Icônico e histórico, Nick Cave volta a São Paulo para transformar a dor do luto em amor


Artista australiano de 61 anos voltou a cidade na qual morou entre 1990 a 1993 para uma apresentação única no Espaço das Américas, em São Paulo

Por Pedro Antunes

Nick Cave não poupa a si.

Não poupa seus Bad Seeds, banda que o acompanha desde 1983.

Não poupa o público. 

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Ele não é do time de “puxar o curativo de uma só vez para sentir a uma dor única”.

Nick Cavee os Bad Seeds fizeram um show histórico em São Paulo, no Espaço das Américas, no domingo, 14 Foto: Fabrício Vianna

Nick Cave é do tipo que sequer pensa num curativo. Deixa a ferida respirar, sangrar o que precisa ser sangrado e, depois, mantém a cicatriz ali, exposta, na vista de todos.  

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É assim que assustadoramente Nick Cave abre sua apresentação na atual turnê, trazida para São Paulo em data única no Brasil, em um show Popload Gig, neste domingo, 14.

Com Jesus Alone, a música de início do álbum mais recente de Cave & Bad Seeds, chamado Skeleton Tree, lançado dois anos atrás.  

“You fell from the sky /  Crash landed in a field / Near the river Adur”, dizem os primeiros versos da canção. 

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“Você caiu do céu, atingiu um campo próximo ao Rio Adur”, em uma tradução devastadoramente livre. 

Cave perdeu um filho de 15 anos em uma queda acidental em 2015. Da dor mais devastadora que se tem notícia (um pai/mãe enterrar um filho), o australiano fez uma porção de canções, um disco. Skeleton Tree é um dos melhores álbuns de Cave em décadas (se equivale em excelência a Push The Sky Away, o antecessor, de 2013).

Como se as feridas acumuladas pelo artista até aquele terrível 2015 só houvessem arranhado o escudo que protegia Cave. A morte do filho o estraçalhou. Saiu dessa com um álbum que sangra poesia e dor.

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Cave está tinindo na composição das letras, os Bad Seeds voam nos arranjos hipnóticos que parecem transportar o público para uma dimensão no qual até mesmo as notas dissonantes (propositalmente, é claro) se complementam. No palco, o impressionante é notar que canções desses dois álbuns, como a citada Jesus Alone e Magneto, dobradinha que abre as apresentações e forma o quarteto de canções lembradas de Skeleton Tree nos shows, são tão (ou mais) celebradas quanto aquelas que carregam nas costas algumas décadas de idade.

Prova como Nick Cave & Bad Seeds estão no topo do seu jogo. Por isso, a noite deste domingo foi tão histórica. Testemunhar um artista no seu auge (e com a consciência disso) é raro. 

Quando esteve por aqui – e Cave morou em São Paulo, na Vila Madalena, entre 1990 a 1993 –, frequentava bares da cidade sem muito alarde – era mais uma figura do submundo, com algum prestígio, mas pouco público. Viveu aqui por amor, aliás. Talvez estivesse mais emocionado do que o costume por estar de volta – tocou Jack the Ripper, do álbum Henry’s Dream (1992), “porque a compomos essa aqui”, ele justificou –, mas a questão toda da apresentação de Nick Cave & The Bad Seeds transcende toda a noção geográfica. Fura o tempo. Transpassa o espaço. 

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O que resta é um momento único no qual Cave e banda hipnotizam os presentes com sua variação rítmica, voz profunda, os versos que fazem germinar as nossas próprias dores escondidas. Há quem chame de culto. Até pode ser. Mas o que Cave e banda fazem no palco, contudo, é um encontro com o interior e não com uma força externa.

É uma comunhão com um “eu” que por vezes escondemos. A figura do músico, esguia e de branco de pele fantasmagórico, é uma assombração que teima em mexer no seu baú de memórias. Ao fim da experiência, quase um exorcismo, sai-se leve. Cave, exaurido e suado, parece levar nossas dores com ele. Inquebrável. Nada mais deve ser capaz de afetá-lo. 

Nick Cave and The Bad Seeds em São Paulo; fotos

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Nick Cave não poupa a si.

Não poupa seus Bad Seeds, banda que o acompanha desde 1983.

Não poupa o público. 

Ele não é do time de “puxar o curativo de uma só vez para sentir a uma dor única”.

Nick Cavee os Bad Seeds fizeram um show histórico em São Paulo, no Espaço das Américas, no domingo, 14 Foto: Fabrício Vianna

Nick Cave é do tipo que sequer pensa num curativo. Deixa a ferida respirar, sangrar o que precisa ser sangrado e, depois, mantém a cicatriz ali, exposta, na vista de todos.  

É assim que assustadoramente Nick Cave abre sua apresentação na atual turnê, trazida para São Paulo em data única no Brasil, em um show Popload Gig, neste domingo, 14.

Com Jesus Alone, a música de início do álbum mais recente de Cave & Bad Seeds, chamado Skeleton Tree, lançado dois anos atrás.  

“You fell from the sky /  Crash landed in a field / Near the river Adur”, dizem os primeiros versos da canção. 

“Você caiu do céu, atingiu um campo próximo ao Rio Adur”, em uma tradução devastadoramente livre. 

Cave perdeu um filho de 15 anos em uma queda acidental em 2015. Da dor mais devastadora que se tem notícia (um pai/mãe enterrar um filho), o australiano fez uma porção de canções, um disco. Skeleton Tree é um dos melhores álbuns de Cave em décadas (se equivale em excelência a Push The Sky Away, o antecessor, de 2013).

Como se as feridas acumuladas pelo artista até aquele terrível 2015 só houvessem arranhado o escudo que protegia Cave. A morte do filho o estraçalhou. Saiu dessa com um álbum que sangra poesia e dor.

Cave está tinindo na composição das letras, os Bad Seeds voam nos arranjos hipnóticos que parecem transportar o público para uma dimensão no qual até mesmo as notas dissonantes (propositalmente, é claro) se complementam. No palco, o impressionante é notar que canções desses dois álbuns, como a citada Jesus Alone e Magneto, dobradinha que abre as apresentações e forma o quarteto de canções lembradas de Skeleton Tree nos shows, são tão (ou mais) celebradas quanto aquelas que carregam nas costas algumas décadas de idade.

Prova como Nick Cave & Bad Seeds estão no topo do seu jogo. Por isso, a noite deste domingo foi tão histórica. Testemunhar um artista no seu auge (e com a consciência disso) é raro. 

Quando esteve por aqui – e Cave morou em São Paulo, na Vila Madalena, entre 1990 a 1993 –, frequentava bares da cidade sem muito alarde – era mais uma figura do submundo, com algum prestígio, mas pouco público. Viveu aqui por amor, aliás. Talvez estivesse mais emocionado do que o costume por estar de volta – tocou Jack the Ripper, do álbum Henry’s Dream (1992), “porque a compomos essa aqui”, ele justificou –, mas a questão toda da apresentação de Nick Cave & The Bad Seeds transcende toda a noção geográfica. Fura o tempo. Transpassa o espaço. 

O que resta é um momento único no qual Cave e banda hipnotizam os presentes com sua variação rítmica, voz profunda, os versos que fazem germinar as nossas próprias dores escondidas. Há quem chame de culto. Até pode ser. Mas o que Cave e banda fazem no palco, contudo, é um encontro com o interior e não com uma força externa.

É uma comunhão com um “eu” que por vezes escondemos. A figura do músico, esguia e de branco de pele fantasmagórico, é uma assombração que teima em mexer no seu baú de memórias. Ao fim da experiência, quase um exorcismo, sai-se leve. Cave, exaurido e suado, parece levar nossas dores com ele. Inquebrável. Nada mais deve ser capaz de afetá-lo. 

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Não poupa seus Bad Seeds, banda que o acompanha desde 1983.

Não poupa o público. 

Ele não é do time de “puxar o curativo de uma só vez para sentir a uma dor única”.

Nick Cavee os Bad Seeds fizeram um show histórico em São Paulo, no Espaço das Américas, no domingo, 14 Foto: Fabrício Vianna

Nick Cave é do tipo que sequer pensa num curativo. Deixa a ferida respirar, sangrar o que precisa ser sangrado e, depois, mantém a cicatriz ali, exposta, na vista de todos.  

É assim que assustadoramente Nick Cave abre sua apresentação na atual turnê, trazida para São Paulo em data única no Brasil, em um show Popload Gig, neste domingo, 14.

Com Jesus Alone, a música de início do álbum mais recente de Cave & Bad Seeds, chamado Skeleton Tree, lançado dois anos atrás.  

“You fell from the sky /  Crash landed in a field / Near the river Adur”, dizem os primeiros versos da canção. 

“Você caiu do céu, atingiu um campo próximo ao Rio Adur”, em uma tradução devastadoramente livre. 

Cave perdeu um filho de 15 anos em uma queda acidental em 2015. Da dor mais devastadora que se tem notícia (um pai/mãe enterrar um filho), o australiano fez uma porção de canções, um disco. Skeleton Tree é um dos melhores álbuns de Cave em décadas (se equivale em excelência a Push The Sky Away, o antecessor, de 2013).

Como se as feridas acumuladas pelo artista até aquele terrível 2015 só houvessem arranhado o escudo que protegia Cave. A morte do filho o estraçalhou. Saiu dessa com um álbum que sangra poesia e dor.

Cave está tinindo na composição das letras, os Bad Seeds voam nos arranjos hipnóticos que parecem transportar o público para uma dimensão no qual até mesmo as notas dissonantes (propositalmente, é claro) se complementam. No palco, o impressionante é notar que canções desses dois álbuns, como a citada Jesus Alone e Magneto, dobradinha que abre as apresentações e forma o quarteto de canções lembradas de Skeleton Tree nos shows, são tão (ou mais) celebradas quanto aquelas que carregam nas costas algumas décadas de idade.

Prova como Nick Cave & Bad Seeds estão no topo do seu jogo. Por isso, a noite deste domingo foi tão histórica. Testemunhar um artista no seu auge (e com a consciência disso) é raro. 

Quando esteve por aqui – e Cave morou em São Paulo, na Vila Madalena, entre 1990 a 1993 –, frequentava bares da cidade sem muito alarde – era mais uma figura do submundo, com algum prestígio, mas pouco público. Viveu aqui por amor, aliás. Talvez estivesse mais emocionado do que o costume por estar de volta – tocou Jack the Ripper, do álbum Henry’s Dream (1992), “porque a compomos essa aqui”, ele justificou –, mas a questão toda da apresentação de Nick Cave & The Bad Seeds transcende toda a noção geográfica. Fura o tempo. Transpassa o espaço. 

O que resta é um momento único no qual Cave e banda hipnotizam os presentes com sua variação rítmica, voz profunda, os versos que fazem germinar as nossas próprias dores escondidas. Há quem chame de culto. Até pode ser. Mas o que Cave e banda fazem no palco, contudo, é um encontro com o interior e não com uma força externa.

É uma comunhão com um “eu” que por vezes escondemos. A figura do músico, esguia e de branco de pele fantasmagórico, é uma assombração que teima em mexer no seu baú de memórias. Ao fim da experiência, quase um exorcismo, sai-se leve. Cave, exaurido e suado, parece levar nossas dores com ele. Inquebrável. Nada mais deve ser capaz de afetá-lo. 

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Não poupa seus Bad Seeds, banda que o acompanha desde 1983.

Não poupa o público. 

Ele não é do time de “puxar o curativo de uma só vez para sentir a uma dor única”.

Nick Cavee os Bad Seeds fizeram um show histórico em São Paulo, no Espaço das Américas, no domingo, 14 Foto: Fabrício Vianna

Nick Cave é do tipo que sequer pensa num curativo. Deixa a ferida respirar, sangrar o que precisa ser sangrado e, depois, mantém a cicatriz ali, exposta, na vista de todos.  

É assim que assustadoramente Nick Cave abre sua apresentação na atual turnê, trazida para São Paulo em data única no Brasil, em um show Popload Gig, neste domingo, 14.

Com Jesus Alone, a música de início do álbum mais recente de Cave & Bad Seeds, chamado Skeleton Tree, lançado dois anos atrás.  

“You fell from the sky /  Crash landed in a field / Near the river Adur”, dizem os primeiros versos da canção. 

“Você caiu do céu, atingiu um campo próximo ao Rio Adur”, em uma tradução devastadoramente livre. 

Cave perdeu um filho de 15 anos em uma queda acidental em 2015. Da dor mais devastadora que se tem notícia (um pai/mãe enterrar um filho), o australiano fez uma porção de canções, um disco. Skeleton Tree é um dos melhores álbuns de Cave em décadas (se equivale em excelência a Push The Sky Away, o antecessor, de 2013).

Como se as feridas acumuladas pelo artista até aquele terrível 2015 só houvessem arranhado o escudo que protegia Cave. A morte do filho o estraçalhou. Saiu dessa com um álbum que sangra poesia e dor.

Cave está tinindo na composição das letras, os Bad Seeds voam nos arranjos hipnóticos que parecem transportar o público para uma dimensão no qual até mesmo as notas dissonantes (propositalmente, é claro) se complementam. No palco, o impressionante é notar que canções desses dois álbuns, como a citada Jesus Alone e Magneto, dobradinha que abre as apresentações e forma o quarteto de canções lembradas de Skeleton Tree nos shows, são tão (ou mais) celebradas quanto aquelas que carregam nas costas algumas décadas de idade.

Prova como Nick Cave & Bad Seeds estão no topo do seu jogo. Por isso, a noite deste domingo foi tão histórica. Testemunhar um artista no seu auge (e com a consciência disso) é raro. 

Quando esteve por aqui – e Cave morou em São Paulo, na Vila Madalena, entre 1990 a 1993 –, frequentava bares da cidade sem muito alarde – era mais uma figura do submundo, com algum prestígio, mas pouco público. Viveu aqui por amor, aliás. Talvez estivesse mais emocionado do que o costume por estar de volta – tocou Jack the Ripper, do álbum Henry’s Dream (1992), “porque a compomos essa aqui”, ele justificou –, mas a questão toda da apresentação de Nick Cave & The Bad Seeds transcende toda a noção geográfica. Fura o tempo. Transpassa o espaço. 

O que resta é um momento único no qual Cave e banda hipnotizam os presentes com sua variação rítmica, voz profunda, os versos que fazem germinar as nossas próprias dores escondidas. Há quem chame de culto. Até pode ser. Mas o que Cave e banda fazem no palco, contudo, é um encontro com o interior e não com uma força externa.

É uma comunhão com um “eu” que por vezes escondemos. A figura do músico, esguia e de branco de pele fantasmagórico, é uma assombração que teima em mexer no seu baú de memórias. Ao fim da experiência, quase um exorcismo, sai-se leve. Cave, exaurido e suado, parece levar nossas dores com ele. Inquebrável. Nada mais deve ser capaz de afetá-lo. 

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