Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

'O mundo pede para desacelerar'


Por Sonia Racy
 Foto: PEDRO LOURENÇO

Pedro Lourenço - radicado em Londres - estava lançando coleção no Brasil quando estourou o coronavírus

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O estilista estava no Brasil para o lançamento da terceira coleção de sua marca, Zilver, que aconteceu na loja de sua mãe, Gloria Coelho, dias antes de o governador Doria decretar quarentena em todo Estado. Com viagem programada para Bahia, o estilista mudou seus planos e voltou para Londres - onde mora há cinco anos - na última sexta-feira, conforme comentou com a repórter Sofia Patsch, em conversa que seria ao vivo, mas acabou sendo por telefone.

"É um período muito importante para o mundo. A curto prazo é um tópico delicado, acho que terá um impacto negativo para todos, mas também acho que estávamos num ritmo muito acelerado, levando tudo com a barriga e sem pensar na vida", reflete sobre o momento.

Aos 29 anos, Pedro se mostra maduro em suas decisões. A vida londrina somada a experiência como diretor criativo da La Perla lhe deram a bagagem que precisava para criar sua marca. Sobre o negócio, o filho de Reinaldo Lourenço deixa bem claro: "Não diz respeito a mim, mas a maneira como enxergo a moda. Honestamente, consumo pouco, tenho pouca roupa no armário. Fiz questão que minha marca refletisse essa consciência."

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Com valores bem definidos, a sustentabilidade pauta todos os estágios da marca, presente em diversas capitais, como Londres, Paris, Seul, Los Angeles, Tokyo, Hong Kong, São Paulo, sem contar o online. "A sustentabilidade é um processo em constante desenvolvimento. Muitas soluções ainda não existem. Acredito que parte da consciência sustentável é estar sempre procurando soluções que sejam mais responsáveis." Confira os melhores momentos da conversa:

A entrevista seria presencial, mas depois dos últimos acontecimentos, tivemos que fazer por telefone. Como está encarando o mundo após o surgimento do corona vírus?

É um período muito importante para o mundo, a curto prazo é um tópico delicado, acho que terá um impacto negativo para todos. Mas também acho que estávamos num ritmo muito acelerado, levando tudo com a barriga e sem pensar na vida. É uma oportunidade de tomar decisões diferentes. Com as mídias sociais, tudo se tornou automático e exagerado, com pouca reflexão.

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O vírus está afetando a economia de forma global. Como impactou nos seus negócios?

Temos que nos adaptar ao tempo, nessa coleção vou usar mais tecidos do estoque, vou reduzir um pouco, acho que o mundo tá pedindo essa redução do aceleramento, então temos que saber ver isso e tomar as decisões necessárias. Não só por causa da situação do corona, mas pela incerteza. Não sei se a fábrica na Itália vai conseguir entregar minha produção de tecido. Então, já estou começando a ver outras alternativas, como comprar tecidos de Portugal.

Além da saúde, o mercado de moda italiano também vai sentir muito a pandemia.

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Ao mesmo tempo em que me protejo, me blindo considerando fazer mais tecidos em Portugal, a Itália, que é um polo muito importante, com um know-how imenso de tecido, vai começar a sofrer porque estou passando meu pedido pra outro país. É uma linha tênue, porque assim você pode destruir o mercado.

Já sabe onde vai passar a quarentena? SP ou Londres?

Ia ficar um tempo na Bahia, mas resolvi acelerar e voltar pra Londres, melhorar ficar trancado lá, que é onde está meu cachorro, a empresa, minha vida.

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Vê a quarentena como uma oportunidade de olhar pra dentro?

Vejo como uma oportunidade de tomar as decisões que você realmente quer. Muita gente que trabalha, por exemplo, com arte ou com moda, têm que cumprir os calendários anuais. Com o avanço da pandemia, as semanas de moda foram canceladas, as feiras de arte também, sinto que as pessoas desses ramos estavam cansadas de ficar fazendo a mesma coisa 'over and over'. Vejo então como um alívio, como se fosse um Graças a Deus, finalmente posso respirar uma vez por conta própria, sem ser pautado pela indústria.

Acredita no formato das semanas de moda hoje em dia? Não gosto de nenhuma perspectiva radical. Acho que sim, uma parte do sistema está antiga, existem muitas marcas fazendo desfiles quando, na minha opinião, não há necessidade, soa como uma obrigação. Mas também acho que existem muitos estilistas criativos que se expressam bem através da linguagem do desfile. Acho um pouco exagerada essa coisa do calendário europeu, são quatro cidades diferentes, uma atrás da outra, acredito que também para a imprensa seja cansativo.

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Pretende fazer um desfile da Zilver algum dia?

Quando a Zilver estiver pronta e se eu sentir que tenho algo a dizer numa linguagem de desfile não deixarei de fazer, mas esse momento não é agora. Respeito muito o Azzedine Alaïa (estilista tunisiano morto em novembro de 2017), que se apresentava quando queria, no formato que lhe era confortável.

Antes de fundar a Zilver, há dois anos, você foi diretor criativo da La Perla. Que experiência tirou do trabalho para uma grife de luxo italiana?

Cresci trabalhando com moda e acho que tinha uma idealização de que fora tudo é mais fácil e tudo tem mais qualidade. Essa experiência me fez perceber que, na verdade, eu já estava fazendo coisas incríveis no Brasil. A oportunidade de trabalhar com a La Perla me reconectou com a minha raiz e comecei a ver que não queria fazer as coisas no automático. E aí começou uma reflexão bem forte dentro de mim, dos valores que realmente são importantes pra mim na moda, como que eu gostaria de comunicar minha linguagem, a marca me deu toda essa oportunidade.

Foi um amadurecimento em sua carreira?

Com certeza, também entendi que estou preparado para lidar com ambiente corporativo. Foi nesse momento que comecei a sentir uma sensação de vazio, de estar fazendo tudo no automático, foi quando comecei a me questionar como que as roupas são feitas, quais são os impactos, comecei a pesquisar para ver se conseguia informação de onde vinha o tecido da roupa que estava comprando. E comecei a perceber que, na verdade, isso era muito pouco desenvolvido na moda. Quando era caso, estava focado em um produto só, como o de marca específica que faz só camisetas. Mas não encontrei marca que nascesse com essa filosofia.

Foi desse processo interior que surgiu a Zilver?

Sim e por isso mesmo que a Zilver não tem meu nome. A ideia é uma marca que nasceu dessa filosofia de estar ligada, em constante desenvolvimento e olhando para o meio ambiente e pro mundo, tomando decisões responsáveis e entendendo também que não existe um mundo perfeito, não existe ser 100% sustentável e que isso é um processo. Obviamente a moda é a forma que gosto de me expressar, mas como expressar isso de uma maneira que fizesse mais sentido pra mim. Porque, honestamente, consumo muito pouco, tenho pouca roupa no armário, então queria que a marca refletisse um pouco essa consciência. Na verdade, mais que uma marca, a Zilver é um mindset.

Está com 29 anos, maduro na profissão. Descobriu cedo o caminho que queria seguir. Cresci no ambiente da moda, acho que desde muito pequeno fui exposto a isso e sempre soube que era isso que eu queria fazer.

É autodidata?

Nem um pouco, sou o contrário, fui treinado pra isso. Acho que nasci com o dom criativo. Tenho uma sensibilidade e me expresso melhor através de expressões criativas, mas acho que, provavelmente, se meus pais fossem cineastas talvez eu teria seguido o mesmo caminho que eles. O ambiente que eles criaram era muito confortável, era muito gostoso pra mim como criança.

Está de férias no Brasil. Pretende voltar a morar por aqui? Acho que o coronavírus é o maior exemplo de que não podemos fazer planos. Gosto muito da vida que tenho em Londres, também sinto falta de várias coisas do Brasil. Para o meu trabalho, hoje, faz sentido estar radicado lá, tá fazendo toda a diferença, mas tenho vontade de fazer projetos no Brasil. Estamos numa fase tão incerta que, se eu precisar mudar pro Brasil, volto com o maior prazer.

Faz o estilo low profile. Não usa as redes sociais? Acabei de criar um Instagram pessoal, o meu antigo tinha dado pra Zilver. Quis ficar um tempo de fora pra deixar o foco na marca. Agora criei uma conta mais íntima, que mostra meu universo. Estou me divertindo, não tem nenhuma estratégia por trás.

Leva uma vida tranquila em Londres também? Sim, muito tranquila. Acho que tem também um processo, aqui no Brasil cresci com meus pais que já tinham uma visibilidade no mercado, aqui sempre tive acesso. Acho que construir uma marca, construir um networking é uma coisa que leva muito tempo, os meus pais estão há 30 anos construindo isso e num mercado muito menor. Em Londres aprendi a respeitar esse tempo e está sendo muito bom pra mim. Não gosto de ficar em uma bolha, gosto de entrar em contato com universos diferentes.

 Foto: PEDRO LOURENÇO

Pedro Lourenço - radicado em Londres - estava lançando coleção no Brasil quando estourou o coronavírus

O estilista estava no Brasil para o lançamento da terceira coleção de sua marca, Zilver, que aconteceu na loja de sua mãe, Gloria Coelho, dias antes de o governador Doria decretar quarentena em todo Estado. Com viagem programada para Bahia, o estilista mudou seus planos e voltou para Londres - onde mora há cinco anos - na última sexta-feira, conforme comentou com a repórter Sofia Patsch, em conversa que seria ao vivo, mas acabou sendo por telefone.

"É um período muito importante para o mundo. A curto prazo é um tópico delicado, acho que terá um impacto negativo para todos, mas também acho que estávamos num ritmo muito acelerado, levando tudo com a barriga e sem pensar na vida", reflete sobre o momento.

Aos 29 anos, Pedro se mostra maduro em suas decisões. A vida londrina somada a experiência como diretor criativo da La Perla lhe deram a bagagem que precisava para criar sua marca. Sobre o negócio, o filho de Reinaldo Lourenço deixa bem claro: "Não diz respeito a mim, mas a maneira como enxergo a moda. Honestamente, consumo pouco, tenho pouca roupa no armário. Fiz questão que minha marca refletisse essa consciência."

Com valores bem definidos, a sustentabilidade pauta todos os estágios da marca, presente em diversas capitais, como Londres, Paris, Seul, Los Angeles, Tokyo, Hong Kong, São Paulo, sem contar o online. "A sustentabilidade é um processo em constante desenvolvimento. Muitas soluções ainda não existem. Acredito que parte da consciência sustentável é estar sempre procurando soluções que sejam mais responsáveis." Confira os melhores momentos da conversa:

A entrevista seria presencial, mas depois dos últimos acontecimentos, tivemos que fazer por telefone. Como está encarando o mundo após o surgimento do corona vírus?

É um período muito importante para o mundo, a curto prazo é um tópico delicado, acho que terá um impacto negativo para todos. Mas também acho que estávamos num ritmo muito acelerado, levando tudo com a barriga e sem pensar na vida. É uma oportunidade de tomar decisões diferentes. Com as mídias sociais, tudo se tornou automático e exagerado, com pouca reflexão.

O vírus está afetando a economia de forma global. Como impactou nos seus negócios?

Temos que nos adaptar ao tempo, nessa coleção vou usar mais tecidos do estoque, vou reduzir um pouco, acho que o mundo tá pedindo essa redução do aceleramento, então temos que saber ver isso e tomar as decisões necessárias. Não só por causa da situação do corona, mas pela incerteza. Não sei se a fábrica na Itália vai conseguir entregar minha produção de tecido. Então, já estou começando a ver outras alternativas, como comprar tecidos de Portugal.

Além da saúde, o mercado de moda italiano também vai sentir muito a pandemia.

Ao mesmo tempo em que me protejo, me blindo considerando fazer mais tecidos em Portugal, a Itália, que é um polo muito importante, com um know-how imenso de tecido, vai começar a sofrer porque estou passando meu pedido pra outro país. É uma linha tênue, porque assim você pode destruir o mercado.

Já sabe onde vai passar a quarentena? SP ou Londres?

Ia ficar um tempo na Bahia, mas resolvi acelerar e voltar pra Londres, melhorar ficar trancado lá, que é onde está meu cachorro, a empresa, minha vida.

Vê a quarentena como uma oportunidade de olhar pra dentro?

Vejo como uma oportunidade de tomar as decisões que você realmente quer. Muita gente que trabalha, por exemplo, com arte ou com moda, têm que cumprir os calendários anuais. Com o avanço da pandemia, as semanas de moda foram canceladas, as feiras de arte também, sinto que as pessoas desses ramos estavam cansadas de ficar fazendo a mesma coisa 'over and over'. Vejo então como um alívio, como se fosse um Graças a Deus, finalmente posso respirar uma vez por conta própria, sem ser pautado pela indústria.

Acredita no formato das semanas de moda hoje em dia? Não gosto de nenhuma perspectiva radical. Acho que sim, uma parte do sistema está antiga, existem muitas marcas fazendo desfiles quando, na minha opinião, não há necessidade, soa como uma obrigação. Mas também acho que existem muitos estilistas criativos que se expressam bem através da linguagem do desfile. Acho um pouco exagerada essa coisa do calendário europeu, são quatro cidades diferentes, uma atrás da outra, acredito que também para a imprensa seja cansativo.

Pretende fazer um desfile da Zilver algum dia?

Quando a Zilver estiver pronta e se eu sentir que tenho algo a dizer numa linguagem de desfile não deixarei de fazer, mas esse momento não é agora. Respeito muito o Azzedine Alaïa (estilista tunisiano morto em novembro de 2017), que se apresentava quando queria, no formato que lhe era confortável.

Antes de fundar a Zilver, há dois anos, você foi diretor criativo da La Perla. Que experiência tirou do trabalho para uma grife de luxo italiana?

Cresci trabalhando com moda e acho que tinha uma idealização de que fora tudo é mais fácil e tudo tem mais qualidade. Essa experiência me fez perceber que, na verdade, eu já estava fazendo coisas incríveis no Brasil. A oportunidade de trabalhar com a La Perla me reconectou com a minha raiz e comecei a ver que não queria fazer as coisas no automático. E aí começou uma reflexão bem forte dentro de mim, dos valores que realmente são importantes pra mim na moda, como que eu gostaria de comunicar minha linguagem, a marca me deu toda essa oportunidade.

Foi um amadurecimento em sua carreira?

Com certeza, também entendi que estou preparado para lidar com ambiente corporativo. Foi nesse momento que comecei a sentir uma sensação de vazio, de estar fazendo tudo no automático, foi quando comecei a me questionar como que as roupas são feitas, quais são os impactos, comecei a pesquisar para ver se conseguia informação de onde vinha o tecido da roupa que estava comprando. E comecei a perceber que, na verdade, isso era muito pouco desenvolvido na moda. Quando era caso, estava focado em um produto só, como o de marca específica que faz só camisetas. Mas não encontrei marca que nascesse com essa filosofia.

Foi desse processo interior que surgiu a Zilver?

Sim e por isso mesmo que a Zilver não tem meu nome. A ideia é uma marca que nasceu dessa filosofia de estar ligada, em constante desenvolvimento e olhando para o meio ambiente e pro mundo, tomando decisões responsáveis e entendendo também que não existe um mundo perfeito, não existe ser 100% sustentável e que isso é um processo. Obviamente a moda é a forma que gosto de me expressar, mas como expressar isso de uma maneira que fizesse mais sentido pra mim. Porque, honestamente, consumo muito pouco, tenho pouca roupa no armário, então queria que a marca refletisse um pouco essa consciência. Na verdade, mais que uma marca, a Zilver é um mindset.

Está com 29 anos, maduro na profissão. Descobriu cedo o caminho que queria seguir. Cresci no ambiente da moda, acho que desde muito pequeno fui exposto a isso e sempre soube que era isso que eu queria fazer.

É autodidata?

Nem um pouco, sou o contrário, fui treinado pra isso. Acho que nasci com o dom criativo. Tenho uma sensibilidade e me expresso melhor através de expressões criativas, mas acho que, provavelmente, se meus pais fossem cineastas talvez eu teria seguido o mesmo caminho que eles. O ambiente que eles criaram era muito confortável, era muito gostoso pra mim como criança.

Está de férias no Brasil. Pretende voltar a morar por aqui? Acho que o coronavírus é o maior exemplo de que não podemos fazer planos. Gosto muito da vida que tenho em Londres, também sinto falta de várias coisas do Brasil. Para o meu trabalho, hoje, faz sentido estar radicado lá, tá fazendo toda a diferença, mas tenho vontade de fazer projetos no Brasil. Estamos numa fase tão incerta que, se eu precisar mudar pro Brasil, volto com o maior prazer.

Faz o estilo low profile. Não usa as redes sociais? Acabei de criar um Instagram pessoal, o meu antigo tinha dado pra Zilver. Quis ficar um tempo de fora pra deixar o foco na marca. Agora criei uma conta mais íntima, que mostra meu universo. Estou me divertindo, não tem nenhuma estratégia por trás.

Leva uma vida tranquila em Londres também? Sim, muito tranquila. Acho que tem também um processo, aqui no Brasil cresci com meus pais que já tinham uma visibilidade no mercado, aqui sempre tive acesso. Acho que construir uma marca, construir um networking é uma coisa que leva muito tempo, os meus pais estão há 30 anos construindo isso e num mercado muito menor. Em Londres aprendi a respeitar esse tempo e está sendo muito bom pra mim. Não gosto de ficar em uma bolha, gosto de entrar em contato com universos diferentes.

 Foto: PEDRO LOURENÇO

Pedro Lourenço - radicado em Londres - estava lançando coleção no Brasil quando estourou o coronavírus

O estilista estava no Brasil para o lançamento da terceira coleção de sua marca, Zilver, que aconteceu na loja de sua mãe, Gloria Coelho, dias antes de o governador Doria decretar quarentena em todo Estado. Com viagem programada para Bahia, o estilista mudou seus planos e voltou para Londres - onde mora há cinco anos - na última sexta-feira, conforme comentou com a repórter Sofia Patsch, em conversa que seria ao vivo, mas acabou sendo por telefone.

"É um período muito importante para o mundo. A curto prazo é um tópico delicado, acho que terá um impacto negativo para todos, mas também acho que estávamos num ritmo muito acelerado, levando tudo com a barriga e sem pensar na vida", reflete sobre o momento.

Aos 29 anos, Pedro se mostra maduro em suas decisões. A vida londrina somada a experiência como diretor criativo da La Perla lhe deram a bagagem que precisava para criar sua marca. Sobre o negócio, o filho de Reinaldo Lourenço deixa bem claro: "Não diz respeito a mim, mas a maneira como enxergo a moda. Honestamente, consumo pouco, tenho pouca roupa no armário. Fiz questão que minha marca refletisse essa consciência."

Com valores bem definidos, a sustentabilidade pauta todos os estágios da marca, presente em diversas capitais, como Londres, Paris, Seul, Los Angeles, Tokyo, Hong Kong, São Paulo, sem contar o online. "A sustentabilidade é um processo em constante desenvolvimento. Muitas soluções ainda não existem. Acredito que parte da consciência sustentável é estar sempre procurando soluções que sejam mais responsáveis." Confira os melhores momentos da conversa:

A entrevista seria presencial, mas depois dos últimos acontecimentos, tivemos que fazer por telefone. Como está encarando o mundo após o surgimento do corona vírus?

É um período muito importante para o mundo, a curto prazo é um tópico delicado, acho que terá um impacto negativo para todos. Mas também acho que estávamos num ritmo muito acelerado, levando tudo com a barriga e sem pensar na vida. É uma oportunidade de tomar decisões diferentes. Com as mídias sociais, tudo se tornou automático e exagerado, com pouca reflexão.

O vírus está afetando a economia de forma global. Como impactou nos seus negócios?

Temos que nos adaptar ao tempo, nessa coleção vou usar mais tecidos do estoque, vou reduzir um pouco, acho que o mundo tá pedindo essa redução do aceleramento, então temos que saber ver isso e tomar as decisões necessárias. Não só por causa da situação do corona, mas pela incerteza. Não sei se a fábrica na Itália vai conseguir entregar minha produção de tecido. Então, já estou começando a ver outras alternativas, como comprar tecidos de Portugal.

Além da saúde, o mercado de moda italiano também vai sentir muito a pandemia.

Ao mesmo tempo em que me protejo, me blindo considerando fazer mais tecidos em Portugal, a Itália, que é um polo muito importante, com um know-how imenso de tecido, vai começar a sofrer porque estou passando meu pedido pra outro país. É uma linha tênue, porque assim você pode destruir o mercado.

Já sabe onde vai passar a quarentena? SP ou Londres?

Ia ficar um tempo na Bahia, mas resolvi acelerar e voltar pra Londres, melhorar ficar trancado lá, que é onde está meu cachorro, a empresa, minha vida.

Vê a quarentena como uma oportunidade de olhar pra dentro?

Vejo como uma oportunidade de tomar as decisões que você realmente quer. Muita gente que trabalha, por exemplo, com arte ou com moda, têm que cumprir os calendários anuais. Com o avanço da pandemia, as semanas de moda foram canceladas, as feiras de arte também, sinto que as pessoas desses ramos estavam cansadas de ficar fazendo a mesma coisa 'over and over'. Vejo então como um alívio, como se fosse um Graças a Deus, finalmente posso respirar uma vez por conta própria, sem ser pautado pela indústria.

Acredita no formato das semanas de moda hoje em dia? Não gosto de nenhuma perspectiva radical. Acho que sim, uma parte do sistema está antiga, existem muitas marcas fazendo desfiles quando, na minha opinião, não há necessidade, soa como uma obrigação. Mas também acho que existem muitos estilistas criativos que se expressam bem através da linguagem do desfile. Acho um pouco exagerada essa coisa do calendário europeu, são quatro cidades diferentes, uma atrás da outra, acredito que também para a imprensa seja cansativo.

Pretende fazer um desfile da Zilver algum dia?

Quando a Zilver estiver pronta e se eu sentir que tenho algo a dizer numa linguagem de desfile não deixarei de fazer, mas esse momento não é agora. Respeito muito o Azzedine Alaïa (estilista tunisiano morto em novembro de 2017), que se apresentava quando queria, no formato que lhe era confortável.

Antes de fundar a Zilver, há dois anos, você foi diretor criativo da La Perla. Que experiência tirou do trabalho para uma grife de luxo italiana?

Cresci trabalhando com moda e acho que tinha uma idealização de que fora tudo é mais fácil e tudo tem mais qualidade. Essa experiência me fez perceber que, na verdade, eu já estava fazendo coisas incríveis no Brasil. A oportunidade de trabalhar com a La Perla me reconectou com a minha raiz e comecei a ver que não queria fazer as coisas no automático. E aí começou uma reflexão bem forte dentro de mim, dos valores que realmente são importantes pra mim na moda, como que eu gostaria de comunicar minha linguagem, a marca me deu toda essa oportunidade.

Foi um amadurecimento em sua carreira?

Com certeza, também entendi que estou preparado para lidar com ambiente corporativo. Foi nesse momento que comecei a sentir uma sensação de vazio, de estar fazendo tudo no automático, foi quando comecei a me questionar como que as roupas são feitas, quais são os impactos, comecei a pesquisar para ver se conseguia informação de onde vinha o tecido da roupa que estava comprando. E comecei a perceber que, na verdade, isso era muito pouco desenvolvido na moda. Quando era caso, estava focado em um produto só, como o de marca específica que faz só camisetas. Mas não encontrei marca que nascesse com essa filosofia.

Foi desse processo interior que surgiu a Zilver?

Sim e por isso mesmo que a Zilver não tem meu nome. A ideia é uma marca que nasceu dessa filosofia de estar ligada, em constante desenvolvimento e olhando para o meio ambiente e pro mundo, tomando decisões responsáveis e entendendo também que não existe um mundo perfeito, não existe ser 100% sustentável e que isso é um processo. Obviamente a moda é a forma que gosto de me expressar, mas como expressar isso de uma maneira que fizesse mais sentido pra mim. Porque, honestamente, consumo muito pouco, tenho pouca roupa no armário, então queria que a marca refletisse um pouco essa consciência. Na verdade, mais que uma marca, a Zilver é um mindset.

Está com 29 anos, maduro na profissão. Descobriu cedo o caminho que queria seguir. Cresci no ambiente da moda, acho que desde muito pequeno fui exposto a isso e sempre soube que era isso que eu queria fazer.

É autodidata?

Nem um pouco, sou o contrário, fui treinado pra isso. Acho que nasci com o dom criativo. Tenho uma sensibilidade e me expresso melhor através de expressões criativas, mas acho que, provavelmente, se meus pais fossem cineastas talvez eu teria seguido o mesmo caminho que eles. O ambiente que eles criaram era muito confortável, era muito gostoso pra mim como criança.

Está de férias no Brasil. Pretende voltar a morar por aqui? Acho que o coronavírus é o maior exemplo de que não podemos fazer planos. Gosto muito da vida que tenho em Londres, também sinto falta de várias coisas do Brasil. Para o meu trabalho, hoje, faz sentido estar radicado lá, tá fazendo toda a diferença, mas tenho vontade de fazer projetos no Brasil. Estamos numa fase tão incerta que, se eu precisar mudar pro Brasil, volto com o maior prazer.

Faz o estilo low profile. Não usa as redes sociais? Acabei de criar um Instagram pessoal, o meu antigo tinha dado pra Zilver. Quis ficar um tempo de fora pra deixar o foco na marca. Agora criei uma conta mais íntima, que mostra meu universo. Estou me divertindo, não tem nenhuma estratégia por trás.

Leva uma vida tranquila em Londres também? Sim, muito tranquila. Acho que tem também um processo, aqui no Brasil cresci com meus pais que já tinham uma visibilidade no mercado, aqui sempre tive acesso. Acho que construir uma marca, construir um networking é uma coisa que leva muito tempo, os meus pais estão há 30 anos construindo isso e num mercado muito menor. Em Londres aprendi a respeitar esse tempo e está sendo muito bom pra mim. Não gosto de ficar em uma bolha, gosto de entrar em contato com universos diferentes.

 Foto: PEDRO LOURENÇO

Pedro Lourenço - radicado em Londres - estava lançando coleção no Brasil quando estourou o coronavírus

O estilista estava no Brasil para o lançamento da terceira coleção de sua marca, Zilver, que aconteceu na loja de sua mãe, Gloria Coelho, dias antes de o governador Doria decretar quarentena em todo Estado. Com viagem programada para Bahia, o estilista mudou seus planos e voltou para Londres - onde mora há cinco anos - na última sexta-feira, conforme comentou com a repórter Sofia Patsch, em conversa que seria ao vivo, mas acabou sendo por telefone.

"É um período muito importante para o mundo. A curto prazo é um tópico delicado, acho que terá um impacto negativo para todos, mas também acho que estávamos num ritmo muito acelerado, levando tudo com a barriga e sem pensar na vida", reflete sobre o momento.

Aos 29 anos, Pedro se mostra maduro em suas decisões. A vida londrina somada a experiência como diretor criativo da La Perla lhe deram a bagagem que precisava para criar sua marca. Sobre o negócio, o filho de Reinaldo Lourenço deixa bem claro: "Não diz respeito a mim, mas a maneira como enxergo a moda. Honestamente, consumo pouco, tenho pouca roupa no armário. Fiz questão que minha marca refletisse essa consciência."

Com valores bem definidos, a sustentabilidade pauta todos os estágios da marca, presente em diversas capitais, como Londres, Paris, Seul, Los Angeles, Tokyo, Hong Kong, São Paulo, sem contar o online. "A sustentabilidade é um processo em constante desenvolvimento. Muitas soluções ainda não existem. Acredito que parte da consciência sustentável é estar sempre procurando soluções que sejam mais responsáveis." Confira os melhores momentos da conversa:

A entrevista seria presencial, mas depois dos últimos acontecimentos, tivemos que fazer por telefone. Como está encarando o mundo após o surgimento do corona vírus?

É um período muito importante para o mundo, a curto prazo é um tópico delicado, acho que terá um impacto negativo para todos. Mas também acho que estávamos num ritmo muito acelerado, levando tudo com a barriga e sem pensar na vida. É uma oportunidade de tomar decisões diferentes. Com as mídias sociais, tudo se tornou automático e exagerado, com pouca reflexão.

O vírus está afetando a economia de forma global. Como impactou nos seus negócios?

Temos que nos adaptar ao tempo, nessa coleção vou usar mais tecidos do estoque, vou reduzir um pouco, acho que o mundo tá pedindo essa redução do aceleramento, então temos que saber ver isso e tomar as decisões necessárias. Não só por causa da situação do corona, mas pela incerteza. Não sei se a fábrica na Itália vai conseguir entregar minha produção de tecido. Então, já estou começando a ver outras alternativas, como comprar tecidos de Portugal.

Além da saúde, o mercado de moda italiano também vai sentir muito a pandemia.

Ao mesmo tempo em que me protejo, me blindo considerando fazer mais tecidos em Portugal, a Itália, que é um polo muito importante, com um know-how imenso de tecido, vai começar a sofrer porque estou passando meu pedido pra outro país. É uma linha tênue, porque assim você pode destruir o mercado.

Já sabe onde vai passar a quarentena? SP ou Londres?

Ia ficar um tempo na Bahia, mas resolvi acelerar e voltar pra Londres, melhorar ficar trancado lá, que é onde está meu cachorro, a empresa, minha vida.

Vê a quarentena como uma oportunidade de olhar pra dentro?

Vejo como uma oportunidade de tomar as decisões que você realmente quer. Muita gente que trabalha, por exemplo, com arte ou com moda, têm que cumprir os calendários anuais. Com o avanço da pandemia, as semanas de moda foram canceladas, as feiras de arte também, sinto que as pessoas desses ramos estavam cansadas de ficar fazendo a mesma coisa 'over and over'. Vejo então como um alívio, como se fosse um Graças a Deus, finalmente posso respirar uma vez por conta própria, sem ser pautado pela indústria.

Acredita no formato das semanas de moda hoje em dia? Não gosto de nenhuma perspectiva radical. Acho que sim, uma parte do sistema está antiga, existem muitas marcas fazendo desfiles quando, na minha opinião, não há necessidade, soa como uma obrigação. Mas também acho que existem muitos estilistas criativos que se expressam bem através da linguagem do desfile. Acho um pouco exagerada essa coisa do calendário europeu, são quatro cidades diferentes, uma atrás da outra, acredito que também para a imprensa seja cansativo.

Pretende fazer um desfile da Zilver algum dia?

Quando a Zilver estiver pronta e se eu sentir que tenho algo a dizer numa linguagem de desfile não deixarei de fazer, mas esse momento não é agora. Respeito muito o Azzedine Alaïa (estilista tunisiano morto em novembro de 2017), que se apresentava quando queria, no formato que lhe era confortável.

Antes de fundar a Zilver, há dois anos, você foi diretor criativo da La Perla. Que experiência tirou do trabalho para uma grife de luxo italiana?

Cresci trabalhando com moda e acho que tinha uma idealização de que fora tudo é mais fácil e tudo tem mais qualidade. Essa experiência me fez perceber que, na verdade, eu já estava fazendo coisas incríveis no Brasil. A oportunidade de trabalhar com a La Perla me reconectou com a minha raiz e comecei a ver que não queria fazer as coisas no automático. E aí começou uma reflexão bem forte dentro de mim, dos valores que realmente são importantes pra mim na moda, como que eu gostaria de comunicar minha linguagem, a marca me deu toda essa oportunidade.

Foi um amadurecimento em sua carreira?

Com certeza, também entendi que estou preparado para lidar com ambiente corporativo. Foi nesse momento que comecei a sentir uma sensação de vazio, de estar fazendo tudo no automático, foi quando comecei a me questionar como que as roupas são feitas, quais são os impactos, comecei a pesquisar para ver se conseguia informação de onde vinha o tecido da roupa que estava comprando. E comecei a perceber que, na verdade, isso era muito pouco desenvolvido na moda. Quando era caso, estava focado em um produto só, como o de marca específica que faz só camisetas. Mas não encontrei marca que nascesse com essa filosofia.

Foi desse processo interior que surgiu a Zilver?

Sim e por isso mesmo que a Zilver não tem meu nome. A ideia é uma marca que nasceu dessa filosofia de estar ligada, em constante desenvolvimento e olhando para o meio ambiente e pro mundo, tomando decisões responsáveis e entendendo também que não existe um mundo perfeito, não existe ser 100% sustentável e que isso é um processo. Obviamente a moda é a forma que gosto de me expressar, mas como expressar isso de uma maneira que fizesse mais sentido pra mim. Porque, honestamente, consumo muito pouco, tenho pouca roupa no armário, então queria que a marca refletisse um pouco essa consciência. Na verdade, mais que uma marca, a Zilver é um mindset.

Está com 29 anos, maduro na profissão. Descobriu cedo o caminho que queria seguir. Cresci no ambiente da moda, acho que desde muito pequeno fui exposto a isso e sempre soube que era isso que eu queria fazer.

É autodidata?

Nem um pouco, sou o contrário, fui treinado pra isso. Acho que nasci com o dom criativo. Tenho uma sensibilidade e me expresso melhor através de expressões criativas, mas acho que, provavelmente, se meus pais fossem cineastas talvez eu teria seguido o mesmo caminho que eles. O ambiente que eles criaram era muito confortável, era muito gostoso pra mim como criança.

Está de férias no Brasil. Pretende voltar a morar por aqui? Acho que o coronavírus é o maior exemplo de que não podemos fazer planos. Gosto muito da vida que tenho em Londres, também sinto falta de várias coisas do Brasil. Para o meu trabalho, hoje, faz sentido estar radicado lá, tá fazendo toda a diferença, mas tenho vontade de fazer projetos no Brasil. Estamos numa fase tão incerta que, se eu precisar mudar pro Brasil, volto com o maior prazer.

Faz o estilo low profile. Não usa as redes sociais? Acabei de criar um Instagram pessoal, o meu antigo tinha dado pra Zilver. Quis ficar um tempo de fora pra deixar o foco na marca. Agora criei uma conta mais íntima, que mostra meu universo. Estou me divertindo, não tem nenhuma estratégia por trás.

Leva uma vida tranquila em Londres também? Sim, muito tranquila. Acho que tem também um processo, aqui no Brasil cresci com meus pais que já tinham uma visibilidade no mercado, aqui sempre tive acesso. Acho que construir uma marca, construir um networking é uma coisa que leva muito tempo, os meus pais estão há 30 anos construindo isso e num mercado muito menor. Em Londres aprendi a respeitar esse tempo e está sendo muito bom pra mim. Não gosto de ficar em uma bolha, gosto de entrar em contato com universos diferentes.

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