'Deixar de viajar e fazer concertos foi algo difícil', diz o violoncelista Antonio Meneses


Antonio Meneses grava peça de Villa-Lobos na Sala São Paulo sob a regência Isaac Karabitchevsky e disco dedicado a Brahms

Por João Luiz Sampaio

Quando subiu ao palco da Sala São Paulo no final da semana passada, o violoncelista brasileiro Antonio Meneses reencontrou parceiros antigos após mais de 18 meses: os músicos da Osesp e o maestro Isaac Karabtchevsky. Na Suíça, onde ele mora, as regras de isolamento não foram rígidas, ele conta. “Mas deixar de viajar e fazer concertos para mim foi algo difícil. Era uma rotina com a qual estava acostumado e de uma hora para outra parar não foi fácil. Mas na vida tudo tem seu lado bom. Há muito tempo não conseguia ficar tanto tempo em casa, com minha mulher e minha cachorrinha Momo”, ele diz.

Meneses, Osesp e Karabtchevsky durante concertos no final da semana passada Foto: Isadora Vitti

As apresentações da semana passada com a orquestra e Karabtchevsky marcaram a reestreia de Meneses em São Paulo. Nelas, o violoncelista interpretou o Concerto para Violoncelo n.º 2 de Villa-Lobos (a récita de sexta-feira foi transmitida ao vivo e está disponível no canal do YouTube da Osesp). E, de segunda até hoje, ele esteve novamente na Sala São Paulo, agora sem a presença do público, para gravar a peça – parte de um projeto de registro de toda a obra do compositor (que era violoncelista) para violoncelo e orquestra, a ser lançada pelo selo Naxos, dentro da série Música do Brasil (ainda não há data de lançamento definida).

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O Concerto n.º 2 de Villa-Lobos foi escrito em 1953 e dedicado ao violoncelista Aldo Parisot, que o estreou dois anos depois em apresentação com a Filarmônica de Nova York, nos Estados Unidos. Não é a primeira vez que Meneses o grava. Em 1999, ele registrou a peça com a Orquestra Sinfônica da Galícia e o maestro Victor Pablo Pérez, em disco que tinha ainda o Concerto n.º 1 e a Fantasia. “Já faz muito tempo. E, com o passar dos anos, você incorpora novas ideias”, ele diz. “Mas, para ser bem sincero, acho que hoje gosto mais da peça. Nem sempre é fácil você se encontrar dentro dela. Às vezes, tudo parece um pouco truncado e você fica pensando: o que Villa-Lobos quis ao escrever isso, o que estava pensando nessa passagem? Hoje sinto que entendo melhor o que ele pede, em especial para a orquestra, e isso com certeza me ajuda a encontrar a música.”

Parceria

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Nesse processo, Meneses afirma que a presença do maestro Karabtchevsky foi decisiva. “O Isaac conhece muito bem a música sinfônica de Villa-Lobos, vem de uma gravação de todas as sinfonias dele com a própria Osesp. Então, de cara, estou trabalhando com um grupo e com um maestro que incorporaram a linguagem do compositor. E é realmente muito interessante trabalhar com o Isaac. Ele vai modificando a peça ao longo da interpretação, quer dizer, vai encontrando coisas dentro da partitura que só ele está vendo, e isso é estimulante.” Para Meneses, foi interessante gravar o concerto após realizar as apresentações ao vivo. “É algo que varia muito dependendo dos artistas envolvidos. Nas vezes em que gravei com o maestro Karajan, por exemplo, ele gostava de gravar as obras e somente depois interpretá-las ao vivo, para o público. Gravávamos no começo da semana e, no final de semana, tocávamos. Desta vez, foi o contrário. E confesso que eu, particularmente, prefiro assim. Pois você pode incorporar muito do que aprendeu ensaiando e depois tocando, e você tem a chance de repensar algumas coisas antes do registro. E o resultado é fantástico. Até porque o Isaac, no primeiro dia de gravações, já chegou com uma série de ideias novas, coisas interessantíssimas, que nasceram justamente da experiência ao vivo.” Ao longo de sua carreira, Meneses já gravou Villa-Lobos algumas vezes, em especial sua obra de câmara, com parceiras como as pianistas Celina Szrvinsk e Cristina Ortiz. No ano passado, lançou pelo Selo Sesc, com o violinista Claudio Cruz, o pianista Ricardo Castro e o violista Gabriel Marin, a integral dos trios do compositor, um dos mais importantes lançamentos discográficos recentes da música brasileira.  “Tudo ajuda quando você se dedica a um compositor. Gravar os trios com piano e violino, por exemplo, te oferece alguns elementos para compreender o mundo do Villa-Lobos, como sua música vai se transformando com o tempo. É interessante porque são justamente peças que vão refletindo diferentes etapas de sua criação. E isso você carrega para a interpretação de outras obras, sempre.”

Músico grava CD dedicado a Brahms

Antonio Meneses tem voltado à sua atividade normal na Europa. Deu aulas na Accademia Chigiana, na Itália; e, há cerca de dois meses, depois de participar do Festival du Jura, na Suíça, gravou um disco com um antigo parceiro musical e amigo, o pianista suíço Gerard Wyss.  “Nós escolhemos as duas sonatas para violoncelo de Brahms, além de transcrições para o instrumento de algumas de suas canções. E o resultado ficou muito bonito.” O disco será lançado no começo de 2022 pelo selo britânico Avie Records. “E nós estamos agora pensando na possibilidade de gravar um outro disco, desta vez dedicado à música francesa. Seriam peças como as sonatas de Debussy, Fauré, Saint-Saëns. É um projeto que me anima, poder voltar a essa música e em especial com o Wyss, que conhece tão bem esse repertório.” Fazer música de câmara é uma das marcas da trajetória de Meneses, que integrou o Trio Beaux Arts e estabeleceu parcerias marcantes com outros músicos, como os pianistas Menahem Pressler e Maria João Pires. “Com o isolamento, esse tipo de diálogo musical também ficou impossível”, ele diz.  Mas vai se tornando realidade mais uma vez – e, agora, ele se prepara para uma série de recitais ao lado do pianista Ricardo Castro que, como Meneses, é professor na Suíça, além de dirigir, na Bahia, o Neojiba, um dos mais importantes projetos de formação musical do país. Castro e Meneses farão em outubro, na Sala São Paulo, a integral das obras para violoncelo e piano de Beethoven. “Era algo que estava previsto para o ano passado, mas acabou cancelado por conta da pandemia. E surgiu a chance de fazer agora. Estive recentemente na Bahia com o Ricardo, ensaiando e acabamos tocando também na sala do Neojiba. Foi uma oportunidade de preparar o programa, afinal, apesar de termos gravado no ano passado os trios, somos um duo novo ainda.” Os recitais na Sala São Paulo acontecem nos dias 10 (com duas apresentações) e 11. Antes, porém, Meneses vai ao Uruguai tocar com a Filarmônica de Montevidéu, dirigida pela brasileira Ligia Amadio.

Quando subiu ao palco da Sala São Paulo no final da semana passada, o violoncelista brasileiro Antonio Meneses reencontrou parceiros antigos após mais de 18 meses: os músicos da Osesp e o maestro Isaac Karabtchevsky. Na Suíça, onde ele mora, as regras de isolamento não foram rígidas, ele conta. “Mas deixar de viajar e fazer concertos para mim foi algo difícil. Era uma rotina com a qual estava acostumado e de uma hora para outra parar não foi fácil. Mas na vida tudo tem seu lado bom. Há muito tempo não conseguia ficar tanto tempo em casa, com minha mulher e minha cachorrinha Momo”, ele diz.

Meneses, Osesp e Karabtchevsky durante concertos no final da semana passada Foto: Isadora Vitti

As apresentações da semana passada com a orquestra e Karabtchevsky marcaram a reestreia de Meneses em São Paulo. Nelas, o violoncelista interpretou o Concerto para Violoncelo n.º 2 de Villa-Lobos (a récita de sexta-feira foi transmitida ao vivo e está disponível no canal do YouTube da Osesp). E, de segunda até hoje, ele esteve novamente na Sala São Paulo, agora sem a presença do público, para gravar a peça – parte de um projeto de registro de toda a obra do compositor (que era violoncelista) para violoncelo e orquestra, a ser lançada pelo selo Naxos, dentro da série Música do Brasil (ainda não há data de lançamento definida).

O Concerto n.º 2 de Villa-Lobos foi escrito em 1953 e dedicado ao violoncelista Aldo Parisot, que o estreou dois anos depois em apresentação com a Filarmônica de Nova York, nos Estados Unidos. Não é a primeira vez que Meneses o grava. Em 1999, ele registrou a peça com a Orquestra Sinfônica da Galícia e o maestro Victor Pablo Pérez, em disco que tinha ainda o Concerto n.º 1 e a Fantasia. “Já faz muito tempo. E, com o passar dos anos, você incorpora novas ideias”, ele diz. “Mas, para ser bem sincero, acho que hoje gosto mais da peça. Nem sempre é fácil você se encontrar dentro dela. Às vezes, tudo parece um pouco truncado e você fica pensando: o que Villa-Lobos quis ao escrever isso, o que estava pensando nessa passagem? Hoje sinto que entendo melhor o que ele pede, em especial para a orquestra, e isso com certeza me ajuda a encontrar a música.”

Parceria

Nesse processo, Meneses afirma que a presença do maestro Karabtchevsky foi decisiva. “O Isaac conhece muito bem a música sinfônica de Villa-Lobos, vem de uma gravação de todas as sinfonias dele com a própria Osesp. Então, de cara, estou trabalhando com um grupo e com um maestro que incorporaram a linguagem do compositor. E é realmente muito interessante trabalhar com o Isaac. Ele vai modificando a peça ao longo da interpretação, quer dizer, vai encontrando coisas dentro da partitura que só ele está vendo, e isso é estimulante.” Para Meneses, foi interessante gravar o concerto após realizar as apresentações ao vivo. “É algo que varia muito dependendo dos artistas envolvidos. Nas vezes em que gravei com o maestro Karajan, por exemplo, ele gostava de gravar as obras e somente depois interpretá-las ao vivo, para o público. Gravávamos no começo da semana e, no final de semana, tocávamos. Desta vez, foi o contrário. E confesso que eu, particularmente, prefiro assim. Pois você pode incorporar muito do que aprendeu ensaiando e depois tocando, e você tem a chance de repensar algumas coisas antes do registro. E o resultado é fantástico. Até porque o Isaac, no primeiro dia de gravações, já chegou com uma série de ideias novas, coisas interessantíssimas, que nasceram justamente da experiência ao vivo.” Ao longo de sua carreira, Meneses já gravou Villa-Lobos algumas vezes, em especial sua obra de câmara, com parceiras como as pianistas Celina Szrvinsk e Cristina Ortiz. No ano passado, lançou pelo Selo Sesc, com o violinista Claudio Cruz, o pianista Ricardo Castro e o violista Gabriel Marin, a integral dos trios do compositor, um dos mais importantes lançamentos discográficos recentes da música brasileira.  “Tudo ajuda quando você se dedica a um compositor. Gravar os trios com piano e violino, por exemplo, te oferece alguns elementos para compreender o mundo do Villa-Lobos, como sua música vai se transformando com o tempo. É interessante porque são justamente peças que vão refletindo diferentes etapas de sua criação. E isso você carrega para a interpretação de outras obras, sempre.”

Músico grava CD dedicado a Brahms

Antonio Meneses tem voltado à sua atividade normal na Europa. Deu aulas na Accademia Chigiana, na Itália; e, há cerca de dois meses, depois de participar do Festival du Jura, na Suíça, gravou um disco com um antigo parceiro musical e amigo, o pianista suíço Gerard Wyss.  “Nós escolhemos as duas sonatas para violoncelo de Brahms, além de transcrições para o instrumento de algumas de suas canções. E o resultado ficou muito bonito.” O disco será lançado no começo de 2022 pelo selo britânico Avie Records. “E nós estamos agora pensando na possibilidade de gravar um outro disco, desta vez dedicado à música francesa. Seriam peças como as sonatas de Debussy, Fauré, Saint-Saëns. É um projeto que me anima, poder voltar a essa música e em especial com o Wyss, que conhece tão bem esse repertório.” Fazer música de câmara é uma das marcas da trajetória de Meneses, que integrou o Trio Beaux Arts e estabeleceu parcerias marcantes com outros músicos, como os pianistas Menahem Pressler e Maria João Pires. “Com o isolamento, esse tipo de diálogo musical também ficou impossível”, ele diz.  Mas vai se tornando realidade mais uma vez – e, agora, ele se prepara para uma série de recitais ao lado do pianista Ricardo Castro que, como Meneses, é professor na Suíça, além de dirigir, na Bahia, o Neojiba, um dos mais importantes projetos de formação musical do país. Castro e Meneses farão em outubro, na Sala São Paulo, a integral das obras para violoncelo e piano de Beethoven. “Era algo que estava previsto para o ano passado, mas acabou cancelado por conta da pandemia. E surgiu a chance de fazer agora. Estive recentemente na Bahia com o Ricardo, ensaiando e acabamos tocando também na sala do Neojiba. Foi uma oportunidade de preparar o programa, afinal, apesar de termos gravado no ano passado os trios, somos um duo novo ainda.” Os recitais na Sala São Paulo acontecem nos dias 10 (com duas apresentações) e 11. Antes, porém, Meneses vai ao Uruguai tocar com a Filarmônica de Montevidéu, dirigida pela brasileira Ligia Amadio.

Quando subiu ao palco da Sala São Paulo no final da semana passada, o violoncelista brasileiro Antonio Meneses reencontrou parceiros antigos após mais de 18 meses: os músicos da Osesp e o maestro Isaac Karabtchevsky. Na Suíça, onde ele mora, as regras de isolamento não foram rígidas, ele conta. “Mas deixar de viajar e fazer concertos para mim foi algo difícil. Era uma rotina com a qual estava acostumado e de uma hora para outra parar não foi fácil. Mas na vida tudo tem seu lado bom. Há muito tempo não conseguia ficar tanto tempo em casa, com minha mulher e minha cachorrinha Momo”, ele diz.

Meneses, Osesp e Karabtchevsky durante concertos no final da semana passada Foto: Isadora Vitti

As apresentações da semana passada com a orquestra e Karabtchevsky marcaram a reestreia de Meneses em São Paulo. Nelas, o violoncelista interpretou o Concerto para Violoncelo n.º 2 de Villa-Lobos (a récita de sexta-feira foi transmitida ao vivo e está disponível no canal do YouTube da Osesp). E, de segunda até hoje, ele esteve novamente na Sala São Paulo, agora sem a presença do público, para gravar a peça – parte de um projeto de registro de toda a obra do compositor (que era violoncelista) para violoncelo e orquestra, a ser lançada pelo selo Naxos, dentro da série Música do Brasil (ainda não há data de lançamento definida).

O Concerto n.º 2 de Villa-Lobos foi escrito em 1953 e dedicado ao violoncelista Aldo Parisot, que o estreou dois anos depois em apresentação com a Filarmônica de Nova York, nos Estados Unidos. Não é a primeira vez que Meneses o grava. Em 1999, ele registrou a peça com a Orquestra Sinfônica da Galícia e o maestro Victor Pablo Pérez, em disco que tinha ainda o Concerto n.º 1 e a Fantasia. “Já faz muito tempo. E, com o passar dos anos, você incorpora novas ideias”, ele diz. “Mas, para ser bem sincero, acho que hoje gosto mais da peça. Nem sempre é fácil você se encontrar dentro dela. Às vezes, tudo parece um pouco truncado e você fica pensando: o que Villa-Lobos quis ao escrever isso, o que estava pensando nessa passagem? Hoje sinto que entendo melhor o que ele pede, em especial para a orquestra, e isso com certeza me ajuda a encontrar a música.”

Parceria

Nesse processo, Meneses afirma que a presença do maestro Karabtchevsky foi decisiva. “O Isaac conhece muito bem a música sinfônica de Villa-Lobos, vem de uma gravação de todas as sinfonias dele com a própria Osesp. Então, de cara, estou trabalhando com um grupo e com um maestro que incorporaram a linguagem do compositor. E é realmente muito interessante trabalhar com o Isaac. Ele vai modificando a peça ao longo da interpretação, quer dizer, vai encontrando coisas dentro da partitura que só ele está vendo, e isso é estimulante.” Para Meneses, foi interessante gravar o concerto após realizar as apresentações ao vivo. “É algo que varia muito dependendo dos artistas envolvidos. Nas vezes em que gravei com o maestro Karajan, por exemplo, ele gostava de gravar as obras e somente depois interpretá-las ao vivo, para o público. Gravávamos no começo da semana e, no final de semana, tocávamos. Desta vez, foi o contrário. E confesso que eu, particularmente, prefiro assim. Pois você pode incorporar muito do que aprendeu ensaiando e depois tocando, e você tem a chance de repensar algumas coisas antes do registro. E o resultado é fantástico. Até porque o Isaac, no primeiro dia de gravações, já chegou com uma série de ideias novas, coisas interessantíssimas, que nasceram justamente da experiência ao vivo.” Ao longo de sua carreira, Meneses já gravou Villa-Lobos algumas vezes, em especial sua obra de câmara, com parceiras como as pianistas Celina Szrvinsk e Cristina Ortiz. No ano passado, lançou pelo Selo Sesc, com o violinista Claudio Cruz, o pianista Ricardo Castro e o violista Gabriel Marin, a integral dos trios do compositor, um dos mais importantes lançamentos discográficos recentes da música brasileira.  “Tudo ajuda quando você se dedica a um compositor. Gravar os trios com piano e violino, por exemplo, te oferece alguns elementos para compreender o mundo do Villa-Lobos, como sua música vai se transformando com o tempo. É interessante porque são justamente peças que vão refletindo diferentes etapas de sua criação. E isso você carrega para a interpretação de outras obras, sempre.”

Músico grava CD dedicado a Brahms

Antonio Meneses tem voltado à sua atividade normal na Europa. Deu aulas na Accademia Chigiana, na Itália; e, há cerca de dois meses, depois de participar do Festival du Jura, na Suíça, gravou um disco com um antigo parceiro musical e amigo, o pianista suíço Gerard Wyss.  “Nós escolhemos as duas sonatas para violoncelo de Brahms, além de transcrições para o instrumento de algumas de suas canções. E o resultado ficou muito bonito.” O disco será lançado no começo de 2022 pelo selo britânico Avie Records. “E nós estamos agora pensando na possibilidade de gravar um outro disco, desta vez dedicado à música francesa. Seriam peças como as sonatas de Debussy, Fauré, Saint-Saëns. É um projeto que me anima, poder voltar a essa música e em especial com o Wyss, que conhece tão bem esse repertório.” Fazer música de câmara é uma das marcas da trajetória de Meneses, que integrou o Trio Beaux Arts e estabeleceu parcerias marcantes com outros músicos, como os pianistas Menahem Pressler e Maria João Pires. “Com o isolamento, esse tipo de diálogo musical também ficou impossível”, ele diz.  Mas vai se tornando realidade mais uma vez – e, agora, ele se prepara para uma série de recitais ao lado do pianista Ricardo Castro que, como Meneses, é professor na Suíça, além de dirigir, na Bahia, o Neojiba, um dos mais importantes projetos de formação musical do país. Castro e Meneses farão em outubro, na Sala São Paulo, a integral das obras para violoncelo e piano de Beethoven. “Era algo que estava previsto para o ano passado, mas acabou cancelado por conta da pandemia. E surgiu a chance de fazer agora. Estive recentemente na Bahia com o Ricardo, ensaiando e acabamos tocando também na sala do Neojiba. Foi uma oportunidade de preparar o programa, afinal, apesar de termos gravado no ano passado os trios, somos um duo novo ainda.” Os recitais na Sala São Paulo acontecem nos dias 10 (com duas apresentações) e 11. Antes, porém, Meneses vai ao Uruguai tocar com a Filarmônica de Montevidéu, dirigida pela brasileira Ligia Amadio.

Quando subiu ao palco da Sala São Paulo no final da semana passada, o violoncelista brasileiro Antonio Meneses reencontrou parceiros antigos após mais de 18 meses: os músicos da Osesp e o maestro Isaac Karabtchevsky. Na Suíça, onde ele mora, as regras de isolamento não foram rígidas, ele conta. “Mas deixar de viajar e fazer concertos para mim foi algo difícil. Era uma rotina com a qual estava acostumado e de uma hora para outra parar não foi fácil. Mas na vida tudo tem seu lado bom. Há muito tempo não conseguia ficar tanto tempo em casa, com minha mulher e minha cachorrinha Momo”, ele diz.

Meneses, Osesp e Karabtchevsky durante concertos no final da semana passada Foto: Isadora Vitti

As apresentações da semana passada com a orquestra e Karabtchevsky marcaram a reestreia de Meneses em São Paulo. Nelas, o violoncelista interpretou o Concerto para Violoncelo n.º 2 de Villa-Lobos (a récita de sexta-feira foi transmitida ao vivo e está disponível no canal do YouTube da Osesp). E, de segunda até hoje, ele esteve novamente na Sala São Paulo, agora sem a presença do público, para gravar a peça – parte de um projeto de registro de toda a obra do compositor (que era violoncelista) para violoncelo e orquestra, a ser lançada pelo selo Naxos, dentro da série Música do Brasil (ainda não há data de lançamento definida).

O Concerto n.º 2 de Villa-Lobos foi escrito em 1953 e dedicado ao violoncelista Aldo Parisot, que o estreou dois anos depois em apresentação com a Filarmônica de Nova York, nos Estados Unidos. Não é a primeira vez que Meneses o grava. Em 1999, ele registrou a peça com a Orquestra Sinfônica da Galícia e o maestro Victor Pablo Pérez, em disco que tinha ainda o Concerto n.º 1 e a Fantasia. “Já faz muito tempo. E, com o passar dos anos, você incorpora novas ideias”, ele diz. “Mas, para ser bem sincero, acho que hoje gosto mais da peça. Nem sempre é fácil você se encontrar dentro dela. Às vezes, tudo parece um pouco truncado e você fica pensando: o que Villa-Lobos quis ao escrever isso, o que estava pensando nessa passagem? Hoje sinto que entendo melhor o que ele pede, em especial para a orquestra, e isso com certeza me ajuda a encontrar a música.”

Parceria

Nesse processo, Meneses afirma que a presença do maestro Karabtchevsky foi decisiva. “O Isaac conhece muito bem a música sinfônica de Villa-Lobos, vem de uma gravação de todas as sinfonias dele com a própria Osesp. Então, de cara, estou trabalhando com um grupo e com um maestro que incorporaram a linguagem do compositor. E é realmente muito interessante trabalhar com o Isaac. Ele vai modificando a peça ao longo da interpretação, quer dizer, vai encontrando coisas dentro da partitura que só ele está vendo, e isso é estimulante.” Para Meneses, foi interessante gravar o concerto após realizar as apresentações ao vivo. “É algo que varia muito dependendo dos artistas envolvidos. Nas vezes em que gravei com o maestro Karajan, por exemplo, ele gostava de gravar as obras e somente depois interpretá-las ao vivo, para o público. Gravávamos no começo da semana e, no final de semana, tocávamos. Desta vez, foi o contrário. E confesso que eu, particularmente, prefiro assim. Pois você pode incorporar muito do que aprendeu ensaiando e depois tocando, e você tem a chance de repensar algumas coisas antes do registro. E o resultado é fantástico. Até porque o Isaac, no primeiro dia de gravações, já chegou com uma série de ideias novas, coisas interessantíssimas, que nasceram justamente da experiência ao vivo.” Ao longo de sua carreira, Meneses já gravou Villa-Lobos algumas vezes, em especial sua obra de câmara, com parceiras como as pianistas Celina Szrvinsk e Cristina Ortiz. No ano passado, lançou pelo Selo Sesc, com o violinista Claudio Cruz, o pianista Ricardo Castro e o violista Gabriel Marin, a integral dos trios do compositor, um dos mais importantes lançamentos discográficos recentes da música brasileira.  “Tudo ajuda quando você se dedica a um compositor. Gravar os trios com piano e violino, por exemplo, te oferece alguns elementos para compreender o mundo do Villa-Lobos, como sua música vai se transformando com o tempo. É interessante porque são justamente peças que vão refletindo diferentes etapas de sua criação. E isso você carrega para a interpretação de outras obras, sempre.”

Músico grava CD dedicado a Brahms

Antonio Meneses tem voltado à sua atividade normal na Europa. Deu aulas na Accademia Chigiana, na Itália; e, há cerca de dois meses, depois de participar do Festival du Jura, na Suíça, gravou um disco com um antigo parceiro musical e amigo, o pianista suíço Gerard Wyss.  “Nós escolhemos as duas sonatas para violoncelo de Brahms, além de transcrições para o instrumento de algumas de suas canções. E o resultado ficou muito bonito.” O disco será lançado no começo de 2022 pelo selo britânico Avie Records. “E nós estamos agora pensando na possibilidade de gravar um outro disco, desta vez dedicado à música francesa. Seriam peças como as sonatas de Debussy, Fauré, Saint-Saëns. É um projeto que me anima, poder voltar a essa música e em especial com o Wyss, que conhece tão bem esse repertório.” Fazer música de câmara é uma das marcas da trajetória de Meneses, que integrou o Trio Beaux Arts e estabeleceu parcerias marcantes com outros músicos, como os pianistas Menahem Pressler e Maria João Pires. “Com o isolamento, esse tipo de diálogo musical também ficou impossível”, ele diz.  Mas vai se tornando realidade mais uma vez – e, agora, ele se prepara para uma série de recitais ao lado do pianista Ricardo Castro que, como Meneses, é professor na Suíça, além de dirigir, na Bahia, o Neojiba, um dos mais importantes projetos de formação musical do país. Castro e Meneses farão em outubro, na Sala São Paulo, a integral das obras para violoncelo e piano de Beethoven. “Era algo que estava previsto para o ano passado, mas acabou cancelado por conta da pandemia. E surgiu a chance de fazer agora. Estive recentemente na Bahia com o Ricardo, ensaiando e acabamos tocando também na sala do Neojiba. Foi uma oportunidade de preparar o programa, afinal, apesar de termos gravado no ano passado os trios, somos um duo novo ainda.” Os recitais na Sala São Paulo acontecem nos dias 10 (com duas apresentações) e 11. Antes, porém, Meneses vai ao Uruguai tocar com a Filarmônica de Montevidéu, dirigida pela brasileira Ligia Amadio.

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