Cinema, cultura & afins

Opinião|O Homem que Não Estava Lá


Por Luiz Zanin Oricchio

 

Revi ontem, no Telecine Cult, O Homem que Não Estava Lá, de Ethan Coen. Poderia dizer que vi, pois não me lembrava muito bem do filme, exceto que era em preto e branco, tinha os ótimos Billy Bob Thornton e Frances MacDormand como protagonistas, e uma esfuziante ninfeta vivida pela Scarlett Johansson. É pouco?

É. Não me lembrava do engenho dessa parábola sobre crime e castigo em que todos são culpados, mas acabam punidos por crimes que não cometeram. Se vocês não lembram, a narrativa é pontuada pela primeira pessoa, pelo barbeiro Ed Crane (Thornton). Ele desconfia que a mulher, Doris (McDormand) o trai com o chefe. Quando precisa de grana para um investimento, resolve chantageá-lo. Mas tudo sai errado. O homem descobre tudo, os dois lutam e Ed o mata. Doris é acusada pelo crime e, na tentativa de salvá-la, Ed vai se enredando cada vez mais. Há um espírito kafkiano que inspira os Coen. Quando você pensa que a história deu sua última volta, surge outra e mais outra. A impressão é de labirinto.

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Gostei também da proposta do advogado de Doris, o vaidoso Freddy Riedenschneider (Tony Shalhoub) de usar o Princípio da Indeterminação de Heisenberg para montar sua defesa num caso considerado perdido. Resumindo: como o observador sempre interfere no observado, nunca conhecemos de fato a verdade. Ou seja, o rábula, que leva toda a grana de Ed, faz uma leitura de almanaque de conceitos da física moderna e consegue montar um discurso convincente, apesar da superficialidade. A jogada não se dá sem ironia e também acaba saindo pela culatra.

Nada dá certo na história. Os destinos humanos parecem comandado por um deus zombeteiro, ou talvez entediado e em busca de emoções. Os Coen, se você observar bem a filmografia deles, mexem quase sempre com essa noção do acaso - a de que os homens não controlam de fato nada, em especial quando julgam deter todas as variáveis na mão. Amarga ilusão.

O filme parodia o noir, imita o thriller, ensaia um discurso sobre a ciência para falar, no fim, da absoluta falta de sentido de tudo. Ainda bem que tem humor, muito humor. E também compaixão para não resvalar no cinismo, essa doença infantil contemporânea.

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Para resumir, um filmaço.

 

Revi ontem, no Telecine Cult, O Homem que Não Estava Lá, de Ethan Coen. Poderia dizer que vi, pois não me lembrava muito bem do filme, exceto que era em preto e branco, tinha os ótimos Billy Bob Thornton e Frances MacDormand como protagonistas, e uma esfuziante ninfeta vivida pela Scarlett Johansson. É pouco?

É. Não me lembrava do engenho dessa parábola sobre crime e castigo em que todos são culpados, mas acabam punidos por crimes que não cometeram. Se vocês não lembram, a narrativa é pontuada pela primeira pessoa, pelo barbeiro Ed Crane (Thornton). Ele desconfia que a mulher, Doris (McDormand) o trai com o chefe. Quando precisa de grana para um investimento, resolve chantageá-lo. Mas tudo sai errado. O homem descobre tudo, os dois lutam e Ed o mata. Doris é acusada pelo crime e, na tentativa de salvá-la, Ed vai se enredando cada vez mais. Há um espírito kafkiano que inspira os Coen. Quando você pensa que a história deu sua última volta, surge outra e mais outra. A impressão é de labirinto.

Gostei também da proposta do advogado de Doris, o vaidoso Freddy Riedenschneider (Tony Shalhoub) de usar o Princípio da Indeterminação de Heisenberg para montar sua defesa num caso considerado perdido. Resumindo: como o observador sempre interfere no observado, nunca conhecemos de fato a verdade. Ou seja, o rábula, que leva toda a grana de Ed, faz uma leitura de almanaque de conceitos da física moderna e consegue montar um discurso convincente, apesar da superficialidade. A jogada não se dá sem ironia e também acaba saindo pela culatra.

Nada dá certo na história. Os destinos humanos parecem comandado por um deus zombeteiro, ou talvez entediado e em busca de emoções. Os Coen, se você observar bem a filmografia deles, mexem quase sempre com essa noção do acaso - a de que os homens não controlam de fato nada, em especial quando julgam deter todas as variáveis na mão. Amarga ilusão.

O filme parodia o noir, imita o thriller, ensaia um discurso sobre a ciência para falar, no fim, da absoluta falta de sentido de tudo. Ainda bem que tem humor, muito humor. E também compaixão para não resvalar no cinismo, essa doença infantil contemporânea.

Para resumir, um filmaço.

 

Revi ontem, no Telecine Cult, O Homem que Não Estava Lá, de Ethan Coen. Poderia dizer que vi, pois não me lembrava muito bem do filme, exceto que era em preto e branco, tinha os ótimos Billy Bob Thornton e Frances MacDormand como protagonistas, e uma esfuziante ninfeta vivida pela Scarlett Johansson. É pouco?

É. Não me lembrava do engenho dessa parábola sobre crime e castigo em que todos são culpados, mas acabam punidos por crimes que não cometeram. Se vocês não lembram, a narrativa é pontuada pela primeira pessoa, pelo barbeiro Ed Crane (Thornton). Ele desconfia que a mulher, Doris (McDormand) o trai com o chefe. Quando precisa de grana para um investimento, resolve chantageá-lo. Mas tudo sai errado. O homem descobre tudo, os dois lutam e Ed o mata. Doris é acusada pelo crime e, na tentativa de salvá-la, Ed vai se enredando cada vez mais. Há um espírito kafkiano que inspira os Coen. Quando você pensa que a história deu sua última volta, surge outra e mais outra. A impressão é de labirinto.

Gostei também da proposta do advogado de Doris, o vaidoso Freddy Riedenschneider (Tony Shalhoub) de usar o Princípio da Indeterminação de Heisenberg para montar sua defesa num caso considerado perdido. Resumindo: como o observador sempre interfere no observado, nunca conhecemos de fato a verdade. Ou seja, o rábula, que leva toda a grana de Ed, faz uma leitura de almanaque de conceitos da física moderna e consegue montar um discurso convincente, apesar da superficialidade. A jogada não se dá sem ironia e também acaba saindo pela culatra.

Nada dá certo na história. Os destinos humanos parecem comandado por um deus zombeteiro, ou talvez entediado e em busca de emoções. Os Coen, se você observar bem a filmografia deles, mexem quase sempre com essa noção do acaso - a de que os homens não controlam de fato nada, em especial quando julgam deter todas as variáveis na mão. Amarga ilusão.

O filme parodia o noir, imita o thriller, ensaia um discurso sobre a ciência para falar, no fim, da absoluta falta de sentido de tudo. Ainda bem que tem humor, muito humor. E também compaixão para não resvalar no cinismo, essa doença infantil contemporânea.

Para resumir, um filmaço.

 

Revi ontem, no Telecine Cult, O Homem que Não Estava Lá, de Ethan Coen. Poderia dizer que vi, pois não me lembrava muito bem do filme, exceto que era em preto e branco, tinha os ótimos Billy Bob Thornton e Frances MacDormand como protagonistas, e uma esfuziante ninfeta vivida pela Scarlett Johansson. É pouco?

É. Não me lembrava do engenho dessa parábola sobre crime e castigo em que todos são culpados, mas acabam punidos por crimes que não cometeram. Se vocês não lembram, a narrativa é pontuada pela primeira pessoa, pelo barbeiro Ed Crane (Thornton). Ele desconfia que a mulher, Doris (McDormand) o trai com o chefe. Quando precisa de grana para um investimento, resolve chantageá-lo. Mas tudo sai errado. O homem descobre tudo, os dois lutam e Ed o mata. Doris é acusada pelo crime e, na tentativa de salvá-la, Ed vai se enredando cada vez mais. Há um espírito kafkiano que inspira os Coen. Quando você pensa que a história deu sua última volta, surge outra e mais outra. A impressão é de labirinto.

Gostei também da proposta do advogado de Doris, o vaidoso Freddy Riedenschneider (Tony Shalhoub) de usar o Princípio da Indeterminação de Heisenberg para montar sua defesa num caso considerado perdido. Resumindo: como o observador sempre interfere no observado, nunca conhecemos de fato a verdade. Ou seja, o rábula, que leva toda a grana de Ed, faz uma leitura de almanaque de conceitos da física moderna e consegue montar um discurso convincente, apesar da superficialidade. A jogada não se dá sem ironia e também acaba saindo pela culatra.

Nada dá certo na história. Os destinos humanos parecem comandado por um deus zombeteiro, ou talvez entediado e em busca de emoções. Os Coen, se você observar bem a filmografia deles, mexem quase sempre com essa noção do acaso - a de que os homens não controlam de fato nada, em especial quando julgam deter todas as variáveis na mão. Amarga ilusão.

O filme parodia o noir, imita o thriller, ensaia um discurso sobre a ciência para falar, no fim, da absoluta falta de sentido de tudo. Ainda bem que tem humor, muito humor. E também compaixão para não resvalar no cinismo, essa doença infantil contemporânea.

Para resumir, um filmaço.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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