Cinema, cultura & afins

Opinião|O Segredo do Grão


Por Luiz Zanin Oricchio

Quando concorreu ano passado em Veneza (onde ganhou dois prêmios, o Especial do Júri e o de atriz estreante), O Segredo do Grão foi comparado à escola italiana do neo-realismo. Faz algum sentido. Como nos primeiros filmes de Roberto Rossellini e Vittorio de Sica, também o de Abdel Kechiche trabalha bastante com atores não-profissionais. Também o centro da atenção de Kechiche, como fazia a escola italiana do após-guerra, põe no centro da ação o homem do povo, o trabalhador, sempre em luta para ganhar seu pão, enfrentando o desemprego ou as más condições de serviço.

Mas aqui acabam as comparações, mesmo porque se os velhos mestres falavam de uma Itália arrasada pela guerra perdida, Kechiche reporta-se à afluente Europa Unificada, dona da moeda forte e estável e, em tese, em condições de oferecer a melhor das vidas aos seus cidadãos. Como se sabe, não é bem o que acontece. Na Europa globalizada também acontece o desemprego. As fronteiras, ao invés de cair, tornaram-se mais rígidas ainda. E, apesar da mobilidade global (ou por causa dela) os preconceitos tornaram-se, se não maiores, pelo menos mais evidentes.

É nesta situação que acompanhamos a trajetória do sessentão Slimane (Habib Boufares), velho demais para continuar seu trabalho no estaleiro. Tornou-se lento para o padrão dominante, e terá de encontrar outra coisa para viver. Talvez abrir um restaurante já que sua ex-mulher cozinha um cuscuz marroquino como ninguém. Mas, para colocar o plano em pé, Slimane tem de negociar com as autoridades francesas. E, sobretudo, ganhar a confiança de quem não costuma ver os árabes com bons olhos.

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Kechiche adota um ponto de vista que é quase o do documentarista. Filma algumas seqüências em tempo real, como jantares, por exemplo. O resultado é um filme muito longo em termos de duração (150 minutos), mas que dá, como contrapartida, um aprofundamento na visão daquele mundo que deseja retratar. Esse procedimento, que parece natural até certo ponto da história, derrapa um pouco no final, quando dificuldades folhetinescas parecem apenas funcionar no sentido de provocar alguma tensão no enredo. Não precisaria desse recurso. A trama toda já estava armada e as idéias bem encaminhadas e com equilíbrio. Essas derrapadas diminuem um pouco o impacto desse bom filme.

(Caderno 2, 11/7/08)

Quando concorreu ano passado em Veneza (onde ganhou dois prêmios, o Especial do Júri e o de atriz estreante), O Segredo do Grão foi comparado à escola italiana do neo-realismo. Faz algum sentido. Como nos primeiros filmes de Roberto Rossellini e Vittorio de Sica, também o de Abdel Kechiche trabalha bastante com atores não-profissionais. Também o centro da atenção de Kechiche, como fazia a escola italiana do após-guerra, põe no centro da ação o homem do povo, o trabalhador, sempre em luta para ganhar seu pão, enfrentando o desemprego ou as más condições de serviço.

Mas aqui acabam as comparações, mesmo porque se os velhos mestres falavam de uma Itália arrasada pela guerra perdida, Kechiche reporta-se à afluente Europa Unificada, dona da moeda forte e estável e, em tese, em condições de oferecer a melhor das vidas aos seus cidadãos. Como se sabe, não é bem o que acontece. Na Europa globalizada também acontece o desemprego. As fronteiras, ao invés de cair, tornaram-se mais rígidas ainda. E, apesar da mobilidade global (ou por causa dela) os preconceitos tornaram-se, se não maiores, pelo menos mais evidentes.

É nesta situação que acompanhamos a trajetória do sessentão Slimane (Habib Boufares), velho demais para continuar seu trabalho no estaleiro. Tornou-se lento para o padrão dominante, e terá de encontrar outra coisa para viver. Talvez abrir um restaurante já que sua ex-mulher cozinha um cuscuz marroquino como ninguém. Mas, para colocar o plano em pé, Slimane tem de negociar com as autoridades francesas. E, sobretudo, ganhar a confiança de quem não costuma ver os árabes com bons olhos.

Kechiche adota um ponto de vista que é quase o do documentarista. Filma algumas seqüências em tempo real, como jantares, por exemplo. O resultado é um filme muito longo em termos de duração (150 minutos), mas que dá, como contrapartida, um aprofundamento na visão daquele mundo que deseja retratar. Esse procedimento, que parece natural até certo ponto da história, derrapa um pouco no final, quando dificuldades folhetinescas parecem apenas funcionar no sentido de provocar alguma tensão no enredo. Não precisaria desse recurso. A trama toda já estava armada e as idéias bem encaminhadas e com equilíbrio. Essas derrapadas diminuem um pouco o impacto desse bom filme.

(Caderno 2, 11/7/08)

Quando concorreu ano passado em Veneza (onde ganhou dois prêmios, o Especial do Júri e o de atriz estreante), O Segredo do Grão foi comparado à escola italiana do neo-realismo. Faz algum sentido. Como nos primeiros filmes de Roberto Rossellini e Vittorio de Sica, também o de Abdel Kechiche trabalha bastante com atores não-profissionais. Também o centro da atenção de Kechiche, como fazia a escola italiana do após-guerra, põe no centro da ação o homem do povo, o trabalhador, sempre em luta para ganhar seu pão, enfrentando o desemprego ou as más condições de serviço.

Mas aqui acabam as comparações, mesmo porque se os velhos mestres falavam de uma Itália arrasada pela guerra perdida, Kechiche reporta-se à afluente Europa Unificada, dona da moeda forte e estável e, em tese, em condições de oferecer a melhor das vidas aos seus cidadãos. Como se sabe, não é bem o que acontece. Na Europa globalizada também acontece o desemprego. As fronteiras, ao invés de cair, tornaram-se mais rígidas ainda. E, apesar da mobilidade global (ou por causa dela) os preconceitos tornaram-se, se não maiores, pelo menos mais evidentes.

É nesta situação que acompanhamos a trajetória do sessentão Slimane (Habib Boufares), velho demais para continuar seu trabalho no estaleiro. Tornou-se lento para o padrão dominante, e terá de encontrar outra coisa para viver. Talvez abrir um restaurante já que sua ex-mulher cozinha um cuscuz marroquino como ninguém. Mas, para colocar o plano em pé, Slimane tem de negociar com as autoridades francesas. E, sobretudo, ganhar a confiança de quem não costuma ver os árabes com bons olhos.

Kechiche adota um ponto de vista que é quase o do documentarista. Filma algumas seqüências em tempo real, como jantares, por exemplo. O resultado é um filme muito longo em termos de duração (150 minutos), mas que dá, como contrapartida, um aprofundamento na visão daquele mundo que deseja retratar. Esse procedimento, que parece natural até certo ponto da história, derrapa um pouco no final, quando dificuldades folhetinescas parecem apenas funcionar no sentido de provocar alguma tensão no enredo. Não precisaria desse recurso. A trama toda já estava armada e as idéias bem encaminhadas e com equilíbrio. Essas derrapadas diminuem um pouco o impacto desse bom filme.

(Caderno 2, 11/7/08)

Quando concorreu ano passado em Veneza (onde ganhou dois prêmios, o Especial do Júri e o de atriz estreante), O Segredo do Grão foi comparado à escola italiana do neo-realismo. Faz algum sentido. Como nos primeiros filmes de Roberto Rossellini e Vittorio de Sica, também o de Abdel Kechiche trabalha bastante com atores não-profissionais. Também o centro da atenção de Kechiche, como fazia a escola italiana do após-guerra, põe no centro da ação o homem do povo, o trabalhador, sempre em luta para ganhar seu pão, enfrentando o desemprego ou as más condições de serviço.

Mas aqui acabam as comparações, mesmo porque se os velhos mestres falavam de uma Itália arrasada pela guerra perdida, Kechiche reporta-se à afluente Europa Unificada, dona da moeda forte e estável e, em tese, em condições de oferecer a melhor das vidas aos seus cidadãos. Como se sabe, não é bem o que acontece. Na Europa globalizada também acontece o desemprego. As fronteiras, ao invés de cair, tornaram-se mais rígidas ainda. E, apesar da mobilidade global (ou por causa dela) os preconceitos tornaram-se, se não maiores, pelo menos mais evidentes.

É nesta situação que acompanhamos a trajetória do sessentão Slimane (Habib Boufares), velho demais para continuar seu trabalho no estaleiro. Tornou-se lento para o padrão dominante, e terá de encontrar outra coisa para viver. Talvez abrir um restaurante já que sua ex-mulher cozinha um cuscuz marroquino como ninguém. Mas, para colocar o plano em pé, Slimane tem de negociar com as autoridades francesas. E, sobretudo, ganhar a confiança de quem não costuma ver os árabes com bons olhos.

Kechiche adota um ponto de vista que é quase o do documentarista. Filma algumas seqüências em tempo real, como jantares, por exemplo. O resultado é um filme muito longo em termos de duração (150 minutos), mas que dá, como contrapartida, um aprofundamento na visão daquele mundo que deseja retratar. Esse procedimento, que parece natural até certo ponto da história, derrapa um pouco no final, quando dificuldades folhetinescas parecem apenas funcionar no sentido de provocar alguma tensão no enredo. Não precisaria desse recurso. A trama toda já estava armada e as idéias bem encaminhadas e com equilíbrio. Essas derrapadas diminuem um pouco o impacto desse bom filme.

(Caderno 2, 11/7/08)

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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