Cheira a um grande sucesso a forma com a qual um músico se torna um autor de best-sellers? Para Dave Grohl - vocalista do Foo Fighters, ex-Nirvana -, a evolução começou em um lugar improvável. “Quando a pandemia chegou, de repente fiquei sem nada para fazer e isso me assustou muito”, ele disse em uma entrevista por telefone, em outubro passado, sobre O Contador de Histórias - Memórias de Vida e Música, que a Intrínseca lança nesta sexta, 7. “Entrei em pânico e abri uma página no Instagram chamada @davestruestories, e comecei a escrever neste formato de conto.” Grohl fez uma lista de experiências que queria explorar, incluindo “tocar com Bowie ou Prince”, sua audição para o Nirvana, a inesperada parceria de poucas horas com Iggy Pop e quando foi atingido na cabeça por um taco de golfe quando criança.
“Assim que percebi que a pandemia iria durar um tempo, chamei meu empresário e disse: ‘Hei, talvez seja a hora de escrever um livro’”, lembrou. A experiência não foi muito diferente do que ele vem fazendo há mais de três décadas. “Quando você faz um disco, você tem uma coleção de músicas. Você começa a gravar. Você começa a ouvir o tom do álbum, e então é uma questão de encontrar a sequência perfeita do começo ao fim. Foi o que aconteceu enquanto eu escrevia essas histórias: comecei a perceber qual era a primeira música, qual era a última música, qual era o lado A, qual era o lado B, o que eu precisava, o que eu não tinha, o que eu tinha demais”, afirmou o vocalista.
Memórias
Eventualmente, Grohl teve que fazer as pazes com o fato de que suas memórias não podiam acomodar todas as anedotas que ele queria incluir. “Estava com 350 páginas e nem havia mencionado o Foo Fighters ainda, uma banda em que estou há 26 anos”, ele disse, acrescentando: “Quando você está fazendo uma grande panela de chilli, pode sentar-se ali despejando temperos o dia todo. Mas, em algum ponto, você só precisa parar e deixar cozinhar.”
Com O Contador de Histórias, Grohl parecia genuinamente feliz por se encontrar neste novo papel de autor - e, quer ele perceba ou não, ele agora tem uma sabedoria sólida para oferecer aos seus pobres companheiros de escrita. Seu mantra musical, “Nunca apague, sempre grave”, também se aplica ao campo literário, onde a autoedição é uma assassina infalível da criatividade.
“Há um velho ditado: não nos aborreça, vá para o refrão”, disse Grohl. “Porque, com qualquer música, você quer manter o ouvinte envolvido. E eu imagino que seja a mesma coisa quando se trata de escrever. Mas, dito isso, que eu sei? Eu nunca fiz isso antes!”, afirmou Grohl. / TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES