Uma geléia geral a partir do cinema

Voo do fênix de Mike Leigh


Por Luiz Carlos Merten

CANNES - Depois da emoção que foi rever ontem à noite, em presença de Alain Delon e e Claudia Cardinale, o deslumbrante 'Gattopardo', quero relatar um pouco sobre os destaques de hoje, que não foram poucos. Vou começar por Mike Leigh. Há tempos que o diretor inglês era carta fora do meu baralho, e eu vou morrer sem entender por que 'Vera Drake', recusado em Cannes, ganhou o Leão de Ouro em Veneza. Leigh mostrou depois em Berlim - e Sally Rawlings ganhou o prêmio de melhor atriz - 'Happy Go-Lucky', ou coisa parecida, com aquela inglesinha insuportavelmente otimista. (O filme, senão me engano, se chamou 'Simplesmente Feliz' no Brasil). Bom, Sally envelheceu, assumiu o horror que era sua vida e virou Mary, uma das protagonistas do novo filme de Mike Leigh, que integra a competição aqui em Cannes. É o melhor trabalho dele desde 'Segredos e Mentiras' e eu me pergunto se 'Secrets and Lies' não será, com 'Naked', essa raridade que é o bom filme na carreira do cineasta supervalorizado. Seja como for, 'Another Year' é do mesmo nível - muito bom. O título deixa claro que o filme acompanha outro ano - mais um - na vida de seus personagens. Mike Leigh, de alguma forma, fez o seu 'Hannah e Suas Irmãs'. O título poderia ser 'Gerri e Sua Família'. Gerri, como Mia Farrow no grande filme de Woody Allen, encarna a compaixão humana. Psicóloga integrada ao serviço público, ela e o marido - Ruth Sheen e Jim Broadbent são os intérpretes dos papeis - carregam amigos e familiares nas costas. O mundo está desabando e eles representam uma espécie de fortaleza moral (além de afetiva). Deve ser porque têm uma ligação profunda com a terra, sempre cavando e plantando e colhendo os frutos de sua chácara. Lesley Manville faz Mary. É companheira de trabalho de  Gerri. Nutre uma paixão secreta, nem tão secreta assim, pelo filho de Tom e Gerri, apesar da diferença de idade. Quando o garoto arranja uma namorada, ela afunda. Tenta desacreditar a escolhida perante a amiga, que já vinha segurando suas bebedeiras, seus altos e baixos. Gerri, decepcionada, exclui Mary do seu grupo. Mas ela volta e as duas têm uma cena que um diretor como Mike Leigh só pode fazer com os grandes atores com quem costuma trabalhar. Entrevistei-o, a propósito de 'Happy Go-Lucky' e ele me falou de um projeto para teatro e cinema. Preciso checar com ele se é 'Another Year'. Com sua divisão em capítulos (as estações) - começa na primavera e termina no inverno -, o filme dá um belo texto de teatro. Nossos 'coletivos' aí no Brasil bem poderiam se apropriar dele. Fiquei feliz de ter gostado de 'Another Year'. Espero entrevistar o diretor, mas num trecho da coletiva, que vi na TV, ele comentou a eleição inglesa, a nova aliança conservadores/liberais que assumiu o poder na Inglaterra. Lembrou Margaret Thatcher. A Dama de Ferro, com sua dura política econômica neoliberal, provocou uma reação contrária muito forte no cinema inglês. Mike Leigh, Stephen Frears, Ken Loach, todos surgiram durante - e contra - o thatcherismo. Mike Leigh espera que esse novo advento do conservadorismo não venha ser bom para o cinema por causa do preço pago pelas pessoas. O tempo dirá.

CANNES - Depois da emoção que foi rever ontem à noite, em presença de Alain Delon e e Claudia Cardinale, o deslumbrante 'Gattopardo', quero relatar um pouco sobre os destaques de hoje, que não foram poucos. Vou começar por Mike Leigh. Há tempos que o diretor inglês era carta fora do meu baralho, e eu vou morrer sem entender por que 'Vera Drake', recusado em Cannes, ganhou o Leão de Ouro em Veneza. Leigh mostrou depois em Berlim - e Sally Rawlings ganhou o prêmio de melhor atriz - 'Happy Go-Lucky', ou coisa parecida, com aquela inglesinha insuportavelmente otimista. (O filme, senão me engano, se chamou 'Simplesmente Feliz' no Brasil). Bom, Sally envelheceu, assumiu o horror que era sua vida e virou Mary, uma das protagonistas do novo filme de Mike Leigh, que integra a competição aqui em Cannes. É o melhor trabalho dele desde 'Segredos e Mentiras' e eu me pergunto se 'Secrets and Lies' não será, com 'Naked', essa raridade que é o bom filme na carreira do cineasta supervalorizado. Seja como for, 'Another Year' é do mesmo nível - muito bom. O título deixa claro que o filme acompanha outro ano - mais um - na vida de seus personagens. Mike Leigh, de alguma forma, fez o seu 'Hannah e Suas Irmãs'. O título poderia ser 'Gerri e Sua Família'. Gerri, como Mia Farrow no grande filme de Woody Allen, encarna a compaixão humana. Psicóloga integrada ao serviço público, ela e o marido - Ruth Sheen e Jim Broadbent são os intérpretes dos papeis - carregam amigos e familiares nas costas. O mundo está desabando e eles representam uma espécie de fortaleza moral (além de afetiva). Deve ser porque têm uma ligação profunda com a terra, sempre cavando e plantando e colhendo os frutos de sua chácara. Lesley Manville faz Mary. É companheira de trabalho de  Gerri. Nutre uma paixão secreta, nem tão secreta assim, pelo filho de Tom e Gerri, apesar da diferença de idade. Quando o garoto arranja uma namorada, ela afunda. Tenta desacreditar a escolhida perante a amiga, que já vinha segurando suas bebedeiras, seus altos e baixos. Gerri, decepcionada, exclui Mary do seu grupo. Mas ela volta e as duas têm uma cena que um diretor como Mike Leigh só pode fazer com os grandes atores com quem costuma trabalhar. Entrevistei-o, a propósito de 'Happy Go-Lucky' e ele me falou de um projeto para teatro e cinema. Preciso checar com ele se é 'Another Year'. Com sua divisão em capítulos (as estações) - começa na primavera e termina no inverno -, o filme dá um belo texto de teatro. Nossos 'coletivos' aí no Brasil bem poderiam se apropriar dele. Fiquei feliz de ter gostado de 'Another Year'. Espero entrevistar o diretor, mas num trecho da coletiva, que vi na TV, ele comentou a eleição inglesa, a nova aliança conservadores/liberais que assumiu o poder na Inglaterra. Lembrou Margaret Thatcher. A Dama de Ferro, com sua dura política econômica neoliberal, provocou uma reação contrária muito forte no cinema inglês. Mike Leigh, Stephen Frears, Ken Loach, todos surgiram durante - e contra - o thatcherismo. Mike Leigh espera que esse novo advento do conservadorismo não venha ser bom para o cinema por causa do preço pago pelas pessoas. O tempo dirá.

CANNES - Depois da emoção que foi rever ontem à noite, em presença de Alain Delon e e Claudia Cardinale, o deslumbrante 'Gattopardo', quero relatar um pouco sobre os destaques de hoje, que não foram poucos. Vou começar por Mike Leigh. Há tempos que o diretor inglês era carta fora do meu baralho, e eu vou morrer sem entender por que 'Vera Drake', recusado em Cannes, ganhou o Leão de Ouro em Veneza. Leigh mostrou depois em Berlim - e Sally Rawlings ganhou o prêmio de melhor atriz - 'Happy Go-Lucky', ou coisa parecida, com aquela inglesinha insuportavelmente otimista. (O filme, senão me engano, se chamou 'Simplesmente Feliz' no Brasil). Bom, Sally envelheceu, assumiu o horror que era sua vida e virou Mary, uma das protagonistas do novo filme de Mike Leigh, que integra a competição aqui em Cannes. É o melhor trabalho dele desde 'Segredos e Mentiras' e eu me pergunto se 'Secrets and Lies' não será, com 'Naked', essa raridade que é o bom filme na carreira do cineasta supervalorizado. Seja como for, 'Another Year' é do mesmo nível - muito bom. O título deixa claro que o filme acompanha outro ano - mais um - na vida de seus personagens. Mike Leigh, de alguma forma, fez o seu 'Hannah e Suas Irmãs'. O título poderia ser 'Gerri e Sua Família'. Gerri, como Mia Farrow no grande filme de Woody Allen, encarna a compaixão humana. Psicóloga integrada ao serviço público, ela e o marido - Ruth Sheen e Jim Broadbent são os intérpretes dos papeis - carregam amigos e familiares nas costas. O mundo está desabando e eles representam uma espécie de fortaleza moral (além de afetiva). Deve ser porque têm uma ligação profunda com a terra, sempre cavando e plantando e colhendo os frutos de sua chácara. Lesley Manville faz Mary. É companheira de trabalho de  Gerri. Nutre uma paixão secreta, nem tão secreta assim, pelo filho de Tom e Gerri, apesar da diferença de idade. Quando o garoto arranja uma namorada, ela afunda. Tenta desacreditar a escolhida perante a amiga, que já vinha segurando suas bebedeiras, seus altos e baixos. Gerri, decepcionada, exclui Mary do seu grupo. Mas ela volta e as duas têm uma cena que um diretor como Mike Leigh só pode fazer com os grandes atores com quem costuma trabalhar. Entrevistei-o, a propósito de 'Happy Go-Lucky' e ele me falou de um projeto para teatro e cinema. Preciso checar com ele se é 'Another Year'. Com sua divisão em capítulos (as estações) - começa na primavera e termina no inverno -, o filme dá um belo texto de teatro. Nossos 'coletivos' aí no Brasil bem poderiam se apropriar dele. Fiquei feliz de ter gostado de 'Another Year'. Espero entrevistar o diretor, mas num trecho da coletiva, que vi na TV, ele comentou a eleição inglesa, a nova aliança conservadores/liberais que assumiu o poder na Inglaterra. Lembrou Margaret Thatcher. A Dama de Ferro, com sua dura política econômica neoliberal, provocou uma reação contrária muito forte no cinema inglês. Mike Leigh, Stephen Frears, Ken Loach, todos surgiram durante - e contra - o thatcherismo. Mike Leigh espera que esse novo advento do conservadorismo não venha ser bom para o cinema por causa do preço pago pelas pessoas. O tempo dirá.

CANNES - Depois da emoção que foi rever ontem à noite, em presença de Alain Delon e e Claudia Cardinale, o deslumbrante 'Gattopardo', quero relatar um pouco sobre os destaques de hoje, que não foram poucos. Vou começar por Mike Leigh. Há tempos que o diretor inglês era carta fora do meu baralho, e eu vou morrer sem entender por que 'Vera Drake', recusado em Cannes, ganhou o Leão de Ouro em Veneza. Leigh mostrou depois em Berlim - e Sally Rawlings ganhou o prêmio de melhor atriz - 'Happy Go-Lucky', ou coisa parecida, com aquela inglesinha insuportavelmente otimista. (O filme, senão me engano, se chamou 'Simplesmente Feliz' no Brasil). Bom, Sally envelheceu, assumiu o horror que era sua vida e virou Mary, uma das protagonistas do novo filme de Mike Leigh, que integra a competição aqui em Cannes. É o melhor trabalho dele desde 'Segredos e Mentiras' e eu me pergunto se 'Secrets and Lies' não será, com 'Naked', essa raridade que é o bom filme na carreira do cineasta supervalorizado. Seja como for, 'Another Year' é do mesmo nível - muito bom. O título deixa claro que o filme acompanha outro ano - mais um - na vida de seus personagens. Mike Leigh, de alguma forma, fez o seu 'Hannah e Suas Irmãs'. O título poderia ser 'Gerri e Sua Família'. Gerri, como Mia Farrow no grande filme de Woody Allen, encarna a compaixão humana. Psicóloga integrada ao serviço público, ela e o marido - Ruth Sheen e Jim Broadbent são os intérpretes dos papeis - carregam amigos e familiares nas costas. O mundo está desabando e eles representam uma espécie de fortaleza moral (além de afetiva). Deve ser porque têm uma ligação profunda com a terra, sempre cavando e plantando e colhendo os frutos de sua chácara. Lesley Manville faz Mary. É companheira de trabalho de  Gerri. Nutre uma paixão secreta, nem tão secreta assim, pelo filho de Tom e Gerri, apesar da diferença de idade. Quando o garoto arranja uma namorada, ela afunda. Tenta desacreditar a escolhida perante a amiga, que já vinha segurando suas bebedeiras, seus altos e baixos. Gerri, decepcionada, exclui Mary do seu grupo. Mas ela volta e as duas têm uma cena que um diretor como Mike Leigh só pode fazer com os grandes atores com quem costuma trabalhar. Entrevistei-o, a propósito de 'Happy Go-Lucky' e ele me falou de um projeto para teatro e cinema. Preciso checar com ele se é 'Another Year'. Com sua divisão em capítulos (as estações) - começa na primavera e termina no inverno -, o filme dá um belo texto de teatro. Nossos 'coletivos' aí no Brasil bem poderiam se apropriar dele. Fiquei feliz de ter gostado de 'Another Year'. Espero entrevistar o diretor, mas num trecho da coletiva, que vi na TV, ele comentou a eleição inglesa, a nova aliança conservadores/liberais que assumiu o poder na Inglaterra. Lembrou Margaret Thatcher. A Dama de Ferro, com sua dura política econômica neoliberal, provocou uma reação contrária muito forte no cinema inglês. Mike Leigh, Stephen Frears, Ken Loach, todos surgiram durante - e contra - o thatcherismo. Mike Leigh espera que esse novo advento do conservadorismo não venha ser bom para o cinema por causa do preço pago pelas pessoas. O tempo dirá.

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