Uma geléia geral a partir do cinema

Ensaio sobre o fracasso, e o (re)início do fim


Por Luiz Carlos Merten

Fiz ontem minha estreia no Festival Latino deste ano assistindo ao novo Cristiano Burlan, Ensaio Sobre Um Fracasso. O filho do pedreiro (carinho, Cristiano) está cada vez melhor. André Gatti faz um projecionista de cinema pornô. Sempre teve um desejo autoral, a vontade de fazer um filme. Caminha pelo Centro de São Paulo, essas ruas decadentes que me encantam. Com Jean-Claude Bernardet, postam-se em frente ao PlayArte Marabá, um dos meus territórios do cinema em Sampa. Do outro lado da rua está o Ipiranga, fechado. Bernardet lembra as filas para ver Lampião, o Rei do Cangaço, que se estendiam na calçada, o pôster enorme do cangaceiro na fachada. Bernardet viaja nas suas lembranças, e eu viajei nas minhas, quando perfilei Carlos Coimbra para a Coleção Aplauso. Passei umas quantas tardes com Coimbra em seu modesto apartamento num treme-treme da 9 de Julho. O homem responsável por alguns dos maiores sucessos do cinema brasileiro nos anos 1960, o verdadeiro rei do cangaço, vivia ali meio solitário (meio?), nunca descobri se com dificuldade, mas com certeza sem ostentação. Fazer cinema - Gatti quer. Sonha com um produtor que lhe dê a grana. O amigo exorta-o a não esperar. Cristiano Burlan propõe uma colagem de imagens e sons. Fachadas e até interiores de velhas salas. Apogeu e decadência do Centrão. Seguindo uma velha lição de Orson Welles e de seu roteirista, Herman Mankiewicz, dissocia imagem e som, como faziam os autores de Cidadão Kane. Fragmentos inteiros de diálogos de filmes noir. Monólogos de homens na noite das cidades. Homens invariavelmente seduzidos e enganados por belas mulheres - fatais. A voz inconfundível do arauto da nouvelle vague, Jean-Pierre Léaud, por quem duelaram Jean-Luc Godard e François Truffaut. Tudo isso ajustado, enjambrado às imagens que Burlan filmou. São Paulo como não estamos mais acostumados a ver (na tela). Diálogos fictícios (im)possíveis. E também dois amigos, dois jovens (belos), que justamente num ensaio à maneira da nouvelle vague, deambulam (pelo Centro, claro), tecendo regras sobre a chatice que o cinema está virando, tão sério. Essas cenas pertencem a um velho filme de Rogério Sganzerla - velho não é o termo. O cinema de Sganzerla nunca é velho. O de Cristiano Burlan é sempre novo, à frente. A tristeza de um mundo em ruínas, mas no cinema dele a morte - do irmão, da mãe, do amigo, do cinema - nunca é o fim, mas o antes. Um início, ou reinício. Uma batucada substitui o butoh, mas permanece o convite à dança, à vida. A icônica - ela não deve gostar de ser chamada assim - Helena Ignez disserta sobre uma variação do hinduísmo, que virou movimento de afirmação (sempre!) das mulheres. Na linha da mão de André Gatti, identifica o amor. Pelas mulheres ou pelo cinema? Ensaio Sobre Um Fracasso ironiza o próprio título. O filme é tudo, menos um fracasso, como A Doce Vida, o clássico de Federico Fellini que motiva uma (auto)reflexão de Bernardet, é tudo menos um filme sobre a delícia (talvez, muito mais, sobre a angústia) de tentar viver plenamente em Roma e descobrir só o vazio. Saí do CineSesc já querendo rever o filme do Burlan. Esta noite tem mais Latino, A Mulher da Luz Própria, de Sinai Sganzerla. As luzes acenderam-se, estava atordoado pelo filme. Alguém me cumprimentou, não sabia se falava ou conferia os créditos, em busca de mais informação. Ele, era um homem, achou que não o estava reconhecendo e partiu. Sabia, sim, quem era. O cientista político José Álvaro Moisés, homem da cultura, do cinema, de Fernando Henrique.

Fiz ontem minha estreia no Festival Latino deste ano assistindo ao novo Cristiano Burlan, Ensaio Sobre Um Fracasso. O filho do pedreiro (carinho, Cristiano) está cada vez melhor. André Gatti faz um projecionista de cinema pornô. Sempre teve um desejo autoral, a vontade de fazer um filme. Caminha pelo Centro de São Paulo, essas ruas decadentes que me encantam. Com Jean-Claude Bernardet, postam-se em frente ao PlayArte Marabá, um dos meus territórios do cinema em Sampa. Do outro lado da rua está o Ipiranga, fechado. Bernardet lembra as filas para ver Lampião, o Rei do Cangaço, que se estendiam na calçada, o pôster enorme do cangaceiro na fachada. Bernardet viaja nas suas lembranças, e eu viajei nas minhas, quando perfilei Carlos Coimbra para a Coleção Aplauso. Passei umas quantas tardes com Coimbra em seu modesto apartamento num treme-treme da 9 de Julho. O homem responsável por alguns dos maiores sucessos do cinema brasileiro nos anos 1960, o verdadeiro rei do cangaço, vivia ali meio solitário (meio?), nunca descobri se com dificuldade, mas com certeza sem ostentação. Fazer cinema - Gatti quer. Sonha com um produtor que lhe dê a grana. O amigo exorta-o a não esperar. Cristiano Burlan propõe uma colagem de imagens e sons. Fachadas e até interiores de velhas salas. Apogeu e decadência do Centrão. Seguindo uma velha lição de Orson Welles e de seu roteirista, Herman Mankiewicz, dissocia imagem e som, como faziam os autores de Cidadão Kane. Fragmentos inteiros de diálogos de filmes noir. Monólogos de homens na noite das cidades. Homens invariavelmente seduzidos e enganados por belas mulheres - fatais. A voz inconfundível do arauto da nouvelle vague, Jean-Pierre Léaud, por quem duelaram Jean-Luc Godard e François Truffaut. Tudo isso ajustado, enjambrado às imagens que Burlan filmou. São Paulo como não estamos mais acostumados a ver (na tela). Diálogos fictícios (im)possíveis. E também dois amigos, dois jovens (belos), que justamente num ensaio à maneira da nouvelle vague, deambulam (pelo Centro, claro), tecendo regras sobre a chatice que o cinema está virando, tão sério. Essas cenas pertencem a um velho filme de Rogério Sganzerla - velho não é o termo. O cinema de Sganzerla nunca é velho. O de Cristiano Burlan é sempre novo, à frente. A tristeza de um mundo em ruínas, mas no cinema dele a morte - do irmão, da mãe, do amigo, do cinema - nunca é o fim, mas o antes. Um início, ou reinício. Uma batucada substitui o butoh, mas permanece o convite à dança, à vida. A icônica - ela não deve gostar de ser chamada assim - Helena Ignez disserta sobre uma variação do hinduísmo, que virou movimento de afirmação (sempre!) das mulheres. Na linha da mão de André Gatti, identifica o amor. Pelas mulheres ou pelo cinema? Ensaio Sobre Um Fracasso ironiza o próprio título. O filme é tudo, menos um fracasso, como A Doce Vida, o clássico de Federico Fellini que motiva uma (auto)reflexão de Bernardet, é tudo menos um filme sobre a delícia (talvez, muito mais, sobre a angústia) de tentar viver plenamente em Roma e descobrir só o vazio. Saí do CineSesc já querendo rever o filme do Burlan. Esta noite tem mais Latino, A Mulher da Luz Própria, de Sinai Sganzerla. As luzes acenderam-se, estava atordoado pelo filme. Alguém me cumprimentou, não sabia se falava ou conferia os créditos, em busca de mais informação. Ele, era um homem, achou que não o estava reconhecendo e partiu. Sabia, sim, quem era. O cientista político José Álvaro Moisés, homem da cultura, do cinema, de Fernando Henrique.

Fiz ontem minha estreia no Festival Latino deste ano assistindo ao novo Cristiano Burlan, Ensaio Sobre Um Fracasso. O filho do pedreiro (carinho, Cristiano) está cada vez melhor. André Gatti faz um projecionista de cinema pornô. Sempre teve um desejo autoral, a vontade de fazer um filme. Caminha pelo Centro de São Paulo, essas ruas decadentes que me encantam. Com Jean-Claude Bernardet, postam-se em frente ao PlayArte Marabá, um dos meus territórios do cinema em Sampa. Do outro lado da rua está o Ipiranga, fechado. Bernardet lembra as filas para ver Lampião, o Rei do Cangaço, que se estendiam na calçada, o pôster enorme do cangaceiro na fachada. Bernardet viaja nas suas lembranças, e eu viajei nas minhas, quando perfilei Carlos Coimbra para a Coleção Aplauso. Passei umas quantas tardes com Coimbra em seu modesto apartamento num treme-treme da 9 de Julho. O homem responsável por alguns dos maiores sucessos do cinema brasileiro nos anos 1960, o verdadeiro rei do cangaço, vivia ali meio solitário (meio?), nunca descobri se com dificuldade, mas com certeza sem ostentação. Fazer cinema - Gatti quer. Sonha com um produtor que lhe dê a grana. O amigo exorta-o a não esperar. Cristiano Burlan propõe uma colagem de imagens e sons. Fachadas e até interiores de velhas salas. Apogeu e decadência do Centrão. Seguindo uma velha lição de Orson Welles e de seu roteirista, Herman Mankiewicz, dissocia imagem e som, como faziam os autores de Cidadão Kane. Fragmentos inteiros de diálogos de filmes noir. Monólogos de homens na noite das cidades. Homens invariavelmente seduzidos e enganados por belas mulheres - fatais. A voz inconfundível do arauto da nouvelle vague, Jean-Pierre Léaud, por quem duelaram Jean-Luc Godard e François Truffaut. Tudo isso ajustado, enjambrado às imagens que Burlan filmou. São Paulo como não estamos mais acostumados a ver (na tela). Diálogos fictícios (im)possíveis. E também dois amigos, dois jovens (belos), que justamente num ensaio à maneira da nouvelle vague, deambulam (pelo Centro, claro), tecendo regras sobre a chatice que o cinema está virando, tão sério. Essas cenas pertencem a um velho filme de Rogério Sganzerla - velho não é o termo. O cinema de Sganzerla nunca é velho. O de Cristiano Burlan é sempre novo, à frente. A tristeza de um mundo em ruínas, mas no cinema dele a morte - do irmão, da mãe, do amigo, do cinema - nunca é o fim, mas o antes. Um início, ou reinício. Uma batucada substitui o butoh, mas permanece o convite à dança, à vida. A icônica - ela não deve gostar de ser chamada assim - Helena Ignez disserta sobre uma variação do hinduísmo, que virou movimento de afirmação (sempre!) das mulheres. Na linha da mão de André Gatti, identifica o amor. Pelas mulheres ou pelo cinema? Ensaio Sobre Um Fracasso ironiza o próprio título. O filme é tudo, menos um fracasso, como A Doce Vida, o clássico de Federico Fellini que motiva uma (auto)reflexão de Bernardet, é tudo menos um filme sobre a delícia (talvez, muito mais, sobre a angústia) de tentar viver plenamente em Roma e descobrir só o vazio. Saí do CineSesc já querendo rever o filme do Burlan. Esta noite tem mais Latino, A Mulher da Luz Própria, de Sinai Sganzerla. As luzes acenderam-se, estava atordoado pelo filme. Alguém me cumprimentou, não sabia se falava ou conferia os créditos, em busca de mais informação. Ele, era um homem, achou que não o estava reconhecendo e partiu. Sabia, sim, quem era. O cientista político José Álvaro Moisés, homem da cultura, do cinema, de Fernando Henrique.

Fiz ontem minha estreia no Festival Latino deste ano assistindo ao novo Cristiano Burlan, Ensaio Sobre Um Fracasso. O filho do pedreiro (carinho, Cristiano) está cada vez melhor. André Gatti faz um projecionista de cinema pornô. Sempre teve um desejo autoral, a vontade de fazer um filme. Caminha pelo Centro de São Paulo, essas ruas decadentes que me encantam. Com Jean-Claude Bernardet, postam-se em frente ao PlayArte Marabá, um dos meus territórios do cinema em Sampa. Do outro lado da rua está o Ipiranga, fechado. Bernardet lembra as filas para ver Lampião, o Rei do Cangaço, que se estendiam na calçada, o pôster enorme do cangaceiro na fachada. Bernardet viaja nas suas lembranças, e eu viajei nas minhas, quando perfilei Carlos Coimbra para a Coleção Aplauso. Passei umas quantas tardes com Coimbra em seu modesto apartamento num treme-treme da 9 de Julho. O homem responsável por alguns dos maiores sucessos do cinema brasileiro nos anos 1960, o verdadeiro rei do cangaço, vivia ali meio solitário (meio?), nunca descobri se com dificuldade, mas com certeza sem ostentação. Fazer cinema - Gatti quer. Sonha com um produtor que lhe dê a grana. O amigo exorta-o a não esperar. Cristiano Burlan propõe uma colagem de imagens e sons. Fachadas e até interiores de velhas salas. Apogeu e decadência do Centrão. Seguindo uma velha lição de Orson Welles e de seu roteirista, Herman Mankiewicz, dissocia imagem e som, como faziam os autores de Cidadão Kane. Fragmentos inteiros de diálogos de filmes noir. Monólogos de homens na noite das cidades. Homens invariavelmente seduzidos e enganados por belas mulheres - fatais. A voz inconfundível do arauto da nouvelle vague, Jean-Pierre Léaud, por quem duelaram Jean-Luc Godard e François Truffaut. Tudo isso ajustado, enjambrado às imagens que Burlan filmou. São Paulo como não estamos mais acostumados a ver (na tela). Diálogos fictícios (im)possíveis. E também dois amigos, dois jovens (belos), que justamente num ensaio à maneira da nouvelle vague, deambulam (pelo Centro, claro), tecendo regras sobre a chatice que o cinema está virando, tão sério. Essas cenas pertencem a um velho filme de Rogério Sganzerla - velho não é o termo. O cinema de Sganzerla nunca é velho. O de Cristiano Burlan é sempre novo, à frente. A tristeza de um mundo em ruínas, mas no cinema dele a morte - do irmão, da mãe, do amigo, do cinema - nunca é o fim, mas o antes. Um início, ou reinício. Uma batucada substitui o butoh, mas permanece o convite à dança, à vida. A icônica - ela não deve gostar de ser chamada assim - Helena Ignez disserta sobre uma variação do hinduísmo, que virou movimento de afirmação (sempre!) das mulheres. Na linha da mão de André Gatti, identifica o amor. Pelas mulheres ou pelo cinema? Ensaio Sobre Um Fracasso ironiza o próprio título. O filme é tudo, menos um fracasso, como A Doce Vida, o clássico de Federico Fellini que motiva uma (auto)reflexão de Bernardet, é tudo menos um filme sobre a delícia (talvez, muito mais, sobre a angústia) de tentar viver plenamente em Roma e descobrir só o vazio. Saí do CineSesc já querendo rever o filme do Burlan. Esta noite tem mais Latino, A Mulher da Luz Própria, de Sinai Sganzerla. As luzes acenderam-se, estava atordoado pelo filme. Alguém me cumprimentou, não sabia se falava ou conferia os créditos, em busca de mais informação. Ele, era um homem, achou que não o estava reconhecendo e partiu. Sabia, sim, quem era. O cientista político José Álvaro Moisés, homem da cultura, do cinema, de Fernando Henrique.

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