Análise: Grammy foi tão conservador quanto um eleitor de Donald Trump


Ninguém ali está procurando por novidades e discursos politizados e de forte contestação não são bem-vindos

Por Julio Maria

Uma primeira análise poderia pegar carona na frase de Frank Ocean justificando o que o fez ignorar todo o barulho e nem sequer inscrever seus dois discos mais recentes, Endless e Blonde, para concorrer à premiação do Grammy: “Certamente, essa instituição tem uma importância nostálgica. No entanto, ela não representa muito bem as pessoas que vêm de onde eu venho, e que aguentam o que eu aguento”, afirmou ao jornal The New York Times.

Quem liga para o Grammy? De que vale uma estatueta dessas na estante da sala? O que muda na vida de quem a leva?

Adele com os cinco Grammys que ela ganhou, incluindo o de melhor álbum do ano, por '25' Foto: Mike Blake/Reuters
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A atitude de Ocean é respeitável, mas vai contra o que ele mesmo faz. Se quer ser mais coerente, precisa romper de fato com a indústria que o criou, a mesma de Jay-Z e Kanye West, e trilhar sua vida artística nos porões do underground. Se não fará isso, não adianta jogar pedras na premiação que simboliza apenas um dos estágios da linha de produção dos ídolos de massa criados pela única nação ainda capaz de fazê-los.

O Grammy importa, sim. Ao contrário de equivalentes brasileiros, como o Prêmio da Música Brasileira ou Prêmio Multishow da Música Brasileira, com todas as proporções resguardadas, ser a bola da vez por uma temporada pode amplificar planetariamente os ecos de uma carreira em curva ascendente. Foi depois de sair com alguns gramofones nos braços que Pharrell Williams e Sam Smith, por mais deficientes que ainda fossem para encarar plateias acima de 30 mil fãs, vieram parar até no Brasil.

Kendrick Lamar, coincidência ou não, parece abatido depois de perder a disputa de melhor álbum do ano para Taylor Swift em 2016. Há um ano, era ele, justificadamente, a promessa do rap, com a recriação de uma linguagem que o aproximava do jazz com uma liberdade jamais experimentada. Hoje, andamos dez passos para trás e colocamos no mesmo posto o jovem Chance the Rapper.

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A vitória de Adele superando Beyoncé requenta o debate de 2016 (de Taylor versus Lamar) e fortalece os argumentos de quem vê posicionamentos racistas nas escolhas. Mas é preciso ter calma. Mais profundo do que essa primeira constatação, nas camadas rochosas quase inatingíveis, está o pensamento de um povo e seus costumes, pelos quais o racismo também pode passar. O histórico do Grammy, reforçado a cada edição, aponta para um comportamento tão conservador quanto a cabeça de um eleitor de Donald Trump: 1. Ninguém ali está procurando por novidades. 2. Discursos politizados e de forte contestação não são bem-vindos. 3. Dentre um artista que saiba se repetir, com ou sem verdade nos olhos, e outro que tente surpreender seu público correndo riscos, o primeiro será sempre o escolhido. 4. Narrativas de afirmação racial ou sexual comovem tanto os jurados quanto uma apresentação de Weekend agrada a um verdadeiro fã de Michael Jackson. 5. O Grammy quer apenas produzir ídolos, não heróis.

Os 13 melhores momentos do Grammy 2017

1 | 14

Os 13 melhores momentos do Grammy 2017

Foto: Lucy Nicholson/REUTERS
2 | 14

Joyce Villa pró-Trump

Foto: REUTERS/Mario Anzuoni
3 | 14

James Corden como apresentador

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
4 | 14

Twenty One Pilots de cueca

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
5 | 14

David Bowie vence prêmio póstumo

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
6 | 14

The Weeknd se apresenta com Daft Punk

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
7 | 14

Beyoncé em apresentação histórica

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
8 | 14

Adele em homenagem a George Michael

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
9 | 14

Lady Gaga e Metallica

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
10 | 14

Tributo a Bee Gees

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
11 | 14

Apresentação com protesto de A Tribe Called Quest

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
12 | 14

Bruno Mars em homenagem a Prince

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
13 | 14

Adele dedica prêmios a Beyoncé

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
14 | 14

Rihanna é sucesso na internet

Foto: REUTERS/Mario Anzuoni

Uma primeira análise poderia pegar carona na frase de Frank Ocean justificando o que o fez ignorar todo o barulho e nem sequer inscrever seus dois discos mais recentes, Endless e Blonde, para concorrer à premiação do Grammy: “Certamente, essa instituição tem uma importância nostálgica. No entanto, ela não representa muito bem as pessoas que vêm de onde eu venho, e que aguentam o que eu aguento”, afirmou ao jornal The New York Times.

Quem liga para o Grammy? De que vale uma estatueta dessas na estante da sala? O que muda na vida de quem a leva?

Adele com os cinco Grammys que ela ganhou, incluindo o de melhor álbum do ano, por '25' Foto: Mike Blake/Reuters

A atitude de Ocean é respeitável, mas vai contra o que ele mesmo faz. Se quer ser mais coerente, precisa romper de fato com a indústria que o criou, a mesma de Jay-Z e Kanye West, e trilhar sua vida artística nos porões do underground. Se não fará isso, não adianta jogar pedras na premiação que simboliza apenas um dos estágios da linha de produção dos ídolos de massa criados pela única nação ainda capaz de fazê-los.

O Grammy importa, sim. Ao contrário de equivalentes brasileiros, como o Prêmio da Música Brasileira ou Prêmio Multishow da Música Brasileira, com todas as proporções resguardadas, ser a bola da vez por uma temporada pode amplificar planetariamente os ecos de uma carreira em curva ascendente. Foi depois de sair com alguns gramofones nos braços que Pharrell Williams e Sam Smith, por mais deficientes que ainda fossem para encarar plateias acima de 30 mil fãs, vieram parar até no Brasil.

Kendrick Lamar, coincidência ou não, parece abatido depois de perder a disputa de melhor álbum do ano para Taylor Swift em 2016. Há um ano, era ele, justificadamente, a promessa do rap, com a recriação de uma linguagem que o aproximava do jazz com uma liberdade jamais experimentada. Hoje, andamos dez passos para trás e colocamos no mesmo posto o jovem Chance the Rapper.

A vitória de Adele superando Beyoncé requenta o debate de 2016 (de Taylor versus Lamar) e fortalece os argumentos de quem vê posicionamentos racistas nas escolhas. Mas é preciso ter calma. Mais profundo do que essa primeira constatação, nas camadas rochosas quase inatingíveis, está o pensamento de um povo e seus costumes, pelos quais o racismo também pode passar. O histórico do Grammy, reforçado a cada edição, aponta para um comportamento tão conservador quanto a cabeça de um eleitor de Donald Trump: 1. Ninguém ali está procurando por novidades. 2. Discursos politizados e de forte contestação não são bem-vindos. 3. Dentre um artista que saiba se repetir, com ou sem verdade nos olhos, e outro que tente surpreender seu público correndo riscos, o primeiro será sempre o escolhido. 4. Narrativas de afirmação racial ou sexual comovem tanto os jurados quanto uma apresentação de Weekend agrada a um verdadeiro fã de Michael Jackson. 5. O Grammy quer apenas produzir ídolos, não heróis.

Os 13 melhores momentos do Grammy 2017

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Os 13 melhores momentos do Grammy 2017

Foto: Lucy Nicholson/REUTERS
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Foto: REUTERS/Mario Anzuoni
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James Corden como apresentador

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
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Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
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David Bowie vence prêmio póstumo

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
6 | 14

The Weeknd se apresenta com Daft Punk

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
7 | 14

Beyoncé em apresentação histórica

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
8 | 14

Adele em homenagem a George Michael

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
9 | 14

Lady Gaga e Metallica

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
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Tributo a Bee Gees

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
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Apresentação com protesto de A Tribe Called Quest

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
12 | 14

Bruno Mars em homenagem a Prince

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
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Adele dedica prêmios a Beyoncé

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
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Rihanna é sucesso na internet

Foto: REUTERS/Mario Anzuoni

Uma primeira análise poderia pegar carona na frase de Frank Ocean justificando o que o fez ignorar todo o barulho e nem sequer inscrever seus dois discos mais recentes, Endless e Blonde, para concorrer à premiação do Grammy: “Certamente, essa instituição tem uma importância nostálgica. No entanto, ela não representa muito bem as pessoas que vêm de onde eu venho, e que aguentam o que eu aguento”, afirmou ao jornal The New York Times.

Quem liga para o Grammy? De que vale uma estatueta dessas na estante da sala? O que muda na vida de quem a leva?

Adele com os cinco Grammys que ela ganhou, incluindo o de melhor álbum do ano, por '25' Foto: Mike Blake/Reuters

A atitude de Ocean é respeitável, mas vai contra o que ele mesmo faz. Se quer ser mais coerente, precisa romper de fato com a indústria que o criou, a mesma de Jay-Z e Kanye West, e trilhar sua vida artística nos porões do underground. Se não fará isso, não adianta jogar pedras na premiação que simboliza apenas um dos estágios da linha de produção dos ídolos de massa criados pela única nação ainda capaz de fazê-los.

O Grammy importa, sim. Ao contrário de equivalentes brasileiros, como o Prêmio da Música Brasileira ou Prêmio Multishow da Música Brasileira, com todas as proporções resguardadas, ser a bola da vez por uma temporada pode amplificar planetariamente os ecos de uma carreira em curva ascendente. Foi depois de sair com alguns gramofones nos braços que Pharrell Williams e Sam Smith, por mais deficientes que ainda fossem para encarar plateias acima de 30 mil fãs, vieram parar até no Brasil.

Kendrick Lamar, coincidência ou não, parece abatido depois de perder a disputa de melhor álbum do ano para Taylor Swift em 2016. Há um ano, era ele, justificadamente, a promessa do rap, com a recriação de uma linguagem que o aproximava do jazz com uma liberdade jamais experimentada. Hoje, andamos dez passos para trás e colocamos no mesmo posto o jovem Chance the Rapper.

A vitória de Adele superando Beyoncé requenta o debate de 2016 (de Taylor versus Lamar) e fortalece os argumentos de quem vê posicionamentos racistas nas escolhas. Mas é preciso ter calma. Mais profundo do que essa primeira constatação, nas camadas rochosas quase inatingíveis, está o pensamento de um povo e seus costumes, pelos quais o racismo também pode passar. O histórico do Grammy, reforçado a cada edição, aponta para um comportamento tão conservador quanto a cabeça de um eleitor de Donald Trump: 1. Ninguém ali está procurando por novidades. 2. Discursos politizados e de forte contestação não são bem-vindos. 3. Dentre um artista que saiba se repetir, com ou sem verdade nos olhos, e outro que tente surpreender seu público correndo riscos, o primeiro será sempre o escolhido. 4. Narrativas de afirmação racial ou sexual comovem tanto os jurados quanto uma apresentação de Weekend agrada a um verdadeiro fã de Michael Jackson. 5. O Grammy quer apenas produzir ídolos, não heróis.

Os 13 melhores momentos do Grammy 2017

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Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
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Adele dedica prêmios a Beyoncé

Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
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Rihanna é sucesso na internet

Foto: REUTERS/Mario Anzuoni

Uma primeira análise poderia pegar carona na frase de Frank Ocean justificando o que o fez ignorar todo o barulho e nem sequer inscrever seus dois discos mais recentes, Endless e Blonde, para concorrer à premiação do Grammy: “Certamente, essa instituição tem uma importância nostálgica. No entanto, ela não representa muito bem as pessoas que vêm de onde eu venho, e que aguentam o que eu aguento”, afirmou ao jornal The New York Times.

Quem liga para o Grammy? De que vale uma estatueta dessas na estante da sala? O que muda na vida de quem a leva?

Adele com os cinco Grammys que ela ganhou, incluindo o de melhor álbum do ano, por '25' Foto: Mike Blake/Reuters

A atitude de Ocean é respeitável, mas vai contra o que ele mesmo faz. Se quer ser mais coerente, precisa romper de fato com a indústria que o criou, a mesma de Jay-Z e Kanye West, e trilhar sua vida artística nos porões do underground. Se não fará isso, não adianta jogar pedras na premiação que simboliza apenas um dos estágios da linha de produção dos ídolos de massa criados pela única nação ainda capaz de fazê-los.

O Grammy importa, sim. Ao contrário de equivalentes brasileiros, como o Prêmio da Música Brasileira ou Prêmio Multishow da Música Brasileira, com todas as proporções resguardadas, ser a bola da vez por uma temporada pode amplificar planetariamente os ecos de uma carreira em curva ascendente. Foi depois de sair com alguns gramofones nos braços que Pharrell Williams e Sam Smith, por mais deficientes que ainda fossem para encarar plateias acima de 30 mil fãs, vieram parar até no Brasil.

Kendrick Lamar, coincidência ou não, parece abatido depois de perder a disputa de melhor álbum do ano para Taylor Swift em 2016. Há um ano, era ele, justificadamente, a promessa do rap, com a recriação de uma linguagem que o aproximava do jazz com uma liberdade jamais experimentada. Hoje, andamos dez passos para trás e colocamos no mesmo posto o jovem Chance the Rapper.

A vitória de Adele superando Beyoncé requenta o debate de 2016 (de Taylor versus Lamar) e fortalece os argumentos de quem vê posicionamentos racistas nas escolhas. Mas é preciso ter calma. Mais profundo do que essa primeira constatação, nas camadas rochosas quase inatingíveis, está o pensamento de um povo e seus costumes, pelos quais o racismo também pode passar. O histórico do Grammy, reforçado a cada edição, aponta para um comportamento tão conservador quanto a cabeça de um eleitor de Donald Trump: 1. Ninguém ali está procurando por novidades. 2. Discursos politizados e de forte contestação não são bem-vindos. 3. Dentre um artista que saiba se repetir, com ou sem verdade nos olhos, e outro que tente surpreender seu público correndo riscos, o primeiro será sempre o escolhido. 4. Narrativas de afirmação racial ou sexual comovem tanto os jurados quanto uma apresentação de Weekend agrada a um verdadeiro fã de Michael Jackson. 5. O Grammy quer apenas produzir ídolos, não heróis.

Os 13 melhores momentos do Grammy 2017

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David Bowie vence prêmio póstumo

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Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
7 | 14

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Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
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Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
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Foto: REUTERS/Lucy Nicholson
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11 | 14

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12 | 14

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Adele dedica prêmios a Beyoncé

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