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No Festival de Gramado, os competidores são exibidos à noite, no Palácio dos Festivais. No mesmo local, à tarde, há a Mostra Gaúcha, com curtas e longas locais. Os curtas têm uma competição à parte (venceu O Corpo, que ainda não vi, e será exibido na mostra principal na quinta). Os longas são exibidos fora de concurso. Entre eles, há uma joia rara - Errante, de Gustavo Spolidoro, talentoso diretor gaúcho ligado ao cinema independente.
Inspirado no documentário Os Catadores e Eu (Les Glaneurs et la Glaneuse), da francesa Agnès Varda, que lhe havia sido recomendado por Jean-Claude Bernardet, Spolidoro decide colocar-se, ele e sua câmera, na estrada à procura de personagens e do mundo. O resultado é Errante, filme livre, poético, inspirado, que confia no acaso como modo de (re)construção da realidade.
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Spolidoro monta sua "narrativa" de maneira aleatória. Assim, por exemplo, ao filmar um velhinho que parece deambular a esmo no centro de Porto Alegre, percebe uma moça que escreve em seu caderninho. Ao abordá-la, descobre que é uma francesa em viagem pela América Latina, e que está de passagem pela cidade a caminho de Santa Maria, em companhia de um brasileiro que conheceu no Chile.
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O diretor e sua câmera embarcam na aventura. Em Santa Maria, Spolidoro fica sabendo que perto de lá existe um sítio arqueológico onde se descobriu uma ossada de dinossauro. E lá vai ele, parando pelo caminho, entrevistando velhos jogadores de bocha, errando de lá para cá.
O fim do caminho é o Carnaval carioca, o sambódromo, onde consegue filmar sambistas, mas tambémtrês legítimos cães vira-latas passeando por ali após o desfile. O filme tem esse ritmo de cão de rua. Lúdico, desocupado, leve, em busca de alguma coisa que não se sabe bem o que é. Mas (no fundo) sabemos: é um exercício de liberdade.
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Errante merecia estar na mostra principal.