Há autores que jogam uma grande lente sobre os seres humanos para conseguir detectar suas relações com a sociedade em que vivem, a forma como se inserem no mundo. Outros preferem ampliar detalhes e ali buscar, por meio da lente de aumento da arte, as dores e alegrias das relações pessoais, que exigem sensibilidade fina para serem percebidos. Assim parece ser a dramaturgia do francês Eric-Emmanuel Schmitt, a julgar pela parte de sua obra que chega ao Brasil. Ele é o autor de Variações Enigmáticas, que Paulo Autran levou ao palco e tratava de um triângulo amoroso. Agora, Autran é o tradutor do novo texto de Schmitt que estréia hoje inaugurando o teatro do Hotel Jaraguá, em São Paulo - "Pequenos Crimes Conjugais". Sob direção de Márcio Aurélio, Maria Fernanda Cândido e Petrônio Gontijo são os intérpretes de Lisa e Gilberto, um casal que passa por uma situação inusitada. Após um acidente, ele perdeu a memória. Tudo o que pode saber de sua vida - e sobretudo de sua relação conjugal - vem de Lisa. Como eles viviam juntos? Eram felizes? Quem pode responder a isso? Além da dificuldade emocional - como reconstituir um afeto construído ao longo dos anos sem a memória dos pequenos atos? - a peça tem ainda um clima de suspense. Será que Lisa conta a verdade? Qual terá sido a causa do acidente? Gilberto está mesmo sem memória ou finge? ´O autor partiu de uma pergunta muito interessante: o que teria acontecido com Romeu e Julieta se eles tivessem sobrevivido? A paixão acaba e a peça é sobre isso, sobre a diferença entre a paixão e amor, este último construído no olhar diário´, diz Márcio Aurélio. A grande sacada do autor é a perda de memória, que exige diálogo. Como tirar tempo para avaliar profundamente uma relação? É o que promete essa montagem que certamente provocará a identificação de muitos casais na platéia. Pequenos Crimes Conjugais. 75 min. 12 anos. Teatro Jaraguá (280 lug.). Rua Martins Fontes, 71, 3255-4280. Hoje e amanhã, 21h. 6.ª, 21h30; sáb., 21h; dom., 19 h. R$ 60. Até 10/12
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