Bodas de Eva


Nilton Bonder comenta as relações humanas a partir de Adão e Eva

Por Nilton Bonder

Um comentário de mais de dois mil anos faz menção ao primeiro casamento: as bodas de Adão e Eva. Segundo este, o evento foi organizado pelo Criador (quem mais?) e contou, além de dossel matrimonial, com Kushta – aramaico para “moda” – que alinhou a primeira noiva.

Isso tudo ocorre antes de Adão e Eva provarem da maçã! Então como produzir alfaias antes de alfaiates ou como vestir antes de qualquer paramento? Que recursos disporia o Criador para embelezar Eva quando ainda não existiam roupas? O comentário acrescenta que Lilith  – a mítica esposa preterida por Adão –, ao vê-la adornada, emitiu uma dolorida interjeição: “O quê?!” Que moda desprovida de roupa teria a potência de incitar encantamento a noivos e despeito a concorrências?

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O rabino Nilton Bonder. Foto: Divulgação

Eva não dispunha sequer de um vestido Tarkhan (a veste mais antiga conhecida, datada de 3500 AC), algo que surgiria em coleção três séculos depois (1). Ao mesmo tempo, o mundo criado em setembro (2), no alto verão do hemisfério norte, já lá não pediria tanta roupa!

Kushta (moda) é abrilhantar a elegância que já é própria. O Criador, em seu primeiro desafio como estilista, sabia que não poderia errar a mão e desfigurá-la, mas tão somente vesti-la na harmonia de sua própria forma. A moda não é conformar ao que se usa por aí, mas personificar para que, mais do que bela, se esteja segura.

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Porém, antes da roupa, o corpo já possuía figurinos que o vestiam: a pele, os olhos, os cabelos, as sobrancelhas, os cílios e as unhas. Sem ter que cobrir nada, o Criador destacou a pele com fragrâncias e pigmentos, encantou os cabelos com penteados e óleos, emoldurou os olhos com maquiagens e realçou cílios e sobrancelhas com rena. E no lugar certo, uma pedra preciosa; e no detalhe, uma flor. E eis que Eva ficou apurada, mais Eva do que nunca.

E assim Kushta, a moda, produziu o interesse do noivo mesmo sem sequer existir a nudez; e comprovou em Lilith o conselho da estilista Kimora Lee – “sempre se apresente como se fosse encontrar com sua pior inimiga!” Esperamos que, em vez de inveja, Lilith tenha aderido a Kushta, a arte de dar modo e cuidado a si própria.

 

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1.Na contagem bíblica, o ano zero foi há 5.780 anos.

2. O mundo teria sido criado em Tishrei, em torno de setembro.

 

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Nilton Bonder é rabino, autor de 23 livros traduzidos em 18 idiomas, dois deles adaptados ao teatro e cinema.

Fundador do Centro Cultural Midrash no RJ, dramaturgo de Cura, próximo trabalho da Cia. de Dança Deborah Colker, e da peça Eros, com direção de Marcio Abreu.

Um comentário de mais de dois mil anos faz menção ao primeiro casamento: as bodas de Adão e Eva. Segundo este, o evento foi organizado pelo Criador (quem mais?) e contou, além de dossel matrimonial, com Kushta – aramaico para “moda” – que alinhou a primeira noiva.

Isso tudo ocorre antes de Adão e Eva provarem da maçã! Então como produzir alfaias antes de alfaiates ou como vestir antes de qualquer paramento? Que recursos disporia o Criador para embelezar Eva quando ainda não existiam roupas? O comentário acrescenta que Lilith  – a mítica esposa preterida por Adão –, ao vê-la adornada, emitiu uma dolorida interjeição: “O quê?!” Que moda desprovida de roupa teria a potência de incitar encantamento a noivos e despeito a concorrências?

O rabino Nilton Bonder. Foto: Divulgação

Eva não dispunha sequer de um vestido Tarkhan (a veste mais antiga conhecida, datada de 3500 AC), algo que surgiria em coleção três séculos depois (1). Ao mesmo tempo, o mundo criado em setembro (2), no alto verão do hemisfério norte, já lá não pediria tanta roupa!

Kushta (moda) é abrilhantar a elegância que já é própria. O Criador, em seu primeiro desafio como estilista, sabia que não poderia errar a mão e desfigurá-la, mas tão somente vesti-la na harmonia de sua própria forma. A moda não é conformar ao que se usa por aí, mas personificar para que, mais do que bela, se esteja segura.

Porém, antes da roupa, o corpo já possuía figurinos que o vestiam: a pele, os olhos, os cabelos, as sobrancelhas, os cílios e as unhas. Sem ter que cobrir nada, o Criador destacou a pele com fragrâncias e pigmentos, encantou os cabelos com penteados e óleos, emoldurou os olhos com maquiagens e realçou cílios e sobrancelhas com rena. E no lugar certo, uma pedra preciosa; e no detalhe, uma flor. E eis que Eva ficou apurada, mais Eva do que nunca.

E assim Kushta, a moda, produziu o interesse do noivo mesmo sem sequer existir a nudez; e comprovou em Lilith o conselho da estilista Kimora Lee – “sempre se apresente como se fosse encontrar com sua pior inimiga!” Esperamos que, em vez de inveja, Lilith tenha aderido a Kushta, a arte de dar modo e cuidado a si própria.

 

1.Na contagem bíblica, o ano zero foi há 5.780 anos.

2. O mundo teria sido criado em Tishrei, em torno de setembro.

 

Nilton Bonder é rabino, autor de 23 livros traduzidos em 18 idiomas, dois deles adaptados ao teatro e cinema.

Fundador do Centro Cultural Midrash no RJ, dramaturgo de Cura, próximo trabalho da Cia. de Dança Deborah Colker, e da peça Eros, com direção de Marcio Abreu.

Um comentário de mais de dois mil anos faz menção ao primeiro casamento: as bodas de Adão e Eva. Segundo este, o evento foi organizado pelo Criador (quem mais?) e contou, além de dossel matrimonial, com Kushta – aramaico para “moda” – que alinhou a primeira noiva.

Isso tudo ocorre antes de Adão e Eva provarem da maçã! Então como produzir alfaias antes de alfaiates ou como vestir antes de qualquer paramento? Que recursos disporia o Criador para embelezar Eva quando ainda não existiam roupas? O comentário acrescenta que Lilith  – a mítica esposa preterida por Adão –, ao vê-la adornada, emitiu uma dolorida interjeição: “O quê?!” Que moda desprovida de roupa teria a potência de incitar encantamento a noivos e despeito a concorrências?

O rabino Nilton Bonder. Foto: Divulgação

Eva não dispunha sequer de um vestido Tarkhan (a veste mais antiga conhecida, datada de 3500 AC), algo que surgiria em coleção três séculos depois (1). Ao mesmo tempo, o mundo criado em setembro (2), no alto verão do hemisfério norte, já lá não pediria tanta roupa!

Kushta (moda) é abrilhantar a elegância que já é própria. O Criador, em seu primeiro desafio como estilista, sabia que não poderia errar a mão e desfigurá-la, mas tão somente vesti-la na harmonia de sua própria forma. A moda não é conformar ao que se usa por aí, mas personificar para que, mais do que bela, se esteja segura.

Porém, antes da roupa, o corpo já possuía figurinos que o vestiam: a pele, os olhos, os cabelos, as sobrancelhas, os cílios e as unhas. Sem ter que cobrir nada, o Criador destacou a pele com fragrâncias e pigmentos, encantou os cabelos com penteados e óleos, emoldurou os olhos com maquiagens e realçou cílios e sobrancelhas com rena. E no lugar certo, uma pedra preciosa; e no detalhe, uma flor. E eis que Eva ficou apurada, mais Eva do que nunca.

E assim Kushta, a moda, produziu o interesse do noivo mesmo sem sequer existir a nudez; e comprovou em Lilith o conselho da estilista Kimora Lee – “sempre se apresente como se fosse encontrar com sua pior inimiga!” Esperamos que, em vez de inveja, Lilith tenha aderido a Kushta, a arte de dar modo e cuidado a si própria.

 

1.Na contagem bíblica, o ano zero foi há 5.780 anos.

2. O mundo teria sido criado em Tishrei, em torno de setembro.

 

Nilton Bonder é rabino, autor de 23 livros traduzidos em 18 idiomas, dois deles adaptados ao teatro e cinema.

Fundador do Centro Cultural Midrash no RJ, dramaturgo de Cura, próximo trabalho da Cia. de Dança Deborah Colker, e da peça Eros, com direção de Marcio Abreu.

Um comentário de mais de dois mil anos faz menção ao primeiro casamento: as bodas de Adão e Eva. Segundo este, o evento foi organizado pelo Criador (quem mais?) e contou, além de dossel matrimonial, com Kushta – aramaico para “moda” – que alinhou a primeira noiva.

Isso tudo ocorre antes de Adão e Eva provarem da maçã! Então como produzir alfaias antes de alfaiates ou como vestir antes de qualquer paramento? Que recursos disporia o Criador para embelezar Eva quando ainda não existiam roupas? O comentário acrescenta que Lilith  – a mítica esposa preterida por Adão –, ao vê-la adornada, emitiu uma dolorida interjeição: “O quê?!” Que moda desprovida de roupa teria a potência de incitar encantamento a noivos e despeito a concorrências?

O rabino Nilton Bonder. Foto: Divulgação

Eva não dispunha sequer de um vestido Tarkhan (a veste mais antiga conhecida, datada de 3500 AC), algo que surgiria em coleção três séculos depois (1). Ao mesmo tempo, o mundo criado em setembro (2), no alto verão do hemisfério norte, já lá não pediria tanta roupa!

Kushta (moda) é abrilhantar a elegância que já é própria. O Criador, em seu primeiro desafio como estilista, sabia que não poderia errar a mão e desfigurá-la, mas tão somente vesti-la na harmonia de sua própria forma. A moda não é conformar ao que se usa por aí, mas personificar para que, mais do que bela, se esteja segura.

Porém, antes da roupa, o corpo já possuía figurinos que o vestiam: a pele, os olhos, os cabelos, as sobrancelhas, os cílios e as unhas. Sem ter que cobrir nada, o Criador destacou a pele com fragrâncias e pigmentos, encantou os cabelos com penteados e óleos, emoldurou os olhos com maquiagens e realçou cílios e sobrancelhas com rena. E no lugar certo, uma pedra preciosa; e no detalhe, uma flor. E eis que Eva ficou apurada, mais Eva do que nunca.

E assim Kushta, a moda, produziu o interesse do noivo mesmo sem sequer existir a nudez; e comprovou em Lilith o conselho da estilista Kimora Lee – “sempre se apresente como se fosse encontrar com sua pior inimiga!” Esperamos que, em vez de inveja, Lilith tenha aderido a Kushta, a arte de dar modo e cuidado a si própria.

 

1.Na contagem bíblica, o ano zero foi há 5.780 anos.

2. O mundo teria sido criado em Tishrei, em torno de setembro.

 

Nilton Bonder é rabino, autor de 23 livros traduzidos em 18 idiomas, dois deles adaptados ao teatro e cinema.

Fundador do Centro Cultural Midrash no RJ, dramaturgo de Cura, próximo trabalho da Cia. de Dança Deborah Colker, e da peça Eros, com direção de Marcio Abreu.

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