Cinema, cultura & afins

Opinião|Cine Ceará 2016. A voz serena dos crimes da ditadura


 

Por Luiz Zanin Oricchio
 Foto: Estadão

Fortaleza - Com perdão do lugar-comum, o filme caiu como uma bomba no Cine Ceará. Com o título inofensivo de Uma Família Ilustre, a diretora Beth Formaggini traz o depoimento de um ex-delegado da polícia civil que, na época da ditadura, assassinou e deu sumiço em corpos de oposicionistas. Hoje Claudio Guerra é pastor evangélico e gosta de ser apresentado como tal.

Não se recusa, de forma alguma, em falar de suas atividades do passado pré-evangélico. Vai com a equipe ao lugar remoto onde incinerava corpos, em fornos crematórios, para que não deixassem vestígios, e conta, com voz serena, como sacrificou "como um ato de misericórdia" um preso que estava destruído pela tortura e sentindo muitas dores.

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Cláudio Guerra é entrevistado pelo psicólogo Eduardo Passos, dedicado aos direitos humanos. De forma hábil, Passos conduz o diálogo com um assassino de ar tranquilo e que, obviamente, não respondeu por seus crimes por força da transição negociada da ditadura para a democracia, uma característica brasileira. Guerra diz que a sua motivação era o poder. Sentia-se temido e respeitado. Isso basta para transformar uma pessoa em criminosa?

Beth Formaggini é uma documentarista de larga experiência, tendo trabalhado com mestre Eduardo Coutinho. Diz que usou como referência um texto básico (entre outros): o artigo Como Filmar o Inimigo, do teórico francês Jean-Louis Comolli. "Ele diz que devemos trazer o inimigo para o campo do nosso filme", diz. E, de fato, Claudio foi levado para um ambiente talvez descentrador para ele. Numa das cenas, enquanto fala, há uma transparência com o símbolo do Partido Comunista, a foice e o martelo, sobre o qual sua sombra se projeta. Noutra, aparecem retratos das vítimas para que ele as reconheça. Imageticamente muito forte.

Mas claro que e o mais forte mesmo é o conteúdo da fala do pastor, ex-policial. Sereno, sem mágoas e nem arrependimentos, confessa ainda os benefícios materiais que recebeu por suas atividades em prol da ditadura, como um carro a ele presenteado.

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Nas atuais manifestações de direita pelo impeachment de Dilma havia grupos que pediam a volta do regime militar. Um deputado como Jair Bolsonaro é muito votado e, na sessão da Câmara pela abertura do processo de impedimento da presidente, dedicou seu voto a um torturador morto, Carlos Alberto Brilhante Ustra. Pelo visto, aprendemos muito pouco com os crimes do passado. Mas seria bom que algumas pessoas, que têm saudades de um passado que pouco conhecem, vissem esse curta-metragem de alto poder político e emocional.

 Foto: Estadão

Fortaleza - Com perdão do lugar-comum, o filme caiu como uma bomba no Cine Ceará. Com o título inofensivo de Uma Família Ilustre, a diretora Beth Formaggini traz o depoimento de um ex-delegado da polícia civil que, na época da ditadura, assassinou e deu sumiço em corpos de oposicionistas. Hoje Claudio Guerra é pastor evangélico e gosta de ser apresentado como tal.

Não se recusa, de forma alguma, em falar de suas atividades do passado pré-evangélico. Vai com a equipe ao lugar remoto onde incinerava corpos, em fornos crematórios, para que não deixassem vestígios, e conta, com voz serena, como sacrificou "como um ato de misericórdia" um preso que estava destruído pela tortura e sentindo muitas dores.

Cláudio Guerra é entrevistado pelo psicólogo Eduardo Passos, dedicado aos direitos humanos. De forma hábil, Passos conduz o diálogo com um assassino de ar tranquilo e que, obviamente, não respondeu por seus crimes por força da transição negociada da ditadura para a democracia, uma característica brasileira. Guerra diz que a sua motivação era o poder. Sentia-se temido e respeitado. Isso basta para transformar uma pessoa em criminosa?

Beth Formaggini é uma documentarista de larga experiência, tendo trabalhado com mestre Eduardo Coutinho. Diz que usou como referência um texto básico (entre outros): o artigo Como Filmar o Inimigo, do teórico francês Jean-Louis Comolli. "Ele diz que devemos trazer o inimigo para o campo do nosso filme", diz. E, de fato, Claudio foi levado para um ambiente talvez descentrador para ele. Numa das cenas, enquanto fala, há uma transparência com o símbolo do Partido Comunista, a foice e o martelo, sobre o qual sua sombra se projeta. Noutra, aparecem retratos das vítimas para que ele as reconheça. Imageticamente muito forte.

Mas claro que e o mais forte mesmo é o conteúdo da fala do pastor, ex-policial. Sereno, sem mágoas e nem arrependimentos, confessa ainda os benefícios materiais que recebeu por suas atividades em prol da ditadura, como um carro a ele presenteado.

Nas atuais manifestações de direita pelo impeachment de Dilma havia grupos que pediam a volta do regime militar. Um deputado como Jair Bolsonaro é muito votado e, na sessão da Câmara pela abertura do processo de impedimento da presidente, dedicou seu voto a um torturador morto, Carlos Alberto Brilhante Ustra. Pelo visto, aprendemos muito pouco com os crimes do passado. Mas seria bom que algumas pessoas, que têm saudades de um passado que pouco conhecem, vissem esse curta-metragem de alto poder político e emocional.

 Foto: Estadão

Fortaleza - Com perdão do lugar-comum, o filme caiu como uma bomba no Cine Ceará. Com o título inofensivo de Uma Família Ilustre, a diretora Beth Formaggini traz o depoimento de um ex-delegado da polícia civil que, na época da ditadura, assassinou e deu sumiço em corpos de oposicionistas. Hoje Claudio Guerra é pastor evangélico e gosta de ser apresentado como tal.

Não se recusa, de forma alguma, em falar de suas atividades do passado pré-evangélico. Vai com a equipe ao lugar remoto onde incinerava corpos, em fornos crematórios, para que não deixassem vestígios, e conta, com voz serena, como sacrificou "como um ato de misericórdia" um preso que estava destruído pela tortura e sentindo muitas dores.

Cláudio Guerra é entrevistado pelo psicólogo Eduardo Passos, dedicado aos direitos humanos. De forma hábil, Passos conduz o diálogo com um assassino de ar tranquilo e que, obviamente, não respondeu por seus crimes por força da transição negociada da ditadura para a democracia, uma característica brasileira. Guerra diz que a sua motivação era o poder. Sentia-se temido e respeitado. Isso basta para transformar uma pessoa em criminosa?

Beth Formaggini é uma documentarista de larga experiência, tendo trabalhado com mestre Eduardo Coutinho. Diz que usou como referência um texto básico (entre outros): o artigo Como Filmar o Inimigo, do teórico francês Jean-Louis Comolli. "Ele diz que devemos trazer o inimigo para o campo do nosso filme", diz. E, de fato, Claudio foi levado para um ambiente talvez descentrador para ele. Numa das cenas, enquanto fala, há uma transparência com o símbolo do Partido Comunista, a foice e o martelo, sobre o qual sua sombra se projeta. Noutra, aparecem retratos das vítimas para que ele as reconheça. Imageticamente muito forte.

Mas claro que e o mais forte mesmo é o conteúdo da fala do pastor, ex-policial. Sereno, sem mágoas e nem arrependimentos, confessa ainda os benefícios materiais que recebeu por suas atividades em prol da ditadura, como um carro a ele presenteado.

Nas atuais manifestações de direita pelo impeachment de Dilma havia grupos que pediam a volta do regime militar. Um deputado como Jair Bolsonaro é muito votado e, na sessão da Câmara pela abertura do processo de impedimento da presidente, dedicou seu voto a um torturador morto, Carlos Alberto Brilhante Ustra. Pelo visto, aprendemos muito pouco com os crimes do passado. Mas seria bom que algumas pessoas, que têm saudades de um passado que pouco conhecem, vissem esse curta-metragem de alto poder político e emocional.

 Foto: Estadão

Fortaleza - Com perdão do lugar-comum, o filme caiu como uma bomba no Cine Ceará. Com o título inofensivo de Uma Família Ilustre, a diretora Beth Formaggini traz o depoimento de um ex-delegado da polícia civil que, na época da ditadura, assassinou e deu sumiço em corpos de oposicionistas. Hoje Claudio Guerra é pastor evangélico e gosta de ser apresentado como tal.

Não se recusa, de forma alguma, em falar de suas atividades do passado pré-evangélico. Vai com a equipe ao lugar remoto onde incinerava corpos, em fornos crematórios, para que não deixassem vestígios, e conta, com voz serena, como sacrificou "como um ato de misericórdia" um preso que estava destruído pela tortura e sentindo muitas dores.

Cláudio Guerra é entrevistado pelo psicólogo Eduardo Passos, dedicado aos direitos humanos. De forma hábil, Passos conduz o diálogo com um assassino de ar tranquilo e que, obviamente, não respondeu por seus crimes por força da transição negociada da ditadura para a democracia, uma característica brasileira. Guerra diz que a sua motivação era o poder. Sentia-se temido e respeitado. Isso basta para transformar uma pessoa em criminosa?

Beth Formaggini é uma documentarista de larga experiência, tendo trabalhado com mestre Eduardo Coutinho. Diz que usou como referência um texto básico (entre outros): o artigo Como Filmar o Inimigo, do teórico francês Jean-Louis Comolli. "Ele diz que devemos trazer o inimigo para o campo do nosso filme", diz. E, de fato, Claudio foi levado para um ambiente talvez descentrador para ele. Numa das cenas, enquanto fala, há uma transparência com o símbolo do Partido Comunista, a foice e o martelo, sobre o qual sua sombra se projeta. Noutra, aparecem retratos das vítimas para que ele as reconheça. Imageticamente muito forte.

Mas claro que e o mais forte mesmo é o conteúdo da fala do pastor, ex-policial. Sereno, sem mágoas e nem arrependimentos, confessa ainda os benefícios materiais que recebeu por suas atividades em prol da ditadura, como um carro a ele presenteado.

Nas atuais manifestações de direita pelo impeachment de Dilma havia grupos que pediam a volta do regime militar. Um deputado como Jair Bolsonaro é muito votado e, na sessão da Câmara pela abertura do processo de impedimento da presidente, dedicou seu voto a um torturador morto, Carlos Alberto Brilhante Ustra. Pelo visto, aprendemos muito pouco com os crimes do passado. Mas seria bom que algumas pessoas, que têm saudades de um passado que pouco conhecem, vissem esse curta-metragem de alto poder político e emocional.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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