A volta de Eliana Pittman, pioneira e glamourosa show woman negra do País


Cantora acabou sendo vítima de longo ostracismo somente comparável ao de outro ícone black, Wilson Simonal

Por Rodrigo Faour

Numa época em que as cantoras negras só tinham vez como sambistas, Eliana Pittman já começou com espírito de superstar. Usando a expressão da moda, foi nossa primeira cantora negra “empoderada”. Desde cedo, já cantava de tudo, aprendendo dentro de casa o glamour negro do showbusiness norte-americano quando sua mãe, Ofélia, separada de seu pai biológico, encantou-se com o suingue do jazzista Booker Pittman, e foi viver com ele em 1958.

Em pouco tempo, já se tratavam como pai e filha, e ele mostrou-lhe discos de Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan, suas primeiras “professoras”. Aos 14, ensaiaram um número juntos e logo já atuavam em gravações, rádio, TV, e excursionavam por Argentina, Alemanha e Estados Unidos, quando estudou canto com o coach de Barbra Streisand.

Memória. No show Momento 68, Eliana Pittman ao lado de Caetano Veloso, Lennie Dale, Gilberto Gil, Walmor Chagas e Raul Cortez Foto: Arquivo Pessoal
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Na volta, seu pai lhe disse que chegara a hora de conhecer a música da sua terra, e levou-a ao desfile das escolas de samba cariocas. Encantada, iniciou a tradição de se gravar sambas-enredo, com O Mundo Encantado de Monteiro Lobato, em 1967. 

Nessa época, Booker foi diagnosticado com câncer na laringe. Além de cantar em várias línguas com sua pegada jazzy explosiva, Eliana passou a contar anedotas e interagir mais com seu público, definindo seu estilo show woman pelo qual ficaria conhecida, sendo convidada a atuar em grandes palcos internacionais até meados dos anos 1970.

Lançou Geraldo Azevedo e algumas das primeiras canções de Martinho da Vila, Gonzaguinha e João Nogueira. Deste último, estourou Das 200 Para Lá (Esse Mar É Meu) em 1972, sendo levada ao escaninho das negras sambistas, mas fez sucesso mesmo com o carimbó. A seguir, quiseram fazer dela a rainha da disco music no país. Ela recusou. Com sua personalidade forte, sempre ao lado da inseparável mãe-empresária, Ofélia, que por ter sofrido muito na vida (pobreza, machismo e racismo), tentava promovê-la a qualquer custo, Eliana acabou sendo vítima de longo ostracismo somente comparável ao de outro ícone black, Wilson Simonal.

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Tive a oportunidade de dirigi-la num show. Embora por vezes popular demais na interação com a plateia, ela só gosta de cantar melodias sofisticadas, com arranjos criados por ela, sempre bem vestida e maquiada. Imperativa e exigente, tudo tinha que ser do seu jeito. Cantando em palcos modestos, o glamour e o profissionalismo em cena evocavam seus tempos áureos. 

Eliana Pittman nunca se rebaixou ou quis o mais fácil. Isso talvez explique esse hiato tão extenso. Agora ela tem tudo para retomar seu posto. Continua bonita, cantando bem, suingada e com seu glamour negro natural intacto, talhado por papai Booker (neto do educador Booker T. Washington, que fundou a primeira universidade para negros nos EUA) e mamãe Ofélia (que desde pequena frequentava a Frente Negra Brasileira, criada por seu tio em São Paulo). Eles a ensinaram a pensar grande e a não se rebaixar ou se contentar com migalhas.

RODRIGO FAOUR É JORNALISTA, PRODUTOR E HISTORIADOR DE MÚSICA BRASILEIRA

Numa época em que as cantoras negras só tinham vez como sambistas, Eliana Pittman já começou com espírito de superstar. Usando a expressão da moda, foi nossa primeira cantora negra “empoderada”. Desde cedo, já cantava de tudo, aprendendo dentro de casa o glamour negro do showbusiness norte-americano quando sua mãe, Ofélia, separada de seu pai biológico, encantou-se com o suingue do jazzista Booker Pittman, e foi viver com ele em 1958.

Em pouco tempo, já se tratavam como pai e filha, e ele mostrou-lhe discos de Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan, suas primeiras “professoras”. Aos 14, ensaiaram um número juntos e logo já atuavam em gravações, rádio, TV, e excursionavam por Argentina, Alemanha e Estados Unidos, quando estudou canto com o coach de Barbra Streisand.

Memória. No show Momento 68, Eliana Pittman ao lado de Caetano Veloso, Lennie Dale, Gilberto Gil, Walmor Chagas e Raul Cortez Foto: Arquivo Pessoal

Na volta, seu pai lhe disse que chegara a hora de conhecer a música da sua terra, e levou-a ao desfile das escolas de samba cariocas. Encantada, iniciou a tradição de se gravar sambas-enredo, com O Mundo Encantado de Monteiro Lobato, em 1967. 

Nessa época, Booker foi diagnosticado com câncer na laringe. Além de cantar em várias línguas com sua pegada jazzy explosiva, Eliana passou a contar anedotas e interagir mais com seu público, definindo seu estilo show woman pelo qual ficaria conhecida, sendo convidada a atuar em grandes palcos internacionais até meados dos anos 1970.

Lançou Geraldo Azevedo e algumas das primeiras canções de Martinho da Vila, Gonzaguinha e João Nogueira. Deste último, estourou Das 200 Para Lá (Esse Mar É Meu) em 1972, sendo levada ao escaninho das negras sambistas, mas fez sucesso mesmo com o carimbó. A seguir, quiseram fazer dela a rainha da disco music no país. Ela recusou. Com sua personalidade forte, sempre ao lado da inseparável mãe-empresária, Ofélia, que por ter sofrido muito na vida (pobreza, machismo e racismo), tentava promovê-la a qualquer custo, Eliana acabou sendo vítima de longo ostracismo somente comparável ao de outro ícone black, Wilson Simonal.

Tive a oportunidade de dirigi-la num show. Embora por vezes popular demais na interação com a plateia, ela só gosta de cantar melodias sofisticadas, com arranjos criados por ela, sempre bem vestida e maquiada. Imperativa e exigente, tudo tinha que ser do seu jeito. Cantando em palcos modestos, o glamour e o profissionalismo em cena evocavam seus tempos áureos. 

Eliana Pittman nunca se rebaixou ou quis o mais fácil. Isso talvez explique esse hiato tão extenso. Agora ela tem tudo para retomar seu posto. Continua bonita, cantando bem, suingada e com seu glamour negro natural intacto, talhado por papai Booker (neto do educador Booker T. Washington, que fundou a primeira universidade para negros nos EUA) e mamãe Ofélia (que desde pequena frequentava a Frente Negra Brasileira, criada por seu tio em São Paulo). Eles a ensinaram a pensar grande e a não se rebaixar ou se contentar com migalhas.

RODRIGO FAOUR É JORNALISTA, PRODUTOR E HISTORIADOR DE MÚSICA BRASILEIRA

Numa época em que as cantoras negras só tinham vez como sambistas, Eliana Pittman já começou com espírito de superstar. Usando a expressão da moda, foi nossa primeira cantora negra “empoderada”. Desde cedo, já cantava de tudo, aprendendo dentro de casa o glamour negro do showbusiness norte-americano quando sua mãe, Ofélia, separada de seu pai biológico, encantou-se com o suingue do jazzista Booker Pittman, e foi viver com ele em 1958.

Em pouco tempo, já se tratavam como pai e filha, e ele mostrou-lhe discos de Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan, suas primeiras “professoras”. Aos 14, ensaiaram um número juntos e logo já atuavam em gravações, rádio, TV, e excursionavam por Argentina, Alemanha e Estados Unidos, quando estudou canto com o coach de Barbra Streisand.

Memória. No show Momento 68, Eliana Pittman ao lado de Caetano Veloso, Lennie Dale, Gilberto Gil, Walmor Chagas e Raul Cortez Foto: Arquivo Pessoal

Na volta, seu pai lhe disse que chegara a hora de conhecer a música da sua terra, e levou-a ao desfile das escolas de samba cariocas. Encantada, iniciou a tradição de se gravar sambas-enredo, com O Mundo Encantado de Monteiro Lobato, em 1967. 

Nessa época, Booker foi diagnosticado com câncer na laringe. Além de cantar em várias línguas com sua pegada jazzy explosiva, Eliana passou a contar anedotas e interagir mais com seu público, definindo seu estilo show woman pelo qual ficaria conhecida, sendo convidada a atuar em grandes palcos internacionais até meados dos anos 1970.

Lançou Geraldo Azevedo e algumas das primeiras canções de Martinho da Vila, Gonzaguinha e João Nogueira. Deste último, estourou Das 200 Para Lá (Esse Mar É Meu) em 1972, sendo levada ao escaninho das negras sambistas, mas fez sucesso mesmo com o carimbó. A seguir, quiseram fazer dela a rainha da disco music no país. Ela recusou. Com sua personalidade forte, sempre ao lado da inseparável mãe-empresária, Ofélia, que por ter sofrido muito na vida (pobreza, machismo e racismo), tentava promovê-la a qualquer custo, Eliana acabou sendo vítima de longo ostracismo somente comparável ao de outro ícone black, Wilson Simonal.

Tive a oportunidade de dirigi-la num show. Embora por vezes popular demais na interação com a plateia, ela só gosta de cantar melodias sofisticadas, com arranjos criados por ela, sempre bem vestida e maquiada. Imperativa e exigente, tudo tinha que ser do seu jeito. Cantando em palcos modestos, o glamour e o profissionalismo em cena evocavam seus tempos áureos. 

Eliana Pittman nunca se rebaixou ou quis o mais fácil. Isso talvez explique esse hiato tão extenso. Agora ela tem tudo para retomar seu posto. Continua bonita, cantando bem, suingada e com seu glamour negro natural intacto, talhado por papai Booker (neto do educador Booker T. Washington, que fundou a primeira universidade para negros nos EUA) e mamãe Ofélia (que desde pequena frequentava a Frente Negra Brasileira, criada por seu tio em São Paulo). Eles a ensinaram a pensar grande e a não se rebaixar ou se contentar com migalhas.

RODRIGO FAOUR É JORNALISTA, PRODUTOR E HISTORIADOR DE MÚSICA BRASILEIRA

Numa época em que as cantoras negras só tinham vez como sambistas, Eliana Pittman já começou com espírito de superstar. Usando a expressão da moda, foi nossa primeira cantora negra “empoderada”. Desde cedo, já cantava de tudo, aprendendo dentro de casa o glamour negro do showbusiness norte-americano quando sua mãe, Ofélia, separada de seu pai biológico, encantou-se com o suingue do jazzista Booker Pittman, e foi viver com ele em 1958.

Em pouco tempo, já se tratavam como pai e filha, e ele mostrou-lhe discos de Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan, suas primeiras “professoras”. Aos 14, ensaiaram um número juntos e logo já atuavam em gravações, rádio, TV, e excursionavam por Argentina, Alemanha e Estados Unidos, quando estudou canto com o coach de Barbra Streisand.

Memória. No show Momento 68, Eliana Pittman ao lado de Caetano Veloso, Lennie Dale, Gilberto Gil, Walmor Chagas e Raul Cortez Foto: Arquivo Pessoal

Na volta, seu pai lhe disse que chegara a hora de conhecer a música da sua terra, e levou-a ao desfile das escolas de samba cariocas. Encantada, iniciou a tradição de se gravar sambas-enredo, com O Mundo Encantado de Monteiro Lobato, em 1967. 

Nessa época, Booker foi diagnosticado com câncer na laringe. Além de cantar em várias línguas com sua pegada jazzy explosiva, Eliana passou a contar anedotas e interagir mais com seu público, definindo seu estilo show woman pelo qual ficaria conhecida, sendo convidada a atuar em grandes palcos internacionais até meados dos anos 1970.

Lançou Geraldo Azevedo e algumas das primeiras canções de Martinho da Vila, Gonzaguinha e João Nogueira. Deste último, estourou Das 200 Para Lá (Esse Mar É Meu) em 1972, sendo levada ao escaninho das negras sambistas, mas fez sucesso mesmo com o carimbó. A seguir, quiseram fazer dela a rainha da disco music no país. Ela recusou. Com sua personalidade forte, sempre ao lado da inseparável mãe-empresária, Ofélia, que por ter sofrido muito na vida (pobreza, machismo e racismo), tentava promovê-la a qualquer custo, Eliana acabou sendo vítima de longo ostracismo somente comparável ao de outro ícone black, Wilson Simonal.

Tive a oportunidade de dirigi-la num show. Embora por vezes popular demais na interação com a plateia, ela só gosta de cantar melodias sofisticadas, com arranjos criados por ela, sempre bem vestida e maquiada. Imperativa e exigente, tudo tinha que ser do seu jeito. Cantando em palcos modestos, o glamour e o profissionalismo em cena evocavam seus tempos áureos. 

Eliana Pittman nunca se rebaixou ou quis o mais fácil. Isso talvez explique esse hiato tão extenso. Agora ela tem tudo para retomar seu posto. Continua bonita, cantando bem, suingada e com seu glamour negro natural intacto, talhado por papai Booker (neto do educador Booker T. Washington, que fundou a primeira universidade para negros nos EUA) e mamãe Ofélia (que desde pequena frequentava a Frente Negra Brasileira, criada por seu tio em São Paulo). Eles a ensinaram a pensar grande e a não se rebaixar ou se contentar com migalhas.

RODRIGO FAOUR É JORNALISTA, PRODUTOR E HISTORIADOR DE MÚSICA BRASILEIRA

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