Ramon Nunes Mello mostra relação mais íntima com a palavra em seu terceiro livro


'Há Um Mar no Fundo de Cada Sonho' é a terceira publicação do escritor

Por Mariana Mandelli

Terceiro livro de poesia de Ramon Nunes Mello, Há Um Mar no Fundo de Cada Sonho anuncia já no título um canto aberto. Reunindo 61 poemas, muitos deles como breves anotações de uma poética, o volume conta ainda com um posfácio do professor Eduardo Coelho, que expõe, retrospectivamente, os caminhos de um jovem autor desde sua estreia aos 25 anos, em 2009, com Vinis Mofados.

A escolha da poeta portuguesa Sophia de Mello Andresen para a epígrafe de abertura ilumina uma nova relação de Ramon com a palavra, agora mais íntima e atenta a elementos que buscam uma unidade entre ser e linguagem: a claridade, a frugalidade, uma vida simples e lúcida em estado de oração. Agora, a escolha das palavras parece essencialmente norteada pela convivência do poeta com a natureza e as coisas, por uma integração dos seus poemas na ordem do mundo, princípio que não por acaso se assemelha àquele da arte poética de Sophia.

A finitude enquanto motivo literário e rituais religiosos ligados ao corpo e à natureza, ao longo do livro, têm uma dimensão de sentido ampliada pelos aspectos biográficos que o posfácio fornece ao leitor. A busca do silêncio através da meditação e a ressignificação das palavras a partir da experiência com a ayahuasca, por exemplo, são algumas práticas transformadoras da percepção que, de uns anos para cá, têm influenciado na vida e no trabalho poético do autor. Pode-se assim ampliar o sentido de poemas que falam do “vinho das visões prodigiosas”, de um “mergulho / na fonte primordial”, de “um sol / dentro de / cada palavra”.

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A flecha de Oxóssi, o anjo de William Blake, o fogo sagrado do corpo feito serpente, todos eles signos de espiritualidade, transfiguram-se no livro através de outro rito: o rito do poema. A expansão da consciência, pela escrita, torna-se alma expandida em cada verso. Ramon busca o êxtase, a beleza, o amor, não por mera finalidade estética, mas por uma necessidade vital, por uma urgência do próprio ser.

Quando a vida é de fato incerta, com isso perdendo sua banalidade, “uma nova porta / se abre”. Por essa abertura, o poeta aprende a “admirar o que é / natural / o mais difícil”, aprende com as flores, com os mantras e com o corpo num momento concentrado de silêncio. Levando para a poesia esse outro tempo, no rito de comunhão do chá, quando “somos / um sonho dentro do sonho”, a palavra, como a vida, é cultivada até dar numa “flor de luz”. A partir de “ensinamentos naturais” semelhantes a esse, a partir do “fado interior / como obra”, Ramon opera uma alquimia em seu trabalho com a linguagem que amalgama poesia e existência.HÁ UM MAR NO FUNDO DE CADA SONHOAutor: Ramon Nunes MelloEditora: Verso Brasil (88 págs., R$ 36)* MARIANA IANELLI É POETA, AUTORA DE O AMOR E DEPOIS, TREVA ALVORADA, TEMPO DE VOLTAR, ENTRE OUTRAS OBRAS

Terceiro livro de poesia de Ramon Nunes Mello, Há Um Mar no Fundo de Cada Sonho anuncia já no título um canto aberto. Reunindo 61 poemas, muitos deles como breves anotações de uma poética, o volume conta ainda com um posfácio do professor Eduardo Coelho, que expõe, retrospectivamente, os caminhos de um jovem autor desde sua estreia aos 25 anos, em 2009, com Vinis Mofados.

A escolha da poeta portuguesa Sophia de Mello Andresen para a epígrafe de abertura ilumina uma nova relação de Ramon com a palavra, agora mais íntima e atenta a elementos que buscam uma unidade entre ser e linguagem: a claridade, a frugalidade, uma vida simples e lúcida em estado de oração. Agora, a escolha das palavras parece essencialmente norteada pela convivência do poeta com a natureza e as coisas, por uma integração dos seus poemas na ordem do mundo, princípio que não por acaso se assemelha àquele da arte poética de Sophia.

A finitude enquanto motivo literário e rituais religiosos ligados ao corpo e à natureza, ao longo do livro, têm uma dimensão de sentido ampliada pelos aspectos biográficos que o posfácio fornece ao leitor. A busca do silêncio através da meditação e a ressignificação das palavras a partir da experiência com a ayahuasca, por exemplo, são algumas práticas transformadoras da percepção que, de uns anos para cá, têm influenciado na vida e no trabalho poético do autor. Pode-se assim ampliar o sentido de poemas que falam do “vinho das visões prodigiosas”, de um “mergulho / na fonte primordial”, de “um sol / dentro de / cada palavra”.

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A flecha de Oxóssi, o anjo de William Blake, o fogo sagrado do corpo feito serpente, todos eles signos de espiritualidade, transfiguram-se no livro através de outro rito: o rito do poema. A expansão da consciência, pela escrita, torna-se alma expandida em cada verso. Ramon busca o êxtase, a beleza, o amor, não por mera finalidade estética, mas por uma necessidade vital, por uma urgência do próprio ser.

Quando a vida é de fato incerta, com isso perdendo sua banalidade, “uma nova porta / se abre”. Por essa abertura, o poeta aprende a “admirar o que é / natural / o mais difícil”, aprende com as flores, com os mantras e com o corpo num momento concentrado de silêncio. Levando para a poesia esse outro tempo, no rito de comunhão do chá, quando “somos / um sonho dentro do sonho”, a palavra, como a vida, é cultivada até dar numa “flor de luz”. A partir de “ensinamentos naturais” semelhantes a esse, a partir do “fado interior / como obra”, Ramon opera uma alquimia em seu trabalho com a linguagem que amalgama poesia e existência.HÁ UM MAR NO FUNDO DE CADA SONHOAutor: Ramon Nunes MelloEditora: Verso Brasil (88 págs., R$ 36)* MARIANA IANELLI É POETA, AUTORA DE O AMOR E DEPOIS, TREVA ALVORADA, TEMPO DE VOLTAR, ENTRE OUTRAS OBRAS

Terceiro livro de poesia de Ramon Nunes Mello, Há Um Mar no Fundo de Cada Sonho anuncia já no título um canto aberto. Reunindo 61 poemas, muitos deles como breves anotações de uma poética, o volume conta ainda com um posfácio do professor Eduardo Coelho, que expõe, retrospectivamente, os caminhos de um jovem autor desde sua estreia aos 25 anos, em 2009, com Vinis Mofados.

A escolha da poeta portuguesa Sophia de Mello Andresen para a epígrafe de abertura ilumina uma nova relação de Ramon com a palavra, agora mais íntima e atenta a elementos que buscam uma unidade entre ser e linguagem: a claridade, a frugalidade, uma vida simples e lúcida em estado de oração. Agora, a escolha das palavras parece essencialmente norteada pela convivência do poeta com a natureza e as coisas, por uma integração dos seus poemas na ordem do mundo, princípio que não por acaso se assemelha àquele da arte poética de Sophia.

A finitude enquanto motivo literário e rituais religiosos ligados ao corpo e à natureza, ao longo do livro, têm uma dimensão de sentido ampliada pelos aspectos biográficos que o posfácio fornece ao leitor. A busca do silêncio através da meditação e a ressignificação das palavras a partir da experiência com a ayahuasca, por exemplo, são algumas práticas transformadoras da percepção que, de uns anos para cá, têm influenciado na vida e no trabalho poético do autor. Pode-se assim ampliar o sentido de poemas que falam do “vinho das visões prodigiosas”, de um “mergulho / na fonte primordial”, de “um sol / dentro de / cada palavra”.

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A flecha de Oxóssi, o anjo de William Blake, o fogo sagrado do corpo feito serpente, todos eles signos de espiritualidade, transfiguram-se no livro através de outro rito: o rito do poema. A expansão da consciência, pela escrita, torna-se alma expandida em cada verso. Ramon busca o êxtase, a beleza, o amor, não por mera finalidade estética, mas por uma necessidade vital, por uma urgência do próprio ser.

Quando a vida é de fato incerta, com isso perdendo sua banalidade, “uma nova porta / se abre”. Por essa abertura, o poeta aprende a “admirar o que é / natural / o mais difícil”, aprende com as flores, com os mantras e com o corpo num momento concentrado de silêncio. Levando para a poesia esse outro tempo, no rito de comunhão do chá, quando “somos / um sonho dentro do sonho”, a palavra, como a vida, é cultivada até dar numa “flor de luz”. A partir de “ensinamentos naturais” semelhantes a esse, a partir do “fado interior / como obra”, Ramon opera uma alquimia em seu trabalho com a linguagem que amalgama poesia e existência.HÁ UM MAR NO FUNDO DE CADA SONHOAutor: Ramon Nunes MelloEditora: Verso Brasil (88 págs., R$ 36)* MARIANA IANELLI É POETA, AUTORA DE O AMOR E DEPOIS, TREVA ALVORADA, TEMPO DE VOLTAR, ENTRE OUTRAS OBRAS

Terceiro livro de poesia de Ramon Nunes Mello, Há Um Mar no Fundo de Cada Sonho anuncia já no título um canto aberto. Reunindo 61 poemas, muitos deles como breves anotações de uma poética, o volume conta ainda com um posfácio do professor Eduardo Coelho, que expõe, retrospectivamente, os caminhos de um jovem autor desde sua estreia aos 25 anos, em 2009, com Vinis Mofados.

A escolha da poeta portuguesa Sophia de Mello Andresen para a epígrafe de abertura ilumina uma nova relação de Ramon com a palavra, agora mais íntima e atenta a elementos que buscam uma unidade entre ser e linguagem: a claridade, a frugalidade, uma vida simples e lúcida em estado de oração. Agora, a escolha das palavras parece essencialmente norteada pela convivência do poeta com a natureza e as coisas, por uma integração dos seus poemas na ordem do mundo, princípio que não por acaso se assemelha àquele da arte poética de Sophia.

A finitude enquanto motivo literário e rituais religiosos ligados ao corpo e à natureza, ao longo do livro, têm uma dimensão de sentido ampliada pelos aspectos biográficos que o posfácio fornece ao leitor. A busca do silêncio através da meditação e a ressignificação das palavras a partir da experiência com a ayahuasca, por exemplo, são algumas práticas transformadoras da percepção que, de uns anos para cá, têm influenciado na vida e no trabalho poético do autor. Pode-se assim ampliar o sentido de poemas que falam do “vinho das visões prodigiosas”, de um “mergulho / na fonte primordial”, de “um sol / dentro de / cada palavra”.

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A flecha de Oxóssi, o anjo de William Blake, o fogo sagrado do corpo feito serpente, todos eles signos de espiritualidade, transfiguram-se no livro através de outro rito: o rito do poema. A expansão da consciência, pela escrita, torna-se alma expandida em cada verso. Ramon busca o êxtase, a beleza, o amor, não por mera finalidade estética, mas por uma necessidade vital, por uma urgência do próprio ser.

Quando a vida é de fato incerta, com isso perdendo sua banalidade, “uma nova porta / se abre”. Por essa abertura, o poeta aprende a “admirar o que é / natural / o mais difícil”, aprende com as flores, com os mantras e com o corpo num momento concentrado de silêncio. Levando para a poesia esse outro tempo, no rito de comunhão do chá, quando “somos / um sonho dentro do sonho”, a palavra, como a vida, é cultivada até dar numa “flor de luz”. A partir de “ensinamentos naturais” semelhantes a esse, a partir do “fado interior / como obra”, Ramon opera uma alquimia em seu trabalho com a linguagem que amalgama poesia e existência.HÁ UM MAR NO FUNDO DE CADA SONHOAutor: Ramon Nunes MelloEditora: Verso Brasil (88 págs., R$ 36)* MARIANA IANELLI É POETA, AUTORA DE O AMOR E DEPOIS, TREVA ALVORADA, TEMPO DE VOLTAR, ENTRE OUTRAS OBRAS

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