Ousadias com o 'velho' Nelson


Moacyr Góes põe na tela novo olhar sobre a peça de 1962 e faz do personagem Peixoto o protagonista de sua adaptação

Por Luiz Carlos Merten

Talvez o desfecho, na praia, com sol - uma aurora regeneradora -, seja carioca demais, além de excessivo no seu otimismo. Moacyr Góes corre o risco de que o espectador pense que o final feliz de Bonitinha, mas Ordinária é obra dos duendes da Xuxa, para pegar carona num dos filmes que fez com a rainha dos baixinhos. Ele se defende - diz que está seguindo a peça de Nelson Rodrigues. O repórter retruca. Góes mudou tanto a peça que poderia ter mudado isso também. Nelson Rodrigues é o grande dramaturgo brasileiro e suas tragédias, cariocas e suburbanas, retratam o universo da classe média de um jeito que não perece. Nelson é eterno. Góes acha que é importante retomar os clássicos, lançando um olhar novo sobre eles. Bonitinha é o primeiro filme que ele escolheu, e seu olhar sobre a peça de Nelson carrega uma ousadia. Mais que a figura de Edgard, ele faz de Peixoto o verdadeiro protagonista da sua adaptação. Em todos os filmes e montagens da peça, Peixoto é o perfeito canalha rodriguiano. É ele quem propõe a Edgard que se case com Maria Cecília, que foi estuprada por cinco 'negrões' - a incorreção política é rodriguiana. O pai da moça oferece um polpudo cheque a Edgard para se casar com a filha. Edgard vive evocando Otto Lara Resende - "Mineiro só é solidário no câncer". Peixoto é o emissário. Como no enredo de Rashomon, de Akira Kurosawa, existem diferentes versões do que ocorreu naquela noite. A primeira é a oficial e mostra o estupro como Peixoto conta para Edgard. Na segunda, o próprio Edgard está presente na orgia e nada faz para evitar o estupro, confirmando sua imagem de canalha. Na terceira, fica implícito que Bonitinha queria o sexo selvagem - e que Peixoto, o verdadeiro Cadelão da história (veja para saber quem é), a ama. Um amor condenado, desesperado, que faz dele um joguete, e um homem trágico. Moacyr Góes quis trazer Bonitinha para o cinema para retratar a crise de valores no Brasil atual. É o seu tema. Há um momento do texto - destacado na versão de 1981 -, em que a mãe lava a cabeça de Edgard enquanto conversam sobre a conveniência ou não de ele aceitar o casamento. A mãe, cansada da miséria, que atribui ao pai do filho, fica dizendo 'Abaixa a cabeça'. Ela quer enxaguar o cabelo de Edgard, retirando a espuma, mas quer mesmo é que ele engula seu orgulho e aceite o dinheiro. "A tragédia de Edgard é que ele quer ser um homem ereto e as circunstâncias, seu meio familiar e social, querem dobrá-lo", diz o diretor. O Edgard de Góes é João Miguel, tão bom que venceu a Calunga de ator no Recife e todo mundo aprovou. Mas, por defensável que seja sua premiação, o júri do Cine PE fez a coisa errada. Não só pelo deslocamento do eixo dramático, mas porque Leon Góes, irmão do diretor, é prodigioso como Peixoto, ele merecia a Calunga - e não levou. Na coletiva no Recife, fez uma emocionante declaração de amor pelo irmão. Disse que ele é um ator extraordinário e, ao alterar/inverter a dramaturgia da peça, ele sabia até onde poderia ir por causa de Leon. Sem ele no papel, não haveria o filme. A história precisa ser arrancada de Góes. Num filme que discute a crise de valores - a falta de ética - no País, ele não quer ser acusado de nepotismo. Leon Góes descobriu o teatro ainda jovem. Apaixonou-se duplamente. Juliana Carneiro da Cunha foi seu grande amor de juventude e também lhe abriu as portas do teatro. Tudo o mais é consequência. Leon virou intérprete rodriguiano, no teatro e na TV. O cinema acontece de vez em quando. Cacá Diegues foi seu padrinho para assuntos de filmes. Fez dele o policial de Pisada de Elefante, episódio de Veja Esta Canção, e o Ascânio de Tieta, que adaptou de Jorge Amado. Góes dá uma definição interessante para o conceito - a mise-en-scène de cinema - do seu Nelson. No palco, o espectador vê a peça (e os atores) de longe. No cinema, olho da câmera substitui o do espectador e torna as coisas mais próximas. Góes diz que Bonitinha nasceu da sua inveja do primeiro plano. Vendo João Miguel, Leon, Leandra Leal e Letícia Colin, a Bonitinha, dá para descobrir o que isso significa.

Talvez o desfecho, na praia, com sol - uma aurora regeneradora -, seja carioca demais, além de excessivo no seu otimismo. Moacyr Góes corre o risco de que o espectador pense que o final feliz de Bonitinha, mas Ordinária é obra dos duendes da Xuxa, para pegar carona num dos filmes que fez com a rainha dos baixinhos. Ele se defende - diz que está seguindo a peça de Nelson Rodrigues. O repórter retruca. Góes mudou tanto a peça que poderia ter mudado isso também. Nelson Rodrigues é o grande dramaturgo brasileiro e suas tragédias, cariocas e suburbanas, retratam o universo da classe média de um jeito que não perece. Nelson é eterno. Góes acha que é importante retomar os clássicos, lançando um olhar novo sobre eles. Bonitinha é o primeiro filme que ele escolheu, e seu olhar sobre a peça de Nelson carrega uma ousadia. Mais que a figura de Edgard, ele faz de Peixoto o verdadeiro protagonista da sua adaptação. Em todos os filmes e montagens da peça, Peixoto é o perfeito canalha rodriguiano. É ele quem propõe a Edgard que se case com Maria Cecília, que foi estuprada por cinco 'negrões' - a incorreção política é rodriguiana. O pai da moça oferece um polpudo cheque a Edgard para se casar com a filha. Edgard vive evocando Otto Lara Resende - "Mineiro só é solidário no câncer". Peixoto é o emissário. Como no enredo de Rashomon, de Akira Kurosawa, existem diferentes versões do que ocorreu naquela noite. A primeira é a oficial e mostra o estupro como Peixoto conta para Edgard. Na segunda, o próprio Edgard está presente na orgia e nada faz para evitar o estupro, confirmando sua imagem de canalha. Na terceira, fica implícito que Bonitinha queria o sexo selvagem - e que Peixoto, o verdadeiro Cadelão da história (veja para saber quem é), a ama. Um amor condenado, desesperado, que faz dele um joguete, e um homem trágico. Moacyr Góes quis trazer Bonitinha para o cinema para retratar a crise de valores no Brasil atual. É o seu tema. Há um momento do texto - destacado na versão de 1981 -, em que a mãe lava a cabeça de Edgard enquanto conversam sobre a conveniência ou não de ele aceitar o casamento. A mãe, cansada da miséria, que atribui ao pai do filho, fica dizendo 'Abaixa a cabeça'. Ela quer enxaguar o cabelo de Edgard, retirando a espuma, mas quer mesmo é que ele engula seu orgulho e aceite o dinheiro. "A tragédia de Edgard é que ele quer ser um homem ereto e as circunstâncias, seu meio familiar e social, querem dobrá-lo", diz o diretor. O Edgard de Góes é João Miguel, tão bom que venceu a Calunga de ator no Recife e todo mundo aprovou. Mas, por defensável que seja sua premiação, o júri do Cine PE fez a coisa errada. Não só pelo deslocamento do eixo dramático, mas porque Leon Góes, irmão do diretor, é prodigioso como Peixoto, ele merecia a Calunga - e não levou. Na coletiva no Recife, fez uma emocionante declaração de amor pelo irmão. Disse que ele é um ator extraordinário e, ao alterar/inverter a dramaturgia da peça, ele sabia até onde poderia ir por causa de Leon. Sem ele no papel, não haveria o filme. A história precisa ser arrancada de Góes. Num filme que discute a crise de valores - a falta de ética - no País, ele não quer ser acusado de nepotismo. Leon Góes descobriu o teatro ainda jovem. Apaixonou-se duplamente. Juliana Carneiro da Cunha foi seu grande amor de juventude e também lhe abriu as portas do teatro. Tudo o mais é consequência. Leon virou intérprete rodriguiano, no teatro e na TV. O cinema acontece de vez em quando. Cacá Diegues foi seu padrinho para assuntos de filmes. Fez dele o policial de Pisada de Elefante, episódio de Veja Esta Canção, e o Ascânio de Tieta, que adaptou de Jorge Amado. Góes dá uma definição interessante para o conceito - a mise-en-scène de cinema - do seu Nelson. No palco, o espectador vê a peça (e os atores) de longe. No cinema, olho da câmera substitui o do espectador e torna as coisas mais próximas. Góes diz que Bonitinha nasceu da sua inveja do primeiro plano. Vendo João Miguel, Leon, Leandra Leal e Letícia Colin, a Bonitinha, dá para descobrir o que isso significa.

Talvez o desfecho, na praia, com sol - uma aurora regeneradora -, seja carioca demais, além de excessivo no seu otimismo. Moacyr Góes corre o risco de que o espectador pense que o final feliz de Bonitinha, mas Ordinária é obra dos duendes da Xuxa, para pegar carona num dos filmes que fez com a rainha dos baixinhos. Ele se defende - diz que está seguindo a peça de Nelson Rodrigues. O repórter retruca. Góes mudou tanto a peça que poderia ter mudado isso também. Nelson Rodrigues é o grande dramaturgo brasileiro e suas tragédias, cariocas e suburbanas, retratam o universo da classe média de um jeito que não perece. Nelson é eterno. Góes acha que é importante retomar os clássicos, lançando um olhar novo sobre eles. Bonitinha é o primeiro filme que ele escolheu, e seu olhar sobre a peça de Nelson carrega uma ousadia. Mais que a figura de Edgard, ele faz de Peixoto o verdadeiro protagonista da sua adaptação. Em todos os filmes e montagens da peça, Peixoto é o perfeito canalha rodriguiano. É ele quem propõe a Edgard que se case com Maria Cecília, que foi estuprada por cinco 'negrões' - a incorreção política é rodriguiana. O pai da moça oferece um polpudo cheque a Edgard para se casar com a filha. Edgard vive evocando Otto Lara Resende - "Mineiro só é solidário no câncer". Peixoto é o emissário. Como no enredo de Rashomon, de Akira Kurosawa, existem diferentes versões do que ocorreu naquela noite. A primeira é a oficial e mostra o estupro como Peixoto conta para Edgard. Na segunda, o próprio Edgard está presente na orgia e nada faz para evitar o estupro, confirmando sua imagem de canalha. Na terceira, fica implícito que Bonitinha queria o sexo selvagem - e que Peixoto, o verdadeiro Cadelão da história (veja para saber quem é), a ama. Um amor condenado, desesperado, que faz dele um joguete, e um homem trágico. Moacyr Góes quis trazer Bonitinha para o cinema para retratar a crise de valores no Brasil atual. É o seu tema. Há um momento do texto - destacado na versão de 1981 -, em que a mãe lava a cabeça de Edgard enquanto conversam sobre a conveniência ou não de ele aceitar o casamento. A mãe, cansada da miséria, que atribui ao pai do filho, fica dizendo 'Abaixa a cabeça'. Ela quer enxaguar o cabelo de Edgard, retirando a espuma, mas quer mesmo é que ele engula seu orgulho e aceite o dinheiro. "A tragédia de Edgard é que ele quer ser um homem ereto e as circunstâncias, seu meio familiar e social, querem dobrá-lo", diz o diretor. O Edgard de Góes é João Miguel, tão bom que venceu a Calunga de ator no Recife e todo mundo aprovou. Mas, por defensável que seja sua premiação, o júri do Cine PE fez a coisa errada. Não só pelo deslocamento do eixo dramático, mas porque Leon Góes, irmão do diretor, é prodigioso como Peixoto, ele merecia a Calunga - e não levou. Na coletiva no Recife, fez uma emocionante declaração de amor pelo irmão. Disse que ele é um ator extraordinário e, ao alterar/inverter a dramaturgia da peça, ele sabia até onde poderia ir por causa de Leon. Sem ele no papel, não haveria o filme. A história precisa ser arrancada de Góes. Num filme que discute a crise de valores - a falta de ética - no País, ele não quer ser acusado de nepotismo. Leon Góes descobriu o teatro ainda jovem. Apaixonou-se duplamente. Juliana Carneiro da Cunha foi seu grande amor de juventude e também lhe abriu as portas do teatro. Tudo o mais é consequência. Leon virou intérprete rodriguiano, no teatro e na TV. O cinema acontece de vez em quando. Cacá Diegues foi seu padrinho para assuntos de filmes. Fez dele o policial de Pisada de Elefante, episódio de Veja Esta Canção, e o Ascânio de Tieta, que adaptou de Jorge Amado. Góes dá uma definição interessante para o conceito - a mise-en-scène de cinema - do seu Nelson. No palco, o espectador vê a peça (e os atores) de longe. No cinema, olho da câmera substitui o do espectador e torna as coisas mais próximas. Góes diz que Bonitinha nasceu da sua inveja do primeiro plano. Vendo João Miguel, Leon, Leandra Leal e Letícia Colin, a Bonitinha, dá para descobrir o que isso significa.

Talvez o desfecho, na praia, com sol - uma aurora regeneradora -, seja carioca demais, além de excessivo no seu otimismo. Moacyr Góes corre o risco de que o espectador pense que o final feliz de Bonitinha, mas Ordinária é obra dos duendes da Xuxa, para pegar carona num dos filmes que fez com a rainha dos baixinhos. Ele se defende - diz que está seguindo a peça de Nelson Rodrigues. O repórter retruca. Góes mudou tanto a peça que poderia ter mudado isso também. Nelson Rodrigues é o grande dramaturgo brasileiro e suas tragédias, cariocas e suburbanas, retratam o universo da classe média de um jeito que não perece. Nelson é eterno. Góes acha que é importante retomar os clássicos, lançando um olhar novo sobre eles. Bonitinha é o primeiro filme que ele escolheu, e seu olhar sobre a peça de Nelson carrega uma ousadia. Mais que a figura de Edgard, ele faz de Peixoto o verdadeiro protagonista da sua adaptação. Em todos os filmes e montagens da peça, Peixoto é o perfeito canalha rodriguiano. É ele quem propõe a Edgard que se case com Maria Cecília, que foi estuprada por cinco 'negrões' - a incorreção política é rodriguiana. O pai da moça oferece um polpudo cheque a Edgard para se casar com a filha. Edgard vive evocando Otto Lara Resende - "Mineiro só é solidário no câncer". Peixoto é o emissário. Como no enredo de Rashomon, de Akira Kurosawa, existem diferentes versões do que ocorreu naquela noite. A primeira é a oficial e mostra o estupro como Peixoto conta para Edgard. Na segunda, o próprio Edgard está presente na orgia e nada faz para evitar o estupro, confirmando sua imagem de canalha. Na terceira, fica implícito que Bonitinha queria o sexo selvagem - e que Peixoto, o verdadeiro Cadelão da história (veja para saber quem é), a ama. Um amor condenado, desesperado, que faz dele um joguete, e um homem trágico. Moacyr Góes quis trazer Bonitinha para o cinema para retratar a crise de valores no Brasil atual. É o seu tema. Há um momento do texto - destacado na versão de 1981 -, em que a mãe lava a cabeça de Edgard enquanto conversam sobre a conveniência ou não de ele aceitar o casamento. A mãe, cansada da miséria, que atribui ao pai do filho, fica dizendo 'Abaixa a cabeça'. Ela quer enxaguar o cabelo de Edgard, retirando a espuma, mas quer mesmo é que ele engula seu orgulho e aceite o dinheiro. "A tragédia de Edgard é que ele quer ser um homem ereto e as circunstâncias, seu meio familiar e social, querem dobrá-lo", diz o diretor. O Edgard de Góes é João Miguel, tão bom que venceu a Calunga de ator no Recife e todo mundo aprovou. Mas, por defensável que seja sua premiação, o júri do Cine PE fez a coisa errada. Não só pelo deslocamento do eixo dramático, mas porque Leon Góes, irmão do diretor, é prodigioso como Peixoto, ele merecia a Calunga - e não levou. Na coletiva no Recife, fez uma emocionante declaração de amor pelo irmão. Disse que ele é um ator extraordinário e, ao alterar/inverter a dramaturgia da peça, ele sabia até onde poderia ir por causa de Leon. Sem ele no papel, não haveria o filme. A história precisa ser arrancada de Góes. Num filme que discute a crise de valores - a falta de ética - no País, ele não quer ser acusado de nepotismo. Leon Góes descobriu o teatro ainda jovem. Apaixonou-se duplamente. Juliana Carneiro da Cunha foi seu grande amor de juventude e também lhe abriu as portas do teatro. Tudo o mais é consequência. Leon virou intérprete rodriguiano, no teatro e na TV. O cinema acontece de vez em quando. Cacá Diegues foi seu padrinho para assuntos de filmes. Fez dele o policial de Pisada de Elefante, episódio de Veja Esta Canção, e o Ascânio de Tieta, que adaptou de Jorge Amado. Góes dá uma definição interessante para o conceito - a mise-en-scène de cinema - do seu Nelson. No palco, o espectador vê a peça (e os atores) de longe. No cinema, olho da câmera substitui o do espectador e torna as coisas mais próximas. Góes diz que Bonitinha nasceu da sua inveja do primeiro plano. Vendo João Miguel, Leon, Leandra Leal e Letícia Colin, a Bonitinha, dá para descobrir o que isso significa.

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