Uma geléia geral a partir do cinema

Zonda!


Por Luiz Carlos Merten

Guilherme Sobota, repórter do Caderno 2, fica surpreso ao me ouvir dizer que não tenho alma de roqueiro. Como assim? Era jovem quando tudo estava acontecendo, nos anos 1960 e 70. Os Beatles, os Rolling Stones, Woodstock. Aprendi a amar os Beatles através de Richard Lester, os Rolling Stones, através de Edward Maysles e Jean-Luc Godard. Mas o Brasil vivia sob uma ditadura, o pau comia em todo o Cone Sul e eu comecei a ir com a Doris, minha ex-mulher e mãe da Lúcia, para o Uruguai e a Argentina. Já disse mil vezes que as cinematecas argentina e uruguaia foram fundamentais na minha formação de cinéfilo. Só cheguei em São Paulo no fim dos anos 1980, já com 43 anos, e foi aí que visitei pela primeira vez a Cinemateca Brasileira. Já tinha percorrido a América Latina, ido a passeata dos Montoneros em Buenos Aires - Si Evita viviera, seria Montonera -, assistido a filmes militantes em bibocas de Montevidéu. Amei - sempre! - Alfredo Zitarrossa mais que Roberto Carlos e tinha em casa todos os discos que podia carregar na bagagem de Mercedes Sosa, Atahualpa Yupanqui, Violeta Parra, Ariel Ramirez, Victor Jara. Minhas 'bandas' eram de poncho e conga, Chalchaleros, Fronterizos e, acima de todos, Quilapayun. A cantata de Santa Maria Iquique, sobre a célebre matança de trabalhadores do salitre em 1907, foi a minha escadaria de Odessa - Los gritos de los hornos! O máster daquela gravação foi destruído pelos asseclas de Pinochet e só em 1978 a cantata foi recuperada e regravada. Meninos, eu vi, ouvi! Tive o privilégio de estar em plateias para ouvir Mercedes e Amelita Baltar cantando Alfonsina y el Mar. E, em janeiro deste ano, Dib e eu procuramos a estátua de Alfonsina na orla de Mar del Plata, no ponto exato de que, conta a lenda, ela entrou as águas e partiu - con su soledad. E por isso me emocionei tanto com o novo musical de Carlos Saura, Argentina. Depois de Tango, de 1998, Saura investiga outras correntes da musicalidade argentina. O folclore! Argentina chama-se, no original, Zonda, como o vento que sopra do Pacífico, atravessa a cordilheira e sob o efeito de sei lá que frentes frias ou quentes vai morrer no altiplano argentino, no Noroeste. Viajamos muito por essas regiões. De Mendoza até Tucuman, Salta, mas nunca fomos, Doris e eu, a Jujuy. Guardo na lembrança uma noite dos 70 - o cabildo de Salta sob uma lua cheia. Por que o vento, para dar título a Argentina? Porque o vento sopra sobre a terra como os arrieros a percorrem, sem criar raízes. A explicação de Jorge Martinez de Hoyos em Sete Homens e Um Destino, a versão de John Sturges, de 1960. Os camponeses são a terra e os pistoleiros, o vento que sopra. Argentina viaja nos ritmos e tradições - instrumentais, cantadas, dançadas - do folclore argentino. Zamba, zamba alegre, chacarera, chacarita, chamame. Ver o filme foi como viajar ao meu passado, à minha juventude. Tem uma cena, um canto à lua tucumana, de arrepiar. 'Yo no le canto a la luna/Porque alumbra nada más/Le canto porque ella sabe De mi largo caminar...' E o filme inclui homenagens a Mercedes Sosa, La Negra, e a Atahualpa Yupanqui. Uma plateia de crianças assiste a Mercedes cantar num telão. Todo Cambia, e os jovens são a mudança. Tudo muda, menos o amor dela por seu povo. E Atahualpa numa conversa irada com Deus, a quem acusa de comer na mesa dos ricos. Tudo pelo social - ah que j'ai été jeune un jour. Noi che c' eravamo tanti amati. Nós que nos amávamos tanto - que amávamos tanto a revolução?

Guilherme Sobota, repórter do Caderno 2, fica surpreso ao me ouvir dizer que não tenho alma de roqueiro. Como assim? Era jovem quando tudo estava acontecendo, nos anos 1960 e 70. Os Beatles, os Rolling Stones, Woodstock. Aprendi a amar os Beatles através de Richard Lester, os Rolling Stones, através de Edward Maysles e Jean-Luc Godard. Mas o Brasil vivia sob uma ditadura, o pau comia em todo o Cone Sul e eu comecei a ir com a Doris, minha ex-mulher e mãe da Lúcia, para o Uruguai e a Argentina. Já disse mil vezes que as cinematecas argentina e uruguaia foram fundamentais na minha formação de cinéfilo. Só cheguei em São Paulo no fim dos anos 1980, já com 43 anos, e foi aí que visitei pela primeira vez a Cinemateca Brasileira. Já tinha percorrido a América Latina, ido a passeata dos Montoneros em Buenos Aires - Si Evita viviera, seria Montonera -, assistido a filmes militantes em bibocas de Montevidéu. Amei - sempre! - Alfredo Zitarrossa mais que Roberto Carlos e tinha em casa todos os discos que podia carregar na bagagem de Mercedes Sosa, Atahualpa Yupanqui, Violeta Parra, Ariel Ramirez, Victor Jara. Minhas 'bandas' eram de poncho e conga, Chalchaleros, Fronterizos e, acima de todos, Quilapayun. A cantata de Santa Maria Iquique, sobre a célebre matança de trabalhadores do salitre em 1907, foi a minha escadaria de Odessa - Los gritos de los hornos! O máster daquela gravação foi destruído pelos asseclas de Pinochet e só em 1978 a cantata foi recuperada e regravada. Meninos, eu vi, ouvi! Tive o privilégio de estar em plateias para ouvir Mercedes e Amelita Baltar cantando Alfonsina y el Mar. E, em janeiro deste ano, Dib e eu procuramos a estátua de Alfonsina na orla de Mar del Plata, no ponto exato de que, conta a lenda, ela entrou as águas e partiu - con su soledad. E por isso me emocionei tanto com o novo musical de Carlos Saura, Argentina. Depois de Tango, de 1998, Saura investiga outras correntes da musicalidade argentina. O folclore! Argentina chama-se, no original, Zonda, como o vento que sopra do Pacífico, atravessa a cordilheira e sob o efeito de sei lá que frentes frias ou quentes vai morrer no altiplano argentino, no Noroeste. Viajamos muito por essas regiões. De Mendoza até Tucuman, Salta, mas nunca fomos, Doris e eu, a Jujuy. Guardo na lembrança uma noite dos 70 - o cabildo de Salta sob uma lua cheia. Por que o vento, para dar título a Argentina? Porque o vento sopra sobre a terra como os arrieros a percorrem, sem criar raízes. A explicação de Jorge Martinez de Hoyos em Sete Homens e Um Destino, a versão de John Sturges, de 1960. Os camponeses são a terra e os pistoleiros, o vento que sopra. Argentina viaja nos ritmos e tradições - instrumentais, cantadas, dançadas - do folclore argentino. Zamba, zamba alegre, chacarera, chacarita, chamame. Ver o filme foi como viajar ao meu passado, à minha juventude. Tem uma cena, um canto à lua tucumana, de arrepiar. 'Yo no le canto a la luna/Porque alumbra nada más/Le canto porque ella sabe De mi largo caminar...' E o filme inclui homenagens a Mercedes Sosa, La Negra, e a Atahualpa Yupanqui. Uma plateia de crianças assiste a Mercedes cantar num telão. Todo Cambia, e os jovens são a mudança. Tudo muda, menos o amor dela por seu povo. E Atahualpa numa conversa irada com Deus, a quem acusa de comer na mesa dos ricos. Tudo pelo social - ah que j'ai été jeune un jour. Noi che c' eravamo tanti amati. Nós que nos amávamos tanto - que amávamos tanto a revolução?

Guilherme Sobota, repórter do Caderno 2, fica surpreso ao me ouvir dizer que não tenho alma de roqueiro. Como assim? Era jovem quando tudo estava acontecendo, nos anos 1960 e 70. Os Beatles, os Rolling Stones, Woodstock. Aprendi a amar os Beatles através de Richard Lester, os Rolling Stones, através de Edward Maysles e Jean-Luc Godard. Mas o Brasil vivia sob uma ditadura, o pau comia em todo o Cone Sul e eu comecei a ir com a Doris, minha ex-mulher e mãe da Lúcia, para o Uruguai e a Argentina. Já disse mil vezes que as cinematecas argentina e uruguaia foram fundamentais na minha formação de cinéfilo. Só cheguei em São Paulo no fim dos anos 1980, já com 43 anos, e foi aí que visitei pela primeira vez a Cinemateca Brasileira. Já tinha percorrido a América Latina, ido a passeata dos Montoneros em Buenos Aires - Si Evita viviera, seria Montonera -, assistido a filmes militantes em bibocas de Montevidéu. Amei - sempre! - Alfredo Zitarrossa mais que Roberto Carlos e tinha em casa todos os discos que podia carregar na bagagem de Mercedes Sosa, Atahualpa Yupanqui, Violeta Parra, Ariel Ramirez, Victor Jara. Minhas 'bandas' eram de poncho e conga, Chalchaleros, Fronterizos e, acima de todos, Quilapayun. A cantata de Santa Maria Iquique, sobre a célebre matança de trabalhadores do salitre em 1907, foi a minha escadaria de Odessa - Los gritos de los hornos! O máster daquela gravação foi destruído pelos asseclas de Pinochet e só em 1978 a cantata foi recuperada e regravada. Meninos, eu vi, ouvi! Tive o privilégio de estar em plateias para ouvir Mercedes e Amelita Baltar cantando Alfonsina y el Mar. E, em janeiro deste ano, Dib e eu procuramos a estátua de Alfonsina na orla de Mar del Plata, no ponto exato de que, conta a lenda, ela entrou as águas e partiu - con su soledad. E por isso me emocionei tanto com o novo musical de Carlos Saura, Argentina. Depois de Tango, de 1998, Saura investiga outras correntes da musicalidade argentina. O folclore! Argentina chama-se, no original, Zonda, como o vento que sopra do Pacífico, atravessa a cordilheira e sob o efeito de sei lá que frentes frias ou quentes vai morrer no altiplano argentino, no Noroeste. Viajamos muito por essas regiões. De Mendoza até Tucuman, Salta, mas nunca fomos, Doris e eu, a Jujuy. Guardo na lembrança uma noite dos 70 - o cabildo de Salta sob uma lua cheia. Por que o vento, para dar título a Argentina? Porque o vento sopra sobre a terra como os arrieros a percorrem, sem criar raízes. A explicação de Jorge Martinez de Hoyos em Sete Homens e Um Destino, a versão de John Sturges, de 1960. Os camponeses são a terra e os pistoleiros, o vento que sopra. Argentina viaja nos ritmos e tradições - instrumentais, cantadas, dançadas - do folclore argentino. Zamba, zamba alegre, chacarera, chacarita, chamame. Ver o filme foi como viajar ao meu passado, à minha juventude. Tem uma cena, um canto à lua tucumana, de arrepiar. 'Yo no le canto a la luna/Porque alumbra nada más/Le canto porque ella sabe De mi largo caminar...' E o filme inclui homenagens a Mercedes Sosa, La Negra, e a Atahualpa Yupanqui. Uma plateia de crianças assiste a Mercedes cantar num telão. Todo Cambia, e os jovens são a mudança. Tudo muda, menos o amor dela por seu povo. E Atahualpa numa conversa irada com Deus, a quem acusa de comer na mesa dos ricos. Tudo pelo social - ah que j'ai été jeune un jour. Noi che c' eravamo tanti amati. Nós que nos amávamos tanto - que amávamos tanto a revolução?

Guilherme Sobota, repórter do Caderno 2, fica surpreso ao me ouvir dizer que não tenho alma de roqueiro. Como assim? Era jovem quando tudo estava acontecendo, nos anos 1960 e 70. Os Beatles, os Rolling Stones, Woodstock. Aprendi a amar os Beatles através de Richard Lester, os Rolling Stones, através de Edward Maysles e Jean-Luc Godard. Mas o Brasil vivia sob uma ditadura, o pau comia em todo o Cone Sul e eu comecei a ir com a Doris, minha ex-mulher e mãe da Lúcia, para o Uruguai e a Argentina. Já disse mil vezes que as cinematecas argentina e uruguaia foram fundamentais na minha formação de cinéfilo. Só cheguei em São Paulo no fim dos anos 1980, já com 43 anos, e foi aí que visitei pela primeira vez a Cinemateca Brasileira. Já tinha percorrido a América Latina, ido a passeata dos Montoneros em Buenos Aires - Si Evita viviera, seria Montonera -, assistido a filmes militantes em bibocas de Montevidéu. Amei - sempre! - Alfredo Zitarrossa mais que Roberto Carlos e tinha em casa todos os discos que podia carregar na bagagem de Mercedes Sosa, Atahualpa Yupanqui, Violeta Parra, Ariel Ramirez, Victor Jara. Minhas 'bandas' eram de poncho e conga, Chalchaleros, Fronterizos e, acima de todos, Quilapayun. A cantata de Santa Maria Iquique, sobre a célebre matança de trabalhadores do salitre em 1907, foi a minha escadaria de Odessa - Los gritos de los hornos! O máster daquela gravação foi destruído pelos asseclas de Pinochet e só em 1978 a cantata foi recuperada e regravada. Meninos, eu vi, ouvi! Tive o privilégio de estar em plateias para ouvir Mercedes e Amelita Baltar cantando Alfonsina y el Mar. E, em janeiro deste ano, Dib e eu procuramos a estátua de Alfonsina na orla de Mar del Plata, no ponto exato de que, conta a lenda, ela entrou as águas e partiu - con su soledad. E por isso me emocionei tanto com o novo musical de Carlos Saura, Argentina. Depois de Tango, de 1998, Saura investiga outras correntes da musicalidade argentina. O folclore! Argentina chama-se, no original, Zonda, como o vento que sopra do Pacífico, atravessa a cordilheira e sob o efeito de sei lá que frentes frias ou quentes vai morrer no altiplano argentino, no Noroeste. Viajamos muito por essas regiões. De Mendoza até Tucuman, Salta, mas nunca fomos, Doris e eu, a Jujuy. Guardo na lembrança uma noite dos 70 - o cabildo de Salta sob uma lua cheia. Por que o vento, para dar título a Argentina? Porque o vento sopra sobre a terra como os arrieros a percorrem, sem criar raízes. A explicação de Jorge Martinez de Hoyos em Sete Homens e Um Destino, a versão de John Sturges, de 1960. Os camponeses são a terra e os pistoleiros, o vento que sopra. Argentina viaja nos ritmos e tradições - instrumentais, cantadas, dançadas - do folclore argentino. Zamba, zamba alegre, chacarera, chacarita, chamame. Ver o filme foi como viajar ao meu passado, à minha juventude. Tem uma cena, um canto à lua tucumana, de arrepiar. 'Yo no le canto a la luna/Porque alumbra nada más/Le canto porque ella sabe De mi largo caminar...' E o filme inclui homenagens a Mercedes Sosa, La Negra, e a Atahualpa Yupanqui. Uma plateia de crianças assiste a Mercedes cantar num telão. Todo Cambia, e os jovens são a mudança. Tudo muda, menos o amor dela por seu povo. E Atahualpa numa conversa irada com Deus, a quem acusa de comer na mesa dos ricos. Tudo pelo social - ah que j'ai été jeune un jour. Noi che c' eravamo tanti amati. Nós que nos amávamos tanto - que amávamos tanto a revolução?

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.