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Opinião|E além de tudo me deixou mudo o violão...


O telefilme que a TV Cultura exibe na virada de hoje para amanhã, à 0h15, tem por título um verso famoso para fãs da arte de Chico Buarque: E Além de Tudo Me Deixou Mudo o Violão. O verso faz parte daquela música que começa por dizer que 'A Rita levou meu sorriso/No sorriso dela, meu assunto'. Primeira fase do jovem Chico, samba de amor desfeito em meio a um país em convulsão. Outros tempos. As palavras são agora recuperadas por Anna Muylaert no primeiro desta série de telefilmes inspirados na música popular brasileira.

Por Luiz Zanin Oricchio

A Rita do caso é a mãe da personagem principal, a garota Erica (Daniela Piepszyk). Rita (Naomi Silman) é inglesa, não parece muito à vontade no Brasil, mas, como a filha não quer nem pensar em seu mudar para a Europa, vai ficando. Tem também um apego muito especial à birita. Quer dizer, é alcoólatra, o que é devastador para a filha. O pai, Eric (Marat Descartes), encontrou outro sentido para sua própria vida e se afastou. Mas mantém relação carinhosa com a filha.

Há um dado interessante de estranheza: Rita só fala em inglês. A filha, que estuda em colégio inglês, só responde à mãe em português. É apenas um índice desse diálogo de surdas; é também uma prova obstinada de manutenção de identidades, que sempre se reforçam pela manutenção da linguagem própria, mesmo em país estrangeiro. Rita é, inequivocamente, uma inglesa em exílio no Brasil. A filha é, definitivamente, brasileira.

Bem, há um violão na jogada, e é possível dizer que se o pai é um antigo violonista de talento, a mãe já não pode ouvir o som do instrumento. Outro signo. O violão, a guitarra espanhola, de origem europeia, acabou por se adaptar tão bem ao Brasil que parece autenticamente coisa nossa, como diria Noel. Não suportar o Brasil, para Rita, é uma extensão de não poder ouvir o som desse instrumento que, logicamente, é adotado por sua filha como uma espécie de fortalecimento do elo que a liga ao pai/País. E assim a garota tenta suportar o insuportável da sua vida tocando seu violãozinho como consolo.

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O talento de Anna Muylaert consiste em resumir conflitos tão profundos em elementos tão simples. Ela tem um olhar atento para a estranheza que ronda nossas vidas cotidianas - basta pensar em seus dois longas, Durval Discos e É Proibido Fumar. Neste projeto mais modesto, mas nem por isso menos inspirado, ela resume um denso conflito de família e de identidades nacionais em termos suaves, quase descomprometidos. A beleza do filme mora nessa simplicidade. Na maneira como trabalha linhas de profundidade sem nada ostentar. E na coragem como deixa conflitos em aberto, sabendo que eles não se resolvem na vida com a facilidade com que em geral são solucionados na ficção.

A Rita do caso é a mãe da personagem principal, a garota Erica (Daniela Piepszyk). Rita (Naomi Silman) é inglesa, não parece muito à vontade no Brasil, mas, como a filha não quer nem pensar em seu mudar para a Europa, vai ficando. Tem também um apego muito especial à birita. Quer dizer, é alcoólatra, o que é devastador para a filha. O pai, Eric (Marat Descartes), encontrou outro sentido para sua própria vida e se afastou. Mas mantém relação carinhosa com a filha.

Há um dado interessante de estranheza: Rita só fala em inglês. A filha, que estuda em colégio inglês, só responde à mãe em português. É apenas um índice desse diálogo de surdas; é também uma prova obstinada de manutenção de identidades, que sempre se reforçam pela manutenção da linguagem própria, mesmo em país estrangeiro. Rita é, inequivocamente, uma inglesa em exílio no Brasil. A filha é, definitivamente, brasileira.

Bem, há um violão na jogada, e é possível dizer que se o pai é um antigo violonista de talento, a mãe já não pode ouvir o som do instrumento. Outro signo. O violão, a guitarra espanhola, de origem europeia, acabou por se adaptar tão bem ao Brasil que parece autenticamente coisa nossa, como diria Noel. Não suportar o Brasil, para Rita, é uma extensão de não poder ouvir o som desse instrumento que, logicamente, é adotado por sua filha como uma espécie de fortalecimento do elo que a liga ao pai/País. E assim a garota tenta suportar o insuportável da sua vida tocando seu violãozinho como consolo.

O talento de Anna Muylaert consiste em resumir conflitos tão profundos em elementos tão simples. Ela tem um olhar atento para a estranheza que ronda nossas vidas cotidianas - basta pensar em seus dois longas, Durval Discos e É Proibido Fumar. Neste projeto mais modesto, mas nem por isso menos inspirado, ela resume um denso conflito de família e de identidades nacionais em termos suaves, quase descomprometidos. A beleza do filme mora nessa simplicidade. Na maneira como trabalha linhas de profundidade sem nada ostentar. E na coragem como deixa conflitos em aberto, sabendo que eles não se resolvem na vida com a facilidade com que em geral são solucionados na ficção.

A Rita do caso é a mãe da personagem principal, a garota Erica (Daniela Piepszyk). Rita (Naomi Silman) é inglesa, não parece muito à vontade no Brasil, mas, como a filha não quer nem pensar em seu mudar para a Europa, vai ficando. Tem também um apego muito especial à birita. Quer dizer, é alcoólatra, o que é devastador para a filha. O pai, Eric (Marat Descartes), encontrou outro sentido para sua própria vida e se afastou. Mas mantém relação carinhosa com a filha.

Há um dado interessante de estranheza: Rita só fala em inglês. A filha, que estuda em colégio inglês, só responde à mãe em português. É apenas um índice desse diálogo de surdas; é também uma prova obstinada de manutenção de identidades, que sempre se reforçam pela manutenção da linguagem própria, mesmo em país estrangeiro. Rita é, inequivocamente, uma inglesa em exílio no Brasil. A filha é, definitivamente, brasileira.

Bem, há um violão na jogada, e é possível dizer que se o pai é um antigo violonista de talento, a mãe já não pode ouvir o som do instrumento. Outro signo. O violão, a guitarra espanhola, de origem europeia, acabou por se adaptar tão bem ao Brasil que parece autenticamente coisa nossa, como diria Noel. Não suportar o Brasil, para Rita, é uma extensão de não poder ouvir o som desse instrumento que, logicamente, é adotado por sua filha como uma espécie de fortalecimento do elo que a liga ao pai/País. E assim a garota tenta suportar o insuportável da sua vida tocando seu violãozinho como consolo.

O talento de Anna Muylaert consiste em resumir conflitos tão profundos em elementos tão simples. Ela tem um olhar atento para a estranheza que ronda nossas vidas cotidianas - basta pensar em seus dois longas, Durval Discos e É Proibido Fumar. Neste projeto mais modesto, mas nem por isso menos inspirado, ela resume um denso conflito de família e de identidades nacionais em termos suaves, quase descomprometidos. A beleza do filme mora nessa simplicidade. Na maneira como trabalha linhas de profundidade sem nada ostentar. E na coragem como deixa conflitos em aberto, sabendo que eles não se resolvem na vida com a facilidade com que em geral são solucionados na ficção.

A Rita do caso é a mãe da personagem principal, a garota Erica (Daniela Piepszyk). Rita (Naomi Silman) é inglesa, não parece muito à vontade no Brasil, mas, como a filha não quer nem pensar em seu mudar para a Europa, vai ficando. Tem também um apego muito especial à birita. Quer dizer, é alcoólatra, o que é devastador para a filha. O pai, Eric (Marat Descartes), encontrou outro sentido para sua própria vida e se afastou. Mas mantém relação carinhosa com a filha.

Há um dado interessante de estranheza: Rita só fala em inglês. A filha, que estuda em colégio inglês, só responde à mãe em português. É apenas um índice desse diálogo de surdas; é também uma prova obstinada de manutenção de identidades, que sempre se reforçam pela manutenção da linguagem própria, mesmo em país estrangeiro. Rita é, inequivocamente, uma inglesa em exílio no Brasil. A filha é, definitivamente, brasileira.

Bem, há um violão na jogada, e é possível dizer que se o pai é um antigo violonista de talento, a mãe já não pode ouvir o som do instrumento. Outro signo. O violão, a guitarra espanhola, de origem europeia, acabou por se adaptar tão bem ao Brasil que parece autenticamente coisa nossa, como diria Noel. Não suportar o Brasil, para Rita, é uma extensão de não poder ouvir o som desse instrumento que, logicamente, é adotado por sua filha como uma espécie de fortalecimento do elo que a liga ao pai/País. E assim a garota tenta suportar o insuportável da sua vida tocando seu violãozinho como consolo.

O talento de Anna Muylaert consiste em resumir conflitos tão profundos em elementos tão simples. Ela tem um olhar atento para a estranheza que ronda nossas vidas cotidianas - basta pensar em seus dois longas, Durval Discos e É Proibido Fumar. Neste projeto mais modesto, mas nem por isso menos inspirado, ela resume um denso conflito de família e de identidades nacionais em termos suaves, quase descomprometidos. A beleza do filme mora nessa simplicidade. Na maneira como trabalha linhas de profundidade sem nada ostentar. E na coragem como deixa conflitos em aberto, sabendo que eles não se resolvem na vida com a facilidade com que em geral são solucionados na ficção.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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