Filho de Cássia Eller integra nova MPB


O talentoso compositor Chico Chico divide palco com Júlia Vargas, aposta da nova geração de cantoras

Por Roberta Pennafort

Ela canta com uma densidade rara de se ouvir na sua idade. Ele compõe com lirismo e eloquência. Júlia Vargas, de 26 anos, e Chico Chico, de 21, têm trabalhos independentes e poéticas particulares. Os shows conjuntos que vêm fazendo no Beco das Garrafas reúnem o melhor de cada um. “Tem gente que vai ao show porque conhece a Júlia e lá descobre que o Chico é um supercompositor. E os que vão pela curiosidade em relação ao Chico, e veem que a Júlia é uma cantora maravilhosa”, acredita o violonista Rodrigo Garcia, que os ladeia no palco e assina a direção musical.

O interesse por Chico a que Garcia se refere é pelo fato de ele ser Francisco Ribeiro Eller, filho único de Cássia Eller (1962-2001). As semelhanças físicas e no jeito de cantar e o temperamento tímido como o da mãe vêm sendo ressaltados desde que ele começou a se apresentar em público, em espaços pequenos da zona sul do Rio, e crescem agora, com o lançamento do primeiro CD da 2x0 Vargem Alta, banda da qual é compositor, vocalista e violonista.

Chico prefere que o foco seja a música, afinal, é dela, e dos encontros pessoais em torno dela, que o estudante de Geografia parece extrair mais alegria e deleite. “Entendo a curiosidade, e também teria. Mas me incomoda. Não era para eu estar dando essa entrevista, tem tanta gente boa fazendo música por aí... Era para ser só a Júlia”, ele diz. “É muito nítido para mim por que essas coisas acontecem. Eu sou filho dela, mas não é o que eu procuro. Não é legal quando o espaço que você tem é por causa da sua mãe. É como estar numa festa para a qual você não foi convidado.” Garcia também se inquieta com esse tipo de atenção, e principalmente com as comparações injustas: “Conheço as vozes da Cássia e do Chico a fundo, e não acho que se pareçam. Fora que ela com 40 anos não compunha como ele, e cantava mil vezes mais. Tem que parar com esse papo!”. Foi Cássia quem uniu Chico e Garcia, indelevelmente, e foi o violonista quem apresentou Chico a Júlia, quatro anos atrás. O músico, que tocaria com ela de 1997 até o fim da vida, e participou de três de seus CDs, conhecera Cássia um ano antes de o filho nascer. Na maternidade, lá estava ele, que seria nomeado padrinho.

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Os jovens Chico Chico (à esquerda) e Julia Vargas e o violonista Rodrigo Garcia em show no Beco das Garrafas Foto: OScar Vasconcelos/Divulgação

“Eu e o Chico sempre ouvimos muito som juntos. Fui vendo ele descobrindo as coisas, e depois veio essa safra de músicas boas”, conta Garcia, com orgulho, mas sem condescendência. “A Júlia eu conheci quando ela fez teste para a banda que eu acompanhava, a Nó Cego. Era tão boa que eu falei: ‘esquece essa banda toda bagunçada, vai ter sua carreira!’.”

Chico começou a compor não faz muito tempo, mas sempre gostou de escrever. Desde os 15 anos, teve banda. Tem 20 músicas compostas, e dez (uma, com o parceiro Kadu Mota) estão no CD do 2x0 Vargem Alta, produzido por Garcia e com participação de Júlia. O nome do grupo faz alusão a uma gíria de São Pedro da Serra, localidade bucólica da Região Serrana do Rio onde fica o sítio onde Garcia mora, e frequentada por Chico desde criança.

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Nos shows no Beco das Garrafas, para cerca de 60 pessoas, a plateia já cantarola versos como os de Notas de Cem: “Já sabemos muito bem, meu bem/ dos segredos escondidos nas notas de cem/ Já sabemos muito bem, meu bem/ Quem um dia teve amor hoje não vive sem/ E das duas, uma/ Ou você me acaba, ou você me arruma”.  Minha Voz também é destaque do show (“A minha voz sendo amplificada/ Mal gravada, desafinada e mal dizida/ A minha palavra de aço/ Dessoldada, desdobrada, enferrujada e carcomida/ Feito carne envelhecida, ultrapassada e fora de medida/ Feito as coisas dessa vida, ultrapassagem em hora proibida”). As Folhas da Praça Paris toca no rádio (“Eu não sei dizer da inveja que eu sinto/ Dessas folhas que caem em teu colo/ Na Praça Paris/ Que era o meu lugar/ Lugar de ser feliz”).

Era pra ser um mês de apresentações no Beco, que virou três. Nos dois próximos domingos, o trio estará na Casa de Cultura Laura Alvim. Para breve está marcado o lançamento do CD do 2x0 Vargem Alta, no Circo Voador. “Dá medo” migrar para um lugar maior, confessa Chico. “Mas não é só a gente”, ele emenda. No palco, estarão outras apostas do recém-criado selo Porangaraté, capitaneado por eles, e pelo qual, no mês passado, saiu o CD Segredo, com gravações caseiras feitas por Cássia Eller em 1983: Júlia, Terezina 12, Giras Gerais.

Júlia vai festejar o DVD que gravou no Teatro Municipal de Niterói – cidade para onde se deslocou ao deixar sua terra natal, o balneário turístico de Cabo Frio. O repertório se baseia em seu primeiro CD, de 2012, e tem inédita de Ivan Lins, que se encantou pela potência de sua interpretação, e declarou que Júlia “poderá se tornar uma das mais fortes presenças desta nova geração de cantoras”. Milton Nascimento também avaliza a jovem, e a convidou a participar de shows seus. “Júlia ainda vai dar o que falar”, ele profetizou.

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“Gosto de visitar territórios diferentes, a herança africana de Miriam Makeba (sul-africana), as canções de Cátia de França (da Paraíba) e de Claos Mózi (de Niterói)”, conta Júlia. “É legal não saber onde a onda vai bater.”

Ela canta com uma densidade rara de se ouvir na sua idade. Ele compõe com lirismo e eloquência. Júlia Vargas, de 26 anos, e Chico Chico, de 21, têm trabalhos independentes e poéticas particulares. Os shows conjuntos que vêm fazendo no Beco das Garrafas reúnem o melhor de cada um. “Tem gente que vai ao show porque conhece a Júlia e lá descobre que o Chico é um supercompositor. E os que vão pela curiosidade em relação ao Chico, e veem que a Júlia é uma cantora maravilhosa”, acredita o violonista Rodrigo Garcia, que os ladeia no palco e assina a direção musical.

O interesse por Chico a que Garcia se refere é pelo fato de ele ser Francisco Ribeiro Eller, filho único de Cássia Eller (1962-2001). As semelhanças físicas e no jeito de cantar e o temperamento tímido como o da mãe vêm sendo ressaltados desde que ele começou a se apresentar em público, em espaços pequenos da zona sul do Rio, e crescem agora, com o lançamento do primeiro CD da 2x0 Vargem Alta, banda da qual é compositor, vocalista e violonista.

Chico prefere que o foco seja a música, afinal, é dela, e dos encontros pessoais em torno dela, que o estudante de Geografia parece extrair mais alegria e deleite. “Entendo a curiosidade, e também teria. Mas me incomoda. Não era para eu estar dando essa entrevista, tem tanta gente boa fazendo música por aí... Era para ser só a Júlia”, ele diz. “É muito nítido para mim por que essas coisas acontecem. Eu sou filho dela, mas não é o que eu procuro. Não é legal quando o espaço que você tem é por causa da sua mãe. É como estar numa festa para a qual você não foi convidado.” Garcia também se inquieta com esse tipo de atenção, e principalmente com as comparações injustas: “Conheço as vozes da Cássia e do Chico a fundo, e não acho que se pareçam. Fora que ela com 40 anos não compunha como ele, e cantava mil vezes mais. Tem que parar com esse papo!”. Foi Cássia quem uniu Chico e Garcia, indelevelmente, e foi o violonista quem apresentou Chico a Júlia, quatro anos atrás. O músico, que tocaria com ela de 1997 até o fim da vida, e participou de três de seus CDs, conhecera Cássia um ano antes de o filho nascer. Na maternidade, lá estava ele, que seria nomeado padrinho.

Os jovens Chico Chico (à esquerda) e Julia Vargas e o violonista Rodrigo Garcia em show no Beco das Garrafas Foto: OScar Vasconcelos/Divulgação

“Eu e o Chico sempre ouvimos muito som juntos. Fui vendo ele descobrindo as coisas, e depois veio essa safra de músicas boas”, conta Garcia, com orgulho, mas sem condescendência. “A Júlia eu conheci quando ela fez teste para a banda que eu acompanhava, a Nó Cego. Era tão boa que eu falei: ‘esquece essa banda toda bagunçada, vai ter sua carreira!’.”

Chico começou a compor não faz muito tempo, mas sempre gostou de escrever. Desde os 15 anos, teve banda. Tem 20 músicas compostas, e dez (uma, com o parceiro Kadu Mota) estão no CD do 2x0 Vargem Alta, produzido por Garcia e com participação de Júlia. O nome do grupo faz alusão a uma gíria de São Pedro da Serra, localidade bucólica da Região Serrana do Rio onde fica o sítio onde Garcia mora, e frequentada por Chico desde criança.

Nos shows no Beco das Garrafas, para cerca de 60 pessoas, a plateia já cantarola versos como os de Notas de Cem: “Já sabemos muito bem, meu bem/ dos segredos escondidos nas notas de cem/ Já sabemos muito bem, meu bem/ Quem um dia teve amor hoje não vive sem/ E das duas, uma/ Ou você me acaba, ou você me arruma”.  Minha Voz também é destaque do show (“A minha voz sendo amplificada/ Mal gravada, desafinada e mal dizida/ A minha palavra de aço/ Dessoldada, desdobrada, enferrujada e carcomida/ Feito carne envelhecida, ultrapassada e fora de medida/ Feito as coisas dessa vida, ultrapassagem em hora proibida”). As Folhas da Praça Paris toca no rádio (“Eu não sei dizer da inveja que eu sinto/ Dessas folhas que caem em teu colo/ Na Praça Paris/ Que era o meu lugar/ Lugar de ser feliz”).

Era pra ser um mês de apresentações no Beco, que virou três. Nos dois próximos domingos, o trio estará na Casa de Cultura Laura Alvim. Para breve está marcado o lançamento do CD do 2x0 Vargem Alta, no Circo Voador. “Dá medo” migrar para um lugar maior, confessa Chico. “Mas não é só a gente”, ele emenda. No palco, estarão outras apostas do recém-criado selo Porangaraté, capitaneado por eles, e pelo qual, no mês passado, saiu o CD Segredo, com gravações caseiras feitas por Cássia Eller em 1983: Júlia, Terezina 12, Giras Gerais.

Júlia vai festejar o DVD que gravou no Teatro Municipal de Niterói – cidade para onde se deslocou ao deixar sua terra natal, o balneário turístico de Cabo Frio. O repertório se baseia em seu primeiro CD, de 2012, e tem inédita de Ivan Lins, que se encantou pela potência de sua interpretação, e declarou que Júlia “poderá se tornar uma das mais fortes presenças desta nova geração de cantoras”. Milton Nascimento também avaliza a jovem, e a convidou a participar de shows seus. “Júlia ainda vai dar o que falar”, ele profetizou.

“Gosto de visitar territórios diferentes, a herança africana de Miriam Makeba (sul-africana), as canções de Cátia de França (da Paraíba) e de Claos Mózi (de Niterói)”, conta Júlia. “É legal não saber onde a onda vai bater.”

Ela canta com uma densidade rara de se ouvir na sua idade. Ele compõe com lirismo e eloquência. Júlia Vargas, de 26 anos, e Chico Chico, de 21, têm trabalhos independentes e poéticas particulares. Os shows conjuntos que vêm fazendo no Beco das Garrafas reúnem o melhor de cada um. “Tem gente que vai ao show porque conhece a Júlia e lá descobre que o Chico é um supercompositor. E os que vão pela curiosidade em relação ao Chico, e veem que a Júlia é uma cantora maravilhosa”, acredita o violonista Rodrigo Garcia, que os ladeia no palco e assina a direção musical.

O interesse por Chico a que Garcia se refere é pelo fato de ele ser Francisco Ribeiro Eller, filho único de Cássia Eller (1962-2001). As semelhanças físicas e no jeito de cantar e o temperamento tímido como o da mãe vêm sendo ressaltados desde que ele começou a se apresentar em público, em espaços pequenos da zona sul do Rio, e crescem agora, com o lançamento do primeiro CD da 2x0 Vargem Alta, banda da qual é compositor, vocalista e violonista.

Chico prefere que o foco seja a música, afinal, é dela, e dos encontros pessoais em torno dela, que o estudante de Geografia parece extrair mais alegria e deleite. “Entendo a curiosidade, e também teria. Mas me incomoda. Não era para eu estar dando essa entrevista, tem tanta gente boa fazendo música por aí... Era para ser só a Júlia”, ele diz. “É muito nítido para mim por que essas coisas acontecem. Eu sou filho dela, mas não é o que eu procuro. Não é legal quando o espaço que você tem é por causa da sua mãe. É como estar numa festa para a qual você não foi convidado.” Garcia também se inquieta com esse tipo de atenção, e principalmente com as comparações injustas: “Conheço as vozes da Cássia e do Chico a fundo, e não acho que se pareçam. Fora que ela com 40 anos não compunha como ele, e cantava mil vezes mais. Tem que parar com esse papo!”. Foi Cássia quem uniu Chico e Garcia, indelevelmente, e foi o violonista quem apresentou Chico a Júlia, quatro anos atrás. O músico, que tocaria com ela de 1997 até o fim da vida, e participou de três de seus CDs, conhecera Cássia um ano antes de o filho nascer. Na maternidade, lá estava ele, que seria nomeado padrinho.

Os jovens Chico Chico (à esquerda) e Julia Vargas e o violonista Rodrigo Garcia em show no Beco das Garrafas Foto: OScar Vasconcelos/Divulgação

“Eu e o Chico sempre ouvimos muito som juntos. Fui vendo ele descobrindo as coisas, e depois veio essa safra de músicas boas”, conta Garcia, com orgulho, mas sem condescendência. “A Júlia eu conheci quando ela fez teste para a banda que eu acompanhava, a Nó Cego. Era tão boa que eu falei: ‘esquece essa banda toda bagunçada, vai ter sua carreira!’.”

Chico começou a compor não faz muito tempo, mas sempre gostou de escrever. Desde os 15 anos, teve banda. Tem 20 músicas compostas, e dez (uma, com o parceiro Kadu Mota) estão no CD do 2x0 Vargem Alta, produzido por Garcia e com participação de Júlia. O nome do grupo faz alusão a uma gíria de São Pedro da Serra, localidade bucólica da Região Serrana do Rio onde fica o sítio onde Garcia mora, e frequentada por Chico desde criança.

Nos shows no Beco das Garrafas, para cerca de 60 pessoas, a plateia já cantarola versos como os de Notas de Cem: “Já sabemos muito bem, meu bem/ dos segredos escondidos nas notas de cem/ Já sabemos muito bem, meu bem/ Quem um dia teve amor hoje não vive sem/ E das duas, uma/ Ou você me acaba, ou você me arruma”.  Minha Voz também é destaque do show (“A minha voz sendo amplificada/ Mal gravada, desafinada e mal dizida/ A minha palavra de aço/ Dessoldada, desdobrada, enferrujada e carcomida/ Feito carne envelhecida, ultrapassada e fora de medida/ Feito as coisas dessa vida, ultrapassagem em hora proibida”). As Folhas da Praça Paris toca no rádio (“Eu não sei dizer da inveja que eu sinto/ Dessas folhas que caem em teu colo/ Na Praça Paris/ Que era o meu lugar/ Lugar de ser feliz”).

Era pra ser um mês de apresentações no Beco, que virou três. Nos dois próximos domingos, o trio estará na Casa de Cultura Laura Alvim. Para breve está marcado o lançamento do CD do 2x0 Vargem Alta, no Circo Voador. “Dá medo” migrar para um lugar maior, confessa Chico. “Mas não é só a gente”, ele emenda. No palco, estarão outras apostas do recém-criado selo Porangaraté, capitaneado por eles, e pelo qual, no mês passado, saiu o CD Segredo, com gravações caseiras feitas por Cássia Eller em 1983: Júlia, Terezina 12, Giras Gerais.

Júlia vai festejar o DVD que gravou no Teatro Municipal de Niterói – cidade para onde se deslocou ao deixar sua terra natal, o balneário turístico de Cabo Frio. O repertório se baseia em seu primeiro CD, de 2012, e tem inédita de Ivan Lins, que se encantou pela potência de sua interpretação, e declarou que Júlia “poderá se tornar uma das mais fortes presenças desta nova geração de cantoras”. Milton Nascimento também avaliza a jovem, e a convidou a participar de shows seus. “Júlia ainda vai dar o que falar”, ele profetizou.

“Gosto de visitar territórios diferentes, a herança africana de Miriam Makeba (sul-africana), as canções de Cátia de França (da Paraíba) e de Claos Mózi (de Niterói)”, conta Júlia. “É legal não saber onde a onda vai bater.”

Ela canta com uma densidade rara de se ouvir na sua idade. Ele compõe com lirismo e eloquência. Júlia Vargas, de 26 anos, e Chico Chico, de 21, têm trabalhos independentes e poéticas particulares. Os shows conjuntos que vêm fazendo no Beco das Garrafas reúnem o melhor de cada um. “Tem gente que vai ao show porque conhece a Júlia e lá descobre que o Chico é um supercompositor. E os que vão pela curiosidade em relação ao Chico, e veem que a Júlia é uma cantora maravilhosa”, acredita o violonista Rodrigo Garcia, que os ladeia no palco e assina a direção musical.

O interesse por Chico a que Garcia se refere é pelo fato de ele ser Francisco Ribeiro Eller, filho único de Cássia Eller (1962-2001). As semelhanças físicas e no jeito de cantar e o temperamento tímido como o da mãe vêm sendo ressaltados desde que ele começou a se apresentar em público, em espaços pequenos da zona sul do Rio, e crescem agora, com o lançamento do primeiro CD da 2x0 Vargem Alta, banda da qual é compositor, vocalista e violonista.

Chico prefere que o foco seja a música, afinal, é dela, e dos encontros pessoais em torno dela, que o estudante de Geografia parece extrair mais alegria e deleite. “Entendo a curiosidade, e também teria. Mas me incomoda. Não era para eu estar dando essa entrevista, tem tanta gente boa fazendo música por aí... Era para ser só a Júlia”, ele diz. “É muito nítido para mim por que essas coisas acontecem. Eu sou filho dela, mas não é o que eu procuro. Não é legal quando o espaço que você tem é por causa da sua mãe. É como estar numa festa para a qual você não foi convidado.” Garcia também se inquieta com esse tipo de atenção, e principalmente com as comparações injustas: “Conheço as vozes da Cássia e do Chico a fundo, e não acho que se pareçam. Fora que ela com 40 anos não compunha como ele, e cantava mil vezes mais. Tem que parar com esse papo!”. Foi Cássia quem uniu Chico e Garcia, indelevelmente, e foi o violonista quem apresentou Chico a Júlia, quatro anos atrás. O músico, que tocaria com ela de 1997 até o fim da vida, e participou de três de seus CDs, conhecera Cássia um ano antes de o filho nascer. Na maternidade, lá estava ele, que seria nomeado padrinho.

Os jovens Chico Chico (à esquerda) e Julia Vargas e o violonista Rodrigo Garcia em show no Beco das Garrafas Foto: OScar Vasconcelos/Divulgação

“Eu e o Chico sempre ouvimos muito som juntos. Fui vendo ele descobrindo as coisas, e depois veio essa safra de músicas boas”, conta Garcia, com orgulho, mas sem condescendência. “A Júlia eu conheci quando ela fez teste para a banda que eu acompanhava, a Nó Cego. Era tão boa que eu falei: ‘esquece essa banda toda bagunçada, vai ter sua carreira!’.”

Chico começou a compor não faz muito tempo, mas sempre gostou de escrever. Desde os 15 anos, teve banda. Tem 20 músicas compostas, e dez (uma, com o parceiro Kadu Mota) estão no CD do 2x0 Vargem Alta, produzido por Garcia e com participação de Júlia. O nome do grupo faz alusão a uma gíria de São Pedro da Serra, localidade bucólica da Região Serrana do Rio onde fica o sítio onde Garcia mora, e frequentada por Chico desde criança.

Nos shows no Beco das Garrafas, para cerca de 60 pessoas, a plateia já cantarola versos como os de Notas de Cem: “Já sabemos muito bem, meu bem/ dos segredos escondidos nas notas de cem/ Já sabemos muito bem, meu bem/ Quem um dia teve amor hoje não vive sem/ E das duas, uma/ Ou você me acaba, ou você me arruma”.  Minha Voz também é destaque do show (“A minha voz sendo amplificada/ Mal gravada, desafinada e mal dizida/ A minha palavra de aço/ Dessoldada, desdobrada, enferrujada e carcomida/ Feito carne envelhecida, ultrapassada e fora de medida/ Feito as coisas dessa vida, ultrapassagem em hora proibida”). As Folhas da Praça Paris toca no rádio (“Eu não sei dizer da inveja que eu sinto/ Dessas folhas que caem em teu colo/ Na Praça Paris/ Que era o meu lugar/ Lugar de ser feliz”).

Era pra ser um mês de apresentações no Beco, que virou três. Nos dois próximos domingos, o trio estará na Casa de Cultura Laura Alvim. Para breve está marcado o lançamento do CD do 2x0 Vargem Alta, no Circo Voador. “Dá medo” migrar para um lugar maior, confessa Chico. “Mas não é só a gente”, ele emenda. No palco, estarão outras apostas do recém-criado selo Porangaraté, capitaneado por eles, e pelo qual, no mês passado, saiu o CD Segredo, com gravações caseiras feitas por Cássia Eller em 1983: Júlia, Terezina 12, Giras Gerais.

Júlia vai festejar o DVD que gravou no Teatro Municipal de Niterói – cidade para onde se deslocou ao deixar sua terra natal, o balneário turístico de Cabo Frio. O repertório se baseia em seu primeiro CD, de 2012, e tem inédita de Ivan Lins, que se encantou pela potência de sua interpretação, e declarou que Júlia “poderá se tornar uma das mais fortes presenças desta nova geração de cantoras”. Milton Nascimento também avaliza a jovem, e a convidou a participar de shows seus. “Júlia ainda vai dar o que falar”, ele profetizou.

“Gosto de visitar territórios diferentes, a herança africana de Miriam Makeba (sul-africana), as canções de Cátia de França (da Paraíba) e de Claos Mózi (de Niterói)”, conta Júlia. “É legal não saber onde a onda vai bater.”

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