Diplomata brasileiro tem poemas publicados em edição bilíngue na Espanha


Cláudio Guimarães dos Santos reúne seus versos em 'Coleção de Epifanias'

Por Leandro Garcia

Coleção de Epifanias, do poeta e diplomata Cláudio Guimarães dos Santos – lançado em Madri pela Bohodón, em edição bilíngue – traz inúmeros desafios e obriga-nos a (re)pensar o lugar da poesia brasileira aqui e no exterior. Destaco, inicialmente, um trecho do poema No Tempo em que Meu Pai Não Tinha Filhos: “No shalom, no amém, no inshallah, no ahimsa / (Todos vácuos e impossíveis),/ Nas pencas de museus redundantes, /Nas imagens invocando iconoclastas, /Num verão apocalíptico e branquíssimo, /De um Deus que é poeta e não geômetra/E que aposta com o Acaso só pra ver-nos confundidos.” 

O diplomata e poeta brasileiro Cláudio Guimarães dos Santos Foto: Acervo pessoal

Os versos aludem a uma teodiceia globalizante que une tradições religiosas com distintas concepções do sagrado. O shalom, o amém e o inshallah – avatares da tríade monoteísta judaico-cristã-islâmica – integram-se como uma espécie de arquétipo do que poderia acontecer na realidade. Num cosmos onde há um “Deus que é poeta e não geômetra”, a poesia revela-se como elemento de ligação, aproximando o que é diverso. E, se Deus é poeta, devemos ser ouvintes da Sua poesia e não sectários que se apropriam do sagrado para fomentar disputas demasiado humanas. E o autor conclui: “Eu contemplo tudo isso/E, aqui, fico cismando, /Nesta noite enluarada: /Como será,/Num futuro que, espero, está distante,/O tempo em que meu filho não terá mais pai?” Trata-se da dúvida ontológica, que moveu (e que move) poetas e filósofos, particularmente os existencialistas. 

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A própria literatura, em última análise, poderia ser concebida como uma espécie de “contramargem” que se opõe ao senso comum, de forma artística e ficcional, constituindo-se em torno dessa dúvida. Há muito dessa busca no poema Presente de Natal: “Retorno ao Princípio do sentido,/Ao Foco de onde nasce toda vida,/Ao Solo de onde brota toda luz,/Ao Centro de onde emana todo ser,/E peço compaixão pela ousadia/De um mero pecador se perguntar:/‘Por que padeço a Graça de existir?’” Pressente-se um claro desejo de auto-compreensão, a vontade de atingir esse “princípio de sentido”, criador e ordenador de tudo. E o questionamento final do eu-lírico aproxima-se muito, em seu anseio, da busca de Schopenhauer. 

Essa interrogação fundante acompanha o eu-lírico de forma insistente, como vemos no poema Encontro Antigo em Sintra, onde se lê: “Será que flagraste, por fim, o inaudível marulhar do Ser?” Eis um verso poderoso e perigoso, já que conduz-nos, inevitavelmente, ao problema da finitude. Vejo, nesse livro, um desejo desesperado de unir as pontas paradoxais da existência numa senda semelhante à de Cecília Meireles, que anelava aproximar o eterno e o efêmero. Isso fica evidente no poema Feuilles Mortes: “Anoitecem, em Paris, as luzes brilhantes de França./Madrid, boêmia insone, consome-se em pesadelos./Com a coroa enferrujada, morre Londres, em silêncio./Berlim é um resto de muro, que não guarda, mas expõe./Desfaz-se, na contingência, a eternidade de Roma.” 

É flagrante, aqui, a ideia de consumação, de “eschatós”, que transparece em expressões como “enferrujada” e “resto”, perante a qual só podemos nos calar com “temor e tremor”. Mas não seria essa a verdadeira função da obra literária: sacudir o leitor, jamais permitindo que fique indiferente ao texto que tem diante de si? 

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Considero esse hibridismo temático o que há de mais rico no livro. Trata-se de real arqueologia poética que demorará um pouco para ser absorvida, ainda mais quando consideramos o estado atual da criação literária no Brasil. Acho mesmo que a obra de Cláudio Guimarães dos Santos enfrentará não poucas barreiras – especialmente as geradas pelos modismos maneiristas, com seus malabarismos formais e sua pobreza de conteúdo –, tão perverso é o relativismo sob o qual vivemos: onde qualquer coisa tem valor, vale fazer qualquer coisa... 

Também sua opção estilística por uma escrita enxuta, rigorosa, epigramática, a coragem de servir-se de formas clássicas de composição, poderão incomodar alguns mais afeitos a uma poesia panfletária, comum hoje em dia. Eis um perigo que Cláudio Guimarães dos Santos afronta e que muito o aproxima de poetas como João Cabral de Melo Neto e, sobretudo, como Murilo Mendes, cujo valor em vida foi reconhecido bem mais no exterior do que no Brasil.

Ao correr, porém, esse risco, o autor de Coleção de Epifanias instiga-nos a ler sua obra, obriga-nos a refletir sobre o mistério da existência e permite-nos entrar em contato com uma verdadeira epifania poética.*LEANDRO GARCIA É PROFESSOR DE TEORIA LITERÁRIA E DIRETOR DO ACERVO DOS ESCRITORES MINEIROS DA UFMG

Coleção de Epifanias, do poeta e diplomata Cláudio Guimarães dos Santos – lançado em Madri pela Bohodón, em edição bilíngue – traz inúmeros desafios e obriga-nos a (re)pensar o lugar da poesia brasileira aqui e no exterior. Destaco, inicialmente, um trecho do poema No Tempo em que Meu Pai Não Tinha Filhos: “No shalom, no amém, no inshallah, no ahimsa / (Todos vácuos e impossíveis),/ Nas pencas de museus redundantes, /Nas imagens invocando iconoclastas, /Num verão apocalíptico e branquíssimo, /De um Deus que é poeta e não geômetra/E que aposta com o Acaso só pra ver-nos confundidos.” 

O diplomata e poeta brasileiro Cláudio Guimarães dos Santos Foto: Acervo pessoal

Os versos aludem a uma teodiceia globalizante que une tradições religiosas com distintas concepções do sagrado. O shalom, o amém e o inshallah – avatares da tríade monoteísta judaico-cristã-islâmica – integram-se como uma espécie de arquétipo do que poderia acontecer na realidade. Num cosmos onde há um “Deus que é poeta e não geômetra”, a poesia revela-se como elemento de ligação, aproximando o que é diverso. E, se Deus é poeta, devemos ser ouvintes da Sua poesia e não sectários que se apropriam do sagrado para fomentar disputas demasiado humanas. E o autor conclui: “Eu contemplo tudo isso/E, aqui, fico cismando, /Nesta noite enluarada: /Como será,/Num futuro que, espero, está distante,/O tempo em que meu filho não terá mais pai?” Trata-se da dúvida ontológica, que moveu (e que move) poetas e filósofos, particularmente os existencialistas. 

A própria literatura, em última análise, poderia ser concebida como uma espécie de “contramargem” que se opõe ao senso comum, de forma artística e ficcional, constituindo-se em torno dessa dúvida. Há muito dessa busca no poema Presente de Natal: “Retorno ao Princípio do sentido,/Ao Foco de onde nasce toda vida,/Ao Solo de onde brota toda luz,/Ao Centro de onde emana todo ser,/E peço compaixão pela ousadia/De um mero pecador se perguntar:/‘Por que padeço a Graça de existir?’” Pressente-se um claro desejo de auto-compreensão, a vontade de atingir esse “princípio de sentido”, criador e ordenador de tudo. E o questionamento final do eu-lírico aproxima-se muito, em seu anseio, da busca de Schopenhauer. 

Essa interrogação fundante acompanha o eu-lírico de forma insistente, como vemos no poema Encontro Antigo em Sintra, onde se lê: “Será que flagraste, por fim, o inaudível marulhar do Ser?” Eis um verso poderoso e perigoso, já que conduz-nos, inevitavelmente, ao problema da finitude. Vejo, nesse livro, um desejo desesperado de unir as pontas paradoxais da existência numa senda semelhante à de Cecília Meireles, que anelava aproximar o eterno e o efêmero. Isso fica evidente no poema Feuilles Mortes: “Anoitecem, em Paris, as luzes brilhantes de França./Madrid, boêmia insone, consome-se em pesadelos./Com a coroa enferrujada, morre Londres, em silêncio./Berlim é um resto de muro, que não guarda, mas expõe./Desfaz-se, na contingência, a eternidade de Roma.” 

É flagrante, aqui, a ideia de consumação, de “eschatós”, que transparece em expressões como “enferrujada” e “resto”, perante a qual só podemos nos calar com “temor e tremor”. Mas não seria essa a verdadeira função da obra literária: sacudir o leitor, jamais permitindo que fique indiferente ao texto que tem diante de si? 

Considero esse hibridismo temático o que há de mais rico no livro. Trata-se de real arqueologia poética que demorará um pouco para ser absorvida, ainda mais quando consideramos o estado atual da criação literária no Brasil. Acho mesmo que a obra de Cláudio Guimarães dos Santos enfrentará não poucas barreiras – especialmente as geradas pelos modismos maneiristas, com seus malabarismos formais e sua pobreza de conteúdo –, tão perverso é o relativismo sob o qual vivemos: onde qualquer coisa tem valor, vale fazer qualquer coisa... 

Também sua opção estilística por uma escrita enxuta, rigorosa, epigramática, a coragem de servir-se de formas clássicas de composição, poderão incomodar alguns mais afeitos a uma poesia panfletária, comum hoje em dia. Eis um perigo que Cláudio Guimarães dos Santos afronta e que muito o aproxima de poetas como João Cabral de Melo Neto e, sobretudo, como Murilo Mendes, cujo valor em vida foi reconhecido bem mais no exterior do que no Brasil.

Ao correr, porém, esse risco, o autor de Coleção de Epifanias instiga-nos a ler sua obra, obriga-nos a refletir sobre o mistério da existência e permite-nos entrar em contato com uma verdadeira epifania poética.*LEANDRO GARCIA É PROFESSOR DE TEORIA LITERÁRIA E DIRETOR DO ACERVO DOS ESCRITORES MINEIROS DA UFMG

Coleção de Epifanias, do poeta e diplomata Cláudio Guimarães dos Santos – lançado em Madri pela Bohodón, em edição bilíngue – traz inúmeros desafios e obriga-nos a (re)pensar o lugar da poesia brasileira aqui e no exterior. Destaco, inicialmente, um trecho do poema No Tempo em que Meu Pai Não Tinha Filhos: “No shalom, no amém, no inshallah, no ahimsa / (Todos vácuos e impossíveis),/ Nas pencas de museus redundantes, /Nas imagens invocando iconoclastas, /Num verão apocalíptico e branquíssimo, /De um Deus que é poeta e não geômetra/E que aposta com o Acaso só pra ver-nos confundidos.” 

O diplomata e poeta brasileiro Cláudio Guimarães dos Santos Foto: Acervo pessoal

Os versos aludem a uma teodiceia globalizante que une tradições religiosas com distintas concepções do sagrado. O shalom, o amém e o inshallah – avatares da tríade monoteísta judaico-cristã-islâmica – integram-se como uma espécie de arquétipo do que poderia acontecer na realidade. Num cosmos onde há um “Deus que é poeta e não geômetra”, a poesia revela-se como elemento de ligação, aproximando o que é diverso. E, se Deus é poeta, devemos ser ouvintes da Sua poesia e não sectários que se apropriam do sagrado para fomentar disputas demasiado humanas. E o autor conclui: “Eu contemplo tudo isso/E, aqui, fico cismando, /Nesta noite enluarada: /Como será,/Num futuro que, espero, está distante,/O tempo em que meu filho não terá mais pai?” Trata-se da dúvida ontológica, que moveu (e que move) poetas e filósofos, particularmente os existencialistas. 

A própria literatura, em última análise, poderia ser concebida como uma espécie de “contramargem” que se opõe ao senso comum, de forma artística e ficcional, constituindo-se em torno dessa dúvida. Há muito dessa busca no poema Presente de Natal: “Retorno ao Princípio do sentido,/Ao Foco de onde nasce toda vida,/Ao Solo de onde brota toda luz,/Ao Centro de onde emana todo ser,/E peço compaixão pela ousadia/De um mero pecador se perguntar:/‘Por que padeço a Graça de existir?’” Pressente-se um claro desejo de auto-compreensão, a vontade de atingir esse “princípio de sentido”, criador e ordenador de tudo. E o questionamento final do eu-lírico aproxima-se muito, em seu anseio, da busca de Schopenhauer. 

Essa interrogação fundante acompanha o eu-lírico de forma insistente, como vemos no poema Encontro Antigo em Sintra, onde se lê: “Será que flagraste, por fim, o inaudível marulhar do Ser?” Eis um verso poderoso e perigoso, já que conduz-nos, inevitavelmente, ao problema da finitude. Vejo, nesse livro, um desejo desesperado de unir as pontas paradoxais da existência numa senda semelhante à de Cecília Meireles, que anelava aproximar o eterno e o efêmero. Isso fica evidente no poema Feuilles Mortes: “Anoitecem, em Paris, as luzes brilhantes de França./Madrid, boêmia insone, consome-se em pesadelos./Com a coroa enferrujada, morre Londres, em silêncio./Berlim é um resto de muro, que não guarda, mas expõe./Desfaz-se, na contingência, a eternidade de Roma.” 

É flagrante, aqui, a ideia de consumação, de “eschatós”, que transparece em expressões como “enferrujada” e “resto”, perante a qual só podemos nos calar com “temor e tremor”. Mas não seria essa a verdadeira função da obra literária: sacudir o leitor, jamais permitindo que fique indiferente ao texto que tem diante de si? 

Considero esse hibridismo temático o que há de mais rico no livro. Trata-se de real arqueologia poética que demorará um pouco para ser absorvida, ainda mais quando consideramos o estado atual da criação literária no Brasil. Acho mesmo que a obra de Cláudio Guimarães dos Santos enfrentará não poucas barreiras – especialmente as geradas pelos modismos maneiristas, com seus malabarismos formais e sua pobreza de conteúdo –, tão perverso é o relativismo sob o qual vivemos: onde qualquer coisa tem valor, vale fazer qualquer coisa... 

Também sua opção estilística por uma escrita enxuta, rigorosa, epigramática, a coragem de servir-se de formas clássicas de composição, poderão incomodar alguns mais afeitos a uma poesia panfletária, comum hoje em dia. Eis um perigo que Cláudio Guimarães dos Santos afronta e que muito o aproxima de poetas como João Cabral de Melo Neto e, sobretudo, como Murilo Mendes, cujo valor em vida foi reconhecido bem mais no exterior do que no Brasil.

Ao correr, porém, esse risco, o autor de Coleção de Epifanias instiga-nos a ler sua obra, obriga-nos a refletir sobre o mistério da existência e permite-nos entrar em contato com uma verdadeira epifania poética.*LEANDRO GARCIA É PROFESSOR DE TEORIA LITERÁRIA E DIRETOR DO ACERVO DOS ESCRITORES MINEIROS DA UFMG

Coleção de Epifanias, do poeta e diplomata Cláudio Guimarães dos Santos – lançado em Madri pela Bohodón, em edição bilíngue – traz inúmeros desafios e obriga-nos a (re)pensar o lugar da poesia brasileira aqui e no exterior. Destaco, inicialmente, um trecho do poema No Tempo em que Meu Pai Não Tinha Filhos: “No shalom, no amém, no inshallah, no ahimsa / (Todos vácuos e impossíveis),/ Nas pencas de museus redundantes, /Nas imagens invocando iconoclastas, /Num verão apocalíptico e branquíssimo, /De um Deus que é poeta e não geômetra/E que aposta com o Acaso só pra ver-nos confundidos.” 

O diplomata e poeta brasileiro Cláudio Guimarães dos Santos Foto: Acervo pessoal

Os versos aludem a uma teodiceia globalizante que une tradições religiosas com distintas concepções do sagrado. O shalom, o amém e o inshallah – avatares da tríade monoteísta judaico-cristã-islâmica – integram-se como uma espécie de arquétipo do que poderia acontecer na realidade. Num cosmos onde há um “Deus que é poeta e não geômetra”, a poesia revela-se como elemento de ligação, aproximando o que é diverso. E, se Deus é poeta, devemos ser ouvintes da Sua poesia e não sectários que se apropriam do sagrado para fomentar disputas demasiado humanas. E o autor conclui: “Eu contemplo tudo isso/E, aqui, fico cismando, /Nesta noite enluarada: /Como será,/Num futuro que, espero, está distante,/O tempo em que meu filho não terá mais pai?” Trata-se da dúvida ontológica, que moveu (e que move) poetas e filósofos, particularmente os existencialistas. 

A própria literatura, em última análise, poderia ser concebida como uma espécie de “contramargem” que se opõe ao senso comum, de forma artística e ficcional, constituindo-se em torno dessa dúvida. Há muito dessa busca no poema Presente de Natal: “Retorno ao Princípio do sentido,/Ao Foco de onde nasce toda vida,/Ao Solo de onde brota toda luz,/Ao Centro de onde emana todo ser,/E peço compaixão pela ousadia/De um mero pecador se perguntar:/‘Por que padeço a Graça de existir?’” Pressente-se um claro desejo de auto-compreensão, a vontade de atingir esse “princípio de sentido”, criador e ordenador de tudo. E o questionamento final do eu-lírico aproxima-se muito, em seu anseio, da busca de Schopenhauer. 

Essa interrogação fundante acompanha o eu-lírico de forma insistente, como vemos no poema Encontro Antigo em Sintra, onde se lê: “Será que flagraste, por fim, o inaudível marulhar do Ser?” Eis um verso poderoso e perigoso, já que conduz-nos, inevitavelmente, ao problema da finitude. Vejo, nesse livro, um desejo desesperado de unir as pontas paradoxais da existência numa senda semelhante à de Cecília Meireles, que anelava aproximar o eterno e o efêmero. Isso fica evidente no poema Feuilles Mortes: “Anoitecem, em Paris, as luzes brilhantes de França./Madrid, boêmia insone, consome-se em pesadelos./Com a coroa enferrujada, morre Londres, em silêncio./Berlim é um resto de muro, que não guarda, mas expõe./Desfaz-se, na contingência, a eternidade de Roma.” 

É flagrante, aqui, a ideia de consumação, de “eschatós”, que transparece em expressões como “enferrujada” e “resto”, perante a qual só podemos nos calar com “temor e tremor”. Mas não seria essa a verdadeira função da obra literária: sacudir o leitor, jamais permitindo que fique indiferente ao texto que tem diante de si? 

Considero esse hibridismo temático o que há de mais rico no livro. Trata-se de real arqueologia poética que demorará um pouco para ser absorvida, ainda mais quando consideramos o estado atual da criação literária no Brasil. Acho mesmo que a obra de Cláudio Guimarães dos Santos enfrentará não poucas barreiras – especialmente as geradas pelos modismos maneiristas, com seus malabarismos formais e sua pobreza de conteúdo –, tão perverso é o relativismo sob o qual vivemos: onde qualquer coisa tem valor, vale fazer qualquer coisa... 

Também sua opção estilística por uma escrita enxuta, rigorosa, epigramática, a coragem de servir-se de formas clássicas de composição, poderão incomodar alguns mais afeitos a uma poesia panfletária, comum hoje em dia. Eis um perigo que Cláudio Guimarães dos Santos afronta e que muito o aproxima de poetas como João Cabral de Melo Neto e, sobretudo, como Murilo Mendes, cujo valor em vida foi reconhecido bem mais no exterior do que no Brasil.

Ao correr, porém, esse risco, o autor de Coleção de Epifanias instiga-nos a ler sua obra, obriga-nos a refletir sobre o mistério da existência e permite-nos entrar em contato com uma verdadeira epifania poética.*LEANDRO GARCIA É PROFESSOR DE TEORIA LITERÁRIA E DIRETOR DO ACERVO DOS ESCRITORES MINEIROS DA UFMG

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