Uma geléia geral a partir do cinema

O novo Ozpetek


Por Luiz Carlos Merten

Nem sabia que Ferzan Ozpetek havia feito este filme, 'Saturno em Oposição'. Lembro-me que o entrevistei, pelo telefone, para a estreia de 'O Primeiro Que Disse'. Ele estava em casa, na Turquia, de repente ouvi uma algazarra de fundo, perguntei o que era e ele respondeu que Valeria Golino e o marido Riccardo Scamarcio - ator do filme - estavam chegando para o réveillon. Amizades, na arte e na vida. É sempre o tema do cinema de Ozpetek e é isso que me encanta no diretor turco/italiano. Ozpetek é gay e faz um cinema tão intimista e soft que as pessoas nem se dão conta da militância. Sua obra é toda ela um elogio à diversidade. É política, mas sem agitar a bandeira. Gay e imigrante, numa Itália em que os rompantes machistas de Silvio Berlusconi são encarados com conivência pela maioria da população, que, de certo, os vê como sintomas do caráter ou da identidade nacional, quando são, ainda, resquícios do velho (velho, por que?) fascismo. Não deve ter sido fácil para Ozpetek cavar seu espaço, mas ele conseguiu. Não é um 'autor' para todos os gostos, mas eu confesso que tenho um prazer enorme assistindo a seus filmes. Reconheço, em seus personagens, muita gente que também integra o meu círculo, por que não? E o que poderia parecer óbvio - a metáfora -, termina sempre por ser o momento que eu aguardo. Existe sempre uma perda grave nos filmes de Ozpetek. Margherita Buy perde o marido em 'Um Amor Quase Perfeito', Le Fati Ignoranti. Descobre que ele tinha um caso e que era um amante. Homem. Aqui, os amigos estão reunidos numa festa, o que os une a todos - o narrador - cai vítima de um acidente vascular cerebral. É levado ao hospital, em coma. Cria-se a incerteza. Ele vai sobreviver? O grupo sustenta o companheiro do doente, pois se trata de um par gay. Chega o pai do cara, que se não botou o filho para fora de casa também não o apoiou quando saiu do armário. Ecos de 'O Primeiro Que Disse'. O pai, que tem uma nova companheira engraçada, tenta 'entender'. O pai de 'O Primeiro Que Disse', tão preocupado com o nome da família, vira aqui o velho gay - o 'viado', porque essa coisa de gay é de bichinha nova e ele quer marcar a diferença geracional. No seu tempo era viado. Ozpetek tem sempre essas tiradas ótimas. Em 'O Primeiro Que Disse', era a divisão dos homossexuais em duas categorias - os passivos e os mentirosos. Em 'Um Amor Quase Perfeito', talvez fosse óbvio, mas era tão bonito quando o grupo se reunia para cantar Gracias a la Vida. E o filme tinha um detalhe genial. A travesti que se vestia de homem para ir ao médico enfrentar seu problema de próstata. No final de O Primeiro Que Disse, todos os personagens dançavam num baile mítico e a avó reencontrava o homem que amou a vida toda em segredo. Em 'Saturno em Oposição', a drogada é quem vê o grupo reunido e festivo, depois que o irremediável acontece. Eu amo esses momentos no cinema de Ozpetek. O grupo, os amigos, representa sempre uma utopia. O coletivo como afirmação e sustentação da individualidade. 'Saturno em Oposição' termina com um jogo de pingue-pongue. Nas verdade, vai um pouco além, quando a voz do narrador reitera uma observação que já foi feita antes. Buscamos momentos de euforia como se fossem eternos, mas eles são efêmeros. Para expressar essa 'efemeridade', Ozpetek cria o belo desfecho de 'Saturno em Oposição'. O filme é catártico, mas triste. Ou triste, porém catártico. Saí ontem do CineSesc num estado curioso. Havia chorado e estava me sentindo leve. Não queria nem falar, carregando o filme comigo. E eu amo Margherita Buy. Não só ela - Stefano Accorsi, o ator fetiche de Ozpetek. Accorsi não é apenas bonito. É viril - e sensível. A cena em que ele deixou a mulher e está com a outra, a mulher chega e ele se esconde enquanto elas se olham, analisam, é muito boa. Existe algo, ali, comparável ao filme argentino 'O Homem do Lado', mas o de Ozpetek não tem comparação para mim. Accorsi fez uma montée de marches gloriosa em Cannes, no mês passado, ao lado da nova mulher, Laetitia Casta. Formavam um dos casais mais belos do festival. Quem sabe Ozpetek não integra Laetitia ao seu elenco? Quem sabe?

Nem sabia que Ferzan Ozpetek havia feito este filme, 'Saturno em Oposição'. Lembro-me que o entrevistei, pelo telefone, para a estreia de 'O Primeiro Que Disse'. Ele estava em casa, na Turquia, de repente ouvi uma algazarra de fundo, perguntei o que era e ele respondeu que Valeria Golino e o marido Riccardo Scamarcio - ator do filme - estavam chegando para o réveillon. Amizades, na arte e na vida. É sempre o tema do cinema de Ozpetek e é isso que me encanta no diretor turco/italiano. Ozpetek é gay e faz um cinema tão intimista e soft que as pessoas nem se dão conta da militância. Sua obra é toda ela um elogio à diversidade. É política, mas sem agitar a bandeira. Gay e imigrante, numa Itália em que os rompantes machistas de Silvio Berlusconi são encarados com conivência pela maioria da população, que, de certo, os vê como sintomas do caráter ou da identidade nacional, quando são, ainda, resquícios do velho (velho, por que?) fascismo. Não deve ter sido fácil para Ozpetek cavar seu espaço, mas ele conseguiu. Não é um 'autor' para todos os gostos, mas eu confesso que tenho um prazer enorme assistindo a seus filmes. Reconheço, em seus personagens, muita gente que também integra o meu círculo, por que não? E o que poderia parecer óbvio - a metáfora -, termina sempre por ser o momento que eu aguardo. Existe sempre uma perda grave nos filmes de Ozpetek. Margherita Buy perde o marido em 'Um Amor Quase Perfeito', Le Fati Ignoranti. Descobre que ele tinha um caso e que era um amante. Homem. Aqui, os amigos estão reunidos numa festa, o que os une a todos - o narrador - cai vítima de um acidente vascular cerebral. É levado ao hospital, em coma. Cria-se a incerteza. Ele vai sobreviver? O grupo sustenta o companheiro do doente, pois se trata de um par gay. Chega o pai do cara, que se não botou o filho para fora de casa também não o apoiou quando saiu do armário. Ecos de 'O Primeiro Que Disse'. O pai, que tem uma nova companheira engraçada, tenta 'entender'. O pai de 'O Primeiro Que Disse', tão preocupado com o nome da família, vira aqui o velho gay - o 'viado', porque essa coisa de gay é de bichinha nova e ele quer marcar a diferença geracional. No seu tempo era viado. Ozpetek tem sempre essas tiradas ótimas. Em 'O Primeiro Que Disse', era a divisão dos homossexuais em duas categorias - os passivos e os mentirosos. Em 'Um Amor Quase Perfeito', talvez fosse óbvio, mas era tão bonito quando o grupo se reunia para cantar Gracias a la Vida. E o filme tinha um detalhe genial. A travesti que se vestia de homem para ir ao médico enfrentar seu problema de próstata. No final de O Primeiro Que Disse, todos os personagens dançavam num baile mítico e a avó reencontrava o homem que amou a vida toda em segredo. Em 'Saturno em Oposição', a drogada é quem vê o grupo reunido e festivo, depois que o irremediável acontece. Eu amo esses momentos no cinema de Ozpetek. O grupo, os amigos, representa sempre uma utopia. O coletivo como afirmação e sustentação da individualidade. 'Saturno em Oposição' termina com um jogo de pingue-pongue. Nas verdade, vai um pouco além, quando a voz do narrador reitera uma observação que já foi feita antes. Buscamos momentos de euforia como se fossem eternos, mas eles são efêmeros. Para expressar essa 'efemeridade', Ozpetek cria o belo desfecho de 'Saturno em Oposição'. O filme é catártico, mas triste. Ou triste, porém catártico. Saí ontem do CineSesc num estado curioso. Havia chorado e estava me sentindo leve. Não queria nem falar, carregando o filme comigo. E eu amo Margherita Buy. Não só ela - Stefano Accorsi, o ator fetiche de Ozpetek. Accorsi não é apenas bonito. É viril - e sensível. A cena em que ele deixou a mulher e está com a outra, a mulher chega e ele se esconde enquanto elas se olham, analisam, é muito boa. Existe algo, ali, comparável ao filme argentino 'O Homem do Lado', mas o de Ozpetek não tem comparação para mim. Accorsi fez uma montée de marches gloriosa em Cannes, no mês passado, ao lado da nova mulher, Laetitia Casta. Formavam um dos casais mais belos do festival. Quem sabe Ozpetek não integra Laetitia ao seu elenco? Quem sabe?

Nem sabia que Ferzan Ozpetek havia feito este filme, 'Saturno em Oposição'. Lembro-me que o entrevistei, pelo telefone, para a estreia de 'O Primeiro Que Disse'. Ele estava em casa, na Turquia, de repente ouvi uma algazarra de fundo, perguntei o que era e ele respondeu que Valeria Golino e o marido Riccardo Scamarcio - ator do filme - estavam chegando para o réveillon. Amizades, na arte e na vida. É sempre o tema do cinema de Ozpetek e é isso que me encanta no diretor turco/italiano. Ozpetek é gay e faz um cinema tão intimista e soft que as pessoas nem se dão conta da militância. Sua obra é toda ela um elogio à diversidade. É política, mas sem agitar a bandeira. Gay e imigrante, numa Itália em que os rompantes machistas de Silvio Berlusconi são encarados com conivência pela maioria da população, que, de certo, os vê como sintomas do caráter ou da identidade nacional, quando são, ainda, resquícios do velho (velho, por que?) fascismo. Não deve ter sido fácil para Ozpetek cavar seu espaço, mas ele conseguiu. Não é um 'autor' para todos os gostos, mas eu confesso que tenho um prazer enorme assistindo a seus filmes. Reconheço, em seus personagens, muita gente que também integra o meu círculo, por que não? E o que poderia parecer óbvio - a metáfora -, termina sempre por ser o momento que eu aguardo. Existe sempre uma perda grave nos filmes de Ozpetek. Margherita Buy perde o marido em 'Um Amor Quase Perfeito', Le Fati Ignoranti. Descobre que ele tinha um caso e que era um amante. Homem. Aqui, os amigos estão reunidos numa festa, o que os une a todos - o narrador - cai vítima de um acidente vascular cerebral. É levado ao hospital, em coma. Cria-se a incerteza. Ele vai sobreviver? O grupo sustenta o companheiro do doente, pois se trata de um par gay. Chega o pai do cara, que se não botou o filho para fora de casa também não o apoiou quando saiu do armário. Ecos de 'O Primeiro Que Disse'. O pai, que tem uma nova companheira engraçada, tenta 'entender'. O pai de 'O Primeiro Que Disse', tão preocupado com o nome da família, vira aqui o velho gay - o 'viado', porque essa coisa de gay é de bichinha nova e ele quer marcar a diferença geracional. No seu tempo era viado. Ozpetek tem sempre essas tiradas ótimas. Em 'O Primeiro Que Disse', era a divisão dos homossexuais em duas categorias - os passivos e os mentirosos. Em 'Um Amor Quase Perfeito', talvez fosse óbvio, mas era tão bonito quando o grupo se reunia para cantar Gracias a la Vida. E o filme tinha um detalhe genial. A travesti que se vestia de homem para ir ao médico enfrentar seu problema de próstata. No final de O Primeiro Que Disse, todos os personagens dançavam num baile mítico e a avó reencontrava o homem que amou a vida toda em segredo. Em 'Saturno em Oposição', a drogada é quem vê o grupo reunido e festivo, depois que o irremediável acontece. Eu amo esses momentos no cinema de Ozpetek. O grupo, os amigos, representa sempre uma utopia. O coletivo como afirmação e sustentação da individualidade. 'Saturno em Oposição' termina com um jogo de pingue-pongue. Nas verdade, vai um pouco além, quando a voz do narrador reitera uma observação que já foi feita antes. Buscamos momentos de euforia como se fossem eternos, mas eles são efêmeros. Para expressar essa 'efemeridade', Ozpetek cria o belo desfecho de 'Saturno em Oposição'. O filme é catártico, mas triste. Ou triste, porém catártico. Saí ontem do CineSesc num estado curioso. Havia chorado e estava me sentindo leve. Não queria nem falar, carregando o filme comigo. E eu amo Margherita Buy. Não só ela - Stefano Accorsi, o ator fetiche de Ozpetek. Accorsi não é apenas bonito. É viril - e sensível. A cena em que ele deixou a mulher e está com a outra, a mulher chega e ele se esconde enquanto elas se olham, analisam, é muito boa. Existe algo, ali, comparável ao filme argentino 'O Homem do Lado', mas o de Ozpetek não tem comparação para mim. Accorsi fez uma montée de marches gloriosa em Cannes, no mês passado, ao lado da nova mulher, Laetitia Casta. Formavam um dos casais mais belos do festival. Quem sabe Ozpetek não integra Laetitia ao seu elenco? Quem sabe?

Nem sabia que Ferzan Ozpetek havia feito este filme, 'Saturno em Oposição'. Lembro-me que o entrevistei, pelo telefone, para a estreia de 'O Primeiro Que Disse'. Ele estava em casa, na Turquia, de repente ouvi uma algazarra de fundo, perguntei o que era e ele respondeu que Valeria Golino e o marido Riccardo Scamarcio - ator do filme - estavam chegando para o réveillon. Amizades, na arte e na vida. É sempre o tema do cinema de Ozpetek e é isso que me encanta no diretor turco/italiano. Ozpetek é gay e faz um cinema tão intimista e soft que as pessoas nem se dão conta da militância. Sua obra é toda ela um elogio à diversidade. É política, mas sem agitar a bandeira. Gay e imigrante, numa Itália em que os rompantes machistas de Silvio Berlusconi são encarados com conivência pela maioria da população, que, de certo, os vê como sintomas do caráter ou da identidade nacional, quando são, ainda, resquícios do velho (velho, por que?) fascismo. Não deve ter sido fácil para Ozpetek cavar seu espaço, mas ele conseguiu. Não é um 'autor' para todos os gostos, mas eu confesso que tenho um prazer enorme assistindo a seus filmes. Reconheço, em seus personagens, muita gente que também integra o meu círculo, por que não? E o que poderia parecer óbvio - a metáfora -, termina sempre por ser o momento que eu aguardo. Existe sempre uma perda grave nos filmes de Ozpetek. Margherita Buy perde o marido em 'Um Amor Quase Perfeito', Le Fati Ignoranti. Descobre que ele tinha um caso e que era um amante. Homem. Aqui, os amigos estão reunidos numa festa, o que os une a todos - o narrador - cai vítima de um acidente vascular cerebral. É levado ao hospital, em coma. Cria-se a incerteza. Ele vai sobreviver? O grupo sustenta o companheiro do doente, pois se trata de um par gay. Chega o pai do cara, que se não botou o filho para fora de casa também não o apoiou quando saiu do armário. Ecos de 'O Primeiro Que Disse'. O pai, que tem uma nova companheira engraçada, tenta 'entender'. O pai de 'O Primeiro Que Disse', tão preocupado com o nome da família, vira aqui o velho gay - o 'viado', porque essa coisa de gay é de bichinha nova e ele quer marcar a diferença geracional. No seu tempo era viado. Ozpetek tem sempre essas tiradas ótimas. Em 'O Primeiro Que Disse', era a divisão dos homossexuais em duas categorias - os passivos e os mentirosos. Em 'Um Amor Quase Perfeito', talvez fosse óbvio, mas era tão bonito quando o grupo se reunia para cantar Gracias a la Vida. E o filme tinha um detalhe genial. A travesti que se vestia de homem para ir ao médico enfrentar seu problema de próstata. No final de O Primeiro Que Disse, todos os personagens dançavam num baile mítico e a avó reencontrava o homem que amou a vida toda em segredo. Em 'Saturno em Oposição', a drogada é quem vê o grupo reunido e festivo, depois que o irremediável acontece. Eu amo esses momentos no cinema de Ozpetek. O grupo, os amigos, representa sempre uma utopia. O coletivo como afirmação e sustentação da individualidade. 'Saturno em Oposição' termina com um jogo de pingue-pongue. Nas verdade, vai um pouco além, quando a voz do narrador reitera uma observação que já foi feita antes. Buscamos momentos de euforia como se fossem eternos, mas eles são efêmeros. Para expressar essa 'efemeridade', Ozpetek cria o belo desfecho de 'Saturno em Oposição'. O filme é catártico, mas triste. Ou triste, porém catártico. Saí ontem do CineSesc num estado curioso. Havia chorado e estava me sentindo leve. Não queria nem falar, carregando o filme comigo. E eu amo Margherita Buy. Não só ela - Stefano Accorsi, o ator fetiche de Ozpetek. Accorsi não é apenas bonito. É viril - e sensível. A cena em que ele deixou a mulher e está com a outra, a mulher chega e ele se esconde enquanto elas se olham, analisam, é muito boa. Existe algo, ali, comparável ao filme argentino 'O Homem do Lado', mas o de Ozpetek não tem comparação para mim. Accorsi fez uma montée de marches gloriosa em Cannes, no mês passado, ao lado da nova mulher, Laetitia Casta. Formavam um dos casais mais belos do festival. Quem sabe Ozpetek não integra Laetitia ao seu elenco? Quem sabe?

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