Análise: Em vez de ouvir a bateria que tocava, Wilson das Neves ouvia a música que fazia


Sua bateria era um ato de humanidade, um gesto, uma entrega incondicional

Por Julio Maria

Os novos não terão de Wilson das Neves vídeos no YouTube nos quais ele exibe solos arrebatadores. A banda jamais parava para que fizesse seu número particular e justificasse o barulho em torno de seu nome. Assim, sem seus prodígios evidenciados pela estratégia do velho solo de bateria que o samba jazz importou dos norte-americanos, o que é que poderia fazer de Wilson Das Neves um nome a se prestar reverências? Eis a lição deste capítulo.

Wilson era o garçom que vinha discreto, tirava o pedido do cliente, ia até a cozinha e retornava com o melhor prato. O garçom é um homem invisível. O que deve brilhar é o pedido do cliente. Sua bateria era um ato de humanidade, um gesto, uma entrega incondicional. “Não importa o que você é, importa o que você faz”, a voz do pai ressoava. As mãos leves, mais da condução do que das viradas, mais de caixa do que dos pratos, tocava um instrumento ao qual o próprio Das Neves não colocava como prioridade em sua vida. Mais do que extasiar-se com a bateria que tocava, ele se divertia com a música que, por acaso, ajudava a erguer. E como são poucos os músicos que podem ouvir a música que fazem em vez do instrumento que tocam.

Aos 80.No ano passado, ele sorria para comemorar oito décadas Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
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Ao lado de Elza Soares, em 1968, Das Neves, já um ponto fora da curva, poderia colocar força e peso em um teste de ego violento. Afinal, Elza não poupava recursos, indo onde podia e não podia com a voz em movimentos explosivos e arrebatadores. Quando se colocaram a tocar Deixa isso Pra Lá, com muitas partes apenas em voz e bateria, ele dava sua lição. O prato, além de servir para condução do samba, como havia criado Edison Machado, era também uma peça para se investir em improvisos. E tudo com calor e leveza.

Das Neves gostava de grupos cheios, orquestras de baile e formações de gafieira, ao mesmo tempo em que carregava a carga dos toques afros dos terreiros do candomblé que frequentava com a mãe. O álbum O Som Quente é o Das Neves, de 1969 (ele lançaria um segundo disco com o mesmo nome, dez anos depois), o mostra em ação conduzindo um som com tudo o que acontecia a seu redor. De Se Você Pensa, de Roberto e Erasmo, a Fly me To The Moon, faz um sobrevoo nos grooves de sua vida sem um minuto de surto ególatra. Ele até poderia ter os seus, mas a música que fazia era mais importante do que a bateria que tocava.

Os novos não terão de Wilson das Neves vídeos no YouTube nos quais ele exibe solos arrebatadores. A banda jamais parava para que fizesse seu número particular e justificasse o barulho em torno de seu nome. Assim, sem seus prodígios evidenciados pela estratégia do velho solo de bateria que o samba jazz importou dos norte-americanos, o que é que poderia fazer de Wilson Das Neves um nome a se prestar reverências? Eis a lição deste capítulo.

Wilson era o garçom que vinha discreto, tirava o pedido do cliente, ia até a cozinha e retornava com o melhor prato. O garçom é um homem invisível. O que deve brilhar é o pedido do cliente. Sua bateria era um ato de humanidade, um gesto, uma entrega incondicional. “Não importa o que você é, importa o que você faz”, a voz do pai ressoava. As mãos leves, mais da condução do que das viradas, mais de caixa do que dos pratos, tocava um instrumento ao qual o próprio Das Neves não colocava como prioridade em sua vida. Mais do que extasiar-se com a bateria que tocava, ele se divertia com a música que, por acaso, ajudava a erguer. E como são poucos os músicos que podem ouvir a música que fazem em vez do instrumento que tocam.

Aos 80.No ano passado, ele sorria para comemorar oito décadas Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO

Ao lado de Elza Soares, em 1968, Das Neves, já um ponto fora da curva, poderia colocar força e peso em um teste de ego violento. Afinal, Elza não poupava recursos, indo onde podia e não podia com a voz em movimentos explosivos e arrebatadores. Quando se colocaram a tocar Deixa isso Pra Lá, com muitas partes apenas em voz e bateria, ele dava sua lição. O prato, além de servir para condução do samba, como havia criado Edison Machado, era também uma peça para se investir em improvisos. E tudo com calor e leveza.

Das Neves gostava de grupos cheios, orquestras de baile e formações de gafieira, ao mesmo tempo em que carregava a carga dos toques afros dos terreiros do candomblé que frequentava com a mãe. O álbum O Som Quente é o Das Neves, de 1969 (ele lançaria um segundo disco com o mesmo nome, dez anos depois), o mostra em ação conduzindo um som com tudo o que acontecia a seu redor. De Se Você Pensa, de Roberto e Erasmo, a Fly me To The Moon, faz um sobrevoo nos grooves de sua vida sem um minuto de surto ególatra. Ele até poderia ter os seus, mas a música que fazia era mais importante do que a bateria que tocava.

Os novos não terão de Wilson das Neves vídeos no YouTube nos quais ele exibe solos arrebatadores. A banda jamais parava para que fizesse seu número particular e justificasse o barulho em torno de seu nome. Assim, sem seus prodígios evidenciados pela estratégia do velho solo de bateria que o samba jazz importou dos norte-americanos, o que é que poderia fazer de Wilson Das Neves um nome a se prestar reverências? Eis a lição deste capítulo.

Wilson era o garçom que vinha discreto, tirava o pedido do cliente, ia até a cozinha e retornava com o melhor prato. O garçom é um homem invisível. O que deve brilhar é o pedido do cliente. Sua bateria era um ato de humanidade, um gesto, uma entrega incondicional. “Não importa o que você é, importa o que você faz”, a voz do pai ressoava. As mãos leves, mais da condução do que das viradas, mais de caixa do que dos pratos, tocava um instrumento ao qual o próprio Das Neves não colocava como prioridade em sua vida. Mais do que extasiar-se com a bateria que tocava, ele se divertia com a música que, por acaso, ajudava a erguer. E como são poucos os músicos que podem ouvir a música que fazem em vez do instrumento que tocam.

Aos 80.No ano passado, ele sorria para comemorar oito décadas Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO

Ao lado de Elza Soares, em 1968, Das Neves, já um ponto fora da curva, poderia colocar força e peso em um teste de ego violento. Afinal, Elza não poupava recursos, indo onde podia e não podia com a voz em movimentos explosivos e arrebatadores. Quando se colocaram a tocar Deixa isso Pra Lá, com muitas partes apenas em voz e bateria, ele dava sua lição. O prato, além de servir para condução do samba, como havia criado Edison Machado, era também uma peça para se investir em improvisos. E tudo com calor e leveza.

Das Neves gostava de grupos cheios, orquestras de baile e formações de gafieira, ao mesmo tempo em que carregava a carga dos toques afros dos terreiros do candomblé que frequentava com a mãe. O álbum O Som Quente é o Das Neves, de 1969 (ele lançaria um segundo disco com o mesmo nome, dez anos depois), o mostra em ação conduzindo um som com tudo o que acontecia a seu redor. De Se Você Pensa, de Roberto e Erasmo, a Fly me To The Moon, faz um sobrevoo nos grooves de sua vida sem um minuto de surto ególatra. Ele até poderia ter os seus, mas a música que fazia era mais importante do que a bateria que tocava.

Os novos não terão de Wilson das Neves vídeos no YouTube nos quais ele exibe solos arrebatadores. A banda jamais parava para que fizesse seu número particular e justificasse o barulho em torno de seu nome. Assim, sem seus prodígios evidenciados pela estratégia do velho solo de bateria que o samba jazz importou dos norte-americanos, o que é que poderia fazer de Wilson Das Neves um nome a se prestar reverências? Eis a lição deste capítulo.

Wilson era o garçom que vinha discreto, tirava o pedido do cliente, ia até a cozinha e retornava com o melhor prato. O garçom é um homem invisível. O que deve brilhar é o pedido do cliente. Sua bateria era um ato de humanidade, um gesto, uma entrega incondicional. “Não importa o que você é, importa o que você faz”, a voz do pai ressoava. As mãos leves, mais da condução do que das viradas, mais de caixa do que dos pratos, tocava um instrumento ao qual o próprio Das Neves não colocava como prioridade em sua vida. Mais do que extasiar-se com a bateria que tocava, ele se divertia com a música que, por acaso, ajudava a erguer. E como são poucos os músicos que podem ouvir a música que fazem em vez do instrumento que tocam.

Aos 80.No ano passado, ele sorria para comemorar oito décadas Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO

Ao lado de Elza Soares, em 1968, Das Neves, já um ponto fora da curva, poderia colocar força e peso em um teste de ego violento. Afinal, Elza não poupava recursos, indo onde podia e não podia com a voz em movimentos explosivos e arrebatadores. Quando se colocaram a tocar Deixa isso Pra Lá, com muitas partes apenas em voz e bateria, ele dava sua lição. O prato, além de servir para condução do samba, como havia criado Edison Machado, era também uma peça para se investir em improvisos. E tudo com calor e leveza.

Das Neves gostava de grupos cheios, orquestras de baile e formações de gafieira, ao mesmo tempo em que carregava a carga dos toques afros dos terreiros do candomblé que frequentava com a mãe. O álbum O Som Quente é o Das Neves, de 1969 (ele lançaria um segundo disco com o mesmo nome, dez anos depois), o mostra em ação conduzindo um som com tudo o que acontecia a seu redor. De Se Você Pensa, de Roberto e Erasmo, a Fly me To The Moon, faz um sobrevoo nos grooves de sua vida sem um minuto de surto ególatra. Ele até poderia ter os seus, mas a música que fazia era mais importante do que a bateria que tocava.

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