Uma geléia geral a partir do cinema

Rigor e beleza das denúncias de Rosi


Por Luiz Carlos Merten

Francesco Rosi morreu no sábado, em Roma, aos 92 anos. Desde 1997, com La Tregua, não filmava, mas foi homenageado pelos festivais de Berlim e Veneza, em 2008 e 2012. O mais talentoso diretor italiano de sua geração - e quem garante é Jean Tulard no Dicionário de Cinema -, foi também o mais combativo. Virou referência e excelência de cinema político. Cinema de denúncia. Ganhou o Leão de Ouro de Veneza por Le Mani sulla Città, em 1963, e a Palma de Ouro de Cannes, nove anos mais tarde, por O Caso Mattei, e neste caso o prêmio foi dividido com outro italiano, Eli Petri, por A Classe Operária Vai ao Paraíso. O cinéfilo que hoje assiste a O Bandido Giuliano não tem ideia do que foi o impacto de ver o filme em 1961. Creio que, no Brasil, estreou no ano seguinte. Meu irmão trabalhava na Varig. Me trazia sempre - morávamos em Porto Alegre - os jornais de Rio e São Paulo, e Nova York, Londres. Naquela época já tinha um interesse particular pelo cinema. Jean-Claude Bernardet era crítico da Última Hora. Escreveu, o que era raro, três textos sobre Salvatore Giuliano, três dias seguidos. Sei que perdi um, não lembro qual. Também não saberia repetir o que Bernardet escreveu, mas era algo muito forte e fascinante, para mim, exaltando a proposta inovadora - revolucionária? - do filme. Aquilo me fortaleceu o desejo, não de fazer filmes, mas de escrever sobre eles. Mas nada - nem o que Bernardet escreveu - me preparou para o impacto que experimentei ao ver O Bandido. Por mais nova que fosse a ideia do filme dossiê, do cinema documentado, não documentário, o que me impressionou, mais que o rigor, foi a beleza. Nunca tinha visto aquele preto e branco, aquela luz. Como gralhas, as mulheres de preto rodopiam ao redor do cadáver de Giuliano. E a mãe grita - Turiddu! Era como era chamado. São imagens que carrego comigo. Francesco Rosi foi colega de aula de Luchino Visconti e do futuro presidente da Itália, Georgio Napoletano. Um lhe abriu as portas da arte. Outro, da politica.De Visconti, foi assistente - em La Terra Trema e Belíssima. Vi seus primeiros filmes depois de O Bandido Giuliano. La Sfida/A Provocação, com José Suarez e Rossana Schiaffino, e I Magliari/Renúncia de Um Trapaceiro, com Alberto Sordi e Belinda Lee. Essa última foi um furacão que assolou o cinema inglês e, depois, o italiano, por volta de 1960. Morreu prematuramente, num acidente de carro. Os dois filmes têm coisas boas, interessantes, mas Rosi deve ter-se dado conta de que, se seguisse naquela via, seria um epígono do neo-realismo, um diretor menor. Pegando a figura emblemática de Salvatore Giuliano e implodindo o relato tradicional, ele lançou nova luz sobre o massacre de Portella della Ginestra, que tanta sensação provocou na Itália e inspirou Visconti (em La Terra Trema). Em 1.º de maio de 1947, Salvatore e seu bando invadiram uma manifestação de trabalhadores. Mataram 11 e feriram 27. Por que? Sempre houve dúvidas quanto à motivação do bandoleiro. Ele se teria ligado à grande Máfia e aos patrões contra os trabalhadores, para sufocar a demanda por direitos. A velha tragédia do Sul. O filme discute o poder, que voltou a ser o tema de Rosi em Le Mani sulla Città, O Caso Mattei. Lucky Luciano, Cadáveres Ilustres - em toda a sua obra. Rejeitando a dramaturgia tradicional e o maniqueísmo, Rosi faz grandes filmes que deixa irresolvidos. São processos em aberto, como diz Tulard. Permanecem as dúvidas quanto ao acidente que matou Enrico Mattei - em 1997 a Justiça italiana decretou que foi atentado a bomba - e no final de Cadáveres Ilustres o Partido Comunista acata a versão oficial sobre a morte do juiz e seu secretário porque a verdade - o horror, o horror - nem sempre é revolucionária. Na rigorosa arquitetura dramática dos filmes de Rosi, existem os que dividem/desconcertam os críticos. O Momento da Verdade, sobre um toureiro, e C'Era Una Volta/Felizes para Sempre, sua fábula com Sophia Loren e Omar Sharif. Naquela arena, filmando o balé da morte entre o toureiro e a besta, Rosi fez os mais belos movimentos de câmera de sua carreira. Se um filme expressa o êxtase, pode ser aquilo. E a fábula...? É uma questão de entrar ou não em seu espírito. Não gosto muito de Carmem nem de Crônica de Uma Morte Anunciada, mas Uomini Contro, Cristo si è Fermato a Eboli e Tre Fratelli me deixam louco. Alain Cuny como o oficial do primeiro e Charles Vanel como o velho pai que os três irmãos(Philippe Noiret, Vittorio Mezzogiorno e Michele Placido) vêm enterrar têm interpretações que figuram entre as minhas lembranças inesquecíveis. De repente, as mortes de Francesco Rosi, Anita Ekberg e (por que não?) Rod Taylor me dão vontade de chorar. Sinto-me solitário. Triste. E de alguma forma mais pobre, apesar do muito que me deram, Rosi, principalmente.

Francesco Rosi morreu no sábado, em Roma, aos 92 anos. Desde 1997, com La Tregua, não filmava, mas foi homenageado pelos festivais de Berlim e Veneza, em 2008 e 2012. O mais talentoso diretor italiano de sua geração - e quem garante é Jean Tulard no Dicionário de Cinema -, foi também o mais combativo. Virou referência e excelência de cinema político. Cinema de denúncia. Ganhou o Leão de Ouro de Veneza por Le Mani sulla Città, em 1963, e a Palma de Ouro de Cannes, nove anos mais tarde, por O Caso Mattei, e neste caso o prêmio foi dividido com outro italiano, Eli Petri, por A Classe Operária Vai ao Paraíso. O cinéfilo que hoje assiste a O Bandido Giuliano não tem ideia do que foi o impacto de ver o filme em 1961. Creio que, no Brasil, estreou no ano seguinte. Meu irmão trabalhava na Varig. Me trazia sempre - morávamos em Porto Alegre - os jornais de Rio e São Paulo, e Nova York, Londres. Naquela época já tinha um interesse particular pelo cinema. Jean-Claude Bernardet era crítico da Última Hora. Escreveu, o que era raro, três textos sobre Salvatore Giuliano, três dias seguidos. Sei que perdi um, não lembro qual. Também não saberia repetir o que Bernardet escreveu, mas era algo muito forte e fascinante, para mim, exaltando a proposta inovadora - revolucionária? - do filme. Aquilo me fortaleceu o desejo, não de fazer filmes, mas de escrever sobre eles. Mas nada - nem o que Bernardet escreveu - me preparou para o impacto que experimentei ao ver O Bandido. Por mais nova que fosse a ideia do filme dossiê, do cinema documentado, não documentário, o que me impressionou, mais que o rigor, foi a beleza. Nunca tinha visto aquele preto e branco, aquela luz. Como gralhas, as mulheres de preto rodopiam ao redor do cadáver de Giuliano. E a mãe grita - Turiddu! Era como era chamado. São imagens que carrego comigo. Francesco Rosi foi colega de aula de Luchino Visconti e do futuro presidente da Itália, Georgio Napoletano. Um lhe abriu as portas da arte. Outro, da politica.De Visconti, foi assistente - em La Terra Trema e Belíssima. Vi seus primeiros filmes depois de O Bandido Giuliano. La Sfida/A Provocação, com José Suarez e Rossana Schiaffino, e I Magliari/Renúncia de Um Trapaceiro, com Alberto Sordi e Belinda Lee. Essa última foi um furacão que assolou o cinema inglês e, depois, o italiano, por volta de 1960. Morreu prematuramente, num acidente de carro. Os dois filmes têm coisas boas, interessantes, mas Rosi deve ter-se dado conta de que, se seguisse naquela via, seria um epígono do neo-realismo, um diretor menor. Pegando a figura emblemática de Salvatore Giuliano e implodindo o relato tradicional, ele lançou nova luz sobre o massacre de Portella della Ginestra, que tanta sensação provocou na Itália e inspirou Visconti (em La Terra Trema). Em 1.º de maio de 1947, Salvatore e seu bando invadiram uma manifestação de trabalhadores. Mataram 11 e feriram 27. Por que? Sempre houve dúvidas quanto à motivação do bandoleiro. Ele se teria ligado à grande Máfia e aos patrões contra os trabalhadores, para sufocar a demanda por direitos. A velha tragédia do Sul. O filme discute o poder, que voltou a ser o tema de Rosi em Le Mani sulla Città, O Caso Mattei. Lucky Luciano, Cadáveres Ilustres - em toda a sua obra. Rejeitando a dramaturgia tradicional e o maniqueísmo, Rosi faz grandes filmes que deixa irresolvidos. São processos em aberto, como diz Tulard. Permanecem as dúvidas quanto ao acidente que matou Enrico Mattei - em 1997 a Justiça italiana decretou que foi atentado a bomba - e no final de Cadáveres Ilustres o Partido Comunista acata a versão oficial sobre a morte do juiz e seu secretário porque a verdade - o horror, o horror - nem sempre é revolucionária. Na rigorosa arquitetura dramática dos filmes de Rosi, existem os que dividem/desconcertam os críticos. O Momento da Verdade, sobre um toureiro, e C'Era Una Volta/Felizes para Sempre, sua fábula com Sophia Loren e Omar Sharif. Naquela arena, filmando o balé da morte entre o toureiro e a besta, Rosi fez os mais belos movimentos de câmera de sua carreira. Se um filme expressa o êxtase, pode ser aquilo. E a fábula...? É uma questão de entrar ou não em seu espírito. Não gosto muito de Carmem nem de Crônica de Uma Morte Anunciada, mas Uomini Contro, Cristo si è Fermato a Eboli e Tre Fratelli me deixam louco. Alain Cuny como o oficial do primeiro e Charles Vanel como o velho pai que os três irmãos(Philippe Noiret, Vittorio Mezzogiorno e Michele Placido) vêm enterrar têm interpretações que figuram entre as minhas lembranças inesquecíveis. De repente, as mortes de Francesco Rosi, Anita Ekberg e (por que não?) Rod Taylor me dão vontade de chorar. Sinto-me solitário. Triste. E de alguma forma mais pobre, apesar do muito que me deram, Rosi, principalmente.

Francesco Rosi morreu no sábado, em Roma, aos 92 anos. Desde 1997, com La Tregua, não filmava, mas foi homenageado pelos festivais de Berlim e Veneza, em 2008 e 2012. O mais talentoso diretor italiano de sua geração - e quem garante é Jean Tulard no Dicionário de Cinema -, foi também o mais combativo. Virou referência e excelência de cinema político. Cinema de denúncia. Ganhou o Leão de Ouro de Veneza por Le Mani sulla Città, em 1963, e a Palma de Ouro de Cannes, nove anos mais tarde, por O Caso Mattei, e neste caso o prêmio foi dividido com outro italiano, Eli Petri, por A Classe Operária Vai ao Paraíso. O cinéfilo que hoje assiste a O Bandido Giuliano não tem ideia do que foi o impacto de ver o filme em 1961. Creio que, no Brasil, estreou no ano seguinte. Meu irmão trabalhava na Varig. Me trazia sempre - morávamos em Porto Alegre - os jornais de Rio e São Paulo, e Nova York, Londres. Naquela época já tinha um interesse particular pelo cinema. Jean-Claude Bernardet era crítico da Última Hora. Escreveu, o que era raro, três textos sobre Salvatore Giuliano, três dias seguidos. Sei que perdi um, não lembro qual. Também não saberia repetir o que Bernardet escreveu, mas era algo muito forte e fascinante, para mim, exaltando a proposta inovadora - revolucionária? - do filme. Aquilo me fortaleceu o desejo, não de fazer filmes, mas de escrever sobre eles. Mas nada - nem o que Bernardet escreveu - me preparou para o impacto que experimentei ao ver O Bandido. Por mais nova que fosse a ideia do filme dossiê, do cinema documentado, não documentário, o que me impressionou, mais que o rigor, foi a beleza. Nunca tinha visto aquele preto e branco, aquela luz. Como gralhas, as mulheres de preto rodopiam ao redor do cadáver de Giuliano. E a mãe grita - Turiddu! Era como era chamado. São imagens que carrego comigo. Francesco Rosi foi colega de aula de Luchino Visconti e do futuro presidente da Itália, Georgio Napoletano. Um lhe abriu as portas da arte. Outro, da politica.De Visconti, foi assistente - em La Terra Trema e Belíssima. Vi seus primeiros filmes depois de O Bandido Giuliano. La Sfida/A Provocação, com José Suarez e Rossana Schiaffino, e I Magliari/Renúncia de Um Trapaceiro, com Alberto Sordi e Belinda Lee. Essa última foi um furacão que assolou o cinema inglês e, depois, o italiano, por volta de 1960. Morreu prematuramente, num acidente de carro. Os dois filmes têm coisas boas, interessantes, mas Rosi deve ter-se dado conta de que, se seguisse naquela via, seria um epígono do neo-realismo, um diretor menor. Pegando a figura emblemática de Salvatore Giuliano e implodindo o relato tradicional, ele lançou nova luz sobre o massacre de Portella della Ginestra, que tanta sensação provocou na Itália e inspirou Visconti (em La Terra Trema). Em 1.º de maio de 1947, Salvatore e seu bando invadiram uma manifestação de trabalhadores. Mataram 11 e feriram 27. Por que? Sempre houve dúvidas quanto à motivação do bandoleiro. Ele se teria ligado à grande Máfia e aos patrões contra os trabalhadores, para sufocar a demanda por direitos. A velha tragédia do Sul. O filme discute o poder, que voltou a ser o tema de Rosi em Le Mani sulla Città, O Caso Mattei. Lucky Luciano, Cadáveres Ilustres - em toda a sua obra. Rejeitando a dramaturgia tradicional e o maniqueísmo, Rosi faz grandes filmes que deixa irresolvidos. São processos em aberto, como diz Tulard. Permanecem as dúvidas quanto ao acidente que matou Enrico Mattei - em 1997 a Justiça italiana decretou que foi atentado a bomba - e no final de Cadáveres Ilustres o Partido Comunista acata a versão oficial sobre a morte do juiz e seu secretário porque a verdade - o horror, o horror - nem sempre é revolucionária. Na rigorosa arquitetura dramática dos filmes de Rosi, existem os que dividem/desconcertam os críticos. O Momento da Verdade, sobre um toureiro, e C'Era Una Volta/Felizes para Sempre, sua fábula com Sophia Loren e Omar Sharif. Naquela arena, filmando o balé da morte entre o toureiro e a besta, Rosi fez os mais belos movimentos de câmera de sua carreira. Se um filme expressa o êxtase, pode ser aquilo. E a fábula...? É uma questão de entrar ou não em seu espírito. Não gosto muito de Carmem nem de Crônica de Uma Morte Anunciada, mas Uomini Contro, Cristo si è Fermato a Eboli e Tre Fratelli me deixam louco. Alain Cuny como o oficial do primeiro e Charles Vanel como o velho pai que os três irmãos(Philippe Noiret, Vittorio Mezzogiorno e Michele Placido) vêm enterrar têm interpretações que figuram entre as minhas lembranças inesquecíveis. De repente, as mortes de Francesco Rosi, Anita Ekberg e (por que não?) Rod Taylor me dão vontade de chorar. Sinto-me solitário. Triste. E de alguma forma mais pobre, apesar do muito que me deram, Rosi, principalmente.

Francesco Rosi morreu no sábado, em Roma, aos 92 anos. Desde 1997, com La Tregua, não filmava, mas foi homenageado pelos festivais de Berlim e Veneza, em 2008 e 2012. O mais talentoso diretor italiano de sua geração - e quem garante é Jean Tulard no Dicionário de Cinema -, foi também o mais combativo. Virou referência e excelência de cinema político. Cinema de denúncia. Ganhou o Leão de Ouro de Veneza por Le Mani sulla Città, em 1963, e a Palma de Ouro de Cannes, nove anos mais tarde, por O Caso Mattei, e neste caso o prêmio foi dividido com outro italiano, Eli Petri, por A Classe Operária Vai ao Paraíso. O cinéfilo que hoje assiste a O Bandido Giuliano não tem ideia do que foi o impacto de ver o filme em 1961. Creio que, no Brasil, estreou no ano seguinte. Meu irmão trabalhava na Varig. Me trazia sempre - morávamos em Porto Alegre - os jornais de Rio e São Paulo, e Nova York, Londres. Naquela época já tinha um interesse particular pelo cinema. Jean-Claude Bernardet era crítico da Última Hora. Escreveu, o que era raro, três textos sobre Salvatore Giuliano, três dias seguidos. Sei que perdi um, não lembro qual. Também não saberia repetir o que Bernardet escreveu, mas era algo muito forte e fascinante, para mim, exaltando a proposta inovadora - revolucionária? - do filme. Aquilo me fortaleceu o desejo, não de fazer filmes, mas de escrever sobre eles. Mas nada - nem o que Bernardet escreveu - me preparou para o impacto que experimentei ao ver O Bandido. Por mais nova que fosse a ideia do filme dossiê, do cinema documentado, não documentário, o que me impressionou, mais que o rigor, foi a beleza. Nunca tinha visto aquele preto e branco, aquela luz. Como gralhas, as mulheres de preto rodopiam ao redor do cadáver de Giuliano. E a mãe grita - Turiddu! Era como era chamado. São imagens que carrego comigo. Francesco Rosi foi colega de aula de Luchino Visconti e do futuro presidente da Itália, Georgio Napoletano. Um lhe abriu as portas da arte. Outro, da politica.De Visconti, foi assistente - em La Terra Trema e Belíssima. Vi seus primeiros filmes depois de O Bandido Giuliano. La Sfida/A Provocação, com José Suarez e Rossana Schiaffino, e I Magliari/Renúncia de Um Trapaceiro, com Alberto Sordi e Belinda Lee. Essa última foi um furacão que assolou o cinema inglês e, depois, o italiano, por volta de 1960. Morreu prematuramente, num acidente de carro. Os dois filmes têm coisas boas, interessantes, mas Rosi deve ter-se dado conta de que, se seguisse naquela via, seria um epígono do neo-realismo, um diretor menor. Pegando a figura emblemática de Salvatore Giuliano e implodindo o relato tradicional, ele lançou nova luz sobre o massacre de Portella della Ginestra, que tanta sensação provocou na Itália e inspirou Visconti (em La Terra Trema). Em 1.º de maio de 1947, Salvatore e seu bando invadiram uma manifestação de trabalhadores. Mataram 11 e feriram 27. Por que? Sempre houve dúvidas quanto à motivação do bandoleiro. Ele se teria ligado à grande Máfia e aos patrões contra os trabalhadores, para sufocar a demanda por direitos. A velha tragédia do Sul. O filme discute o poder, que voltou a ser o tema de Rosi em Le Mani sulla Città, O Caso Mattei. Lucky Luciano, Cadáveres Ilustres - em toda a sua obra. Rejeitando a dramaturgia tradicional e o maniqueísmo, Rosi faz grandes filmes que deixa irresolvidos. São processos em aberto, como diz Tulard. Permanecem as dúvidas quanto ao acidente que matou Enrico Mattei - em 1997 a Justiça italiana decretou que foi atentado a bomba - e no final de Cadáveres Ilustres o Partido Comunista acata a versão oficial sobre a morte do juiz e seu secretário porque a verdade - o horror, o horror - nem sempre é revolucionária. Na rigorosa arquitetura dramática dos filmes de Rosi, existem os que dividem/desconcertam os críticos. O Momento da Verdade, sobre um toureiro, e C'Era Una Volta/Felizes para Sempre, sua fábula com Sophia Loren e Omar Sharif. Naquela arena, filmando o balé da morte entre o toureiro e a besta, Rosi fez os mais belos movimentos de câmera de sua carreira. Se um filme expressa o êxtase, pode ser aquilo. E a fábula...? É uma questão de entrar ou não em seu espírito. Não gosto muito de Carmem nem de Crônica de Uma Morte Anunciada, mas Uomini Contro, Cristo si è Fermato a Eboli e Tre Fratelli me deixam louco. Alain Cuny como o oficial do primeiro e Charles Vanel como o velho pai que os três irmãos(Philippe Noiret, Vittorio Mezzogiorno e Michele Placido) vêm enterrar têm interpretações que figuram entre as minhas lembranças inesquecíveis. De repente, as mortes de Francesco Rosi, Anita Ekberg e (por que não?) Rod Taylor me dão vontade de chorar. Sinto-me solitário. Triste. E de alguma forma mais pobre, apesar do muito que me deram, Rosi, principalmente.

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