Entre o pai e o destino


Em seu segundo romance, Hisham Matar volta ao tema da ausência paterna

Por Giovanna Tucci

Recebido com entusiasmo pela crítica inglesa, Anatomia de Um Desaparecimento (2011), segundo livro de Hisham Matar - escritor nascido em Nova York, de ascendência líbia, e que vive em Londres -, narra o resgate da figura paterna pelo adolescente Nuri por meio da apropriação de seu destino. O distanciamento e a ausência do pai, e a relação extremamente próxima com a mãe, como um par interdependente, dão o mote do romance, como aliás ocorria em No País dos Homens (Companhia das Letras), título de estreia do autor, lançado no Brasil em 2007. Em Anatomia..., nem mesmo a morte da mãe é capaz de aliar pai e filho; será a paixão do protagonista por sua jovem madrasta, Mona, que lhe permitirá uma aproximação da ausente figura paterna. A relação com a esposa do pai, seja antes ou depois que este é sequestrado e desaparece, não só reativa a memória infantil de Nuri como reedita, com todas as nuanças - sejam visuais, táteis, auditivas ou olfativas -, o relacionamento com a mãe. Enquanto a experiência de amor intenso, vivida pelo adolescente por meio da relação triangular, permite o resgate materno, a renúncia à paixão por Mona condiciona sua aproximação do pai.De inspiração autobiográfica - o escritor e sua família saíram da Líbia nos anos 70, fugindo da ditadura de Muammar Kadafi, e seu pai, declarado dissidente, foi sequestrado por agentes egípcios, nos anos 1990, e levado para a prisão Abu Salem, em Trípoli, desaparecendo em seguida, misteriosamente -, Anatomia de Um Desaparecimento é, na verdade, complementar a No País dos Homens. Ao jovem Nuri resta a busca incessante pelo pai; para Suleiman, de 9 anos - narrador de No País... e testemunha das atrocidades da política líbia -, não há outra alternativa a não ser a violenta entrada na adolescência e no mundo ("dos homens"). Com efeito, é Suleiman quem se coloca a pergunta que Nuri termina por responder: "Alguém pode se tornar um homem sem se tornar seu próprio pai?" Ao tecer os fios dos destinos de seus protagonistas, valendo-se de uma narrativa pungente e delicada, o que Hisham Matar faz - tal como Sherazade que "conquistou a liberdade inventando contos" -, é engendrar liberdade para ambos e, por que não, também para si.  

GIOVANNA BARTUCCI É PSICANALISTA, AUTORA DE FRAGILIDADE ABSOLUTA. ENSAIOS SOBRE PSICANÁLISE, CONTEMPORANEIDADE (PLANETA), ENTRE OUTROS LIVROS

Recebido com entusiasmo pela crítica inglesa, Anatomia de Um Desaparecimento (2011), segundo livro de Hisham Matar - escritor nascido em Nova York, de ascendência líbia, e que vive em Londres -, narra o resgate da figura paterna pelo adolescente Nuri por meio da apropriação de seu destino. O distanciamento e a ausência do pai, e a relação extremamente próxima com a mãe, como um par interdependente, dão o mote do romance, como aliás ocorria em No País dos Homens (Companhia das Letras), título de estreia do autor, lançado no Brasil em 2007. Em Anatomia..., nem mesmo a morte da mãe é capaz de aliar pai e filho; será a paixão do protagonista por sua jovem madrasta, Mona, que lhe permitirá uma aproximação da ausente figura paterna. A relação com a esposa do pai, seja antes ou depois que este é sequestrado e desaparece, não só reativa a memória infantil de Nuri como reedita, com todas as nuanças - sejam visuais, táteis, auditivas ou olfativas -, o relacionamento com a mãe. Enquanto a experiência de amor intenso, vivida pelo adolescente por meio da relação triangular, permite o resgate materno, a renúncia à paixão por Mona condiciona sua aproximação do pai.De inspiração autobiográfica - o escritor e sua família saíram da Líbia nos anos 70, fugindo da ditadura de Muammar Kadafi, e seu pai, declarado dissidente, foi sequestrado por agentes egípcios, nos anos 1990, e levado para a prisão Abu Salem, em Trípoli, desaparecendo em seguida, misteriosamente -, Anatomia de Um Desaparecimento é, na verdade, complementar a No País dos Homens. Ao jovem Nuri resta a busca incessante pelo pai; para Suleiman, de 9 anos - narrador de No País... e testemunha das atrocidades da política líbia -, não há outra alternativa a não ser a violenta entrada na adolescência e no mundo ("dos homens"). Com efeito, é Suleiman quem se coloca a pergunta que Nuri termina por responder: "Alguém pode se tornar um homem sem se tornar seu próprio pai?" Ao tecer os fios dos destinos de seus protagonistas, valendo-se de uma narrativa pungente e delicada, o que Hisham Matar faz - tal como Sherazade que "conquistou a liberdade inventando contos" -, é engendrar liberdade para ambos e, por que não, também para si.  

GIOVANNA BARTUCCI É PSICANALISTA, AUTORA DE FRAGILIDADE ABSOLUTA. ENSAIOS SOBRE PSICANÁLISE, CONTEMPORANEIDADE (PLANETA), ENTRE OUTROS LIVROS

Recebido com entusiasmo pela crítica inglesa, Anatomia de Um Desaparecimento (2011), segundo livro de Hisham Matar - escritor nascido em Nova York, de ascendência líbia, e que vive em Londres -, narra o resgate da figura paterna pelo adolescente Nuri por meio da apropriação de seu destino. O distanciamento e a ausência do pai, e a relação extremamente próxima com a mãe, como um par interdependente, dão o mote do romance, como aliás ocorria em No País dos Homens (Companhia das Letras), título de estreia do autor, lançado no Brasil em 2007. Em Anatomia..., nem mesmo a morte da mãe é capaz de aliar pai e filho; será a paixão do protagonista por sua jovem madrasta, Mona, que lhe permitirá uma aproximação da ausente figura paterna. A relação com a esposa do pai, seja antes ou depois que este é sequestrado e desaparece, não só reativa a memória infantil de Nuri como reedita, com todas as nuanças - sejam visuais, táteis, auditivas ou olfativas -, o relacionamento com a mãe. Enquanto a experiência de amor intenso, vivida pelo adolescente por meio da relação triangular, permite o resgate materno, a renúncia à paixão por Mona condiciona sua aproximação do pai.De inspiração autobiográfica - o escritor e sua família saíram da Líbia nos anos 70, fugindo da ditadura de Muammar Kadafi, e seu pai, declarado dissidente, foi sequestrado por agentes egípcios, nos anos 1990, e levado para a prisão Abu Salem, em Trípoli, desaparecendo em seguida, misteriosamente -, Anatomia de Um Desaparecimento é, na verdade, complementar a No País dos Homens. Ao jovem Nuri resta a busca incessante pelo pai; para Suleiman, de 9 anos - narrador de No País... e testemunha das atrocidades da política líbia -, não há outra alternativa a não ser a violenta entrada na adolescência e no mundo ("dos homens"). Com efeito, é Suleiman quem se coloca a pergunta que Nuri termina por responder: "Alguém pode se tornar um homem sem se tornar seu próprio pai?" Ao tecer os fios dos destinos de seus protagonistas, valendo-se de uma narrativa pungente e delicada, o que Hisham Matar faz - tal como Sherazade que "conquistou a liberdade inventando contos" -, é engendrar liberdade para ambos e, por que não, também para si.  

GIOVANNA BARTUCCI É PSICANALISTA, AUTORA DE FRAGILIDADE ABSOLUTA. ENSAIOS SOBRE PSICANÁLISE, CONTEMPORANEIDADE (PLANETA), ENTRE OUTROS LIVROS

Recebido com entusiasmo pela crítica inglesa, Anatomia de Um Desaparecimento (2011), segundo livro de Hisham Matar - escritor nascido em Nova York, de ascendência líbia, e que vive em Londres -, narra o resgate da figura paterna pelo adolescente Nuri por meio da apropriação de seu destino. O distanciamento e a ausência do pai, e a relação extremamente próxima com a mãe, como um par interdependente, dão o mote do romance, como aliás ocorria em No País dos Homens (Companhia das Letras), título de estreia do autor, lançado no Brasil em 2007. Em Anatomia..., nem mesmo a morte da mãe é capaz de aliar pai e filho; será a paixão do protagonista por sua jovem madrasta, Mona, que lhe permitirá uma aproximação da ausente figura paterna. A relação com a esposa do pai, seja antes ou depois que este é sequestrado e desaparece, não só reativa a memória infantil de Nuri como reedita, com todas as nuanças - sejam visuais, táteis, auditivas ou olfativas -, o relacionamento com a mãe. Enquanto a experiência de amor intenso, vivida pelo adolescente por meio da relação triangular, permite o resgate materno, a renúncia à paixão por Mona condiciona sua aproximação do pai.De inspiração autobiográfica - o escritor e sua família saíram da Líbia nos anos 70, fugindo da ditadura de Muammar Kadafi, e seu pai, declarado dissidente, foi sequestrado por agentes egípcios, nos anos 1990, e levado para a prisão Abu Salem, em Trípoli, desaparecendo em seguida, misteriosamente -, Anatomia de Um Desaparecimento é, na verdade, complementar a No País dos Homens. Ao jovem Nuri resta a busca incessante pelo pai; para Suleiman, de 9 anos - narrador de No País... e testemunha das atrocidades da política líbia -, não há outra alternativa a não ser a violenta entrada na adolescência e no mundo ("dos homens"). Com efeito, é Suleiman quem se coloca a pergunta que Nuri termina por responder: "Alguém pode se tornar um homem sem se tornar seu próprio pai?" Ao tecer os fios dos destinos de seus protagonistas, valendo-se de uma narrativa pungente e delicada, o que Hisham Matar faz - tal como Sherazade que "conquistou a liberdade inventando contos" -, é engendrar liberdade para ambos e, por que não, também para si.  

GIOVANNA BARTUCCI É PSICANALISTA, AUTORA DE FRAGILIDADE ABSOLUTA. ENSAIOS SOBRE PSICANÁLISE, CONTEMPORANEIDADE (PLANETA), ENTRE OUTROS LIVROS

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