Ivan Lessa: Fi fiu fi fiu


Colunista comenta a arte de William Furneaux, 'o trovador do assobio'.

Por Ivan Lessa

William Furneaux. Alguém aí se lembra do William Furneaux? Só um louco - e um velho louco - sabe de quem se trata. William Furneaux era um músico. Maestro. E assobiador. Sim, assobiador. Grande assobiador. Lembro-me de ouvi-lo assobiando (mas também podem chamar de assoviar) aos sábados de tarde no Programa César de Alencar, na Rádio Nacional, PRE-8. Idos dos anos 40 e 50. Sou franco: considero-me um ser musical. Nunca suportei, no entanto, dois instrumentos, a gaita e o acordeão. Edu da Gaita, o Art Van Damme e o extraordinário cantor Joe Mooney (que além do mais, apesar de cego, tinha um danado de um swing no órgão) logo me reconciliaram com um e outro instrumento. Edu da Gaita, com a vantagem, de ser um excelente papo sobre coisas e graças do comunismo ortodoxo. Mas essa é outra conversa, são outras notas e acordes. Em terceiro lugar, sempre detestei assobios. Daquele "fi fiu" que se dava para as pobres das moças que, na época, chamavam de "boazudas", ao indivíduo que se considerava um virtuoso e caprichava em sua versão boquinha redonda e sonzão trinado da Aquarela do Brasil, para ficar num exemplo. Os assobiadores amadores, que nós os tínhamos às pencas, passavam, felizmente, mal dando tempo para uma irritação maior. À exceção daquele camaradinha que gostava de assobiar e assoviar na intimidade forçada e sem graça das pessoas estranhas reunidas pelo maldito acaso num elevador. Esse tipo, além do mais, se fazia acompanhar batucando na parede sonora de um Otis ou Schindler. Nós outros não tínhamos como assassiná-lo. Ou seria eu apenas que não tinha? Ao que parece, os brasileiros continuam assobiando alegres do Oiapoque ao Chuí. Aqui em Londres, quando alguém assobia, principalmente caprichando, recebe imediata ordem de prisão. Acho. E me parece justo. No entanto... No entanto, havia William Furneaux. Fazia da prática - para mim odiosa, para a maior parte das pessoas inócua, quando muito - uma arte. Atenção que eu não emprego o termo "arte" a qualquer provocação estética. William Furneaux assobiando Stardust ainda ronda o elevador, aí sim, generoso de minha memória. Já procurei disco de William Furneaux. Não encontrei. Nem na época dos bolachões de 78rpm nem depois com o CD. Ele assobia apenas na minha memória. Googlei, tuitei, tudo. Nada do Furneaux. Terá deixado escola, me pergunto? Se o Mário Mascarenhas, raios que o partam! deixou, por que não "O Trovador do Assobio", como, à maneira de um antigo animador de auditório, acabo de batizá-lo? Desses mistérios, desses mergulhos com salto mortal no passado, sou feito e com eles passo meus dias bobocas e minhas noites sérias de insônia. Apraz-me pensar que, em alguma parte, William Furneaux continue assobiando Stardust logo depois da apresentação de Romário, o Homem-Dicionário, como nos programas do César de Alencar. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

William Furneaux. Alguém aí se lembra do William Furneaux? Só um louco - e um velho louco - sabe de quem se trata. William Furneaux era um músico. Maestro. E assobiador. Sim, assobiador. Grande assobiador. Lembro-me de ouvi-lo assobiando (mas também podem chamar de assoviar) aos sábados de tarde no Programa César de Alencar, na Rádio Nacional, PRE-8. Idos dos anos 40 e 50. Sou franco: considero-me um ser musical. Nunca suportei, no entanto, dois instrumentos, a gaita e o acordeão. Edu da Gaita, o Art Van Damme e o extraordinário cantor Joe Mooney (que além do mais, apesar de cego, tinha um danado de um swing no órgão) logo me reconciliaram com um e outro instrumento. Edu da Gaita, com a vantagem, de ser um excelente papo sobre coisas e graças do comunismo ortodoxo. Mas essa é outra conversa, são outras notas e acordes. Em terceiro lugar, sempre detestei assobios. Daquele "fi fiu" que se dava para as pobres das moças que, na época, chamavam de "boazudas", ao indivíduo que se considerava um virtuoso e caprichava em sua versão boquinha redonda e sonzão trinado da Aquarela do Brasil, para ficar num exemplo. Os assobiadores amadores, que nós os tínhamos às pencas, passavam, felizmente, mal dando tempo para uma irritação maior. À exceção daquele camaradinha que gostava de assobiar e assoviar na intimidade forçada e sem graça das pessoas estranhas reunidas pelo maldito acaso num elevador. Esse tipo, além do mais, se fazia acompanhar batucando na parede sonora de um Otis ou Schindler. Nós outros não tínhamos como assassiná-lo. Ou seria eu apenas que não tinha? Ao que parece, os brasileiros continuam assobiando alegres do Oiapoque ao Chuí. Aqui em Londres, quando alguém assobia, principalmente caprichando, recebe imediata ordem de prisão. Acho. E me parece justo. No entanto... No entanto, havia William Furneaux. Fazia da prática - para mim odiosa, para a maior parte das pessoas inócua, quando muito - uma arte. Atenção que eu não emprego o termo "arte" a qualquer provocação estética. William Furneaux assobiando Stardust ainda ronda o elevador, aí sim, generoso de minha memória. Já procurei disco de William Furneaux. Não encontrei. Nem na época dos bolachões de 78rpm nem depois com o CD. Ele assobia apenas na minha memória. Googlei, tuitei, tudo. Nada do Furneaux. Terá deixado escola, me pergunto? Se o Mário Mascarenhas, raios que o partam! deixou, por que não "O Trovador do Assobio", como, à maneira de um antigo animador de auditório, acabo de batizá-lo? Desses mistérios, desses mergulhos com salto mortal no passado, sou feito e com eles passo meus dias bobocas e minhas noites sérias de insônia. Apraz-me pensar que, em alguma parte, William Furneaux continue assobiando Stardust logo depois da apresentação de Romário, o Homem-Dicionário, como nos programas do César de Alencar. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

William Furneaux. Alguém aí se lembra do William Furneaux? Só um louco - e um velho louco - sabe de quem se trata. William Furneaux era um músico. Maestro. E assobiador. Sim, assobiador. Grande assobiador. Lembro-me de ouvi-lo assobiando (mas também podem chamar de assoviar) aos sábados de tarde no Programa César de Alencar, na Rádio Nacional, PRE-8. Idos dos anos 40 e 50. Sou franco: considero-me um ser musical. Nunca suportei, no entanto, dois instrumentos, a gaita e o acordeão. Edu da Gaita, o Art Van Damme e o extraordinário cantor Joe Mooney (que além do mais, apesar de cego, tinha um danado de um swing no órgão) logo me reconciliaram com um e outro instrumento. Edu da Gaita, com a vantagem, de ser um excelente papo sobre coisas e graças do comunismo ortodoxo. Mas essa é outra conversa, são outras notas e acordes. Em terceiro lugar, sempre detestei assobios. Daquele "fi fiu" que se dava para as pobres das moças que, na época, chamavam de "boazudas", ao indivíduo que se considerava um virtuoso e caprichava em sua versão boquinha redonda e sonzão trinado da Aquarela do Brasil, para ficar num exemplo. Os assobiadores amadores, que nós os tínhamos às pencas, passavam, felizmente, mal dando tempo para uma irritação maior. À exceção daquele camaradinha que gostava de assobiar e assoviar na intimidade forçada e sem graça das pessoas estranhas reunidas pelo maldito acaso num elevador. Esse tipo, além do mais, se fazia acompanhar batucando na parede sonora de um Otis ou Schindler. Nós outros não tínhamos como assassiná-lo. Ou seria eu apenas que não tinha? Ao que parece, os brasileiros continuam assobiando alegres do Oiapoque ao Chuí. Aqui em Londres, quando alguém assobia, principalmente caprichando, recebe imediata ordem de prisão. Acho. E me parece justo. No entanto... No entanto, havia William Furneaux. Fazia da prática - para mim odiosa, para a maior parte das pessoas inócua, quando muito - uma arte. Atenção que eu não emprego o termo "arte" a qualquer provocação estética. William Furneaux assobiando Stardust ainda ronda o elevador, aí sim, generoso de minha memória. Já procurei disco de William Furneaux. Não encontrei. Nem na época dos bolachões de 78rpm nem depois com o CD. Ele assobia apenas na minha memória. Googlei, tuitei, tudo. Nada do Furneaux. Terá deixado escola, me pergunto? Se o Mário Mascarenhas, raios que o partam! deixou, por que não "O Trovador do Assobio", como, à maneira de um antigo animador de auditório, acabo de batizá-lo? Desses mistérios, desses mergulhos com salto mortal no passado, sou feito e com eles passo meus dias bobocas e minhas noites sérias de insônia. Apraz-me pensar que, em alguma parte, William Furneaux continue assobiando Stardust logo depois da apresentação de Romário, o Homem-Dicionário, como nos programas do César de Alencar. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

William Furneaux. Alguém aí se lembra do William Furneaux? Só um louco - e um velho louco - sabe de quem se trata. William Furneaux era um músico. Maestro. E assobiador. Sim, assobiador. Grande assobiador. Lembro-me de ouvi-lo assobiando (mas também podem chamar de assoviar) aos sábados de tarde no Programa César de Alencar, na Rádio Nacional, PRE-8. Idos dos anos 40 e 50. Sou franco: considero-me um ser musical. Nunca suportei, no entanto, dois instrumentos, a gaita e o acordeão. Edu da Gaita, o Art Van Damme e o extraordinário cantor Joe Mooney (que além do mais, apesar de cego, tinha um danado de um swing no órgão) logo me reconciliaram com um e outro instrumento. Edu da Gaita, com a vantagem, de ser um excelente papo sobre coisas e graças do comunismo ortodoxo. Mas essa é outra conversa, são outras notas e acordes. Em terceiro lugar, sempre detestei assobios. Daquele "fi fiu" que se dava para as pobres das moças que, na época, chamavam de "boazudas", ao indivíduo que se considerava um virtuoso e caprichava em sua versão boquinha redonda e sonzão trinado da Aquarela do Brasil, para ficar num exemplo. Os assobiadores amadores, que nós os tínhamos às pencas, passavam, felizmente, mal dando tempo para uma irritação maior. À exceção daquele camaradinha que gostava de assobiar e assoviar na intimidade forçada e sem graça das pessoas estranhas reunidas pelo maldito acaso num elevador. Esse tipo, além do mais, se fazia acompanhar batucando na parede sonora de um Otis ou Schindler. Nós outros não tínhamos como assassiná-lo. Ou seria eu apenas que não tinha? Ao que parece, os brasileiros continuam assobiando alegres do Oiapoque ao Chuí. Aqui em Londres, quando alguém assobia, principalmente caprichando, recebe imediata ordem de prisão. Acho. E me parece justo. No entanto... No entanto, havia William Furneaux. Fazia da prática - para mim odiosa, para a maior parte das pessoas inócua, quando muito - uma arte. Atenção que eu não emprego o termo "arte" a qualquer provocação estética. William Furneaux assobiando Stardust ainda ronda o elevador, aí sim, generoso de minha memória. Já procurei disco de William Furneaux. Não encontrei. Nem na época dos bolachões de 78rpm nem depois com o CD. Ele assobia apenas na minha memória. Googlei, tuitei, tudo. Nada do Furneaux. Terá deixado escola, me pergunto? Se o Mário Mascarenhas, raios que o partam! deixou, por que não "O Trovador do Assobio", como, à maneira de um antigo animador de auditório, acabo de batizá-lo? Desses mistérios, desses mergulhos com salto mortal no passado, sou feito e com eles passo meus dias bobocas e minhas noites sérias de insônia. Apraz-me pensar que, em alguma parte, William Furneaux continue assobiando Stardust logo depois da apresentação de Romário, o Homem-Dicionário, como nos programas do César de Alencar. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Tudo Sobre

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.