina sua primeira montagem de um texto clássico. "Menos pela questão feminista e mais pelas relações de poder entre classes que ele examina. Relações íntimas, perversas e fadadas ao fracasso." A peça, que estreou em 2011 no Rio, volta hoje ao cartaz. E, em abril, integra a mostra oficial do Festival de Curitiba. Com ela, Jatahy leva adiante sua pesquisa cênica. Serve-se de uma criação do século 19 para aprofundar ainda mais o uso de mecanismos do cinema dentro do teatro, procedimento ao qual ela já recorria em trabalhos como Corte Seco. Ao usar câmeras, a encenadora radicaliza a proposta de levar os espectadores para dentro da cena. Intuito que certamente encontra eco no "teatro íntimo" preconizado por Strindberg. Para ver seus textos encenados da forma como julgava adequada, o sueco chegou a criar uma sala de espetáculos. Em 1907, Estocolmo via nascer o Intiman Teatern, um espaço pequeno que aproximava a plateia das ações e renegava as convenções do gênero. Não é apenas pelos assuntos que evoca, portanto, que Strindberg conseguiu manter-se como inspiração. Existe no tipo de realismo adotado pelo escritor um apego ao presente que faz todo o sentido para as encenações contemporâneas. "Em Senhorita Julia, ele concentra todas as ações no mesmo tempo que é partilhado com o público. Não existem elipses nem flashbacks", lembra Jatahy. Descoberta. Apenas em 2004, o País assistiria à primeira encenação de Os Credores. Recentemente, contudo, a peça parece ter caído de vez nas graças dos diretores brasileiros. Há, ao menos, três versões em curso. À frente do grupo Tapa, Eduardo Tolentino abriu mão do palco italiano e equacionou em formato de arena o violento triângulo amoroso em que estão enredados seus personagens. Quem também montou o texto foi Elias Andreato. No espetáculo, o diretor preferiu mudar o título da obra para Cruel. O que não significou, entretanto, que ele tenha feito alterações significativas no original. Na sua versão, cabe a Reynaldo Gianecchini o papel de Gustav, o homem misterioso que vem desestabilizar o combalido casamento de Tekla e Adolf. Por conta do tratamento de câncer do ator, a temporada teve que ser interrompida em julho de 2011. Agora, deve ser retomada com o mesmo elenco e tem reestreia marcada para o dia 13, no Teatro Faap. Uma nova encenação de Os Credores deve vir a público em setembro. Além de Brincando com Fogo, Nelson Baskerville pretende montar também esse texto de Strindberg. E, como é de seu feitio, deve imprimir à criação um olhar particular. "Não tenho nenhuma reverência especial pelo texto do Strindberg", comenta o encenador, que é um dos nomes mais instigantes da atual cena teatral da cidade. Aclamado pelo espetáculo Luís Antônio - Gabriela, Baskerville apresenta um olhar algo carnavalizada de Brincando com Fogo. Vale-se de intervenções com vídeo, canções do Radiohead, máscaras e coreografias desajeitadas. "Aprofundo a comédia e acirro a crítica à burguesia que já estava no texto", diz o diretor. O casamento morno, que busca nova chama ao trazer os amantes para dentro de casa, é visto como um experimento científico. Os atores estão encerrados dentro de uma tenda inflável transparente, expostos à plateia como ratos de laboratório. Baskerville intervém ainda no final que Strindberg dá à obra. Relativiza seu caráter misógino ao propor dois desfechos possíveis: um no qual a mulher padece. Outro, no qual sai vitoriosa.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.