O tempo, o vento e a solidão


Novo grupo recupera a obra do escritor gaúcho Josué Guimarães

Por Redação

Crítica: Jefferson Del RiosTerra de Ninguém traz à cena a prosa contida do gaúcho Josué Guimarães (1921-1986), escritor um tanto esquecido e que os diretores Miguel Langone Jr. e Isadora Faria resgatam para o teatro. São três contos que entrelaçam solidão, pobreza e cruentas revoluções gaúchas. Seguidor da linhagem histórico-romanesca de Erico Verissimo, que tem continuidade em Tabajara Ruas da saga Os Varões Assinalados, Guimarães construiu uma ficção nuançada em que cabe a ternura. O primeiro momento mostra uma mocinha (ou um garoto) em situação de fragilidade em face de um ataque masculino. O segundo, a confissão do lavrador que se defendeu com sangue de uma situação injusta; e por fim a narrativa de antigas guerras internas do Rio Grande, província que se forjou em batalhas contra os vizinhos espanhóis, o próprio império do Brasil (a Guerra dos Farrapos durou dez anos, 1835-1845) e em desavenças regionais, que é todo um tempo e o vento de sobressaltos políticos, familiares e individuais.A montagem quer apenas ser teatro, mas está em instante estético e ideológico da temporada em que cabem certas questões. Porque oferece uma representação baseada no ator e na palavra na hora em que a arte dos gregos antigos assiste bater em sua porta uma onda de experimentos batizados de "novas teatralidade", "extrateatralidades", "teatro-expandido", "teatro-híbrido" e outras palavras de ordem. Fórmulas indicadoras da vontade de misturar o palco com o cinema, artes visuais e o ruído da metrópole (representação metade dentro da sala e metade na rua). O intérprete é quase peça de engrenagem em outro tipo de terra de ninguém. O estranho é que durante 30 anos houve adesão incondicional de parte do teatro brasileiro ao teórico e encenador polonês Jerzy Grotowski (1933-1999), resumida no princípio do Teatro Pobre. Em traços gerais, trata-se de uma arte meditativa que valoriza o silêncio e é desprovida de qualquer artifício ilusionista (cenografia, iluminação e efeitos sonoros). O ator deve voltar-se para seu interior em um processo de introspecção, domínio corporal e de voz. Grotowski chegou a esse resultado depois de pesquisar, entre outros temas, os movimentos místicos e religiões (era sobrinho de um bispo católico da Polônia). Caminho que exige equilíbrio entre intelecto e intuição, racionalidade e emoção. Grotowski, que esteve mais de uma vez no Brasil, está, quem sabe, na hora de voltar a ser estudado em obras recentes publicadas pela Editora Perspectiva: Palavras Praticadas - Percurso Artístico de Jerzy Grotowski, de Tatiana Motta Lima, e O Teatro Laboratório de Jerzy Grotowski (textos dele, Ludwik Flaszen e Eugenio Barba). Trata-se de um teatro de alta precisão que pede plateia reduzida (Grotowski trabalhava com 80 espectadores). Seu ideário adquiriu com o tempo certo ar litúrgico, forte abstração que se pode discutir, e o próprio artista cultivou uma aura de mestre distante. É inegável, porém, que seus processos iniciais de ensaio, escritos e grandes espetáculos como Apocalypsis Cum Figuris abriram caminhos para o teatro.Essas rememorações são pretexto para dizer que um grupo de atores paulistas que esteve anos afastados do ofício agora se decidiu por um recomeço, e assim nasceu a Cia Teatro Compacto. Não proclamam nenhum teatro pós-moderno e/ou pós-tudo. Também não são grotowskianos. Acedem as luzes e fazem uma boa peça com acertos e pequenos defeitos. A abertura de Terra de Ninguém (os comentários adicionais ao original), por exemplo, incorre em excesso retórico e a personagem, um garoto agredido que se vinga (interpretado com intensidade pela atriz Teca Pinkovai), acaba diluído pela fragmentação dramática. Em seguida, Antônio Natal, com domínio requintado de voz e gestos mínimos, oferece o relato impactante do homem que matou porque de certa maneira, como um anti-herói trágico, era o seu destino. O espetáculo termina com Miguel Langone em sóbria descrição do soldado que jaz morto e encolhido entre pedras, enquanto a devastação da guerra continua. O resultado é um avanço para o grupo que busca afinação. Em parte, é um projeto cauteloso. A ultravanguarda dirá ser convencional. Mas é bom lembrar outra observação de Grotowski: Há muita gente querendo salvar o teatro quando deveria salvar a si própria.

Crítica: Jefferson Del RiosTerra de Ninguém traz à cena a prosa contida do gaúcho Josué Guimarães (1921-1986), escritor um tanto esquecido e que os diretores Miguel Langone Jr. e Isadora Faria resgatam para o teatro. São três contos que entrelaçam solidão, pobreza e cruentas revoluções gaúchas. Seguidor da linhagem histórico-romanesca de Erico Verissimo, que tem continuidade em Tabajara Ruas da saga Os Varões Assinalados, Guimarães construiu uma ficção nuançada em que cabe a ternura. O primeiro momento mostra uma mocinha (ou um garoto) em situação de fragilidade em face de um ataque masculino. O segundo, a confissão do lavrador que se defendeu com sangue de uma situação injusta; e por fim a narrativa de antigas guerras internas do Rio Grande, província que se forjou em batalhas contra os vizinhos espanhóis, o próprio império do Brasil (a Guerra dos Farrapos durou dez anos, 1835-1845) e em desavenças regionais, que é todo um tempo e o vento de sobressaltos políticos, familiares e individuais.A montagem quer apenas ser teatro, mas está em instante estético e ideológico da temporada em que cabem certas questões. Porque oferece uma representação baseada no ator e na palavra na hora em que a arte dos gregos antigos assiste bater em sua porta uma onda de experimentos batizados de "novas teatralidade", "extrateatralidades", "teatro-expandido", "teatro-híbrido" e outras palavras de ordem. Fórmulas indicadoras da vontade de misturar o palco com o cinema, artes visuais e o ruído da metrópole (representação metade dentro da sala e metade na rua). O intérprete é quase peça de engrenagem em outro tipo de terra de ninguém. O estranho é que durante 30 anos houve adesão incondicional de parte do teatro brasileiro ao teórico e encenador polonês Jerzy Grotowski (1933-1999), resumida no princípio do Teatro Pobre. Em traços gerais, trata-se de uma arte meditativa que valoriza o silêncio e é desprovida de qualquer artifício ilusionista (cenografia, iluminação e efeitos sonoros). O ator deve voltar-se para seu interior em um processo de introspecção, domínio corporal e de voz. Grotowski chegou a esse resultado depois de pesquisar, entre outros temas, os movimentos místicos e religiões (era sobrinho de um bispo católico da Polônia). Caminho que exige equilíbrio entre intelecto e intuição, racionalidade e emoção. Grotowski, que esteve mais de uma vez no Brasil, está, quem sabe, na hora de voltar a ser estudado em obras recentes publicadas pela Editora Perspectiva: Palavras Praticadas - Percurso Artístico de Jerzy Grotowski, de Tatiana Motta Lima, e O Teatro Laboratório de Jerzy Grotowski (textos dele, Ludwik Flaszen e Eugenio Barba). Trata-se de um teatro de alta precisão que pede plateia reduzida (Grotowski trabalhava com 80 espectadores). Seu ideário adquiriu com o tempo certo ar litúrgico, forte abstração que se pode discutir, e o próprio artista cultivou uma aura de mestre distante. É inegável, porém, que seus processos iniciais de ensaio, escritos e grandes espetáculos como Apocalypsis Cum Figuris abriram caminhos para o teatro.Essas rememorações são pretexto para dizer que um grupo de atores paulistas que esteve anos afastados do ofício agora se decidiu por um recomeço, e assim nasceu a Cia Teatro Compacto. Não proclamam nenhum teatro pós-moderno e/ou pós-tudo. Também não são grotowskianos. Acedem as luzes e fazem uma boa peça com acertos e pequenos defeitos. A abertura de Terra de Ninguém (os comentários adicionais ao original), por exemplo, incorre em excesso retórico e a personagem, um garoto agredido que se vinga (interpretado com intensidade pela atriz Teca Pinkovai), acaba diluído pela fragmentação dramática. Em seguida, Antônio Natal, com domínio requintado de voz e gestos mínimos, oferece o relato impactante do homem que matou porque de certa maneira, como um anti-herói trágico, era o seu destino. O espetáculo termina com Miguel Langone em sóbria descrição do soldado que jaz morto e encolhido entre pedras, enquanto a devastação da guerra continua. O resultado é um avanço para o grupo que busca afinação. Em parte, é um projeto cauteloso. A ultravanguarda dirá ser convencional. Mas é bom lembrar outra observação de Grotowski: Há muita gente querendo salvar o teatro quando deveria salvar a si própria.

Crítica: Jefferson Del RiosTerra de Ninguém traz à cena a prosa contida do gaúcho Josué Guimarães (1921-1986), escritor um tanto esquecido e que os diretores Miguel Langone Jr. e Isadora Faria resgatam para o teatro. São três contos que entrelaçam solidão, pobreza e cruentas revoluções gaúchas. Seguidor da linhagem histórico-romanesca de Erico Verissimo, que tem continuidade em Tabajara Ruas da saga Os Varões Assinalados, Guimarães construiu uma ficção nuançada em que cabe a ternura. O primeiro momento mostra uma mocinha (ou um garoto) em situação de fragilidade em face de um ataque masculino. O segundo, a confissão do lavrador que se defendeu com sangue de uma situação injusta; e por fim a narrativa de antigas guerras internas do Rio Grande, província que se forjou em batalhas contra os vizinhos espanhóis, o próprio império do Brasil (a Guerra dos Farrapos durou dez anos, 1835-1845) e em desavenças regionais, que é todo um tempo e o vento de sobressaltos políticos, familiares e individuais.A montagem quer apenas ser teatro, mas está em instante estético e ideológico da temporada em que cabem certas questões. Porque oferece uma representação baseada no ator e na palavra na hora em que a arte dos gregos antigos assiste bater em sua porta uma onda de experimentos batizados de "novas teatralidade", "extrateatralidades", "teatro-expandido", "teatro-híbrido" e outras palavras de ordem. Fórmulas indicadoras da vontade de misturar o palco com o cinema, artes visuais e o ruído da metrópole (representação metade dentro da sala e metade na rua). O intérprete é quase peça de engrenagem em outro tipo de terra de ninguém. O estranho é que durante 30 anos houve adesão incondicional de parte do teatro brasileiro ao teórico e encenador polonês Jerzy Grotowski (1933-1999), resumida no princípio do Teatro Pobre. Em traços gerais, trata-se de uma arte meditativa que valoriza o silêncio e é desprovida de qualquer artifício ilusionista (cenografia, iluminação e efeitos sonoros). O ator deve voltar-se para seu interior em um processo de introspecção, domínio corporal e de voz. Grotowski chegou a esse resultado depois de pesquisar, entre outros temas, os movimentos místicos e religiões (era sobrinho de um bispo católico da Polônia). Caminho que exige equilíbrio entre intelecto e intuição, racionalidade e emoção. Grotowski, que esteve mais de uma vez no Brasil, está, quem sabe, na hora de voltar a ser estudado em obras recentes publicadas pela Editora Perspectiva: Palavras Praticadas - Percurso Artístico de Jerzy Grotowski, de Tatiana Motta Lima, e O Teatro Laboratório de Jerzy Grotowski (textos dele, Ludwik Flaszen e Eugenio Barba). Trata-se de um teatro de alta precisão que pede plateia reduzida (Grotowski trabalhava com 80 espectadores). Seu ideário adquiriu com o tempo certo ar litúrgico, forte abstração que se pode discutir, e o próprio artista cultivou uma aura de mestre distante. É inegável, porém, que seus processos iniciais de ensaio, escritos e grandes espetáculos como Apocalypsis Cum Figuris abriram caminhos para o teatro.Essas rememorações são pretexto para dizer que um grupo de atores paulistas que esteve anos afastados do ofício agora se decidiu por um recomeço, e assim nasceu a Cia Teatro Compacto. Não proclamam nenhum teatro pós-moderno e/ou pós-tudo. Também não são grotowskianos. Acedem as luzes e fazem uma boa peça com acertos e pequenos defeitos. A abertura de Terra de Ninguém (os comentários adicionais ao original), por exemplo, incorre em excesso retórico e a personagem, um garoto agredido que se vinga (interpretado com intensidade pela atriz Teca Pinkovai), acaba diluído pela fragmentação dramática. Em seguida, Antônio Natal, com domínio requintado de voz e gestos mínimos, oferece o relato impactante do homem que matou porque de certa maneira, como um anti-herói trágico, era o seu destino. O espetáculo termina com Miguel Langone em sóbria descrição do soldado que jaz morto e encolhido entre pedras, enquanto a devastação da guerra continua. O resultado é um avanço para o grupo que busca afinação. Em parte, é um projeto cauteloso. A ultravanguarda dirá ser convencional. Mas é bom lembrar outra observação de Grotowski: Há muita gente querendo salvar o teatro quando deveria salvar a si própria.

Crítica: Jefferson Del RiosTerra de Ninguém traz à cena a prosa contida do gaúcho Josué Guimarães (1921-1986), escritor um tanto esquecido e que os diretores Miguel Langone Jr. e Isadora Faria resgatam para o teatro. São três contos que entrelaçam solidão, pobreza e cruentas revoluções gaúchas. Seguidor da linhagem histórico-romanesca de Erico Verissimo, que tem continuidade em Tabajara Ruas da saga Os Varões Assinalados, Guimarães construiu uma ficção nuançada em que cabe a ternura. O primeiro momento mostra uma mocinha (ou um garoto) em situação de fragilidade em face de um ataque masculino. O segundo, a confissão do lavrador que se defendeu com sangue de uma situação injusta; e por fim a narrativa de antigas guerras internas do Rio Grande, província que se forjou em batalhas contra os vizinhos espanhóis, o próprio império do Brasil (a Guerra dos Farrapos durou dez anos, 1835-1845) e em desavenças regionais, que é todo um tempo e o vento de sobressaltos políticos, familiares e individuais.A montagem quer apenas ser teatro, mas está em instante estético e ideológico da temporada em que cabem certas questões. Porque oferece uma representação baseada no ator e na palavra na hora em que a arte dos gregos antigos assiste bater em sua porta uma onda de experimentos batizados de "novas teatralidade", "extrateatralidades", "teatro-expandido", "teatro-híbrido" e outras palavras de ordem. Fórmulas indicadoras da vontade de misturar o palco com o cinema, artes visuais e o ruído da metrópole (representação metade dentro da sala e metade na rua). O intérprete é quase peça de engrenagem em outro tipo de terra de ninguém. O estranho é que durante 30 anos houve adesão incondicional de parte do teatro brasileiro ao teórico e encenador polonês Jerzy Grotowski (1933-1999), resumida no princípio do Teatro Pobre. Em traços gerais, trata-se de uma arte meditativa que valoriza o silêncio e é desprovida de qualquer artifício ilusionista (cenografia, iluminação e efeitos sonoros). O ator deve voltar-se para seu interior em um processo de introspecção, domínio corporal e de voz. Grotowski chegou a esse resultado depois de pesquisar, entre outros temas, os movimentos místicos e religiões (era sobrinho de um bispo católico da Polônia). Caminho que exige equilíbrio entre intelecto e intuição, racionalidade e emoção. Grotowski, que esteve mais de uma vez no Brasil, está, quem sabe, na hora de voltar a ser estudado em obras recentes publicadas pela Editora Perspectiva: Palavras Praticadas - Percurso Artístico de Jerzy Grotowski, de Tatiana Motta Lima, e O Teatro Laboratório de Jerzy Grotowski (textos dele, Ludwik Flaszen e Eugenio Barba). Trata-se de um teatro de alta precisão que pede plateia reduzida (Grotowski trabalhava com 80 espectadores). Seu ideário adquiriu com o tempo certo ar litúrgico, forte abstração que se pode discutir, e o próprio artista cultivou uma aura de mestre distante. É inegável, porém, que seus processos iniciais de ensaio, escritos e grandes espetáculos como Apocalypsis Cum Figuris abriram caminhos para o teatro.Essas rememorações são pretexto para dizer que um grupo de atores paulistas que esteve anos afastados do ofício agora se decidiu por um recomeço, e assim nasceu a Cia Teatro Compacto. Não proclamam nenhum teatro pós-moderno e/ou pós-tudo. Também não são grotowskianos. Acedem as luzes e fazem uma boa peça com acertos e pequenos defeitos. A abertura de Terra de Ninguém (os comentários adicionais ao original), por exemplo, incorre em excesso retórico e a personagem, um garoto agredido que se vinga (interpretado com intensidade pela atriz Teca Pinkovai), acaba diluído pela fragmentação dramática. Em seguida, Antônio Natal, com domínio requintado de voz e gestos mínimos, oferece o relato impactante do homem que matou porque de certa maneira, como um anti-herói trágico, era o seu destino. O espetáculo termina com Miguel Langone em sóbria descrição do soldado que jaz morto e encolhido entre pedras, enquanto a devastação da guerra continua. O resultado é um avanço para o grupo que busca afinação. Em parte, é um projeto cauteloso. A ultravanguarda dirá ser convencional. Mas é bom lembrar outra observação de Grotowski: Há muita gente querendo salvar o teatro quando deveria salvar a si própria.

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