Pequenas neuroses contemporâneas

Opinião|O Show do Assédio


Por Marcelo Rubens Paiva

É um programa a que todos os machos héteros deveriam assistir.

The Morning Show, série sensação da nova Apple TV + (com indicações aos mais importantes prêmios, Globo de Ouro, Critic's Choice e Screen Actors Guild), chega ao fim sexta-feira (dia 20).

O assédio sexual vira Plot A (trama principal).

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Práticas então bobinhas, que muitos de nós praticamos no dia a dia em ambientes de trabalho por décadas, são questionadas: gracejos, elogios, cantadas, mãos bobas, nada bem-vindas em qualquer ambiente, ainda mais profissional, com a conivência de chefes, subalternos e a paciência infindável das vítimas, na grande maioria mulheres.

Vi tudo isso em muitos lugares em que trabalhei em 37 anos de carreira. E, provavelmente, falei ou fiz alguma merda para alguma colega. Como a grande maioria.

Fiquei chocado com a série, especialmente porque trabalhei em redações de televisão, estúdios, programas diários tensos, e na imprensa escrita. É assim mesmo. Ou era?

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Vi chefes e não chefes assediarem (sim, vi chefas assediarem também), pessoas serem promovida não por conta do talento jornalístico, e, sobretudo, a complacência de todos, como se aquilo fosse a norma, rotina, comum.

Vi o mesmo em sets de filmagem, universidades e grupos de teatro. Minha geração não é vítima, mas réu.

Cheguei a trabalhar numa empresa em que se dizia (piadinha de corredor), que o RH passou a contratar mulheres feias e assumidamente gays para diminuir a libido dos editores.

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A série foi inspirada no livro Top of the Morning: Inside the Cutthroat World of Morning TV, do jornalista Brian Stelter (de 2013), que passou em branco e retrata os bastidores dos mornings shows, tradição americana- programas matinais em que um casal, nem sempre casado, apresenta as notícias de uma maneira mais sensacionalista e "informal".

No livro, a disputa pela audiência entre os notórios Good Morning America e Today Show.

A Apple TV foi além. Afinal, entre o livro e a série, ocorreu a denúncia contra o predador sexual Harvey Weinstein, produtor de Hollywood, e o movimento feminista que mudou o mundo, Meetoo, deu numa avalanche de denúncias que respingou em todos os países, inclusive no Brasil.

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Na série, Alex Levy, âncora do The Morning Show (Jennifer Aniston), é abalada pela notícia de que seu par de bancada e melhor amigo por 15 anos, Mitch Kessler (Steve Karell), foi pego num escândalo de má conduta sexual e demitido. Atordoada, para substitui-lo, ela mesma escolhe a novata Bradley Jackson (Reese Witherspoon), sem os vícios da grande imprensa, nova geração.

Mitch não se considera um predador, como seu melhor amigo também acusado, cineasta inspirado em Polanski e Woody Allen.

Alex não se considera complacente, mas via tudo, abafava e sorria.

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Uma cena choca.

Mitch e Alex são maquiados na bancada segundos antes de entrarem no ar. Ele elogia o vestido da maquiadora, que sorri amarelo. Diz para Alex: "Você deveria usar este vestido. Assim, ela estaria pelada".

Alex sorri, diz: "A primeira do dia de Mitch". E começa o show de hipocrisia da televisão.

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Vergonha do que vi e fiquei calado.

Vergonha de como nós, homens, incomodamos por anos colegas. Que só querem trabalhar, numa sociedade patriarcal, machista, mesmo ganhando menos e ouvindo coisas inconvenientes.

 

É um programa a que todos os machos héteros deveriam assistir.

The Morning Show, série sensação da nova Apple TV + (com indicações aos mais importantes prêmios, Globo de Ouro, Critic's Choice e Screen Actors Guild), chega ao fim sexta-feira (dia 20).

O assédio sexual vira Plot A (trama principal).

Práticas então bobinhas, que muitos de nós praticamos no dia a dia em ambientes de trabalho por décadas, são questionadas: gracejos, elogios, cantadas, mãos bobas, nada bem-vindas em qualquer ambiente, ainda mais profissional, com a conivência de chefes, subalternos e a paciência infindável das vítimas, na grande maioria mulheres.

Vi tudo isso em muitos lugares em que trabalhei em 37 anos de carreira. E, provavelmente, falei ou fiz alguma merda para alguma colega. Como a grande maioria.

Fiquei chocado com a série, especialmente porque trabalhei em redações de televisão, estúdios, programas diários tensos, e na imprensa escrita. É assim mesmo. Ou era?

Vi chefes e não chefes assediarem (sim, vi chefas assediarem também), pessoas serem promovida não por conta do talento jornalístico, e, sobretudo, a complacência de todos, como se aquilo fosse a norma, rotina, comum.

Vi o mesmo em sets de filmagem, universidades e grupos de teatro. Minha geração não é vítima, mas réu.

Cheguei a trabalhar numa empresa em que se dizia (piadinha de corredor), que o RH passou a contratar mulheres feias e assumidamente gays para diminuir a libido dos editores.

A série foi inspirada no livro Top of the Morning: Inside the Cutthroat World of Morning TV, do jornalista Brian Stelter (de 2013), que passou em branco e retrata os bastidores dos mornings shows, tradição americana- programas matinais em que um casal, nem sempre casado, apresenta as notícias de uma maneira mais sensacionalista e "informal".

No livro, a disputa pela audiência entre os notórios Good Morning America e Today Show.

A Apple TV foi além. Afinal, entre o livro e a série, ocorreu a denúncia contra o predador sexual Harvey Weinstein, produtor de Hollywood, e o movimento feminista que mudou o mundo, Meetoo, deu numa avalanche de denúncias que respingou em todos os países, inclusive no Brasil.

Na série, Alex Levy, âncora do The Morning Show (Jennifer Aniston), é abalada pela notícia de que seu par de bancada e melhor amigo por 15 anos, Mitch Kessler (Steve Karell), foi pego num escândalo de má conduta sexual e demitido. Atordoada, para substitui-lo, ela mesma escolhe a novata Bradley Jackson (Reese Witherspoon), sem os vícios da grande imprensa, nova geração.

Mitch não se considera um predador, como seu melhor amigo também acusado, cineasta inspirado em Polanski e Woody Allen.

Alex não se considera complacente, mas via tudo, abafava e sorria.

Uma cena choca.

Mitch e Alex são maquiados na bancada segundos antes de entrarem no ar. Ele elogia o vestido da maquiadora, que sorri amarelo. Diz para Alex: "Você deveria usar este vestido. Assim, ela estaria pelada".

Alex sorri, diz: "A primeira do dia de Mitch". E começa o show de hipocrisia da televisão.

Vergonha do que vi e fiquei calado.

Vergonha de como nós, homens, incomodamos por anos colegas. Que só querem trabalhar, numa sociedade patriarcal, machista, mesmo ganhando menos e ouvindo coisas inconvenientes.

 

É um programa a que todos os machos héteros deveriam assistir.

The Morning Show, série sensação da nova Apple TV + (com indicações aos mais importantes prêmios, Globo de Ouro, Critic's Choice e Screen Actors Guild), chega ao fim sexta-feira (dia 20).

O assédio sexual vira Plot A (trama principal).

Práticas então bobinhas, que muitos de nós praticamos no dia a dia em ambientes de trabalho por décadas, são questionadas: gracejos, elogios, cantadas, mãos bobas, nada bem-vindas em qualquer ambiente, ainda mais profissional, com a conivência de chefes, subalternos e a paciência infindável das vítimas, na grande maioria mulheres.

Vi tudo isso em muitos lugares em que trabalhei em 37 anos de carreira. E, provavelmente, falei ou fiz alguma merda para alguma colega. Como a grande maioria.

Fiquei chocado com a série, especialmente porque trabalhei em redações de televisão, estúdios, programas diários tensos, e na imprensa escrita. É assim mesmo. Ou era?

Vi chefes e não chefes assediarem (sim, vi chefas assediarem também), pessoas serem promovida não por conta do talento jornalístico, e, sobretudo, a complacência de todos, como se aquilo fosse a norma, rotina, comum.

Vi o mesmo em sets de filmagem, universidades e grupos de teatro. Minha geração não é vítima, mas réu.

Cheguei a trabalhar numa empresa em que se dizia (piadinha de corredor), que o RH passou a contratar mulheres feias e assumidamente gays para diminuir a libido dos editores.

A série foi inspirada no livro Top of the Morning: Inside the Cutthroat World of Morning TV, do jornalista Brian Stelter (de 2013), que passou em branco e retrata os bastidores dos mornings shows, tradição americana- programas matinais em que um casal, nem sempre casado, apresenta as notícias de uma maneira mais sensacionalista e "informal".

No livro, a disputa pela audiência entre os notórios Good Morning America e Today Show.

A Apple TV foi além. Afinal, entre o livro e a série, ocorreu a denúncia contra o predador sexual Harvey Weinstein, produtor de Hollywood, e o movimento feminista que mudou o mundo, Meetoo, deu numa avalanche de denúncias que respingou em todos os países, inclusive no Brasil.

Na série, Alex Levy, âncora do The Morning Show (Jennifer Aniston), é abalada pela notícia de que seu par de bancada e melhor amigo por 15 anos, Mitch Kessler (Steve Karell), foi pego num escândalo de má conduta sexual e demitido. Atordoada, para substitui-lo, ela mesma escolhe a novata Bradley Jackson (Reese Witherspoon), sem os vícios da grande imprensa, nova geração.

Mitch não se considera um predador, como seu melhor amigo também acusado, cineasta inspirado em Polanski e Woody Allen.

Alex não se considera complacente, mas via tudo, abafava e sorria.

Uma cena choca.

Mitch e Alex são maquiados na bancada segundos antes de entrarem no ar. Ele elogia o vestido da maquiadora, que sorri amarelo. Diz para Alex: "Você deveria usar este vestido. Assim, ela estaria pelada".

Alex sorri, diz: "A primeira do dia de Mitch". E começa o show de hipocrisia da televisão.

Vergonha do que vi e fiquei calado.

Vergonha de como nós, homens, incomodamos por anos colegas. Que só querem trabalhar, numa sociedade patriarcal, machista, mesmo ganhando menos e ouvindo coisas inconvenientes.

 

É um programa a que todos os machos héteros deveriam assistir.

The Morning Show, série sensação da nova Apple TV + (com indicações aos mais importantes prêmios, Globo de Ouro, Critic's Choice e Screen Actors Guild), chega ao fim sexta-feira (dia 20).

O assédio sexual vira Plot A (trama principal).

Práticas então bobinhas, que muitos de nós praticamos no dia a dia em ambientes de trabalho por décadas, são questionadas: gracejos, elogios, cantadas, mãos bobas, nada bem-vindas em qualquer ambiente, ainda mais profissional, com a conivência de chefes, subalternos e a paciência infindável das vítimas, na grande maioria mulheres.

Vi tudo isso em muitos lugares em que trabalhei em 37 anos de carreira. E, provavelmente, falei ou fiz alguma merda para alguma colega. Como a grande maioria.

Fiquei chocado com a série, especialmente porque trabalhei em redações de televisão, estúdios, programas diários tensos, e na imprensa escrita. É assim mesmo. Ou era?

Vi chefes e não chefes assediarem (sim, vi chefas assediarem também), pessoas serem promovida não por conta do talento jornalístico, e, sobretudo, a complacência de todos, como se aquilo fosse a norma, rotina, comum.

Vi o mesmo em sets de filmagem, universidades e grupos de teatro. Minha geração não é vítima, mas réu.

Cheguei a trabalhar numa empresa em que se dizia (piadinha de corredor), que o RH passou a contratar mulheres feias e assumidamente gays para diminuir a libido dos editores.

A série foi inspirada no livro Top of the Morning: Inside the Cutthroat World of Morning TV, do jornalista Brian Stelter (de 2013), que passou em branco e retrata os bastidores dos mornings shows, tradição americana- programas matinais em que um casal, nem sempre casado, apresenta as notícias de uma maneira mais sensacionalista e "informal".

No livro, a disputa pela audiência entre os notórios Good Morning America e Today Show.

A Apple TV foi além. Afinal, entre o livro e a série, ocorreu a denúncia contra o predador sexual Harvey Weinstein, produtor de Hollywood, e o movimento feminista que mudou o mundo, Meetoo, deu numa avalanche de denúncias que respingou em todos os países, inclusive no Brasil.

Na série, Alex Levy, âncora do The Morning Show (Jennifer Aniston), é abalada pela notícia de que seu par de bancada e melhor amigo por 15 anos, Mitch Kessler (Steve Karell), foi pego num escândalo de má conduta sexual e demitido. Atordoada, para substitui-lo, ela mesma escolhe a novata Bradley Jackson (Reese Witherspoon), sem os vícios da grande imprensa, nova geração.

Mitch não se considera um predador, como seu melhor amigo também acusado, cineasta inspirado em Polanski e Woody Allen.

Alex não se considera complacente, mas via tudo, abafava e sorria.

Uma cena choca.

Mitch e Alex são maquiados na bancada segundos antes de entrarem no ar. Ele elogia o vestido da maquiadora, que sorri amarelo. Diz para Alex: "Você deveria usar este vestido. Assim, ela estaria pelada".

Alex sorri, diz: "A primeira do dia de Mitch". E começa o show de hipocrisia da televisão.

Vergonha do que vi e fiquei calado.

Vergonha de como nós, homens, incomodamos por anos colegas. Que só querem trabalhar, numa sociedade patriarcal, machista, mesmo ganhando menos e ouvindo coisas inconvenientes.

 

Opinião por Marcelo Rubens Paiva

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