'Inverno de Sangue' é mais que um ótimo suspense


Por Luiz Zanin Oricchio

Considerado um dos filmes de referência do cinema de suspense, Inverno de Sangue em Veneza, do britânico Nicholas Roeg, sai em DVD pela Versátil. Revisto, mostra que é mais do que um ótimo filme de gênero. Vai além. É baseado em conto de Daphne du Maurier, autora que fornece material a Rebecca - a Mulher Inesquecível e a Os Pássaros, ambos de Alfred Hitchcock. No caso, não é difícil supor que a versão cinematográfica seja superior ao original. Afinal, Hitchcock dizia ser sempre temerário adaptar obras-primas, dando preferência a livros medíocres - ao menos em sua opinião. De toda forma, em Inverno de Sangue em Veneza, Roeg traz a história de um casal, John Baxter (Donald Sutherland) e Laura (Julie Christie), que, traumatizado pela morte acidental da filha, se estabelece na cidade italiana. As circunstâncias da morte da criança levam a uma soma de luto e culpa por uma hipotética negligência. Quem passa por uma experiência dessas fica marcado. E tenta se afastar do local para se recuperar e reencontrar o eixo. Veneza, portanto. Lá, Baxter exerce sua profissão de restaurador de arte e Laura tenta assimilar a perda. Até que um dia o casal é abordado por uma médium cega que diz ter entrevisto a menina morta junto à mesa, e que "ela estava feliz". Apenas um tanto aflita porque o pai corria perigo. É o que basta para acabar com o pouco de tranquilidade que John e Laura poderiam ter. Porque ele não acredita absolutamente nesse tipo de coisa, e ela, apesar de se dizer confortada pelas palavras da vidente, ficará mais fora do eixo do que nunca. A história se torna interessante na medida em que Roeg não trilha o caminho fácil do sobrenatural e dos sustos de ocasião, que fariam de Inverno de Sangue em Veneza uma narrativa de suspense banal. Ele trabalha com ambiguidades e deixa entrever sempre uma causa natural para explicar o que está sucedendo. Ao mesmo tempo, esta revela-se sempre insuficiente para esclarecer tudo. Enfim, joga com a ambiguidade entre a fé e a descrença. Mais ainda porque John está restaurando o afresco de uma igreja e faz amizade com o cardeal da cidade. A Igreja não tem muita simpatia pelos médiuns e nem John acredita neles. Mas, para Laura, a crença torna-se uma tábua de salvação. Ainda mais estimulante que o enredo é o procedimento cinematográfico de Roeg, que utiliza muito bem o cenário natural de Veneza como apoio ao clima de suspense. Esta é uma cidade apropriada ao mistério. Seu emaranhado de ruas e pontes, canais, praças e pracinhas (que eles chamam de "campi" ou "campieli") formam um dédalo no qual é quase impossível um forasteiro deixar de se perder. Mas, na situação descrita, isso significa apenas um terror a mais. Esse fator de perda de referência e o uso do claro-escuro pela câmera são muito bons. Aliás, usando os recursos da fotografia e da montagem, Roeg cria um clima visual que torna crível o que poderiam ser interpretados como fenômenos de paranormalidade. Nunca é apelativo e, por isso, evita o ridículo que ronda histórias do gênero, em especial quando o espectador não é crédulo ou trouxa. Joga com a ambiguidade, sempre a carta mais certeira para esse tipo de situação. Mas poucos cineastas dominam essa arte. Sutherland e Christie compõem um casal interessante. Intenso, sem ser impositivo. E as cenas íntimas entre os dois, que na época pareceram ousadas, hoje passam por tímidas. Ou singelas, vá lá. Em entrevista nos extras do DVD, Sutherland mata a charada. Na verdade, não se trata de uma cena de sexo, pura e simples. É a cena de um casal tentando reencontrar sua intimidade após haver passado por uma experiência trágica. Na verdade, a tragédia da morte da filha continua entre eles, daí a hesitação, a delicadeza talvez excessiva do ato. Essa é a funcionalidade narrativa da famosa cena de sexo filmada num quarto de hotel. A verdade é que a cidade de Veneza assume, muitas vezes, a função de protagonista. Talvez a Serenissima nunca tenha sido tão bem filmada, e explorada em suas possibilidades cênicas, com a exceção excepcional de Morte em Veneza (1971), que Luchino Visconti adaptou da novela de Thomas Mann. Neste caso, desmentindo o vaticínio e o conselho de Hitchcock. Mas Inverno de Sangue em Veneza não fica atrás. É o melhor filme de Roeg, cineasta às vezes subestimado. INVERNO DE SANGUE EM VENEZADistribuição: Versátil (111 minutos, R$ 39,90)

Considerado um dos filmes de referência do cinema de suspense, Inverno de Sangue em Veneza, do britânico Nicholas Roeg, sai em DVD pela Versátil. Revisto, mostra que é mais do que um ótimo filme de gênero. Vai além. É baseado em conto de Daphne du Maurier, autora que fornece material a Rebecca - a Mulher Inesquecível e a Os Pássaros, ambos de Alfred Hitchcock. No caso, não é difícil supor que a versão cinematográfica seja superior ao original. Afinal, Hitchcock dizia ser sempre temerário adaptar obras-primas, dando preferência a livros medíocres - ao menos em sua opinião. De toda forma, em Inverno de Sangue em Veneza, Roeg traz a história de um casal, John Baxter (Donald Sutherland) e Laura (Julie Christie), que, traumatizado pela morte acidental da filha, se estabelece na cidade italiana. As circunstâncias da morte da criança levam a uma soma de luto e culpa por uma hipotética negligência. Quem passa por uma experiência dessas fica marcado. E tenta se afastar do local para se recuperar e reencontrar o eixo. Veneza, portanto. Lá, Baxter exerce sua profissão de restaurador de arte e Laura tenta assimilar a perda. Até que um dia o casal é abordado por uma médium cega que diz ter entrevisto a menina morta junto à mesa, e que "ela estava feliz". Apenas um tanto aflita porque o pai corria perigo. É o que basta para acabar com o pouco de tranquilidade que John e Laura poderiam ter. Porque ele não acredita absolutamente nesse tipo de coisa, e ela, apesar de se dizer confortada pelas palavras da vidente, ficará mais fora do eixo do que nunca. A história se torna interessante na medida em que Roeg não trilha o caminho fácil do sobrenatural e dos sustos de ocasião, que fariam de Inverno de Sangue em Veneza uma narrativa de suspense banal. Ele trabalha com ambiguidades e deixa entrever sempre uma causa natural para explicar o que está sucedendo. Ao mesmo tempo, esta revela-se sempre insuficiente para esclarecer tudo. Enfim, joga com a ambiguidade entre a fé e a descrença. Mais ainda porque John está restaurando o afresco de uma igreja e faz amizade com o cardeal da cidade. A Igreja não tem muita simpatia pelos médiuns e nem John acredita neles. Mas, para Laura, a crença torna-se uma tábua de salvação. Ainda mais estimulante que o enredo é o procedimento cinematográfico de Roeg, que utiliza muito bem o cenário natural de Veneza como apoio ao clima de suspense. Esta é uma cidade apropriada ao mistério. Seu emaranhado de ruas e pontes, canais, praças e pracinhas (que eles chamam de "campi" ou "campieli") formam um dédalo no qual é quase impossível um forasteiro deixar de se perder. Mas, na situação descrita, isso significa apenas um terror a mais. Esse fator de perda de referência e o uso do claro-escuro pela câmera são muito bons. Aliás, usando os recursos da fotografia e da montagem, Roeg cria um clima visual que torna crível o que poderiam ser interpretados como fenômenos de paranormalidade. Nunca é apelativo e, por isso, evita o ridículo que ronda histórias do gênero, em especial quando o espectador não é crédulo ou trouxa. Joga com a ambiguidade, sempre a carta mais certeira para esse tipo de situação. Mas poucos cineastas dominam essa arte. Sutherland e Christie compõem um casal interessante. Intenso, sem ser impositivo. E as cenas íntimas entre os dois, que na época pareceram ousadas, hoje passam por tímidas. Ou singelas, vá lá. Em entrevista nos extras do DVD, Sutherland mata a charada. Na verdade, não se trata de uma cena de sexo, pura e simples. É a cena de um casal tentando reencontrar sua intimidade após haver passado por uma experiência trágica. Na verdade, a tragédia da morte da filha continua entre eles, daí a hesitação, a delicadeza talvez excessiva do ato. Essa é a funcionalidade narrativa da famosa cena de sexo filmada num quarto de hotel. A verdade é que a cidade de Veneza assume, muitas vezes, a função de protagonista. Talvez a Serenissima nunca tenha sido tão bem filmada, e explorada em suas possibilidades cênicas, com a exceção excepcional de Morte em Veneza (1971), que Luchino Visconti adaptou da novela de Thomas Mann. Neste caso, desmentindo o vaticínio e o conselho de Hitchcock. Mas Inverno de Sangue em Veneza não fica atrás. É o melhor filme de Roeg, cineasta às vezes subestimado. INVERNO DE SANGUE EM VENEZADistribuição: Versátil (111 minutos, R$ 39,90)

Considerado um dos filmes de referência do cinema de suspense, Inverno de Sangue em Veneza, do britânico Nicholas Roeg, sai em DVD pela Versátil. Revisto, mostra que é mais do que um ótimo filme de gênero. Vai além. É baseado em conto de Daphne du Maurier, autora que fornece material a Rebecca - a Mulher Inesquecível e a Os Pássaros, ambos de Alfred Hitchcock. No caso, não é difícil supor que a versão cinematográfica seja superior ao original. Afinal, Hitchcock dizia ser sempre temerário adaptar obras-primas, dando preferência a livros medíocres - ao menos em sua opinião. De toda forma, em Inverno de Sangue em Veneza, Roeg traz a história de um casal, John Baxter (Donald Sutherland) e Laura (Julie Christie), que, traumatizado pela morte acidental da filha, se estabelece na cidade italiana. As circunstâncias da morte da criança levam a uma soma de luto e culpa por uma hipotética negligência. Quem passa por uma experiência dessas fica marcado. E tenta se afastar do local para se recuperar e reencontrar o eixo. Veneza, portanto. Lá, Baxter exerce sua profissão de restaurador de arte e Laura tenta assimilar a perda. Até que um dia o casal é abordado por uma médium cega que diz ter entrevisto a menina morta junto à mesa, e que "ela estava feliz". Apenas um tanto aflita porque o pai corria perigo. É o que basta para acabar com o pouco de tranquilidade que John e Laura poderiam ter. Porque ele não acredita absolutamente nesse tipo de coisa, e ela, apesar de se dizer confortada pelas palavras da vidente, ficará mais fora do eixo do que nunca. A história se torna interessante na medida em que Roeg não trilha o caminho fácil do sobrenatural e dos sustos de ocasião, que fariam de Inverno de Sangue em Veneza uma narrativa de suspense banal. Ele trabalha com ambiguidades e deixa entrever sempre uma causa natural para explicar o que está sucedendo. Ao mesmo tempo, esta revela-se sempre insuficiente para esclarecer tudo. Enfim, joga com a ambiguidade entre a fé e a descrença. Mais ainda porque John está restaurando o afresco de uma igreja e faz amizade com o cardeal da cidade. A Igreja não tem muita simpatia pelos médiuns e nem John acredita neles. Mas, para Laura, a crença torna-se uma tábua de salvação. Ainda mais estimulante que o enredo é o procedimento cinematográfico de Roeg, que utiliza muito bem o cenário natural de Veneza como apoio ao clima de suspense. Esta é uma cidade apropriada ao mistério. Seu emaranhado de ruas e pontes, canais, praças e pracinhas (que eles chamam de "campi" ou "campieli") formam um dédalo no qual é quase impossível um forasteiro deixar de se perder. Mas, na situação descrita, isso significa apenas um terror a mais. Esse fator de perda de referência e o uso do claro-escuro pela câmera são muito bons. Aliás, usando os recursos da fotografia e da montagem, Roeg cria um clima visual que torna crível o que poderiam ser interpretados como fenômenos de paranormalidade. Nunca é apelativo e, por isso, evita o ridículo que ronda histórias do gênero, em especial quando o espectador não é crédulo ou trouxa. Joga com a ambiguidade, sempre a carta mais certeira para esse tipo de situação. Mas poucos cineastas dominam essa arte. Sutherland e Christie compõem um casal interessante. Intenso, sem ser impositivo. E as cenas íntimas entre os dois, que na época pareceram ousadas, hoje passam por tímidas. Ou singelas, vá lá. Em entrevista nos extras do DVD, Sutherland mata a charada. Na verdade, não se trata de uma cena de sexo, pura e simples. É a cena de um casal tentando reencontrar sua intimidade após haver passado por uma experiência trágica. Na verdade, a tragédia da morte da filha continua entre eles, daí a hesitação, a delicadeza talvez excessiva do ato. Essa é a funcionalidade narrativa da famosa cena de sexo filmada num quarto de hotel. A verdade é que a cidade de Veneza assume, muitas vezes, a função de protagonista. Talvez a Serenissima nunca tenha sido tão bem filmada, e explorada em suas possibilidades cênicas, com a exceção excepcional de Morte em Veneza (1971), que Luchino Visconti adaptou da novela de Thomas Mann. Neste caso, desmentindo o vaticínio e o conselho de Hitchcock. Mas Inverno de Sangue em Veneza não fica atrás. É o melhor filme de Roeg, cineasta às vezes subestimado. INVERNO DE SANGUE EM VENEZADistribuição: Versátil (111 minutos, R$ 39,90)

Considerado um dos filmes de referência do cinema de suspense, Inverno de Sangue em Veneza, do britânico Nicholas Roeg, sai em DVD pela Versátil. Revisto, mostra que é mais do que um ótimo filme de gênero. Vai além. É baseado em conto de Daphne du Maurier, autora que fornece material a Rebecca - a Mulher Inesquecível e a Os Pássaros, ambos de Alfred Hitchcock. No caso, não é difícil supor que a versão cinematográfica seja superior ao original. Afinal, Hitchcock dizia ser sempre temerário adaptar obras-primas, dando preferência a livros medíocres - ao menos em sua opinião. De toda forma, em Inverno de Sangue em Veneza, Roeg traz a história de um casal, John Baxter (Donald Sutherland) e Laura (Julie Christie), que, traumatizado pela morte acidental da filha, se estabelece na cidade italiana. As circunstâncias da morte da criança levam a uma soma de luto e culpa por uma hipotética negligência. Quem passa por uma experiência dessas fica marcado. E tenta se afastar do local para se recuperar e reencontrar o eixo. Veneza, portanto. Lá, Baxter exerce sua profissão de restaurador de arte e Laura tenta assimilar a perda. Até que um dia o casal é abordado por uma médium cega que diz ter entrevisto a menina morta junto à mesa, e que "ela estava feliz". Apenas um tanto aflita porque o pai corria perigo. É o que basta para acabar com o pouco de tranquilidade que John e Laura poderiam ter. Porque ele não acredita absolutamente nesse tipo de coisa, e ela, apesar de se dizer confortada pelas palavras da vidente, ficará mais fora do eixo do que nunca. A história se torna interessante na medida em que Roeg não trilha o caminho fácil do sobrenatural e dos sustos de ocasião, que fariam de Inverno de Sangue em Veneza uma narrativa de suspense banal. Ele trabalha com ambiguidades e deixa entrever sempre uma causa natural para explicar o que está sucedendo. Ao mesmo tempo, esta revela-se sempre insuficiente para esclarecer tudo. Enfim, joga com a ambiguidade entre a fé e a descrença. Mais ainda porque John está restaurando o afresco de uma igreja e faz amizade com o cardeal da cidade. A Igreja não tem muita simpatia pelos médiuns e nem John acredita neles. Mas, para Laura, a crença torna-se uma tábua de salvação. Ainda mais estimulante que o enredo é o procedimento cinematográfico de Roeg, que utiliza muito bem o cenário natural de Veneza como apoio ao clima de suspense. Esta é uma cidade apropriada ao mistério. Seu emaranhado de ruas e pontes, canais, praças e pracinhas (que eles chamam de "campi" ou "campieli") formam um dédalo no qual é quase impossível um forasteiro deixar de se perder. Mas, na situação descrita, isso significa apenas um terror a mais. Esse fator de perda de referência e o uso do claro-escuro pela câmera são muito bons. Aliás, usando os recursos da fotografia e da montagem, Roeg cria um clima visual que torna crível o que poderiam ser interpretados como fenômenos de paranormalidade. Nunca é apelativo e, por isso, evita o ridículo que ronda histórias do gênero, em especial quando o espectador não é crédulo ou trouxa. Joga com a ambiguidade, sempre a carta mais certeira para esse tipo de situação. Mas poucos cineastas dominam essa arte. Sutherland e Christie compõem um casal interessante. Intenso, sem ser impositivo. E as cenas íntimas entre os dois, que na época pareceram ousadas, hoje passam por tímidas. Ou singelas, vá lá. Em entrevista nos extras do DVD, Sutherland mata a charada. Na verdade, não se trata de uma cena de sexo, pura e simples. É a cena de um casal tentando reencontrar sua intimidade após haver passado por uma experiência trágica. Na verdade, a tragédia da morte da filha continua entre eles, daí a hesitação, a delicadeza talvez excessiva do ato. Essa é a funcionalidade narrativa da famosa cena de sexo filmada num quarto de hotel. A verdade é que a cidade de Veneza assume, muitas vezes, a função de protagonista. Talvez a Serenissima nunca tenha sido tão bem filmada, e explorada em suas possibilidades cênicas, com a exceção excepcional de Morte em Veneza (1971), que Luchino Visconti adaptou da novela de Thomas Mann. Neste caso, desmentindo o vaticínio e o conselho de Hitchcock. Mas Inverno de Sangue em Veneza não fica atrás. É o melhor filme de Roeg, cineasta às vezes subestimado. INVERNO DE SANGUE EM VENEZADistribuição: Versátil (111 minutos, R$ 39,90)

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