"Anos Rebeldes" ganha livro, com memória detalhista de Gilberto Braga


A Rocco, e não a Editora Globo, coloca nas prateleiras esta semana o livro Anos Rebeldes, Os Bastidores da Criação de Uma Minissérie. Ali estão texto, na íntegra, de todo o script do programa que marcou épocas (a da ditadura militar no Brasil e a dos caras-pintadas), mais análise minuciosa de seu criador, Gilberto Braga, sobre todo o enredo, o processo de criação e a censura interna sofrida pela produção à época.

Por Cristina Padiglione

Talvez a disposição do autor em mencionar esses bastidores com tamanha honestidade explique por que o livro sai pela Rocco, e não pela Editora Globo ou pela Zahar, com quem a Globo tem uma parceria frequente em publicações referentes ao seu acervo.

O livro é uma aula de roteiro de TV, serve a quem tem interesse no ramo, mas também aos telespectadores mais passivos, que hão de se encantar com as ideias que trafegam na cabeça de um autor durante a concepção de um enredo como "Anos Rebeldes". A série tem versão em DVD pela Globo Marcas e, embora Braga desaprove a edição em questão, é uma chance mínima a quem perdeu a vez em 92. O Youtube também oferece algumas cenas da minissérie, incluindo uma "denúncia" que me deixou arrasada: a falha de continuidade na cena em que a adorável Heloísa, personagem de Cláudia Abreu, é metralhada ao sair do carro. Comunista até a morte na vida real, o saudoso Francsico Milani faz então o papel do investigador policial que instiga o soldado a atirar na moça.

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A seguir, republico texto que fiz para a edição de ontem do Caderno 2:

Revisitar um programa de televisão em livro é iniciativa que raramente vale o papel. "Anos Rebeldes", a minissérie de Gilberto Braga que a Globo exibiu em 1992 no pré-impeachment de Fernando Collor, é uma dessas raridades e não meramente por ter marcado uma época. Marcou duas: a dos anos de chumbo retratados no programa (de 1964 a 1971, com breve flash da anistia em 1979), e, por acaso, aquela em que foi exibida, quando inspirou os pacatos estudantes da temporada a sair do sofá, pintar a cara e tomar as ruas para engrossar o coro de "Fora Collor" ao som de "Alegria Alegria", tema de Caetano Veloso que abria a minissérie. Nostálgica para uns, a série trouxe a outros um passado que contextualizava o advento da pílula anticoncepcional, a indignação mundial contra a presença norte-americana no Vietnã, a conquista do espaço, as Copas de 66 e 70, o tal milagre econômico, o tropicalismo e a Jovem Guarda, entre tantas idolatrias. A larga lista de conquistas bastaria para explicar por que "Anos Rebeldes - Os Bastidores da Criação de Uma Minissérie", que a Editora Rocco lança esta semana, é de uma riqueza de detalhes nunca antes vista na arte de dissecar um roteiro feito para a televisão. Lá está a reprodução na íntegra de todo o script dos 20 capítulos da série, acompanhada da análise de seu criador, Gilberto Braga. O caso é que, além da competência que em linhas gerais conduziu esta produção da TV Globo, um script igualmente atraente se desenhou nos bastidores da minissérie. Como primeiro título da teledramaturgia brasileira disposto a enfocar o período da ditadura no Brasil, "Anos Rebeldes" sofreu pressão do Exército e forte censura interna. Várias cenas foram reescritas. Ao lembrar que em 1988 Roberto Marinho quis suspender a exibição de "O Pagador de Promessas" mas foi convencido por Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, então principal executivo da Globo) a só cortar 4 dos 12 capítulos da minissérie de Dias Gomes, Gilberto narra a tensão por que passou ao escrever sobre a história de João Alfredo (Cássio Gabus Mendes), Maria Lúcia (Malu Mader), Heloísa (Cláudia Abreu), Edgar (Marcelo Serrado) e Galeno (Pedro Cardoso). "Tinha medo de escrever e, depois, que as cenas fossem cortadas por alguém", conta o autor no livro. Foi Cláudio Melo Souza o intermediário escalado por Roberto Marinho para ler algumas partes do roteiro. "Seu parecer dizia que, do décimo ao décimo quarto capítulo, estávamos carregando demais nas tintas políticas." Um dos trechos cortados do original, publicado à época pelo "Jornal do Brasil" e mencionado no livro, é o seguinte: um policial aborda Maria Lúcia num muro e separa as pernas dela com o cassetete, levantando sua saia quase até a calcinha, numa insinuação de abuso sexual. Era demais. Mas a censura interna enfrentada pelo autor em 1992 não se compara às sanções sofridas por ele mesmo em 1976, quando, em uma reunião em Brasília com censores do governo militar, comprometeu-se a não mais mencionar a palavra "escravo" na novela "Escrava Isaura", escrita por ele à época para a Globo. A história foi inteiramente transportada para o script de "Anos Rebeldes" e aparece no último capítulo, pela voz de Galeno. Detalhista, o autor fala de seu esmero com a seleção musical de suas produções. Reconhece méritos e falhas - seus e alheios. Diz que era alienado nos anos que tão bem retratou, conta que foi Sérgio Marques, com quem assina o texto, quem o orientou melhor sobre a época, e faz lá suas críticas a figurino e elenco - como as restrições às interpretações de José Wilker e de Cláudia Abreu no início da produção. Anote-se, no entanto, que nem nas contrariedades Braga perde o humor, o que não significa que ele se renda às armadilhas do final feliz. Ainda bem.

Talvez a disposição do autor em mencionar esses bastidores com tamanha honestidade explique por que o livro sai pela Rocco, e não pela Editora Globo ou pela Zahar, com quem a Globo tem uma parceria frequente em publicações referentes ao seu acervo.

O livro é uma aula de roteiro de TV, serve a quem tem interesse no ramo, mas também aos telespectadores mais passivos, que hão de se encantar com as ideias que trafegam na cabeça de um autor durante a concepção de um enredo como "Anos Rebeldes". A série tem versão em DVD pela Globo Marcas e, embora Braga desaprove a edição em questão, é uma chance mínima a quem perdeu a vez em 92. O Youtube também oferece algumas cenas da minissérie, incluindo uma "denúncia" que me deixou arrasada: a falha de continuidade na cena em que a adorável Heloísa, personagem de Cláudia Abreu, é metralhada ao sair do carro. Comunista até a morte na vida real, o saudoso Francsico Milani faz então o papel do investigador policial que instiga o soldado a atirar na moça.

A seguir, republico texto que fiz para a edição de ontem do Caderno 2:

Revisitar um programa de televisão em livro é iniciativa que raramente vale o papel. "Anos Rebeldes", a minissérie de Gilberto Braga que a Globo exibiu em 1992 no pré-impeachment de Fernando Collor, é uma dessas raridades e não meramente por ter marcado uma época. Marcou duas: a dos anos de chumbo retratados no programa (de 1964 a 1971, com breve flash da anistia em 1979), e, por acaso, aquela em que foi exibida, quando inspirou os pacatos estudantes da temporada a sair do sofá, pintar a cara e tomar as ruas para engrossar o coro de "Fora Collor" ao som de "Alegria Alegria", tema de Caetano Veloso que abria a minissérie. Nostálgica para uns, a série trouxe a outros um passado que contextualizava o advento da pílula anticoncepcional, a indignação mundial contra a presença norte-americana no Vietnã, a conquista do espaço, as Copas de 66 e 70, o tal milagre econômico, o tropicalismo e a Jovem Guarda, entre tantas idolatrias. A larga lista de conquistas bastaria para explicar por que "Anos Rebeldes - Os Bastidores da Criação de Uma Minissérie", que a Editora Rocco lança esta semana, é de uma riqueza de detalhes nunca antes vista na arte de dissecar um roteiro feito para a televisão. Lá está a reprodução na íntegra de todo o script dos 20 capítulos da série, acompanhada da análise de seu criador, Gilberto Braga. O caso é que, além da competência que em linhas gerais conduziu esta produção da TV Globo, um script igualmente atraente se desenhou nos bastidores da minissérie. Como primeiro título da teledramaturgia brasileira disposto a enfocar o período da ditadura no Brasil, "Anos Rebeldes" sofreu pressão do Exército e forte censura interna. Várias cenas foram reescritas. Ao lembrar que em 1988 Roberto Marinho quis suspender a exibição de "O Pagador de Promessas" mas foi convencido por Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, então principal executivo da Globo) a só cortar 4 dos 12 capítulos da minissérie de Dias Gomes, Gilberto narra a tensão por que passou ao escrever sobre a história de João Alfredo (Cássio Gabus Mendes), Maria Lúcia (Malu Mader), Heloísa (Cláudia Abreu), Edgar (Marcelo Serrado) e Galeno (Pedro Cardoso). "Tinha medo de escrever e, depois, que as cenas fossem cortadas por alguém", conta o autor no livro. Foi Cláudio Melo Souza o intermediário escalado por Roberto Marinho para ler algumas partes do roteiro. "Seu parecer dizia que, do décimo ao décimo quarto capítulo, estávamos carregando demais nas tintas políticas." Um dos trechos cortados do original, publicado à época pelo "Jornal do Brasil" e mencionado no livro, é o seguinte: um policial aborda Maria Lúcia num muro e separa as pernas dela com o cassetete, levantando sua saia quase até a calcinha, numa insinuação de abuso sexual. Era demais. Mas a censura interna enfrentada pelo autor em 1992 não se compara às sanções sofridas por ele mesmo em 1976, quando, em uma reunião em Brasília com censores do governo militar, comprometeu-se a não mais mencionar a palavra "escravo" na novela "Escrava Isaura", escrita por ele à época para a Globo. A história foi inteiramente transportada para o script de "Anos Rebeldes" e aparece no último capítulo, pela voz de Galeno. Detalhista, o autor fala de seu esmero com a seleção musical de suas produções. Reconhece méritos e falhas - seus e alheios. Diz que era alienado nos anos que tão bem retratou, conta que foi Sérgio Marques, com quem assina o texto, quem o orientou melhor sobre a época, e faz lá suas críticas a figurino e elenco - como as restrições às interpretações de José Wilker e de Cláudia Abreu no início da produção. Anote-se, no entanto, que nem nas contrariedades Braga perde o humor, o que não significa que ele se renda às armadilhas do final feliz. Ainda bem.

Talvez a disposição do autor em mencionar esses bastidores com tamanha honestidade explique por que o livro sai pela Rocco, e não pela Editora Globo ou pela Zahar, com quem a Globo tem uma parceria frequente em publicações referentes ao seu acervo.

O livro é uma aula de roteiro de TV, serve a quem tem interesse no ramo, mas também aos telespectadores mais passivos, que hão de se encantar com as ideias que trafegam na cabeça de um autor durante a concepção de um enredo como "Anos Rebeldes". A série tem versão em DVD pela Globo Marcas e, embora Braga desaprove a edição em questão, é uma chance mínima a quem perdeu a vez em 92. O Youtube também oferece algumas cenas da minissérie, incluindo uma "denúncia" que me deixou arrasada: a falha de continuidade na cena em que a adorável Heloísa, personagem de Cláudia Abreu, é metralhada ao sair do carro. Comunista até a morte na vida real, o saudoso Francsico Milani faz então o papel do investigador policial que instiga o soldado a atirar na moça.

A seguir, republico texto que fiz para a edição de ontem do Caderno 2:

Revisitar um programa de televisão em livro é iniciativa que raramente vale o papel. "Anos Rebeldes", a minissérie de Gilberto Braga que a Globo exibiu em 1992 no pré-impeachment de Fernando Collor, é uma dessas raridades e não meramente por ter marcado uma época. Marcou duas: a dos anos de chumbo retratados no programa (de 1964 a 1971, com breve flash da anistia em 1979), e, por acaso, aquela em que foi exibida, quando inspirou os pacatos estudantes da temporada a sair do sofá, pintar a cara e tomar as ruas para engrossar o coro de "Fora Collor" ao som de "Alegria Alegria", tema de Caetano Veloso que abria a minissérie. Nostálgica para uns, a série trouxe a outros um passado que contextualizava o advento da pílula anticoncepcional, a indignação mundial contra a presença norte-americana no Vietnã, a conquista do espaço, as Copas de 66 e 70, o tal milagre econômico, o tropicalismo e a Jovem Guarda, entre tantas idolatrias. A larga lista de conquistas bastaria para explicar por que "Anos Rebeldes - Os Bastidores da Criação de Uma Minissérie", que a Editora Rocco lança esta semana, é de uma riqueza de detalhes nunca antes vista na arte de dissecar um roteiro feito para a televisão. Lá está a reprodução na íntegra de todo o script dos 20 capítulos da série, acompanhada da análise de seu criador, Gilberto Braga. O caso é que, além da competência que em linhas gerais conduziu esta produção da TV Globo, um script igualmente atraente se desenhou nos bastidores da minissérie. Como primeiro título da teledramaturgia brasileira disposto a enfocar o período da ditadura no Brasil, "Anos Rebeldes" sofreu pressão do Exército e forte censura interna. Várias cenas foram reescritas. Ao lembrar que em 1988 Roberto Marinho quis suspender a exibição de "O Pagador de Promessas" mas foi convencido por Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, então principal executivo da Globo) a só cortar 4 dos 12 capítulos da minissérie de Dias Gomes, Gilberto narra a tensão por que passou ao escrever sobre a história de João Alfredo (Cássio Gabus Mendes), Maria Lúcia (Malu Mader), Heloísa (Cláudia Abreu), Edgar (Marcelo Serrado) e Galeno (Pedro Cardoso). "Tinha medo de escrever e, depois, que as cenas fossem cortadas por alguém", conta o autor no livro. Foi Cláudio Melo Souza o intermediário escalado por Roberto Marinho para ler algumas partes do roteiro. "Seu parecer dizia que, do décimo ao décimo quarto capítulo, estávamos carregando demais nas tintas políticas." Um dos trechos cortados do original, publicado à época pelo "Jornal do Brasil" e mencionado no livro, é o seguinte: um policial aborda Maria Lúcia num muro e separa as pernas dela com o cassetete, levantando sua saia quase até a calcinha, numa insinuação de abuso sexual. Era demais. Mas a censura interna enfrentada pelo autor em 1992 não se compara às sanções sofridas por ele mesmo em 1976, quando, em uma reunião em Brasília com censores do governo militar, comprometeu-se a não mais mencionar a palavra "escravo" na novela "Escrava Isaura", escrita por ele à época para a Globo. A história foi inteiramente transportada para o script de "Anos Rebeldes" e aparece no último capítulo, pela voz de Galeno. Detalhista, o autor fala de seu esmero com a seleção musical de suas produções. Reconhece méritos e falhas - seus e alheios. Diz que era alienado nos anos que tão bem retratou, conta que foi Sérgio Marques, com quem assina o texto, quem o orientou melhor sobre a época, e faz lá suas críticas a figurino e elenco - como as restrições às interpretações de José Wilker e de Cláudia Abreu no início da produção. Anote-se, no entanto, que nem nas contrariedades Braga perde o humor, o que não significa que ele se renda às armadilhas do final feliz. Ainda bem.

Talvez a disposição do autor em mencionar esses bastidores com tamanha honestidade explique por que o livro sai pela Rocco, e não pela Editora Globo ou pela Zahar, com quem a Globo tem uma parceria frequente em publicações referentes ao seu acervo.

O livro é uma aula de roteiro de TV, serve a quem tem interesse no ramo, mas também aos telespectadores mais passivos, que hão de se encantar com as ideias que trafegam na cabeça de um autor durante a concepção de um enredo como "Anos Rebeldes". A série tem versão em DVD pela Globo Marcas e, embora Braga desaprove a edição em questão, é uma chance mínima a quem perdeu a vez em 92. O Youtube também oferece algumas cenas da minissérie, incluindo uma "denúncia" que me deixou arrasada: a falha de continuidade na cena em que a adorável Heloísa, personagem de Cláudia Abreu, é metralhada ao sair do carro. Comunista até a morte na vida real, o saudoso Francsico Milani faz então o papel do investigador policial que instiga o soldado a atirar na moça.

A seguir, republico texto que fiz para a edição de ontem do Caderno 2:

Revisitar um programa de televisão em livro é iniciativa que raramente vale o papel. "Anos Rebeldes", a minissérie de Gilberto Braga que a Globo exibiu em 1992 no pré-impeachment de Fernando Collor, é uma dessas raridades e não meramente por ter marcado uma época. Marcou duas: a dos anos de chumbo retratados no programa (de 1964 a 1971, com breve flash da anistia em 1979), e, por acaso, aquela em que foi exibida, quando inspirou os pacatos estudantes da temporada a sair do sofá, pintar a cara e tomar as ruas para engrossar o coro de "Fora Collor" ao som de "Alegria Alegria", tema de Caetano Veloso que abria a minissérie. Nostálgica para uns, a série trouxe a outros um passado que contextualizava o advento da pílula anticoncepcional, a indignação mundial contra a presença norte-americana no Vietnã, a conquista do espaço, as Copas de 66 e 70, o tal milagre econômico, o tropicalismo e a Jovem Guarda, entre tantas idolatrias. A larga lista de conquistas bastaria para explicar por que "Anos Rebeldes - Os Bastidores da Criação de Uma Minissérie", que a Editora Rocco lança esta semana, é de uma riqueza de detalhes nunca antes vista na arte de dissecar um roteiro feito para a televisão. Lá está a reprodução na íntegra de todo o script dos 20 capítulos da série, acompanhada da análise de seu criador, Gilberto Braga. O caso é que, além da competência que em linhas gerais conduziu esta produção da TV Globo, um script igualmente atraente se desenhou nos bastidores da minissérie. Como primeiro título da teledramaturgia brasileira disposto a enfocar o período da ditadura no Brasil, "Anos Rebeldes" sofreu pressão do Exército e forte censura interna. Várias cenas foram reescritas. Ao lembrar que em 1988 Roberto Marinho quis suspender a exibição de "O Pagador de Promessas" mas foi convencido por Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, então principal executivo da Globo) a só cortar 4 dos 12 capítulos da minissérie de Dias Gomes, Gilberto narra a tensão por que passou ao escrever sobre a história de João Alfredo (Cássio Gabus Mendes), Maria Lúcia (Malu Mader), Heloísa (Cláudia Abreu), Edgar (Marcelo Serrado) e Galeno (Pedro Cardoso). "Tinha medo de escrever e, depois, que as cenas fossem cortadas por alguém", conta o autor no livro. Foi Cláudio Melo Souza o intermediário escalado por Roberto Marinho para ler algumas partes do roteiro. "Seu parecer dizia que, do décimo ao décimo quarto capítulo, estávamos carregando demais nas tintas políticas." Um dos trechos cortados do original, publicado à época pelo "Jornal do Brasil" e mencionado no livro, é o seguinte: um policial aborda Maria Lúcia num muro e separa as pernas dela com o cassetete, levantando sua saia quase até a calcinha, numa insinuação de abuso sexual. Era demais. Mas a censura interna enfrentada pelo autor em 1992 não se compara às sanções sofridas por ele mesmo em 1976, quando, em uma reunião em Brasília com censores do governo militar, comprometeu-se a não mais mencionar a palavra "escravo" na novela "Escrava Isaura", escrita por ele à época para a Globo. A história foi inteiramente transportada para o script de "Anos Rebeldes" e aparece no último capítulo, pela voz de Galeno. Detalhista, o autor fala de seu esmero com a seleção musical de suas produções. Reconhece méritos e falhas - seus e alheios. Diz que era alienado nos anos que tão bem retratou, conta que foi Sérgio Marques, com quem assina o texto, quem o orientou melhor sobre a época, e faz lá suas críticas a figurino e elenco - como as restrições às interpretações de José Wilker e de Cláudia Abreu no início da produção. Anote-se, no entanto, que nem nas contrariedades Braga perde o humor, o que não significa que ele se renda às armadilhas do final feliz. Ainda bem.

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