Uma geléia geral a partir do cinema

Pequenas reflexões


Por Luiz Carlos Merten

Tenho a impressão de que a ficha começa a cair. Ontem, desde que cheguei ao aeroporto (Congonhas), iniciei uma corrida contra o tempo. Cheguei à redação do Estado quase 7 (da noite). Meu editor, João Sampaio, conseguira que o Caderno fechasse às 9, para dar tempo a que a sucursal do Rio apurasse o factual no assassinato de Eduardo Coutinho. Tinha as matérias para fazer - sobre Coutinho e Philip Seymour Hoffman -, queria postar. Como jornalista, gosto da adrenalina e gosto mais ainda de estar na redação, entre meus colegas. Ontem, éramos poucos do Caderno 2. O João, Maria Fernanda Rodrigues. Gosto dessa correria, de ter de armar rapidamente alguma reflexão. Gravei um vídeo para a TV Estado, tudo na urgência. Depois, 9 e tanto, saí para jantar com Dib Carneiro e Claudio Fontana, que comentavam como foi bonito o espetáculo de ontem. Réquiem para Antônio. Um réquiem para Coutinho. E agora pela manhã, a ficha começou a cair. Nunca mais Eduardo Coutinho, nunca mais os filmes de Eduardo Coutinho. Na última vez que o vi (e lhe falei), José Carlos Avellar me dissera que ele estava voltando a Elizabeth Teixeira e ao fantasma de seu marido, o cabra marcado para morrer. Coutinho foi reticente. Disse que havia tido uma ideia e que achava - qual foi mesmo a palavra que usou? - que ia ficar bacana. Claro, Coutinho, que dúvida. Misturando as coisas, quero falar de Jules Dassin. Judeu de uma família abastada de Connecticut, ele estudou arte dramática na Europa e, depois, virou ator e diretor no Yiddish Theater, iniciando, simultaneamente, uma carreira no rádio, como Orson Welles. Em Hollywood, foi estagiário na RKO e, na Metro, fez documentários sobre grandes músicos (Pablo Casals, Andres Segovia, Arthur Rubinstein etc). Como diretor, teve uma primeira fase em que investigou as pequenas gentes e a vida violenta da cidade. Seus policiais têm algo de neorrealista, quando não de documentário. E, então, blacklisted - perseguido pelo macarthismo -, retornou à Europas. Filmou na Inglaterra, na França, descobriu a Grécia (e Melina Mercouri). Os críticos em geral são duros e desprezam a fase europeia de Dassin, os filmes que ele fez com e para Melina. Antônio Gonçalves Filho é a exceção. Defende Corações Desesperados, Promessa ao Amanhecer. Confesso que, às vezes, quando converso com ele, fico com muita vontade de rever todos esses filmes, porque a história do cinema é assim mesmo. A reputação de muitos (grandes) autores varia como o humor da crítica. Eisenstein foi escorraçado, com seu Potemkin, da lista de dez mais de todos os tempos, substituído por outro russo, Dziga Vertov. Não é todo mundo que se mantém fiel a Luchino Visconti, como eu. Já disse que gostei de ver Rififi. O filme francês e noir de Dassin teve o efeito de uma descoberta para mim. Amo Georges Simenon e reencontrei a Paris sórdida dos bas-fonds, dos truands para os quais os códigos de fidelidade e honra prezam mais que tudo. Emocionei-me de verdade quando o jovem gângster prefere morrer a entregar o amigo e sua mulher, atendendo à súplica em seu olhar, prefere morrer com ele a trair o companheiro. Sou um romântico, sei. Mas, mesmo gostando demais do filme, como gostei, fiquei um pouco decepcionado com o desfecho. Jean Servais sacrifica-se para devolver o filho sequestrado de Janine Darcey. Sente-se responsável pela morte do marido dela. Acho que foi Danny Peary que disse uma coisa em seu livro sobre cult movies. Algo como que ele gostaria que Janine, ao pegar o filho no carro, tivesse a curiosidade de ver o que havia dentro daquela mala - o dinheiro pelo qual todos mataram, e morreram. Dassin queria falar sobre o poder corruptor do dinheiro. Há muito de fatalismo em seu olhar crítico. Como em muitos filmes de John Huston, outro grande 'noir', o móvel do crime, o que desperta a cobiça dos homens, perde-se no caminho, e muita gente é sacrificada. Pode ser bobagem, produto da fragilização que experimento desde ontem, com todas essas mortes. Mas eu queria, como gratificação para as suas perdas, que ela ficasse com aquele dinheiro.

Tenho a impressão de que a ficha começa a cair. Ontem, desde que cheguei ao aeroporto (Congonhas), iniciei uma corrida contra o tempo. Cheguei à redação do Estado quase 7 (da noite). Meu editor, João Sampaio, conseguira que o Caderno fechasse às 9, para dar tempo a que a sucursal do Rio apurasse o factual no assassinato de Eduardo Coutinho. Tinha as matérias para fazer - sobre Coutinho e Philip Seymour Hoffman -, queria postar. Como jornalista, gosto da adrenalina e gosto mais ainda de estar na redação, entre meus colegas. Ontem, éramos poucos do Caderno 2. O João, Maria Fernanda Rodrigues. Gosto dessa correria, de ter de armar rapidamente alguma reflexão. Gravei um vídeo para a TV Estado, tudo na urgência. Depois, 9 e tanto, saí para jantar com Dib Carneiro e Claudio Fontana, que comentavam como foi bonito o espetáculo de ontem. Réquiem para Antônio. Um réquiem para Coutinho. E agora pela manhã, a ficha começou a cair. Nunca mais Eduardo Coutinho, nunca mais os filmes de Eduardo Coutinho. Na última vez que o vi (e lhe falei), José Carlos Avellar me dissera que ele estava voltando a Elizabeth Teixeira e ao fantasma de seu marido, o cabra marcado para morrer. Coutinho foi reticente. Disse que havia tido uma ideia e que achava - qual foi mesmo a palavra que usou? - que ia ficar bacana. Claro, Coutinho, que dúvida. Misturando as coisas, quero falar de Jules Dassin. Judeu de uma família abastada de Connecticut, ele estudou arte dramática na Europa e, depois, virou ator e diretor no Yiddish Theater, iniciando, simultaneamente, uma carreira no rádio, como Orson Welles. Em Hollywood, foi estagiário na RKO e, na Metro, fez documentários sobre grandes músicos (Pablo Casals, Andres Segovia, Arthur Rubinstein etc). Como diretor, teve uma primeira fase em que investigou as pequenas gentes e a vida violenta da cidade. Seus policiais têm algo de neorrealista, quando não de documentário. E, então, blacklisted - perseguido pelo macarthismo -, retornou à Europas. Filmou na Inglaterra, na França, descobriu a Grécia (e Melina Mercouri). Os críticos em geral são duros e desprezam a fase europeia de Dassin, os filmes que ele fez com e para Melina. Antônio Gonçalves Filho é a exceção. Defende Corações Desesperados, Promessa ao Amanhecer. Confesso que, às vezes, quando converso com ele, fico com muita vontade de rever todos esses filmes, porque a história do cinema é assim mesmo. A reputação de muitos (grandes) autores varia como o humor da crítica. Eisenstein foi escorraçado, com seu Potemkin, da lista de dez mais de todos os tempos, substituído por outro russo, Dziga Vertov. Não é todo mundo que se mantém fiel a Luchino Visconti, como eu. Já disse que gostei de ver Rififi. O filme francês e noir de Dassin teve o efeito de uma descoberta para mim. Amo Georges Simenon e reencontrei a Paris sórdida dos bas-fonds, dos truands para os quais os códigos de fidelidade e honra prezam mais que tudo. Emocionei-me de verdade quando o jovem gângster prefere morrer a entregar o amigo e sua mulher, atendendo à súplica em seu olhar, prefere morrer com ele a trair o companheiro. Sou um romântico, sei. Mas, mesmo gostando demais do filme, como gostei, fiquei um pouco decepcionado com o desfecho. Jean Servais sacrifica-se para devolver o filho sequestrado de Janine Darcey. Sente-se responsável pela morte do marido dela. Acho que foi Danny Peary que disse uma coisa em seu livro sobre cult movies. Algo como que ele gostaria que Janine, ao pegar o filho no carro, tivesse a curiosidade de ver o que havia dentro daquela mala - o dinheiro pelo qual todos mataram, e morreram. Dassin queria falar sobre o poder corruptor do dinheiro. Há muito de fatalismo em seu olhar crítico. Como em muitos filmes de John Huston, outro grande 'noir', o móvel do crime, o que desperta a cobiça dos homens, perde-se no caminho, e muita gente é sacrificada. Pode ser bobagem, produto da fragilização que experimento desde ontem, com todas essas mortes. Mas eu queria, como gratificação para as suas perdas, que ela ficasse com aquele dinheiro.

Tenho a impressão de que a ficha começa a cair. Ontem, desde que cheguei ao aeroporto (Congonhas), iniciei uma corrida contra o tempo. Cheguei à redação do Estado quase 7 (da noite). Meu editor, João Sampaio, conseguira que o Caderno fechasse às 9, para dar tempo a que a sucursal do Rio apurasse o factual no assassinato de Eduardo Coutinho. Tinha as matérias para fazer - sobre Coutinho e Philip Seymour Hoffman -, queria postar. Como jornalista, gosto da adrenalina e gosto mais ainda de estar na redação, entre meus colegas. Ontem, éramos poucos do Caderno 2. O João, Maria Fernanda Rodrigues. Gosto dessa correria, de ter de armar rapidamente alguma reflexão. Gravei um vídeo para a TV Estado, tudo na urgência. Depois, 9 e tanto, saí para jantar com Dib Carneiro e Claudio Fontana, que comentavam como foi bonito o espetáculo de ontem. Réquiem para Antônio. Um réquiem para Coutinho. E agora pela manhã, a ficha começou a cair. Nunca mais Eduardo Coutinho, nunca mais os filmes de Eduardo Coutinho. Na última vez que o vi (e lhe falei), José Carlos Avellar me dissera que ele estava voltando a Elizabeth Teixeira e ao fantasma de seu marido, o cabra marcado para morrer. Coutinho foi reticente. Disse que havia tido uma ideia e que achava - qual foi mesmo a palavra que usou? - que ia ficar bacana. Claro, Coutinho, que dúvida. Misturando as coisas, quero falar de Jules Dassin. Judeu de uma família abastada de Connecticut, ele estudou arte dramática na Europa e, depois, virou ator e diretor no Yiddish Theater, iniciando, simultaneamente, uma carreira no rádio, como Orson Welles. Em Hollywood, foi estagiário na RKO e, na Metro, fez documentários sobre grandes músicos (Pablo Casals, Andres Segovia, Arthur Rubinstein etc). Como diretor, teve uma primeira fase em que investigou as pequenas gentes e a vida violenta da cidade. Seus policiais têm algo de neorrealista, quando não de documentário. E, então, blacklisted - perseguido pelo macarthismo -, retornou à Europas. Filmou na Inglaterra, na França, descobriu a Grécia (e Melina Mercouri). Os críticos em geral são duros e desprezam a fase europeia de Dassin, os filmes que ele fez com e para Melina. Antônio Gonçalves Filho é a exceção. Defende Corações Desesperados, Promessa ao Amanhecer. Confesso que, às vezes, quando converso com ele, fico com muita vontade de rever todos esses filmes, porque a história do cinema é assim mesmo. A reputação de muitos (grandes) autores varia como o humor da crítica. Eisenstein foi escorraçado, com seu Potemkin, da lista de dez mais de todos os tempos, substituído por outro russo, Dziga Vertov. Não é todo mundo que se mantém fiel a Luchino Visconti, como eu. Já disse que gostei de ver Rififi. O filme francês e noir de Dassin teve o efeito de uma descoberta para mim. Amo Georges Simenon e reencontrei a Paris sórdida dos bas-fonds, dos truands para os quais os códigos de fidelidade e honra prezam mais que tudo. Emocionei-me de verdade quando o jovem gângster prefere morrer a entregar o amigo e sua mulher, atendendo à súplica em seu olhar, prefere morrer com ele a trair o companheiro. Sou um romântico, sei. Mas, mesmo gostando demais do filme, como gostei, fiquei um pouco decepcionado com o desfecho. Jean Servais sacrifica-se para devolver o filho sequestrado de Janine Darcey. Sente-se responsável pela morte do marido dela. Acho que foi Danny Peary que disse uma coisa em seu livro sobre cult movies. Algo como que ele gostaria que Janine, ao pegar o filho no carro, tivesse a curiosidade de ver o que havia dentro daquela mala - o dinheiro pelo qual todos mataram, e morreram. Dassin queria falar sobre o poder corruptor do dinheiro. Há muito de fatalismo em seu olhar crítico. Como em muitos filmes de John Huston, outro grande 'noir', o móvel do crime, o que desperta a cobiça dos homens, perde-se no caminho, e muita gente é sacrificada. Pode ser bobagem, produto da fragilização que experimento desde ontem, com todas essas mortes. Mas eu queria, como gratificação para as suas perdas, que ela ficasse com aquele dinheiro.

Tenho a impressão de que a ficha começa a cair. Ontem, desde que cheguei ao aeroporto (Congonhas), iniciei uma corrida contra o tempo. Cheguei à redação do Estado quase 7 (da noite). Meu editor, João Sampaio, conseguira que o Caderno fechasse às 9, para dar tempo a que a sucursal do Rio apurasse o factual no assassinato de Eduardo Coutinho. Tinha as matérias para fazer - sobre Coutinho e Philip Seymour Hoffman -, queria postar. Como jornalista, gosto da adrenalina e gosto mais ainda de estar na redação, entre meus colegas. Ontem, éramos poucos do Caderno 2. O João, Maria Fernanda Rodrigues. Gosto dessa correria, de ter de armar rapidamente alguma reflexão. Gravei um vídeo para a TV Estado, tudo na urgência. Depois, 9 e tanto, saí para jantar com Dib Carneiro e Claudio Fontana, que comentavam como foi bonito o espetáculo de ontem. Réquiem para Antônio. Um réquiem para Coutinho. E agora pela manhã, a ficha começou a cair. Nunca mais Eduardo Coutinho, nunca mais os filmes de Eduardo Coutinho. Na última vez que o vi (e lhe falei), José Carlos Avellar me dissera que ele estava voltando a Elizabeth Teixeira e ao fantasma de seu marido, o cabra marcado para morrer. Coutinho foi reticente. Disse que havia tido uma ideia e que achava - qual foi mesmo a palavra que usou? - que ia ficar bacana. Claro, Coutinho, que dúvida. Misturando as coisas, quero falar de Jules Dassin. Judeu de uma família abastada de Connecticut, ele estudou arte dramática na Europa e, depois, virou ator e diretor no Yiddish Theater, iniciando, simultaneamente, uma carreira no rádio, como Orson Welles. Em Hollywood, foi estagiário na RKO e, na Metro, fez documentários sobre grandes músicos (Pablo Casals, Andres Segovia, Arthur Rubinstein etc). Como diretor, teve uma primeira fase em que investigou as pequenas gentes e a vida violenta da cidade. Seus policiais têm algo de neorrealista, quando não de documentário. E, então, blacklisted - perseguido pelo macarthismo -, retornou à Europas. Filmou na Inglaterra, na França, descobriu a Grécia (e Melina Mercouri). Os críticos em geral são duros e desprezam a fase europeia de Dassin, os filmes que ele fez com e para Melina. Antônio Gonçalves Filho é a exceção. Defende Corações Desesperados, Promessa ao Amanhecer. Confesso que, às vezes, quando converso com ele, fico com muita vontade de rever todos esses filmes, porque a história do cinema é assim mesmo. A reputação de muitos (grandes) autores varia como o humor da crítica. Eisenstein foi escorraçado, com seu Potemkin, da lista de dez mais de todos os tempos, substituído por outro russo, Dziga Vertov. Não é todo mundo que se mantém fiel a Luchino Visconti, como eu. Já disse que gostei de ver Rififi. O filme francês e noir de Dassin teve o efeito de uma descoberta para mim. Amo Georges Simenon e reencontrei a Paris sórdida dos bas-fonds, dos truands para os quais os códigos de fidelidade e honra prezam mais que tudo. Emocionei-me de verdade quando o jovem gângster prefere morrer a entregar o amigo e sua mulher, atendendo à súplica em seu olhar, prefere morrer com ele a trair o companheiro. Sou um romântico, sei. Mas, mesmo gostando demais do filme, como gostei, fiquei um pouco decepcionado com o desfecho. Jean Servais sacrifica-se para devolver o filho sequestrado de Janine Darcey. Sente-se responsável pela morte do marido dela. Acho que foi Danny Peary que disse uma coisa em seu livro sobre cult movies. Algo como que ele gostaria que Janine, ao pegar o filho no carro, tivesse a curiosidade de ver o que havia dentro daquela mala - o dinheiro pelo qual todos mataram, e morreram. Dassin queria falar sobre o poder corruptor do dinheiro. Há muito de fatalismo em seu olhar crítico. Como em muitos filmes de John Huston, outro grande 'noir', o móvel do crime, o que desperta a cobiça dos homens, perde-se no caminho, e muita gente é sacrificada. Pode ser bobagem, produto da fragilização que experimento desde ontem, com todas essas mortes. Mas eu queria, como gratificação para as suas perdas, que ela ficasse com aquele dinheiro.

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