O recruta que bagunça quartéis


Criado em 1950, personagem enfrentou a rejeição do Exército por mostrar a resistência de jovens ao Serviço Militar, e a vida cômoda e viciada da caserna

Por Jotabê Medeiros

Sua primeira historinha foi aprovada pessoalmente por William Randolph Hearst, o "Cidadão Kane". Está entre as séries mais antigas ainda desenhadas pelo próprio autor (Mort Walker, aos 86 anos, faz a tira há ininterruptos 60 anos).Beetle Bailey, que no Brasil recebeu o nome de Recruta Zero, surgiu em 4 de setembro de 1950 e fez sua fama como uma denúncia do purgatório que é o Serviço Militar, com os seus sargentos sadomasoquistas, seus superiores hierárquicos distanciados (e "paus-mandados" de suas mulheres). E os recrutas ensaboados, cheios de truques para fugir dos trabalhos pesados e da rotina espartana.Amanhã, o Sesc Vila Mariana abre uma mostra para celebrar a longevidade desse personagem (que é publicado pelo Estado) com originais inéditos, filmes, vídeos, palestras e debates. O autor não virá, por conta da idade avançada, mas enviou quatro desenhos assinados para o Brasil, para que a curadoria do evento possa utilizá-los com fins beneficentes.Bonachão. De sua casa em Connecticut, Mort Walker, que completa 87 anos em setembro, falou por telefone ao Estado sobre seu personagem. Bonachão e workaholic (ele mesmo atende o telefone em seu escritório), falou de suas vitórias e de uma frustração: criador do International Museum of Cartoon Art, que teve sede em Boca Ratón, Flórida, durante alguns anos, ele teve de fechar a instituição por "problemas financeiros"."Doei todo o acervo à Ohio State University, que já está reformando um prédio para receber tudo. Acho que, para pesquisadores dos quadrinhos, aquela será a melhor destinação", afirmou Walker.Por se tratar de uma paródia debochada do militarismo, Recruta Zero pisou em ovos ao atravessar os anos mais bélicos da vida americana. Os soldados o adoravam, os generais deploravam-no. A revista Mad, em abril de 1969, "tirou" o lendário bonezinho que recobre eternamente os olhos do Zero e na sua testa estava escrito: "Caiam fora do Vietnã".No dia 4 de março de 1981, o jornal Tribune, de Minneapolis, suspendeu a tira do Recruta Zero. No lugar onde ela era publicada, saiu um comunicado: "Beetle Bailey não aparece hoje na página de quadrinhos porque o tema foi considerado sexista pelos editores."Por "sexista", entenda-se uma briga entre as feministas e o autor para que ele cessasse o assédio do General Dureza à sua secretária Dona Tetê, proprietária de um adorável guarda-roupas com minissaias, decotes, terninhos e um rebolado cobiçado por todo o Quartel Swampy, onde se passa a ação. "Isso é um insulto às mulheres que trabalham", escreveu uma entre as centenas de leitoras que protestavam. "É a fantasia de um homem velho!", escreveu outra.Censura. Em 1990, uma outra tira do personagem, que mostrava todos os recrutas mostrando as nádegas ao Sargento Dureza, causou controvérsia e foi censurada em alguns jornais. Quando terminou a Guerra da Coreia, o Recruta Zero foi visitar a irmã e o cunhado. Isso originou outra tira escrita por Mort Walker: Zezé & Cia (Hi and Lois), com desenhos de Dick Browne, que viria a criar Haggar, o Horrível.Mort Walker não considera o Recruta Zero um "loser", um perdedor clássico da tradição americana. "Acho que o Sargento Tainha, sim, é um perdedor. O Recruta Zero, com suas artimanhas, foge daquilo que o oprime. É um vencedor", considera.Não há mais uma revista exclusiva para o Recruta Zero sendo publicada no Brasil. Isso já aconteceu no passado, primeiro com a Rio Gráfica Editora, depois Editora Globo, que editou gibis com histórias produzidas por roteiristas e desenhistas nacionais, sob aprovação do autor. O personagem ganhou aqui, no Brasil, o nome que pertence, na verdade, a outro personagem da tira, o Dentinho (Private Zero), mas que foi considerado mais adequado para os editores nacionais.Influência. O estilo e a verve de Mort Walker influenciaram gerações ao redor do mundo. No Brasil, um humorista que confessa a influência é Reinaldo Figueiredo, da trupe Casseta & Planeta."O meu "estilo", se é que posso dizer que tenho um, é uma mistura de Jaguar, Millôr, Nássara, Carlos Estêvão, Steinberg, Robert Crumb, Wolinski, Topor, B. Kliban, John Glashan, e uma pitada de Mort Walker, aquele cara do Recruta Zero...", disse Figueiredo recentemente.O expert em quadrinhos Alvaro de Moya lembra que, quando conheceu Walker, ele folheava seu livro sobre HQs, Shazam!, e, ao ver que faltava o Recruta Zero, chamou a atenção do especialista, que corrigiu o deslize em seus outros livros.Hugo Escalera, diretor internacional da empresa Creative Licensing (responsável pelos direitos do personagem no Brasil), diz que, como Betty Boop, o Recruta Zero não é um personagem que vá seduzir novos leitores jovens pelos mesmos motivos que seduzia no passado. "É um culto retrô", considera.Vídeo. Entrevista com Álvaro de Moya e galeria de imagensA TURMA DO ZEROSargento TainhaGrosso, pouco inteligente, truculento. Foi certamente a inspiração para o Sargento Pincel dos brasileiros TrapalhõesGeneral DurezaAlheio, levemente caduco, fantoche da esposa, só se interessa pelas pernas da secretáriaOttoDedo-duro, com características antropomórficas, só falta falar. Odeia recrutasDona TetêMiss Buxley concentrava as fantasias masculinas, e não porque era a única mulher na área...DentinhoNão é o centroavante do Corinthians, mas o clássico recruta caipira e ingênuo a ser zoadoTenente EscovinhaOficial emergente, ambicioso, que tem de rebolar para compreender os superioresCosmoNos dias de licença, o recruta galanteador mais bem-sucedido com as garotasSenhorita BlipsA outra secretária do Coronel Dureza é inteligente, mas não tem os dotes de Dona Tetê

Sua primeira historinha foi aprovada pessoalmente por William Randolph Hearst, o "Cidadão Kane". Está entre as séries mais antigas ainda desenhadas pelo próprio autor (Mort Walker, aos 86 anos, faz a tira há ininterruptos 60 anos).Beetle Bailey, que no Brasil recebeu o nome de Recruta Zero, surgiu em 4 de setembro de 1950 e fez sua fama como uma denúncia do purgatório que é o Serviço Militar, com os seus sargentos sadomasoquistas, seus superiores hierárquicos distanciados (e "paus-mandados" de suas mulheres). E os recrutas ensaboados, cheios de truques para fugir dos trabalhos pesados e da rotina espartana.Amanhã, o Sesc Vila Mariana abre uma mostra para celebrar a longevidade desse personagem (que é publicado pelo Estado) com originais inéditos, filmes, vídeos, palestras e debates. O autor não virá, por conta da idade avançada, mas enviou quatro desenhos assinados para o Brasil, para que a curadoria do evento possa utilizá-los com fins beneficentes.Bonachão. De sua casa em Connecticut, Mort Walker, que completa 87 anos em setembro, falou por telefone ao Estado sobre seu personagem. Bonachão e workaholic (ele mesmo atende o telefone em seu escritório), falou de suas vitórias e de uma frustração: criador do International Museum of Cartoon Art, que teve sede em Boca Ratón, Flórida, durante alguns anos, ele teve de fechar a instituição por "problemas financeiros"."Doei todo o acervo à Ohio State University, que já está reformando um prédio para receber tudo. Acho que, para pesquisadores dos quadrinhos, aquela será a melhor destinação", afirmou Walker.Por se tratar de uma paródia debochada do militarismo, Recruta Zero pisou em ovos ao atravessar os anos mais bélicos da vida americana. Os soldados o adoravam, os generais deploravam-no. A revista Mad, em abril de 1969, "tirou" o lendário bonezinho que recobre eternamente os olhos do Zero e na sua testa estava escrito: "Caiam fora do Vietnã".No dia 4 de março de 1981, o jornal Tribune, de Minneapolis, suspendeu a tira do Recruta Zero. No lugar onde ela era publicada, saiu um comunicado: "Beetle Bailey não aparece hoje na página de quadrinhos porque o tema foi considerado sexista pelos editores."Por "sexista", entenda-se uma briga entre as feministas e o autor para que ele cessasse o assédio do General Dureza à sua secretária Dona Tetê, proprietária de um adorável guarda-roupas com minissaias, decotes, terninhos e um rebolado cobiçado por todo o Quartel Swampy, onde se passa a ação. "Isso é um insulto às mulheres que trabalham", escreveu uma entre as centenas de leitoras que protestavam. "É a fantasia de um homem velho!", escreveu outra.Censura. Em 1990, uma outra tira do personagem, que mostrava todos os recrutas mostrando as nádegas ao Sargento Dureza, causou controvérsia e foi censurada em alguns jornais. Quando terminou a Guerra da Coreia, o Recruta Zero foi visitar a irmã e o cunhado. Isso originou outra tira escrita por Mort Walker: Zezé & Cia (Hi and Lois), com desenhos de Dick Browne, que viria a criar Haggar, o Horrível.Mort Walker não considera o Recruta Zero um "loser", um perdedor clássico da tradição americana. "Acho que o Sargento Tainha, sim, é um perdedor. O Recruta Zero, com suas artimanhas, foge daquilo que o oprime. É um vencedor", considera.Não há mais uma revista exclusiva para o Recruta Zero sendo publicada no Brasil. Isso já aconteceu no passado, primeiro com a Rio Gráfica Editora, depois Editora Globo, que editou gibis com histórias produzidas por roteiristas e desenhistas nacionais, sob aprovação do autor. O personagem ganhou aqui, no Brasil, o nome que pertence, na verdade, a outro personagem da tira, o Dentinho (Private Zero), mas que foi considerado mais adequado para os editores nacionais.Influência. O estilo e a verve de Mort Walker influenciaram gerações ao redor do mundo. No Brasil, um humorista que confessa a influência é Reinaldo Figueiredo, da trupe Casseta & Planeta."O meu "estilo", se é que posso dizer que tenho um, é uma mistura de Jaguar, Millôr, Nássara, Carlos Estêvão, Steinberg, Robert Crumb, Wolinski, Topor, B. Kliban, John Glashan, e uma pitada de Mort Walker, aquele cara do Recruta Zero...", disse Figueiredo recentemente.O expert em quadrinhos Alvaro de Moya lembra que, quando conheceu Walker, ele folheava seu livro sobre HQs, Shazam!, e, ao ver que faltava o Recruta Zero, chamou a atenção do especialista, que corrigiu o deslize em seus outros livros.Hugo Escalera, diretor internacional da empresa Creative Licensing (responsável pelos direitos do personagem no Brasil), diz que, como Betty Boop, o Recruta Zero não é um personagem que vá seduzir novos leitores jovens pelos mesmos motivos que seduzia no passado. "É um culto retrô", considera.Vídeo. Entrevista com Álvaro de Moya e galeria de imagensA TURMA DO ZEROSargento TainhaGrosso, pouco inteligente, truculento. Foi certamente a inspiração para o Sargento Pincel dos brasileiros TrapalhõesGeneral DurezaAlheio, levemente caduco, fantoche da esposa, só se interessa pelas pernas da secretáriaOttoDedo-duro, com características antropomórficas, só falta falar. Odeia recrutasDona TetêMiss Buxley concentrava as fantasias masculinas, e não porque era a única mulher na área...DentinhoNão é o centroavante do Corinthians, mas o clássico recruta caipira e ingênuo a ser zoadoTenente EscovinhaOficial emergente, ambicioso, que tem de rebolar para compreender os superioresCosmoNos dias de licença, o recruta galanteador mais bem-sucedido com as garotasSenhorita BlipsA outra secretária do Coronel Dureza é inteligente, mas não tem os dotes de Dona Tetê

Sua primeira historinha foi aprovada pessoalmente por William Randolph Hearst, o "Cidadão Kane". Está entre as séries mais antigas ainda desenhadas pelo próprio autor (Mort Walker, aos 86 anos, faz a tira há ininterruptos 60 anos).Beetle Bailey, que no Brasil recebeu o nome de Recruta Zero, surgiu em 4 de setembro de 1950 e fez sua fama como uma denúncia do purgatório que é o Serviço Militar, com os seus sargentos sadomasoquistas, seus superiores hierárquicos distanciados (e "paus-mandados" de suas mulheres). E os recrutas ensaboados, cheios de truques para fugir dos trabalhos pesados e da rotina espartana.Amanhã, o Sesc Vila Mariana abre uma mostra para celebrar a longevidade desse personagem (que é publicado pelo Estado) com originais inéditos, filmes, vídeos, palestras e debates. O autor não virá, por conta da idade avançada, mas enviou quatro desenhos assinados para o Brasil, para que a curadoria do evento possa utilizá-los com fins beneficentes.Bonachão. De sua casa em Connecticut, Mort Walker, que completa 87 anos em setembro, falou por telefone ao Estado sobre seu personagem. Bonachão e workaholic (ele mesmo atende o telefone em seu escritório), falou de suas vitórias e de uma frustração: criador do International Museum of Cartoon Art, que teve sede em Boca Ratón, Flórida, durante alguns anos, ele teve de fechar a instituição por "problemas financeiros"."Doei todo o acervo à Ohio State University, que já está reformando um prédio para receber tudo. Acho que, para pesquisadores dos quadrinhos, aquela será a melhor destinação", afirmou Walker.Por se tratar de uma paródia debochada do militarismo, Recruta Zero pisou em ovos ao atravessar os anos mais bélicos da vida americana. Os soldados o adoravam, os generais deploravam-no. A revista Mad, em abril de 1969, "tirou" o lendário bonezinho que recobre eternamente os olhos do Zero e na sua testa estava escrito: "Caiam fora do Vietnã".No dia 4 de março de 1981, o jornal Tribune, de Minneapolis, suspendeu a tira do Recruta Zero. No lugar onde ela era publicada, saiu um comunicado: "Beetle Bailey não aparece hoje na página de quadrinhos porque o tema foi considerado sexista pelos editores."Por "sexista", entenda-se uma briga entre as feministas e o autor para que ele cessasse o assédio do General Dureza à sua secretária Dona Tetê, proprietária de um adorável guarda-roupas com minissaias, decotes, terninhos e um rebolado cobiçado por todo o Quartel Swampy, onde se passa a ação. "Isso é um insulto às mulheres que trabalham", escreveu uma entre as centenas de leitoras que protestavam. "É a fantasia de um homem velho!", escreveu outra.Censura. Em 1990, uma outra tira do personagem, que mostrava todos os recrutas mostrando as nádegas ao Sargento Dureza, causou controvérsia e foi censurada em alguns jornais. Quando terminou a Guerra da Coreia, o Recruta Zero foi visitar a irmã e o cunhado. Isso originou outra tira escrita por Mort Walker: Zezé & Cia (Hi and Lois), com desenhos de Dick Browne, que viria a criar Haggar, o Horrível.Mort Walker não considera o Recruta Zero um "loser", um perdedor clássico da tradição americana. "Acho que o Sargento Tainha, sim, é um perdedor. O Recruta Zero, com suas artimanhas, foge daquilo que o oprime. É um vencedor", considera.Não há mais uma revista exclusiva para o Recruta Zero sendo publicada no Brasil. Isso já aconteceu no passado, primeiro com a Rio Gráfica Editora, depois Editora Globo, que editou gibis com histórias produzidas por roteiristas e desenhistas nacionais, sob aprovação do autor. O personagem ganhou aqui, no Brasil, o nome que pertence, na verdade, a outro personagem da tira, o Dentinho (Private Zero), mas que foi considerado mais adequado para os editores nacionais.Influência. O estilo e a verve de Mort Walker influenciaram gerações ao redor do mundo. No Brasil, um humorista que confessa a influência é Reinaldo Figueiredo, da trupe Casseta & Planeta."O meu "estilo", se é que posso dizer que tenho um, é uma mistura de Jaguar, Millôr, Nássara, Carlos Estêvão, Steinberg, Robert Crumb, Wolinski, Topor, B. Kliban, John Glashan, e uma pitada de Mort Walker, aquele cara do Recruta Zero...", disse Figueiredo recentemente.O expert em quadrinhos Alvaro de Moya lembra que, quando conheceu Walker, ele folheava seu livro sobre HQs, Shazam!, e, ao ver que faltava o Recruta Zero, chamou a atenção do especialista, que corrigiu o deslize em seus outros livros.Hugo Escalera, diretor internacional da empresa Creative Licensing (responsável pelos direitos do personagem no Brasil), diz que, como Betty Boop, o Recruta Zero não é um personagem que vá seduzir novos leitores jovens pelos mesmos motivos que seduzia no passado. "É um culto retrô", considera.Vídeo. Entrevista com Álvaro de Moya e galeria de imagensA TURMA DO ZEROSargento TainhaGrosso, pouco inteligente, truculento. Foi certamente a inspiração para o Sargento Pincel dos brasileiros TrapalhõesGeneral DurezaAlheio, levemente caduco, fantoche da esposa, só se interessa pelas pernas da secretáriaOttoDedo-duro, com características antropomórficas, só falta falar. Odeia recrutasDona TetêMiss Buxley concentrava as fantasias masculinas, e não porque era a única mulher na área...DentinhoNão é o centroavante do Corinthians, mas o clássico recruta caipira e ingênuo a ser zoadoTenente EscovinhaOficial emergente, ambicioso, que tem de rebolar para compreender os superioresCosmoNos dias de licença, o recruta galanteador mais bem-sucedido com as garotasSenhorita BlipsA outra secretária do Coronel Dureza é inteligente, mas não tem os dotes de Dona Tetê

Sua primeira historinha foi aprovada pessoalmente por William Randolph Hearst, o "Cidadão Kane". Está entre as séries mais antigas ainda desenhadas pelo próprio autor (Mort Walker, aos 86 anos, faz a tira há ininterruptos 60 anos).Beetle Bailey, que no Brasil recebeu o nome de Recruta Zero, surgiu em 4 de setembro de 1950 e fez sua fama como uma denúncia do purgatório que é o Serviço Militar, com os seus sargentos sadomasoquistas, seus superiores hierárquicos distanciados (e "paus-mandados" de suas mulheres). E os recrutas ensaboados, cheios de truques para fugir dos trabalhos pesados e da rotina espartana.Amanhã, o Sesc Vila Mariana abre uma mostra para celebrar a longevidade desse personagem (que é publicado pelo Estado) com originais inéditos, filmes, vídeos, palestras e debates. O autor não virá, por conta da idade avançada, mas enviou quatro desenhos assinados para o Brasil, para que a curadoria do evento possa utilizá-los com fins beneficentes.Bonachão. De sua casa em Connecticut, Mort Walker, que completa 87 anos em setembro, falou por telefone ao Estado sobre seu personagem. Bonachão e workaholic (ele mesmo atende o telefone em seu escritório), falou de suas vitórias e de uma frustração: criador do International Museum of Cartoon Art, que teve sede em Boca Ratón, Flórida, durante alguns anos, ele teve de fechar a instituição por "problemas financeiros"."Doei todo o acervo à Ohio State University, que já está reformando um prédio para receber tudo. Acho que, para pesquisadores dos quadrinhos, aquela será a melhor destinação", afirmou Walker.Por se tratar de uma paródia debochada do militarismo, Recruta Zero pisou em ovos ao atravessar os anos mais bélicos da vida americana. Os soldados o adoravam, os generais deploravam-no. A revista Mad, em abril de 1969, "tirou" o lendário bonezinho que recobre eternamente os olhos do Zero e na sua testa estava escrito: "Caiam fora do Vietnã".No dia 4 de março de 1981, o jornal Tribune, de Minneapolis, suspendeu a tira do Recruta Zero. No lugar onde ela era publicada, saiu um comunicado: "Beetle Bailey não aparece hoje na página de quadrinhos porque o tema foi considerado sexista pelos editores."Por "sexista", entenda-se uma briga entre as feministas e o autor para que ele cessasse o assédio do General Dureza à sua secretária Dona Tetê, proprietária de um adorável guarda-roupas com minissaias, decotes, terninhos e um rebolado cobiçado por todo o Quartel Swampy, onde se passa a ação. "Isso é um insulto às mulheres que trabalham", escreveu uma entre as centenas de leitoras que protestavam. "É a fantasia de um homem velho!", escreveu outra.Censura. Em 1990, uma outra tira do personagem, que mostrava todos os recrutas mostrando as nádegas ao Sargento Dureza, causou controvérsia e foi censurada em alguns jornais. Quando terminou a Guerra da Coreia, o Recruta Zero foi visitar a irmã e o cunhado. Isso originou outra tira escrita por Mort Walker: Zezé & Cia (Hi and Lois), com desenhos de Dick Browne, que viria a criar Haggar, o Horrível.Mort Walker não considera o Recruta Zero um "loser", um perdedor clássico da tradição americana. "Acho que o Sargento Tainha, sim, é um perdedor. O Recruta Zero, com suas artimanhas, foge daquilo que o oprime. É um vencedor", considera.Não há mais uma revista exclusiva para o Recruta Zero sendo publicada no Brasil. Isso já aconteceu no passado, primeiro com a Rio Gráfica Editora, depois Editora Globo, que editou gibis com histórias produzidas por roteiristas e desenhistas nacionais, sob aprovação do autor. O personagem ganhou aqui, no Brasil, o nome que pertence, na verdade, a outro personagem da tira, o Dentinho (Private Zero), mas que foi considerado mais adequado para os editores nacionais.Influência. O estilo e a verve de Mort Walker influenciaram gerações ao redor do mundo. No Brasil, um humorista que confessa a influência é Reinaldo Figueiredo, da trupe Casseta & Planeta."O meu "estilo", se é que posso dizer que tenho um, é uma mistura de Jaguar, Millôr, Nássara, Carlos Estêvão, Steinberg, Robert Crumb, Wolinski, Topor, B. Kliban, John Glashan, e uma pitada de Mort Walker, aquele cara do Recruta Zero...", disse Figueiredo recentemente.O expert em quadrinhos Alvaro de Moya lembra que, quando conheceu Walker, ele folheava seu livro sobre HQs, Shazam!, e, ao ver que faltava o Recruta Zero, chamou a atenção do especialista, que corrigiu o deslize em seus outros livros.Hugo Escalera, diretor internacional da empresa Creative Licensing (responsável pelos direitos do personagem no Brasil), diz que, como Betty Boop, o Recruta Zero não é um personagem que vá seduzir novos leitores jovens pelos mesmos motivos que seduzia no passado. "É um culto retrô", considera.Vídeo. Entrevista com Álvaro de Moya e galeria de imagensA TURMA DO ZEROSargento TainhaGrosso, pouco inteligente, truculento. Foi certamente a inspiração para o Sargento Pincel dos brasileiros TrapalhõesGeneral DurezaAlheio, levemente caduco, fantoche da esposa, só se interessa pelas pernas da secretáriaOttoDedo-duro, com características antropomórficas, só falta falar. Odeia recrutasDona TetêMiss Buxley concentrava as fantasias masculinas, e não porque era a única mulher na área...DentinhoNão é o centroavante do Corinthians, mas o clássico recruta caipira e ingênuo a ser zoadoTenente EscovinhaOficial emergente, ambicioso, que tem de rebolar para compreender os superioresCosmoNos dias de licença, o recruta galanteador mais bem-sucedido com as garotasSenhorita BlipsA outra secretária do Coronel Dureza é inteligente, mas não tem os dotes de Dona Tetê

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