O faturamento do mercado editorial brasileiro, contando vendas para o mercado e para o governo, encolheu 25% entre 2006 e 2018 – período histórico contabilizado pela pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, elaborada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicos (Fipe) a pedido da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel).
Os números foram apresentados nesta terça-feira, 28, na sede da CBL em São Paulo, e comparam os dados mais atualizados da pesquisa, divulgados em abril, agora em comparação com a série histórica. Clique aqui para acessar a nova apresentação.
O estudo, realizado desde 2006, leva em conta dados cedidos por editoras e é uma estimativa da performance do setor editorial em cada ano, permitindo a série histórica. Ele é mais um diagnóstico da crise acentuada do mercado editorial no Brasil e serve para as instituições, sindicatos e agentes do setor pensarem em soluções com base em dados estabelecidos.
Embora a pesquisa mostre um aumento no número de exemplares vendidos ao mercado no período (um crescimento consistente até 2013, e depois uma queda acentuada até 2018), o preço médio do livro caiu 34%, o que explica a redução no faturamento. É bom ressaltar que o preço médio não reflete necessariamente o valor pago pelo consumidor, mas representa o que as editoras ganham por volume vendido (o dado é obtido na pesquisa dividindo o faturamento pelo número de exemplares vendidos).
“De 2006 a 2010, há uma redução drástica de preços, uma aposta das próprias editoras. Aí, o País começa a não entregar o sonho e a inflação sobe. Há uma reversão e editores começam a sofrer as consequências”, explicou o presidente do Snel, Marcos da Veiga Pereira.
Ele notou também que a redução dos preços médios dos livros foi estimulada por desonerações do PIS/Cofins por parte do governo federal nesse período. “Uma aposta que o mercado fez para trazer uma quantidade maior de leitores mostra sinais de decadência, porque a conta não fechava já há alguns anos”, comentou.
No período entre 2014 e 2018, da crise econômica geral e da crise específica do setor, as editoras mais afetadas foram as de livros Científicos, Técnicos e Profissionais (CTP), com queda de 45% no faturamento para o mercado.
“Aplicar na bolsa no dia seguinte é fácil”, brincou Veiga Pereira, “mas a importância do processo de análise é constantemente tentar aprender. Olhar, entender os significados. ‘Sumiu’ R$ 1,7 bilhão no faturamento a mercado. A quantidade de lançamentos que o setor produzia em 2014 é maior do que é hoje, dá para perceber uma desmobilização das editoras nesse período. É um desinvestimento”.
Para o sócio da Faro Editorial, Diego Drummond, um dos erros da indústria é sua dificuldade em vender o próprio produto. “As editoras acreditaram que baixar ou manter o preço do livro atrairia mais leitores, mas isso não ocorreu. Uma dificuldade nossa é chegar às pessoas. Os cinemas, com ingressos a R$ 80, estão cheios, têm filas”, comparou.
Jonas Gomes, das Edições Sesc São Paulo, também acredita que, sem formação contínua de leitores, o mercado pode ter muita dificuldade de se reerguer. “Acho que somos uma indústria pouco criativa”, disse. “Há uma resistência do mercado a inovações e novas formas de produção e distribuição.”
Ele também chamou a atenção para o fato de que as áreas do Estado mais próximas à indústria (educação e cultura) estão sob intenso debate no novo governo federal, o que pode ser preocupante para o setor. Em 2018, a participação de vendas ao governo era de 28% no faturamento do setor – um número dentro da média desse dado, que varia de acordo com a sazonalidade dos programas estatais.
O presidente da Câmara Brasileira do Livro, Vitor Tavares, mencionou na apresentação a intenção da CBL e do Snel organizarem um fórum extenso para repensar o mercado.