Música brasileira chegou à idade da memória


Por Agencia Estado

Os resgates, de obras e gêneros, marcaram o ano que acaba. Algumas iniciativas são espantosas: num mercado fonográfico como o nosso, orientado exclusivamente pelas leis de um mercado viciado, conduzido pelo poder econômico quem poderia pensar na criação de uma gravadora exclusivamente dedicada ao choro? Pois aconteceu. Foi fundada, no Rio, berço do gênero, a Acari Records, gerenciada pelo violonista Maurício Carrilho e pela cavaquinhista Luciana Rabello. Em seus poucos meses de existência, a Acari editou preciosidades - como os solos de Luciana e Maurício (esse, com o CD que leva seu nome, fez o melhor disco instrumental da década), promovendo solos de estréia de veteranos tão geniais quanto desconhecidos, como Índio do Cavaquinho - e assim por diante. Para os próximos meses, a Acari promete, entre raridades, um CD com canções inéditas de Rafael Rabello, com letras de Paulo César Pinheiro, gravadas ao vivo, ao longo de vários anos, em muitos shows em que o violonista acompanhava a irmã cantora, Amélia. Firmou-se no mercado alternativo - entenda-se, aquele que não leva em conta os parâmetros comerciais imediatistas - como a mais importante gravadora nacional a CPC-Umes, de São Paulo, de compromisso assinado unicamente com a qualidade e linha de ação diversificada, atuando no samba, no choro, no forró, na tradição popular de partes diversas do País, na música instrumental, no resgate de memória. Outros selos de igual valor vão aumentando seu poder de fogo: a Jam Music, com um olhar para o pop articulado (vide de Bena Lobo) e outro no samba tradicional do Rio (caso do disco de Christina Buarque de Holanda cantando Wilson Batista). A Lua Discos, que funciona entre o Rio e São Paulo, prepara solos de Guilherme de Brito e Casquinha, para falar só em dois dos maiores compositores da história do samba. Da grande indústria, pouco se pode falar de bom. Os nomes novos que ela pôs na praça são clones dos nomes que pôs na praça nos anos anteriores. E, naturalmente, os nomes que já estavam na praça nos anos anteriores clonaram-se, eles mesmos, em discos ditos novos. Novos? Mas, ainda assim, a indústria prestou bons serviços, enquadrados, estes, no capítulo dos "projetos especiais". É o caso da caixa (com três CDs) de Jacó do Bandolim, lançada agora, no fim do ano, pela BMG. Ou a edição, pela EMI, da obra quase completa de Caymmi, na voz do autor. Este é um caso mesmo especial. O compositor Dorival Caymmi sempre foi seu maior intérprete. Para a EMI, gravou 12 elepês, a partir de 1954, poucos deles reeditados, nenhum hoje em catálogo. Pois bem, os 12 discos foram agrupados em seis CDs e reunidos na caixa Caymmi Amor e Mar, que traz ainda um sétimo disco, colecionando outras músicas do compositor em gravações de estréia (como O Que É Que a Baiana Tem?, em registro de 1939, na voz de Carmem Miranda, em dueto com o autor). A Abril Music, selo novo mas poderoso, editou o pacote Música do Brasil - quatro discos, um livro luxuoso, uma série de TV. É um mapeamento das músicas populares das diversas regiões do País, trabalho de vulto e importância, sem dúvida, embora com equívocos conceituais (principalmente na análise teórica do material coligido). Bem melhor do que esse trabalho é o que está sendo realizado pelo Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb), sob o título de Bahia, Singular e Plural. Equipes viajaram por todos os municípios baianos, registrando em áudio e vídeo as manifestações locais da cultura popular. Os programas já foram mostradas nas televisões educativas da Bahia e de São Paulo. O plano da obra prevê a edição de seis CDs. Quatro já foram lançados. Em Alagoas teve início outro projeto importante - Das Lagoas - de registro da cultura popular, bancado pela iniciativa privada, sem apelo à lei de renúncia fiscal. Há outros inúmeros e valiosos projetos individuais, como o do violeiro Roberto Corrêa, que vem realizando o levantamento da música do entorno do Distrito Federal. Esforço solitário foi o do biólogo Omar Jubran, que, ao longo de 15 anos, colecionou os discos (de 78 rotações por minuto) com as primeiras gravações das músicas de Noel Rosa. Com o auxílio financeiro de outros apaixonados, muniu-se de computador e filtrou digitalmente as gravações, eliminando os estalos e barulhos, melhorando o som. A Funarte e a gravadora Velas encarregaram-se de pôr nas lojas a caixa Noel Pela Primeira Vez, com os 229 primeiros registros da noeliana. O Itaú Cultural e a gravadora Atração resgataram o acervo fonográfico da Funarte, títulos raríssimos de uma coleção que estava fadada a desaparecer; por iniciativa dos herdeiros de Irineu Garcia, estão chegando ao CD os discos da gravadora Festa selo independente dos anos 50, de pérolas como as primeiras gravações das canções camerísticas de Tom Jobim e Vinícius de Morais, poesia de Drummond, Bandeira e Cabral, entre outros, dita pelos autores... O Itaú Cultural lançou seu próprio projeto de mapeamento das músicas regionais, nomeando equipes de curadores com atuação nas áreas específicas e garantindo a edição de discos, programas de rádio, um site na Internet e assim por diante. E o Sesc São Paulo, cuja importância para cultura nunca é demais exaltar, promove a transcrição para CD e livro dos programas Ensaio, da TV Cultura - entrevistas e musicais com os nomes que fizeram e fazem a história da música brasileira. Iniciativas assim parecem apontar para o momento em que passaremos a ter memória. Falta, no entanto, resolver questões gravíssimas, como as da divulgação e distribuição desse tipo de trabalho. A Internet, as rádios comunitárias e outros canais que estão surgindo parecem ser a saída. Essa é uma questão para o próximo século.

Os resgates, de obras e gêneros, marcaram o ano que acaba. Algumas iniciativas são espantosas: num mercado fonográfico como o nosso, orientado exclusivamente pelas leis de um mercado viciado, conduzido pelo poder econômico quem poderia pensar na criação de uma gravadora exclusivamente dedicada ao choro? Pois aconteceu. Foi fundada, no Rio, berço do gênero, a Acari Records, gerenciada pelo violonista Maurício Carrilho e pela cavaquinhista Luciana Rabello. Em seus poucos meses de existência, a Acari editou preciosidades - como os solos de Luciana e Maurício (esse, com o CD que leva seu nome, fez o melhor disco instrumental da década), promovendo solos de estréia de veteranos tão geniais quanto desconhecidos, como Índio do Cavaquinho - e assim por diante. Para os próximos meses, a Acari promete, entre raridades, um CD com canções inéditas de Rafael Rabello, com letras de Paulo César Pinheiro, gravadas ao vivo, ao longo de vários anos, em muitos shows em que o violonista acompanhava a irmã cantora, Amélia. Firmou-se no mercado alternativo - entenda-se, aquele que não leva em conta os parâmetros comerciais imediatistas - como a mais importante gravadora nacional a CPC-Umes, de São Paulo, de compromisso assinado unicamente com a qualidade e linha de ação diversificada, atuando no samba, no choro, no forró, na tradição popular de partes diversas do País, na música instrumental, no resgate de memória. Outros selos de igual valor vão aumentando seu poder de fogo: a Jam Music, com um olhar para o pop articulado (vide de Bena Lobo) e outro no samba tradicional do Rio (caso do disco de Christina Buarque de Holanda cantando Wilson Batista). A Lua Discos, que funciona entre o Rio e São Paulo, prepara solos de Guilherme de Brito e Casquinha, para falar só em dois dos maiores compositores da história do samba. Da grande indústria, pouco se pode falar de bom. Os nomes novos que ela pôs na praça são clones dos nomes que pôs na praça nos anos anteriores. E, naturalmente, os nomes que já estavam na praça nos anos anteriores clonaram-se, eles mesmos, em discos ditos novos. Novos? Mas, ainda assim, a indústria prestou bons serviços, enquadrados, estes, no capítulo dos "projetos especiais". É o caso da caixa (com três CDs) de Jacó do Bandolim, lançada agora, no fim do ano, pela BMG. Ou a edição, pela EMI, da obra quase completa de Caymmi, na voz do autor. Este é um caso mesmo especial. O compositor Dorival Caymmi sempre foi seu maior intérprete. Para a EMI, gravou 12 elepês, a partir de 1954, poucos deles reeditados, nenhum hoje em catálogo. Pois bem, os 12 discos foram agrupados em seis CDs e reunidos na caixa Caymmi Amor e Mar, que traz ainda um sétimo disco, colecionando outras músicas do compositor em gravações de estréia (como O Que É Que a Baiana Tem?, em registro de 1939, na voz de Carmem Miranda, em dueto com o autor). A Abril Music, selo novo mas poderoso, editou o pacote Música do Brasil - quatro discos, um livro luxuoso, uma série de TV. É um mapeamento das músicas populares das diversas regiões do País, trabalho de vulto e importância, sem dúvida, embora com equívocos conceituais (principalmente na análise teórica do material coligido). Bem melhor do que esse trabalho é o que está sendo realizado pelo Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb), sob o título de Bahia, Singular e Plural. Equipes viajaram por todos os municípios baianos, registrando em áudio e vídeo as manifestações locais da cultura popular. Os programas já foram mostradas nas televisões educativas da Bahia e de São Paulo. O plano da obra prevê a edição de seis CDs. Quatro já foram lançados. Em Alagoas teve início outro projeto importante - Das Lagoas - de registro da cultura popular, bancado pela iniciativa privada, sem apelo à lei de renúncia fiscal. Há outros inúmeros e valiosos projetos individuais, como o do violeiro Roberto Corrêa, que vem realizando o levantamento da música do entorno do Distrito Federal. Esforço solitário foi o do biólogo Omar Jubran, que, ao longo de 15 anos, colecionou os discos (de 78 rotações por minuto) com as primeiras gravações das músicas de Noel Rosa. Com o auxílio financeiro de outros apaixonados, muniu-se de computador e filtrou digitalmente as gravações, eliminando os estalos e barulhos, melhorando o som. A Funarte e a gravadora Velas encarregaram-se de pôr nas lojas a caixa Noel Pela Primeira Vez, com os 229 primeiros registros da noeliana. O Itaú Cultural e a gravadora Atração resgataram o acervo fonográfico da Funarte, títulos raríssimos de uma coleção que estava fadada a desaparecer; por iniciativa dos herdeiros de Irineu Garcia, estão chegando ao CD os discos da gravadora Festa selo independente dos anos 50, de pérolas como as primeiras gravações das canções camerísticas de Tom Jobim e Vinícius de Morais, poesia de Drummond, Bandeira e Cabral, entre outros, dita pelos autores... O Itaú Cultural lançou seu próprio projeto de mapeamento das músicas regionais, nomeando equipes de curadores com atuação nas áreas específicas e garantindo a edição de discos, programas de rádio, um site na Internet e assim por diante. E o Sesc São Paulo, cuja importância para cultura nunca é demais exaltar, promove a transcrição para CD e livro dos programas Ensaio, da TV Cultura - entrevistas e musicais com os nomes que fizeram e fazem a história da música brasileira. Iniciativas assim parecem apontar para o momento em que passaremos a ter memória. Falta, no entanto, resolver questões gravíssimas, como as da divulgação e distribuição desse tipo de trabalho. A Internet, as rádios comunitárias e outros canais que estão surgindo parecem ser a saída. Essa é uma questão para o próximo século.

Os resgates, de obras e gêneros, marcaram o ano que acaba. Algumas iniciativas são espantosas: num mercado fonográfico como o nosso, orientado exclusivamente pelas leis de um mercado viciado, conduzido pelo poder econômico quem poderia pensar na criação de uma gravadora exclusivamente dedicada ao choro? Pois aconteceu. Foi fundada, no Rio, berço do gênero, a Acari Records, gerenciada pelo violonista Maurício Carrilho e pela cavaquinhista Luciana Rabello. Em seus poucos meses de existência, a Acari editou preciosidades - como os solos de Luciana e Maurício (esse, com o CD que leva seu nome, fez o melhor disco instrumental da década), promovendo solos de estréia de veteranos tão geniais quanto desconhecidos, como Índio do Cavaquinho - e assim por diante. Para os próximos meses, a Acari promete, entre raridades, um CD com canções inéditas de Rafael Rabello, com letras de Paulo César Pinheiro, gravadas ao vivo, ao longo de vários anos, em muitos shows em que o violonista acompanhava a irmã cantora, Amélia. Firmou-se no mercado alternativo - entenda-se, aquele que não leva em conta os parâmetros comerciais imediatistas - como a mais importante gravadora nacional a CPC-Umes, de São Paulo, de compromisso assinado unicamente com a qualidade e linha de ação diversificada, atuando no samba, no choro, no forró, na tradição popular de partes diversas do País, na música instrumental, no resgate de memória. Outros selos de igual valor vão aumentando seu poder de fogo: a Jam Music, com um olhar para o pop articulado (vide de Bena Lobo) e outro no samba tradicional do Rio (caso do disco de Christina Buarque de Holanda cantando Wilson Batista). A Lua Discos, que funciona entre o Rio e São Paulo, prepara solos de Guilherme de Brito e Casquinha, para falar só em dois dos maiores compositores da história do samba. Da grande indústria, pouco se pode falar de bom. Os nomes novos que ela pôs na praça são clones dos nomes que pôs na praça nos anos anteriores. E, naturalmente, os nomes que já estavam na praça nos anos anteriores clonaram-se, eles mesmos, em discos ditos novos. Novos? Mas, ainda assim, a indústria prestou bons serviços, enquadrados, estes, no capítulo dos "projetos especiais". É o caso da caixa (com três CDs) de Jacó do Bandolim, lançada agora, no fim do ano, pela BMG. Ou a edição, pela EMI, da obra quase completa de Caymmi, na voz do autor. Este é um caso mesmo especial. O compositor Dorival Caymmi sempre foi seu maior intérprete. Para a EMI, gravou 12 elepês, a partir de 1954, poucos deles reeditados, nenhum hoje em catálogo. Pois bem, os 12 discos foram agrupados em seis CDs e reunidos na caixa Caymmi Amor e Mar, que traz ainda um sétimo disco, colecionando outras músicas do compositor em gravações de estréia (como O Que É Que a Baiana Tem?, em registro de 1939, na voz de Carmem Miranda, em dueto com o autor). A Abril Music, selo novo mas poderoso, editou o pacote Música do Brasil - quatro discos, um livro luxuoso, uma série de TV. É um mapeamento das músicas populares das diversas regiões do País, trabalho de vulto e importância, sem dúvida, embora com equívocos conceituais (principalmente na análise teórica do material coligido). Bem melhor do que esse trabalho é o que está sendo realizado pelo Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb), sob o título de Bahia, Singular e Plural. Equipes viajaram por todos os municípios baianos, registrando em áudio e vídeo as manifestações locais da cultura popular. Os programas já foram mostradas nas televisões educativas da Bahia e de São Paulo. O plano da obra prevê a edição de seis CDs. Quatro já foram lançados. Em Alagoas teve início outro projeto importante - Das Lagoas - de registro da cultura popular, bancado pela iniciativa privada, sem apelo à lei de renúncia fiscal. Há outros inúmeros e valiosos projetos individuais, como o do violeiro Roberto Corrêa, que vem realizando o levantamento da música do entorno do Distrito Federal. Esforço solitário foi o do biólogo Omar Jubran, que, ao longo de 15 anos, colecionou os discos (de 78 rotações por minuto) com as primeiras gravações das músicas de Noel Rosa. Com o auxílio financeiro de outros apaixonados, muniu-se de computador e filtrou digitalmente as gravações, eliminando os estalos e barulhos, melhorando o som. A Funarte e a gravadora Velas encarregaram-se de pôr nas lojas a caixa Noel Pela Primeira Vez, com os 229 primeiros registros da noeliana. O Itaú Cultural e a gravadora Atração resgataram o acervo fonográfico da Funarte, títulos raríssimos de uma coleção que estava fadada a desaparecer; por iniciativa dos herdeiros de Irineu Garcia, estão chegando ao CD os discos da gravadora Festa selo independente dos anos 50, de pérolas como as primeiras gravações das canções camerísticas de Tom Jobim e Vinícius de Morais, poesia de Drummond, Bandeira e Cabral, entre outros, dita pelos autores... O Itaú Cultural lançou seu próprio projeto de mapeamento das músicas regionais, nomeando equipes de curadores com atuação nas áreas específicas e garantindo a edição de discos, programas de rádio, um site na Internet e assim por diante. E o Sesc São Paulo, cuja importância para cultura nunca é demais exaltar, promove a transcrição para CD e livro dos programas Ensaio, da TV Cultura - entrevistas e musicais com os nomes que fizeram e fazem a história da música brasileira. Iniciativas assim parecem apontar para o momento em que passaremos a ter memória. Falta, no entanto, resolver questões gravíssimas, como as da divulgação e distribuição desse tipo de trabalho. A Internet, as rádios comunitárias e outros canais que estão surgindo parecem ser a saída. Essa é uma questão para o próximo século.

Os resgates, de obras e gêneros, marcaram o ano que acaba. Algumas iniciativas são espantosas: num mercado fonográfico como o nosso, orientado exclusivamente pelas leis de um mercado viciado, conduzido pelo poder econômico quem poderia pensar na criação de uma gravadora exclusivamente dedicada ao choro? Pois aconteceu. Foi fundada, no Rio, berço do gênero, a Acari Records, gerenciada pelo violonista Maurício Carrilho e pela cavaquinhista Luciana Rabello. Em seus poucos meses de existência, a Acari editou preciosidades - como os solos de Luciana e Maurício (esse, com o CD que leva seu nome, fez o melhor disco instrumental da década), promovendo solos de estréia de veteranos tão geniais quanto desconhecidos, como Índio do Cavaquinho - e assim por diante. Para os próximos meses, a Acari promete, entre raridades, um CD com canções inéditas de Rafael Rabello, com letras de Paulo César Pinheiro, gravadas ao vivo, ao longo de vários anos, em muitos shows em que o violonista acompanhava a irmã cantora, Amélia. Firmou-se no mercado alternativo - entenda-se, aquele que não leva em conta os parâmetros comerciais imediatistas - como a mais importante gravadora nacional a CPC-Umes, de São Paulo, de compromisso assinado unicamente com a qualidade e linha de ação diversificada, atuando no samba, no choro, no forró, na tradição popular de partes diversas do País, na música instrumental, no resgate de memória. Outros selos de igual valor vão aumentando seu poder de fogo: a Jam Music, com um olhar para o pop articulado (vide de Bena Lobo) e outro no samba tradicional do Rio (caso do disco de Christina Buarque de Holanda cantando Wilson Batista). A Lua Discos, que funciona entre o Rio e São Paulo, prepara solos de Guilherme de Brito e Casquinha, para falar só em dois dos maiores compositores da história do samba. Da grande indústria, pouco se pode falar de bom. Os nomes novos que ela pôs na praça são clones dos nomes que pôs na praça nos anos anteriores. E, naturalmente, os nomes que já estavam na praça nos anos anteriores clonaram-se, eles mesmos, em discos ditos novos. Novos? Mas, ainda assim, a indústria prestou bons serviços, enquadrados, estes, no capítulo dos "projetos especiais". É o caso da caixa (com três CDs) de Jacó do Bandolim, lançada agora, no fim do ano, pela BMG. Ou a edição, pela EMI, da obra quase completa de Caymmi, na voz do autor. Este é um caso mesmo especial. O compositor Dorival Caymmi sempre foi seu maior intérprete. Para a EMI, gravou 12 elepês, a partir de 1954, poucos deles reeditados, nenhum hoje em catálogo. Pois bem, os 12 discos foram agrupados em seis CDs e reunidos na caixa Caymmi Amor e Mar, que traz ainda um sétimo disco, colecionando outras músicas do compositor em gravações de estréia (como O Que É Que a Baiana Tem?, em registro de 1939, na voz de Carmem Miranda, em dueto com o autor). A Abril Music, selo novo mas poderoso, editou o pacote Música do Brasil - quatro discos, um livro luxuoso, uma série de TV. É um mapeamento das músicas populares das diversas regiões do País, trabalho de vulto e importância, sem dúvida, embora com equívocos conceituais (principalmente na análise teórica do material coligido). Bem melhor do que esse trabalho é o que está sendo realizado pelo Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb), sob o título de Bahia, Singular e Plural. Equipes viajaram por todos os municípios baianos, registrando em áudio e vídeo as manifestações locais da cultura popular. Os programas já foram mostradas nas televisões educativas da Bahia e de São Paulo. O plano da obra prevê a edição de seis CDs. Quatro já foram lançados. Em Alagoas teve início outro projeto importante - Das Lagoas - de registro da cultura popular, bancado pela iniciativa privada, sem apelo à lei de renúncia fiscal. Há outros inúmeros e valiosos projetos individuais, como o do violeiro Roberto Corrêa, que vem realizando o levantamento da música do entorno do Distrito Federal. Esforço solitário foi o do biólogo Omar Jubran, que, ao longo de 15 anos, colecionou os discos (de 78 rotações por minuto) com as primeiras gravações das músicas de Noel Rosa. Com o auxílio financeiro de outros apaixonados, muniu-se de computador e filtrou digitalmente as gravações, eliminando os estalos e barulhos, melhorando o som. A Funarte e a gravadora Velas encarregaram-se de pôr nas lojas a caixa Noel Pela Primeira Vez, com os 229 primeiros registros da noeliana. O Itaú Cultural e a gravadora Atração resgataram o acervo fonográfico da Funarte, títulos raríssimos de uma coleção que estava fadada a desaparecer; por iniciativa dos herdeiros de Irineu Garcia, estão chegando ao CD os discos da gravadora Festa selo independente dos anos 50, de pérolas como as primeiras gravações das canções camerísticas de Tom Jobim e Vinícius de Morais, poesia de Drummond, Bandeira e Cabral, entre outros, dita pelos autores... O Itaú Cultural lançou seu próprio projeto de mapeamento das músicas regionais, nomeando equipes de curadores com atuação nas áreas específicas e garantindo a edição de discos, programas de rádio, um site na Internet e assim por diante. E o Sesc São Paulo, cuja importância para cultura nunca é demais exaltar, promove a transcrição para CD e livro dos programas Ensaio, da TV Cultura - entrevistas e musicais com os nomes que fizeram e fazem a história da música brasileira. Iniciativas assim parecem apontar para o momento em que passaremos a ter memória. Falta, no entanto, resolver questões gravíssimas, como as da divulgação e distribuição desse tipo de trabalho. A Internet, as rádios comunitárias e outros canais que estão surgindo parecem ser a saída. Essa é uma questão para o próximo século.

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