Serenata


O Último Romântico escreve poemas para a mulher amada. Às vezes, pede ajuda aos amigos do bar.

Por Luis Fernando Verissimo
Atualização:

– O que rima com “primavera”?

Os amigos acham graça do Último Romântico, mas ajudam.

– Tenta “quimera”.

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– “Quimera”. Boa.

– Você sabe, claro, que esta será a última vez na história do mundo que alguém rima “primavera” com “quimera”.

– Não importa!

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*

Às vezes, os amigos gozam do Último Romântico.

– “Amor” rima com? Não vale “flor”, que eu já usei.

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– Isopor.

– Horror.

– Bolor!

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O Último Romântico não liga para a gozação. Põe seus poemas em envelopes que manda para sua amada, quase que diariamente.

– Sua amada, alguma vez, respondeu uma carta sua?

– Nunca. Mas o amor tem que ser assim. Dilacerante. Se não for dilacerante não é amor. Eu morro de amor todos os dias.

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– Ninguém mais morre de amor.

– Pois deveriam.

– A última vez que alguém morreu de amor no Brasil foi nos anos 50 e suspeita-se que foi intoxicação alimentar.

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– Pois não sabem o que estão perdendo.

*

Um dia, o Último Romântico chegou no bar empolgado com uma ideia. Faria uma serenata para a mulher amada. Os amigos o acompanhariam? Ninguém se entusiasmou.

– Serenata, cara?

– Exato. À moda antiga. Debaixo da sacada dela. Minha voz não é das piores. Só preciso de acompanhamento.

Todos olharam para o Pires, o único da turma que tocava violão.

– E aí, Pires. Vai encarar?

O Pires hesitou, depois disse:

– Topo.

– Você sabe Carinhoso? – perguntou o Último Romântico.

– Arranho.

*

O Último Romântico e o Pires chegaram ao prédio onde morava a amada, no meio da noite. Primeira constatação: o prédio não tinha sacada. O Último Romântico sabia qual era a janela da amada? Só sabia que era no oitavo andar. O jeito seria fazer a serenata pelo interfone. Mas qual dos dois apartamentos do oitavo andar era o da amada?

– Como é o sobrenome dela? – quis saber o Pires, consultando o painel de moradores ao lado do portão.

– E eu sei?

– Um dos moradores do oitavo se chama Susuki. Sua amada é japonesa?

– Não. Aperta o outro botão.

Depois de um longo tempo, ouviu-se uma voz feminina sonolenta:

– Quem é?

O Último Romântico só teve tempo de começar a cantar “Meu coração...”, quando chegaram os assaltantes.

– O que rima com “primavera”?

Os amigos acham graça do Último Romântico, mas ajudam.

– Tenta “quimera”.

– “Quimera”. Boa.

– Você sabe, claro, que esta será a última vez na história do mundo que alguém rima “primavera” com “quimera”.

– Não importa!

*

Às vezes, os amigos gozam do Último Romântico.

– “Amor” rima com? Não vale “flor”, que eu já usei.

– Isopor.

– Horror.

– Bolor!

O Último Romântico não liga para a gozação. Põe seus poemas em envelopes que manda para sua amada, quase que diariamente.

– Sua amada, alguma vez, respondeu uma carta sua?

– Nunca. Mas o amor tem que ser assim. Dilacerante. Se não for dilacerante não é amor. Eu morro de amor todos os dias.

– Ninguém mais morre de amor.

– Pois deveriam.

– A última vez que alguém morreu de amor no Brasil foi nos anos 50 e suspeita-se que foi intoxicação alimentar.

– Pois não sabem o que estão perdendo.

*

Um dia, o Último Romântico chegou no bar empolgado com uma ideia. Faria uma serenata para a mulher amada. Os amigos o acompanhariam? Ninguém se entusiasmou.

– Serenata, cara?

– Exato. À moda antiga. Debaixo da sacada dela. Minha voz não é das piores. Só preciso de acompanhamento.

Todos olharam para o Pires, o único da turma que tocava violão.

– E aí, Pires. Vai encarar?

O Pires hesitou, depois disse:

– Topo.

– Você sabe Carinhoso? – perguntou o Último Romântico.

– Arranho.

*

O Último Romântico e o Pires chegaram ao prédio onde morava a amada, no meio da noite. Primeira constatação: o prédio não tinha sacada. O Último Romântico sabia qual era a janela da amada? Só sabia que era no oitavo andar. O jeito seria fazer a serenata pelo interfone. Mas qual dos dois apartamentos do oitavo andar era o da amada?

– Como é o sobrenome dela? – quis saber o Pires, consultando o painel de moradores ao lado do portão.

– E eu sei?

– Um dos moradores do oitavo se chama Susuki. Sua amada é japonesa?

– Não. Aperta o outro botão.

Depois de um longo tempo, ouviu-se uma voz feminina sonolenta:

– Quem é?

O Último Romântico só teve tempo de começar a cantar “Meu coração...”, quando chegaram os assaltantes.

– O que rima com “primavera”?

Os amigos acham graça do Último Romântico, mas ajudam.

– Tenta “quimera”.

– “Quimera”. Boa.

– Você sabe, claro, que esta será a última vez na história do mundo que alguém rima “primavera” com “quimera”.

– Não importa!

*

Às vezes, os amigos gozam do Último Romântico.

– “Amor” rima com? Não vale “flor”, que eu já usei.

– Isopor.

– Horror.

– Bolor!

O Último Romântico não liga para a gozação. Põe seus poemas em envelopes que manda para sua amada, quase que diariamente.

– Sua amada, alguma vez, respondeu uma carta sua?

– Nunca. Mas o amor tem que ser assim. Dilacerante. Se não for dilacerante não é amor. Eu morro de amor todos os dias.

– Ninguém mais morre de amor.

– Pois deveriam.

– A última vez que alguém morreu de amor no Brasil foi nos anos 50 e suspeita-se que foi intoxicação alimentar.

– Pois não sabem o que estão perdendo.

*

Um dia, o Último Romântico chegou no bar empolgado com uma ideia. Faria uma serenata para a mulher amada. Os amigos o acompanhariam? Ninguém se entusiasmou.

– Serenata, cara?

– Exato. À moda antiga. Debaixo da sacada dela. Minha voz não é das piores. Só preciso de acompanhamento.

Todos olharam para o Pires, o único da turma que tocava violão.

– E aí, Pires. Vai encarar?

O Pires hesitou, depois disse:

– Topo.

– Você sabe Carinhoso? – perguntou o Último Romântico.

– Arranho.

*

O Último Romântico e o Pires chegaram ao prédio onde morava a amada, no meio da noite. Primeira constatação: o prédio não tinha sacada. O Último Romântico sabia qual era a janela da amada? Só sabia que era no oitavo andar. O jeito seria fazer a serenata pelo interfone. Mas qual dos dois apartamentos do oitavo andar era o da amada?

– Como é o sobrenome dela? – quis saber o Pires, consultando o painel de moradores ao lado do portão.

– E eu sei?

– Um dos moradores do oitavo se chama Susuki. Sua amada é japonesa?

– Não. Aperta o outro botão.

Depois de um longo tempo, ouviu-se uma voz feminina sonolenta:

– Quem é?

O Último Romântico só teve tempo de começar a cantar “Meu coração...”, quando chegaram os assaltantes.

– O que rima com “primavera”?

Os amigos acham graça do Último Romântico, mas ajudam.

– Tenta “quimera”.

– “Quimera”. Boa.

– Você sabe, claro, que esta será a última vez na história do mundo que alguém rima “primavera” com “quimera”.

– Não importa!

*

Às vezes, os amigos gozam do Último Romântico.

– “Amor” rima com? Não vale “flor”, que eu já usei.

– Isopor.

– Horror.

– Bolor!

O Último Romântico não liga para a gozação. Põe seus poemas em envelopes que manda para sua amada, quase que diariamente.

– Sua amada, alguma vez, respondeu uma carta sua?

– Nunca. Mas o amor tem que ser assim. Dilacerante. Se não for dilacerante não é amor. Eu morro de amor todos os dias.

– Ninguém mais morre de amor.

– Pois deveriam.

– A última vez que alguém morreu de amor no Brasil foi nos anos 50 e suspeita-se que foi intoxicação alimentar.

– Pois não sabem o que estão perdendo.

*

Um dia, o Último Romântico chegou no bar empolgado com uma ideia. Faria uma serenata para a mulher amada. Os amigos o acompanhariam? Ninguém se entusiasmou.

– Serenata, cara?

– Exato. À moda antiga. Debaixo da sacada dela. Minha voz não é das piores. Só preciso de acompanhamento.

Todos olharam para o Pires, o único da turma que tocava violão.

– E aí, Pires. Vai encarar?

O Pires hesitou, depois disse:

– Topo.

– Você sabe Carinhoso? – perguntou o Último Romântico.

– Arranho.

*

O Último Romântico e o Pires chegaram ao prédio onde morava a amada, no meio da noite. Primeira constatação: o prédio não tinha sacada. O Último Romântico sabia qual era a janela da amada? Só sabia que era no oitavo andar. O jeito seria fazer a serenata pelo interfone. Mas qual dos dois apartamentos do oitavo andar era o da amada?

– Como é o sobrenome dela? – quis saber o Pires, consultando o painel de moradores ao lado do portão.

– E eu sei?

– Um dos moradores do oitavo se chama Susuki. Sua amada é japonesa?

– Não. Aperta o outro botão.

Depois de um longo tempo, ouviu-se uma voz feminina sonolenta:

– Quem é?

O Último Romântico só teve tempo de começar a cantar “Meu coração...”, quando chegaram os assaltantes.

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