O vermelho que beija o céu


O aclamado arquiteto francês Jean Nouvel surpreende os ingleses com um pavilhão que brinca com a forma e a vibração da cor

Por Jonathan Glancey

Jean Nouvel está diante de sua primeira construção britânica, uma chamativa estrutura vermelha instalada em meio ao verde ensolarado de Kensington Gardens no centro de Londres, e diz: "Um transeunte passa pelo parque. Olha ao redor. Repara no vermelho em meio às árvores. O que é aquilo? Velas? Um circo? Não é possível saber do que se trata, e assim, o melhor é dar uma olhada mais de perto." O arquiteto francês está falando do pavilhão de verão que criou para a Serpentine Gallery, recém-aberta para o público. Em que se inspirou para criar esta rapsódia em vermelho? "Foi aquele momento em que o sol de verão nos enche os olhos e, enquanto piscamos, o mundo se dissolve no vermelho", conta ele. O pavilhão de Nouvel - o décimo a enfeitar este parque londrino - não é só vermelho do lado de fora. Sob a imponente estrutura vermelha de aço e a cobertura retrátil de tela vermelha, há um assoalho de borracha vermelha, ao redor do qual há mesas vermelhas de pingue-pongue, redes vermelhas para descanso, mesas e cadeiras vermelhas e tabuleiros vermelhos de xadrez. Até o auditório e a cafeteria são vermelhos (assim como seus refrigeradores). E, para aqueles que não conseguirem enxergar o pavilhão de longe, logo ao lado dele há uma parede vermelha de vidro de 12 metros, erguendo-se da grama como um imenso ponto de exclamação.Este "imenso relógio de sol", como Nouvel se refere a ele, inclina-se num ângulo inquietante, dando a impressão de ameaçar o pavilhão e acrescentando certa dramaticidade, ou até uma sensação de perigo, a esta chamativa criação. "De certa forma, o pavilhão é um dispositivo solar, uma forma de redirecionar a luz do sol. Sob outro aspecto, é uma delicada flor que se ergue no parque sob o sol de verão, murcha no outono, e então desaparece. É claro que, de muitas maneiras, o vermelho é também a cor de Londres - os ônibus, as caixas do correio, os soldados da rainha - mas a cor está relacionada principalmente ao sol." Mas Nouvel, que segue os passos de outros célebres arquitetos que já passaram pela Serpentine, como Oscar Niemeyer, Zaha Hadid, Toyo Ito e Rem Koolhaas, quer que o pavilhão seja mais do que um anteparo solar."Quero que ele atraia e filtre as emoções, que seja um pequeno espaço de calor e deleite. Para um arquiteto, é sempre um prazer trabalhar com um projeto sem maiores consequências; o pavilhão surge, e depois desaparece. Deixa uma impressão, ecos de uma emoção, nada mais. Assim, o arquiteto tem liberdade para ser um artista. Não se trata de um exercício perfeito de arquitetura, e sim de uma construção saída de um sonho que nos permite ter algumas sensações, as quais espero que sejam felizes. É como se a arquitetura tirasse férias."O pavilhão de Nouvel é uma construção simples que, quando inspecionada de perto, mostra ser muito mais do que uma mera escultura de cores vibrantes. Partes de suas superfícies vermelhas absorvem a luz, e outras a refletem; algumas reluzem, outras são translúcidas. Sob o teto retrátil pendem fotos de outro grande parque numa grande capital: o Jardin du Luxembourg, de Paris - mas trata-se de um parque formal, como a maioria dos parques franceses, diferentes dos parques britânicos, mais relaxados e divertidos. As fotos são de Jean Baudrillard, festejado filósofo francês que morreu três anos atrás; ele foi uma das principais influências de Nouvel, além de ter sido amigo dele. Brinquedo. Com alguma ajuda de engenheiros da Arup comandados por David Glover e Cecil Balmond, o espaço foi claramente projetado na forma de um brinquedo. É verdade que o auditório abrigará debates sérios e eventos de todo tipo. Mas antes que as pessoas participem de tais ocasiões, elas podem se encontrar para conversar no bar vermelho - ou jogar pingue-pongue vermelho, ou chutar uma bola vermelha de futebol ou arremessar um frisbee vermelho no parque. De onde vem tamanho espírito brincalhão?Bem, o pavilhão da Serpentine é tradicionalmente projetado por um arquiteto que ainda não tenha concluído ou construído uma obra na Grã-Bretanha. No entanto, o pavilhão de 2010 quase foge a essa tendência: nos próximos meses será inaugurado o One New Change, controvertido complexo de escritórios e lojas ao leste da Catedral de St. Paul. Trata-se de um projeto de arquitetura séria: o próprio Nouvel disse que o edifício é como um bombardeiro invisível; apesar de imenso, seu revestimento é de vidro opaco, como se tentasse disfarçar seu volume. Em resumo, o projeto parece tão brincalhão quanto um reator nuclear. O príncipe Charles tentou acabar com as chances da indicação de Nouvel, mas não conseguiu que seus arquitetos preferidos fossem nomeados para o projeto. Ao brincar com a arquitetura, o pavilhão nos proporciona uma espécie de balanço do que está por vir.O melhor de Nouvel. Parece uma pena que a primeira grande obra de Nouvel na Grã-Bretanha seja um gigante comercial. Sua criatividade se presta mais a projetos como galerias de arte, salas de concerto e museus. As melhores obras do arquiteto de 64 anos são o Institut du Monde Arabe, maravilhosa sede da fundação cultural às margens do Sena, concluída em 1987 como um dos grandes projetos do presidente Mitterrand; a Fondation Cartier, de 1994, belo e discreto centro de artes parisiense que se revela por meio de camadas sucessivas de imensos painéis de vidro; e a Sala de Concertos de Copenhagen, um cubo de tela que, quando iluminado à noite, produz um efeito encantador. Cada um desses edifícios enigmáticos e atentamente construídos se expressa numa coloração dominante: prateado, branco, azul."A arquitetura é diálogo", diz Nouvel. "Os arquitetos precisam proporcionar uma janela para o futuro, mesmo quando a janela se recusa a se abrir."

Jean Nouvel está diante de sua primeira construção britânica, uma chamativa estrutura vermelha instalada em meio ao verde ensolarado de Kensington Gardens no centro de Londres, e diz: "Um transeunte passa pelo parque. Olha ao redor. Repara no vermelho em meio às árvores. O que é aquilo? Velas? Um circo? Não é possível saber do que se trata, e assim, o melhor é dar uma olhada mais de perto." O arquiteto francês está falando do pavilhão de verão que criou para a Serpentine Gallery, recém-aberta para o público. Em que se inspirou para criar esta rapsódia em vermelho? "Foi aquele momento em que o sol de verão nos enche os olhos e, enquanto piscamos, o mundo se dissolve no vermelho", conta ele. O pavilhão de Nouvel - o décimo a enfeitar este parque londrino - não é só vermelho do lado de fora. Sob a imponente estrutura vermelha de aço e a cobertura retrátil de tela vermelha, há um assoalho de borracha vermelha, ao redor do qual há mesas vermelhas de pingue-pongue, redes vermelhas para descanso, mesas e cadeiras vermelhas e tabuleiros vermelhos de xadrez. Até o auditório e a cafeteria são vermelhos (assim como seus refrigeradores). E, para aqueles que não conseguirem enxergar o pavilhão de longe, logo ao lado dele há uma parede vermelha de vidro de 12 metros, erguendo-se da grama como um imenso ponto de exclamação.Este "imenso relógio de sol", como Nouvel se refere a ele, inclina-se num ângulo inquietante, dando a impressão de ameaçar o pavilhão e acrescentando certa dramaticidade, ou até uma sensação de perigo, a esta chamativa criação. "De certa forma, o pavilhão é um dispositivo solar, uma forma de redirecionar a luz do sol. Sob outro aspecto, é uma delicada flor que se ergue no parque sob o sol de verão, murcha no outono, e então desaparece. É claro que, de muitas maneiras, o vermelho é também a cor de Londres - os ônibus, as caixas do correio, os soldados da rainha - mas a cor está relacionada principalmente ao sol." Mas Nouvel, que segue os passos de outros célebres arquitetos que já passaram pela Serpentine, como Oscar Niemeyer, Zaha Hadid, Toyo Ito e Rem Koolhaas, quer que o pavilhão seja mais do que um anteparo solar."Quero que ele atraia e filtre as emoções, que seja um pequeno espaço de calor e deleite. Para um arquiteto, é sempre um prazer trabalhar com um projeto sem maiores consequências; o pavilhão surge, e depois desaparece. Deixa uma impressão, ecos de uma emoção, nada mais. Assim, o arquiteto tem liberdade para ser um artista. Não se trata de um exercício perfeito de arquitetura, e sim de uma construção saída de um sonho que nos permite ter algumas sensações, as quais espero que sejam felizes. É como se a arquitetura tirasse férias."O pavilhão de Nouvel é uma construção simples que, quando inspecionada de perto, mostra ser muito mais do que uma mera escultura de cores vibrantes. Partes de suas superfícies vermelhas absorvem a luz, e outras a refletem; algumas reluzem, outras são translúcidas. Sob o teto retrátil pendem fotos de outro grande parque numa grande capital: o Jardin du Luxembourg, de Paris - mas trata-se de um parque formal, como a maioria dos parques franceses, diferentes dos parques britânicos, mais relaxados e divertidos. As fotos são de Jean Baudrillard, festejado filósofo francês que morreu três anos atrás; ele foi uma das principais influências de Nouvel, além de ter sido amigo dele. Brinquedo. Com alguma ajuda de engenheiros da Arup comandados por David Glover e Cecil Balmond, o espaço foi claramente projetado na forma de um brinquedo. É verdade que o auditório abrigará debates sérios e eventos de todo tipo. Mas antes que as pessoas participem de tais ocasiões, elas podem se encontrar para conversar no bar vermelho - ou jogar pingue-pongue vermelho, ou chutar uma bola vermelha de futebol ou arremessar um frisbee vermelho no parque. De onde vem tamanho espírito brincalhão?Bem, o pavilhão da Serpentine é tradicionalmente projetado por um arquiteto que ainda não tenha concluído ou construído uma obra na Grã-Bretanha. No entanto, o pavilhão de 2010 quase foge a essa tendência: nos próximos meses será inaugurado o One New Change, controvertido complexo de escritórios e lojas ao leste da Catedral de St. Paul. Trata-se de um projeto de arquitetura séria: o próprio Nouvel disse que o edifício é como um bombardeiro invisível; apesar de imenso, seu revestimento é de vidro opaco, como se tentasse disfarçar seu volume. Em resumo, o projeto parece tão brincalhão quanto um reator nuclear. O príncipe Charles tentou acabar com as chances da indicação de Nouvel, mas não conseguiu que seus arquitetos preferidos fossem nomeados para o projeto. Ao brincar com a arquitetura, o pavilhão nos proporciona uma espécie de balanço do que está por vir.O melhor de Nouvel. Parece uma pena que a primeira grande obra de Nouvel na Grã-Bretanha seja um gigante comercial. Sua criatividade se presta mais a projetos como galerias de arte, salas de concerto e museus. As melhores obras do arquiteto de 64 anos são o Institut du Monde Arabe, maravilhosa sede da fundação cultural às margens do Sena, concluída em 1987 como um dos grandes projetos do presidente Mitterrand; a Fondation Cartier, de 1994, belo e discreto centro de artes parisiense que se revela por meio de camadas sucessivas de imensos painéis de vidro; e a Sala de Concertos de Copenhagen, um cubo de tela que, quando iluminado à noite, produz um efeito encantador. Cada um desses edifícios enigmáticos e atentamente construídos se expressa numa coloração dominante: prateado, branco, azul."A arquitetura é diálogo", diz Nouvel. "Os arquitetos precisam proporcionar uma janela para o futuro, mesmo quando a janela se recusa a se abrir."

Jean Nouvel está diante de sua primeira construção britânica, uma chamativa estrutura vermelha instalada em meio ao verde ensolarado de Kensington Gardens no centro de Londres, e diz: "Um transeunte passa pelo parque. Olha ao redor. Repara no vermelho em meio às árvores. O que é aquilo? Velas? Um circo? Não é possível saber do que se trata, e assim, o melhor é dar uma olhada mais de perto." O arquiteto francês está falando do pavilhão de verão que criou para a Serpentine Gallery, recém-aberta para o público. Em que se inspirou para criar esta rapsódia em vermelho? "Foi aquele momento em que o sol de verão nos enche os olhos e, enquanto piscamos, o mundo se dissolve no vermelho", conta ele. O pavilhão de Nouvel - o décimo a enfeitar este parque londrino - não é só vermelho do lado de fora. Sob a imponente estrutura vermelha de aço e a cobertura retrátil de tela vermelha, há um assoalho de borracha vermelha, ao redor do qual há mesas vermelhas de pingue-pongue, redes vermelhas para descanso, mesas e cadeiras vermelhas e tabuleiros vermelhos de xadrez. Até o auditório e a cafeteria são vermelhos (assim como seus refrigeradores). E, para aqueles que não conseguirem enxergar o pavilhão de longe, logo ao lado dele há uma parede vermelha de vidro de 12 metros, erguendo-se da grama como um imenso ponto de exclamação.Este "imenso relógio de sol", como Nouvel se refere a ele, inclina-se num ângulo inquietante, dando a impressão de ameaçar o pavilhão e acrescentando certa dramaticidade, ou até uma sensação de perigo, a esta chamativa criação. "De certa forma, o pavilhão é um dispositivo solar, uma forma de redirecionar a luz do sol. Sob outro aspecto, é uma delicada flor que se ergue no parque sob o sol de verão, murcha no outono, e então desaparece. É claro que, de muitas maneiras, o vermelho é também a cor de Londres - os ônibus, as caixas do correio, os soldados da rainha - mas a cor está relacionada principalmente ao sol." Mas Nouvel, que segue os passos de outros célebres arquitetos que já passaram pela Serpentine, como Oscar Niemeyer, Zaha Hadid, Toyo Ito e Rem Koolhaas, quer que o pavilhão seja mais do que um anteparo solar."Quero que ele atraia e filtre as emoções, que seja um pequeno espaço de calor e deleite. Para um arquiteto, é sempre um prazer trabalhar com um projeto sem maiores consequências; o pavilhão surge, e depois desaparece. Deixa uma impressão, ecos de uma emoção, nada mais. Assim, o arquiteto tem liberdade para ser um artista. Não se trata de um exercício perfeito de arquitetura, e sim de uma construção saída de um sonho que nos permite ter algumas sensações, as quais espero que sejam felizes. É como se a arquitetura tirasse férias."O pavilhão de Nouvel é uma construção simples que, quando inspecionada de perto, mostra ser muito mais do que uma mera escultura de cores vibrantes. Partes de suas superfícies vermelhas absorvem a luz, e outras a refletem; algumas reluzem, outras são translúcidas. Sob o teto retrátil pendem fotos de outro grande parque numa grande capital: o Jardin du Luxembourg, de Paris - mas trata-se de um parque formal, como a maioria dos parques franceses, diferentes dos parques britânicos, mais relaxados e divertidos. As fotos são de Jean Baudrillard, festejado filósofo francês que morreu três anos atrás; ele foi uma das principais influências de Nouvel, além de ter sido amigo dele. Brinquedo. Com alguma ajuda de engenheiros da Arup comandados por David Glover e Cecil Balmond, o espaço foi claramente projetado na forma de um brinquedo. É verdade que o auditório abrigará debates sérios e eventos de todo tipo. Mas antes que as pessoas participem de tais ocasiões, elas podem se encontrar para conversar no bar vermelho - ou jogar pingue-pongue vermelho, ou chutar uma bola vermelha de futebol ou arremessar um frisbee vermelho no parque. De onde vem tamanho espírito brincalhão?Bem, o pavilhão da Serpentine é tradicionalmente projetado por um arquiteto que ainda não tenha concluído ou construído uma obra na Grã-Bretanha. No entanto, o pavilhão de 2010 quase foge a essa tendência: nos próximos meses será inaugurado o One New Change, controvertido complexo de escritórios e lojas ao leste da Catedral de St. Paul. Trata-se de um projeto de arquitetura séria: o próprio Nouvel disse que o edifício é como um bombardeiro invisível; apesar de imenso, seu revestimento é de vidro opaco, como se tentasse disfarçar seu volume. Em resumo, o projeto parece tão brincalhão quanto um reator nuclear. O príncipe Charles tentou acabar com as chances da indicação de Nouvel, mas não conseguiu que seus arquitetos preferidos fossem nomeados para o projeto. Ao brincar com a arquitetura, o pavilhão nos proporciona uma espécie de balanço do que está por vir.O melhor de Nouvel. Parece uma pena que a primeira grande obra de Nouvel na Grã-Bretanha seja um gigante comercial. Sua criatividade se presta mais a projetos como galerias de arte, salas de concerto e museus. As melhores obras do arquiteto de 64 anos são o Institut du Monde Arabe, maravilhosa sede da fundação cultural às margens do Sena, concluída em 1987 como um dos grandes projetos do presidente Mitterrand; a Fondation Cartier, de 1994, belo e discreto centro de artes parisiense que se revela por meio de camadas sucessivas de imensos painéis de vidro; e a Sala de Concertos de Copenhagen, um cubo de tela que, quando iluminado à noite, produz um efeito encantador. Cada um desses edifícios enigmáticos e atentamente construídos se expressa numa coloração dominante: prateado, branco, azul."A arquitetura é diálogo", diz Nouvel. "Os arquitetos precisam proporcionar uma janela para o futuro, mesmo quando a janela se recusa a se abrir."

Jean Nouvel está diante de sua primeira construção britânica, uma chamativa estrutura vermelha instalada em meio ao verde ensolarado de Kensington Gardens no centro de Londres, e diz: "Um transeunte passa pelo parque. Olha ao redor. Repara no vermelho em meio às árvores. O que é aquilo? Velas? Um circo? Não é possível saber do que se trata, e assim, o melhor é dar uma olhada mais de perto." O arquiteto francês está falando do pavilhão de verão que criou para a Serpentine Gallery, recém-aberta para o público. Em que se inspirou para criar esta rapsódia em vermelho? "Foi aquele momento em que o sol de verão nos enche os olhos e, enquanto piscamos, o mundo se dissolve no vermelho", conta ele. O pavilhão de Nouvel - o décimo a enfeitar este parque londrino - não é só vermelho do lado de fora. Sob a imponente estrutura vermelha de aço e a cobertura retrátil de tela vermelha, há um assoalho de borracha vermelha, ao redor do qual há mesas vermelhas de pingue-pongue, redes vermelhas para descanso, mesas e cadeiras vermelhas e tabuleiros vermelhos de xadrez. Até o auditório e a cafeteria são vermelhos (assim como seus refrigeradores). E, para aqueles que não conseguirem enxergar o pavilhão de longe, logo ao lado dele há uma parede vermelha de vidro de 12 metros, erguendo-se da grama como um imenso ponto de exclamação.Este "imenso relógio de sol", como Nouvel se refere a ele, inclina-se num ângulo inquietante, dando a impressão de ameaçar o pavilhão e acrescentando certa dramaticidade, ou até uma sensação de perigo, a esta chamativa criação. "De certa forma, o pavilhão é um dispositivo solar, uma forma de redirecionar a luz do sol. Sob outro aspecto, é uma delicada flor que se ergue no parque sob o sol de verão, murcha no outono, e então desaparece. É claro que, de muitas maneiras, o vermelho é também a cor de Londres - os ônibus, as caixas do correio, os soldados da rainha - mas a cor está relacionada principalmente ao sol." Mas Nouvel, que segue os passos de outros célebres arquitetos que já passaram pela Serpentine, como Oscar Niemeyer, Zaha Hadid, Toyo Ito e Rem Koolhaas, quer que o pavilhão seja mais do que um anteparo solar."Quero que ele atraia e filtre as emoções, que seja um pequeno espaço de calor e deleite. Para um arquiteto, é sempre um prazer trabalhar com um projeto sem maiores consequências; o pavilhão surge, e depois desaparece. Deixa uma impressão, ecos de uma emoção, nada mais. Assim, o arquiteto tem liberdade para ser um artista. Não se trata de um exercício perfeito de arquitetura, e sim de uma construção saída de um sonho que nos permite ter algumas sensações, as quais espero que sejam felizes. É como se a arquitetura tirasse férias."O pavilhão de Nouvel é uma construção simples que, quando inspecionada de perto, mostra ser muito mais do que uma mera escultura de cores vibrantes. Partes de suas superfícies vermelhas absorvem a luz, e outras a refletem; algumas reluzem, outras são translúcidas. Sob o teto retrátil pendem fotos de outro grande parque numa grande capital: o Jardin du Luxembourg, de Paris - mas trata-se de um parque formal, como a maioria dos parques franceses, diferentes dos parques britânicos, mais relaxados e divertidos. As fotos são de Jean Baudrillard, festejado filósofo francês que morreu três anos atrás; ele foi uma das principais influências de Nouvel, além de ter sido amigo dele. Brinquedo. Com alguma ajuda de engenheiros da Arup comandados por David Glover e Cecil Balmond, o espaço foi claramente projetado na forma de um brinquedo. É verdade que o auditório abrigará debates sérios e eventos de todo tipo. Mas antes que as pessoas participem de tais ocasiões, elas podem se encontrar para conversar no bar vermelho - ou jogar pingue-pongue vermelho, ou chutar uma bola vermelha de futebol ou arremessar um frisbee vermelho no parque. De onde vem tamanho espírito brincalhão?Bem, o pavilhão da Serpentine é tradicionalmente projetado por um arquiteto que ainda não tenha concluído ou construído uma obra na Grã-Bretanha. No entanto, o pavilhão de 2010 quase foge a essa tendência: nos próximos meses será inaugurado o One New Change, controvertido complexo de escritórios e lojas ao leste da Catedral de St. Paul. Trata-se de um projeto de arquitetura séria: o próprio Nouvel disse que o edifício é como um bombardeiro invisível; apesar de imenso, seu revestimento é de vidro opaco, como se tentasse disfarçar seu volume. Em resumo, o projeto parece tão brincalhão quanto um reator nuclear. O príncipe Charles tentou acabar com as chances da indicação de Nouvel, mas não conseguiu que seus arquitetos preferidos fossem nomeados para o projeto. Ao brincar com a arquitetura, o pavilhão nos proporciona uma espécie de balanço do que está por vir.O melhor de Nouvel. Parece uma pena que a primeira grande obra de Nouvel na Grã-Bretanha seja um gigante comercial. Sua criatividade se presta mais a projetos como galerias de arte, salas de concerto e museus. As melhores obras do arquiteto de 64 anos são o Institut du Monde Arabe, maravilhosa sede da fundação cultural às margens do Sena, concluída em 1987 como um dos grandes projetos do presidente Mitterrand; a Fondation Cartier, de 1994, belo e discreto centro de artes parisiense que se revela por meio de camadas sucessivas de imensos painéis de vidro; e a Sala de Concertos de Copenhagen, um cubo de tela que, quando iluminado à noite, produz um efeito encantador. Cada um desses edifícios enigmáticos e atentamente construídos se expressa numa coloração dominante: prateado, branco, azul."A arquitetura é diálogo", diz Nouvel. "Os arquitetos precisam proporcionar uma janela para o futuro, mesmo quando a janela se recusa a se abrir."

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