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Adirley Queirós e o 'Blade Runner' do DF


Por Rodrigo Fonseca
Adirley Queirós é um dos pilares da representação da periferia Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Ao finalizar o ritual de abascanto (cerimonial para afastar males) que foi o Na Real_Virtual da quarta-feira, um dos curadores, o crítico e escritor Carlos Alberto Mattos, sempre sabiamente econômico nos adjetivos, empregou os termos "vibrante" e "subversivo", com alumbramento sob as lentes de seus óculos, para definir o papo com Adirley Queirós. Nascido na Goiás de Morro Agudo, há 50 anos, e radicado na Ceilândia há cerca de quatro décadas e meia, o realizador do seminal "Branco Sai, Preto Fica" (2014) esquadrinhou as vicissitudes do Distrito Federal, indo da São Petersburgo de Dostoiévski aos replicantes de "Blade Runner" (1982), para fazer uma cartografia de afetos de sua cidade e esmerilhar as representações da periferia. O papo com o cineasta foi realizado online na URL https://imaginariodigital.org.br/real-virtual/parte-2, onde está a estrada dos tijolos amarelos para se chegar à sala de Zoom do seminário, "o" evento cinéfilo de 2020 no Brasil. "Quando a gente cataloga um filme sem contexto histórico, corre risco de esvaziar a narrativa. (...) A minha geração cresceu em um apartheid total. Nos anos 80, só existiam dois ônibus que iam pra Brasília, no final de semana. Crescemos com esse sentimento carregado dessa diferença. (...)A minha geração estava desempregada na esquina. Na rua que me criei, da casa 1 até a 51, todo mundo era José. A gente cresceu numa rua que éramos "a rua dos Filhos do Zé". A gente crescia nas esquinas e o nosso universo era contar histórias nas esquinas. (...) Território é memória. Na memória, a gente cria harmonia e desarmonia", diz Adirley, lembrando do conselho que costuma dar a estudantes de redes públicas. "Faça o teu filme com todos os erros do mundo. É a estrada que vai te mostrar o que mudar e é ela que vai energizar discussões".

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Em 2017, Adirley deixou o Festival de Locarno, na Suíça, com uma menção honrosa para seu "Era Uma Vez Brasília", uma distopia com foco nas ruínas de um país após o Impeachment, representado a partir do olhar de visitantes do futuro. No cinema dele, a ficção científica é um filão balizador, assim como lhe é essencial a colaboração de Marquim do Tropa. "Branco Sai, Preto Fica" promove uma fabulação a partir da história pessoal dele e das recordações da violência da polícia em um baile. Essas lembranças e vivências são revisitadas por um viajante do futuro, num misto de .doc e de sci-fi. "Um filme em que a equipe não cabe dentro de um carro é um grande problema para mim", disse Adirley, explicando sua mecânica de produção. O nosso tempo de filme é sempre muito grande, o que sempre influencia no processo. A própria construção do filme é o filme em si. No 'Branco Sai, Preto Fica', a gente ganhou um edital que seria para realizar um filme sobre a história do personagem do Marquim. Mas ele disse uma coisa determinante na estrutura do filme: ele não queria contar a história do que perdeu. Queria contar outra história em cima de sua própria história. Pensamos, então, em fazer um filme do futuro. A gente ficou em uma viagem por quatro ou cinco meses, andando pela cidade, conversando com as pessoas, e acabamos criando o arquétipo dos personagens. A partir desses arquétipos, a gente começa a trabalhar com como se fosse etnografia. Para mim, é uma etnografia da ficção. Vamos no limite da ficção no sentido teórico. A gente conversa muito e, na hora da filmagem, ela é rapidamente etnográfica. Era uma equipe de quatro pessoas que acreditavam que dava para fazer 'Blade Runner' na Ceilândia".

"Juventude em risco" é o tema do próximo Na Real_Virtual, que dá a palavra à diretora Sandra Werneck, realizadora de "Meninas" (2006) que lançou este ano o delicioso "YouTubers", feito em parceria com o já citado Bebeto Abrantes. No frigir das inquietações documentais das Américas, o simpósio online Na Real_Virtual tem agendadas ainda conversas com Evaldo Mocarzel e Walter Salles. Esses papos rolam sempre às 19h, às segundas, quartas e sextas, e vão deixar imensas saudades quando terminarem.

Adirley Queirós é um dos pilares da representação da periferia Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Ao finalizar o ritual de abascanto (cerimonial para afastar males) que foi o Na Real_Virtual da quarta-feira, um dos curadores, o crítico e escritor Carlos Alberto Mattos, sempre sabiamente econômico nos adjetivos, empregou os termos "vibrante" e "subversivo", com alumbramento sob as lentes de seus óculos, para definir o papo com Adirley Queirós. Nascido na Goiás de Morro Agudo, há 50 anos, e radicado na Ceilândia há cerca de quatro décadas e meia, o realizador do seminal "Branco Sai, Preto Fica" (2014) esquadrinhou as vicissitudes do Distrito Federal, indo da São Petersburgo de Dostoiévski aos replicantes de "Blade Runner" (1982), para fazer uma cartografia de afetos de sua cidade e esmerilhar as representações da periferia. O papo com o cineasta foi realizado online na URL https://imaginariodigital.org.br/real-virtual/parte-2, onde está a estrada dos tijolos amarelos para se chegar à sala de Zoom do seminário, "o" evento cinéfilo de 2020 no Brasil. "Quando a gente cataloga um filme sem contexto histórico, corre risco de esvaziar a narrativa. (...) A minha geração cresceu em um apartheid total. Nos anos 80, só existiam dois ônibus que iam pra Brasília, no final de semana. Crescemos com esse sentimento carregado dessa diferença. (...)A minha geração estava desempregada na esquina. Na rua que me criei, da casa 1 até a 51, todo mundo era José. A gente cresceu numa rua que éramos "a rua dos Filhos do Zé". A gente crescia nas esquinas e o nosso universo era contar histórias nas esquinas. (...) Território é memória. Na memória, a gente cria harmonia e desarmonia", diz Adirley, lembrando do conselho que costuma dar a estudantes de redes públicas. "Faça o teu filme com todos os erros do mundo. É a estrada que vai te mostrar o que mudar e é ela que vai energizar discussões".

Em 2017, Adirley deixou o Festival de Locarno, na Suíça, com uma menção honrosa para seu "Era Uma Vez Brasília", uma distopia com foco nas ruínas de um país após o Impeachment, representado a partir do olhar de visitantes do futuro. No cinema dele, a ficção científica é um filão balizador, assim como lhe é essencial a colaboração de Marquim do Tropa. "Branco Sai, Preto Fica" promove uma fabulação a partir da história pessoal dele e das recordações da violência da polícia em um baile. Essas lembranças e vivências são revisitadas por um viajante do futuro, num misto de .doc e de sci-fi. "Um filme em que a equipe não cabe dentro de um carro é um grande problema para mim", disse Adirley, explicando sua mecânica de produção. O nosso tempo de filme é sempre muito grande, o que sempre influencia no processo. A própria construção do filme é o filme em si. No 'Branco Sai, Preto Fica', a gente ganhou um edital que seria para realizar um filme sobre a história do personagem do Marquim. Mas ele disse uma coisa determinante na estrutura do filme: ele não queria contar a história do que perdeu. Queria contar outra história em cima de sua própria história. Pensamos, então, em fazer um filme do futuro. A gente ficou em uma viagem por quatro ou cinco meses, andando pela cidade, conversando com as pessoas, e acabamos criando o arquétipo dos personagens. A partir desses arquétipos, a gente começa a trabalhar com como se fosse etnografia. Para mim, é uma etnografia da ficção. Vamos no limite da ficção no sentido teórico. A gente conversa muito e, na hora da filmagem, ela é rapidamente etnográfica. Era uma equipe de quatro pessoas que acreditavam que dava para fazer 'Blade Runner' na Ceilândia".

"Juventude em risco" é o tema do próximo Na Real_Virtual, que dá a palavra à diretora Sandra Werneck, realizadora de "Meninas" (2006) que lançou este ano o delicioso "YouTubers", feito em parceria com o já citado Bebeto Abrantes. No frigir das inquietações documentais das Américas, o simpósio online Na Real_Virtual tem agendadas ainda conversas com Evaldo Mocarzel e Walter Salles. Esses papos rolam sempre às 19h, às segundas, quartas e sextas, e vão deixar imensas saudades quando terminarem.

Adirley Queirós é um dos pilares da representação da periferia Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Ao finalizar o ritual de abascanto (cerimonial para afastar males) que foi o Na Real_Virtual da quarta-feira, um dos curadores, o crítico e escritor Carlos Alberto Mattos, sempre sabiamente econômico nos adjetivos, empregou os termos "vibrante" e "subversivo", com alumbramento sob as lentes de seus óculos, para definir o papo com Adirley Queirós. Nascido na Goiás de Morro Agudo, há 50 anos, e radicado na Ceilândia há cerca de quatro décadas e meia, o realizador do seminal "Branco Sai, Preto Fica" (2014) esquadrinhou as vicissitudes do Distrito Federal, indo da São Petersburgo de Dostoiévski aos replicantes de "Blade Runner" (1982), para fazer uma cartografia de afetos de sua cidade e esmerilhar as representações da periferia. O papo com o cineasta foi realizado online na URL https://imaginariodigital.org.br/real-virtual/parte-2, onde está a estrada dos tijolos amarelos para se chegar à sala de Zoom do seminário, "o" evento cinéfilo de 2020 no Brasil. "Quando a gente cataloga um filme sem contexto histórico, corre risco de esvaziar a narrativa. (...) A minha geração cresceu em um apartheid total. Nos anos 80, só existiam dois ônibus que iam pra Brasília, no final de semana. Crescemos com esse sentimento carregado dessa diferença. (...)A minha geração estava desempregada na esquina. Na rua que me criei, da casa 1 até a 51, todo mundo era José. A gente cresceu numa rua que éramos "a rua dos Filhos do Zé". A gente crescia nas esquinas e o nosso universo era contar histórias nas esquinas. (...) Território é memória. Na memória, a gente cria harmonia e desarmonia", diz Adirley, lembrando do conselho que costuma dar a estudantes de redes públicas. "Faça o teu filme com todos os erros do mundo. É a estrada que vai te mostrar o que mudar e é ela que vai energizar discussões".

Em 2017, Adirley deixou o Festival de Locarno, na Suíça, com uma menção honrosa para seu "Era Uma Vez Brasília", uma distopia com foco nas ruínas de um país após o Impeachment, representado a partir do olhar de visitantes do futuro. No cinema dele, a ficção científica é um filão balizador, assim como lhe é essencial a colaboração de Marquim do Tropa. "Branco Sai, Preto Fica" promove uma fabulação a partir da história pessoal dele e das recordações da violência da polícia em um baile. Essas lembranças e vivências são revisitadas por um viajante do futuro, num misto de .doc e de sci-fi. "Um filme em que a equipe não cabe dentro de um carro é um grande problema para mim", disse Adirley, explicando sua mecânica de produção. O nosso tempo de filme é sempre muito grande, o que sempre influencia no processo. A própria construção do filme é o filme em si. No 'Branco Sai, Preto Fica', a gente ganhou um edital que seria para realizar um filme sobre a história do personagem do Marquim. Mas ele disse uma coisa determinante na estrutura do filme: ele não queria contar a história do que perdeu. Queria contar outra história em cima de sua própria história. Pensamos, então, em fazer um filme do futuro. A gente ficou em uma viagem por quatro ou cinco meses, andando pela cidade, conversando com as pessoas, e acabamos criando o arquétipo dos personagens. A partir desses arquétipos, a gente começa a trabalhar com como se fosse etnografia. Para mim, é uma etnografia da ficção. Vamos no limite da ficção no sentido teórico. A gente conversa muito e, na hora da filmagem, ela é rapidamente etnográfica. Era uma equipe de quatro pessoas que acreditavam que dava para fazer 'Blade Runner' na Ceilândia".

"Juventude em risco" é o tema do próximo Na Real_Virtual, que dá a palavra à diretora Sandra Werneck, realizadora de "Meninas" (2006) que lançou este ano o delicioso "YouTubers", feito em parceria com o já citado Bebeto Abrantes. No frigir das inquietações documentais das Américas, o simpósio online Na Real_Virtual tem agendadas ainda conversas com Evaldo Mocarzel e Walter Salles. Esses papos rolam sempre às 19h, às segundas, quartas e sextas, e vão deixar imensas saudades quando terminarem.

Adirley Queirós é um dos pilares da representação da periferia Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Ao finalizar o ritual de abascanto (cerimonial para afastar males) que foi o Na Real_Virtual da quarta-feira, um dos curadores, o crítico e escritor Carlos Alberto Mattos, sempre sabiamente econômico nos adjetivos, empregou os termos "vibrante" e "subversivo", com alumbramento sob as lentes de seus óculos, para definir o papo com Adirley Queirós. Nascido na Goiás de Morro Agudo, há 50 anos, e radicado na Ceilândia há cerca de quatro décadas e meia, o realizador do seminal "Branco Sai, Preto Fica" (2014) esquadrinhou as vicissitudes do Distrito Federal, indo da São Petersburgo de Dostoiévski aos replicantes de "Blade Runner" (1982), para fazer uma cartografia de afetos de sua cidade e esmerilhar as representações da periferia. O papo com o cineasta foi realizado online na URL https://imaginariodigital.org.br/real-virtual/parte-2, onde está a estrada dos tijolos amarelos para se chegar à sala de Zoom do seminário, "o" evento cinéfilo de 2020 no Brasil. "Quando a gente cataloga um filme sem contexto histórico, corre risco de esvaziar a narrativa. (...) A minha geração cresceu em um apartheid total. Nos anos 80, só existiam dois ônibus que iam pra Brasília, no final de semana. Crescemos com esse sentimento carregado dessa diferença. (...)A minha geração estava desempregada na esquina. Na rua que me criei, da casa 1 até a 51, todo mundo era José. A gente cresceu numa rua que éramos "a rua dos Filhos do Zé". A gente crescia nas esquinas e o nosso universo era contar histórias nas esquinas. (...) Território é memória. Na memória, a gente cria harmonia e desarmonia", diz Adirley, lembrando do conselho que costuma dar a estudantes de redes públicas. "Faça o teu filme com todos os erros do mundo. É a estrada que vai te mostrar o que mudar e é ela que vai energizar discussões".

Em 2017, Adirley deixou o Festival de Locarno, na Suíça, com uma menção honrosa para seu "Era Uma Vez Brasília", uma distopia com foco nas ruínas de um país após o Impeachment, representado a partir do olhar de visitantes do futuro. No cinema dele, a ficção científica é um filão balizador, assim como lhe é essencial a colaboração de Marquim do Tropa. "Branco Sai, Preto Fica" promove uma fabulação a partir da história pessoal dele e das recordações da violência da polícia em um baile. Essas lembranças e vivências são revisitadas por um viajante do futuro, num misto de .doc e de sci-fi. "Um filme em que a equipe não cabe dentro de um carro é um grande problema para mim", disse Adirley, explicando sua mecânica de produção. O nosso tempo de filme é sempre muito grande, o que sempre influencia no processo. A própria construção do filme é o filme em si. No 'Branco Sai, Preto Fica', a gente ganhou um edital que seria para realizar um filme sobre a história do personagem do Marquim. Mas ele disse uma coisa determinante na estrutura do filme: ele não queria contar a história do que perdeu. Queria contar outra história em cima de sua própria história. Pensamos, então, em fazer um filme do futuro. A gente ficou em uma viagem por quatro ou cinco meses, andando pela cidade, conversando com as pessoas, e acabamos criando o arquétipo dos personagens. A partir desses arquétipos, a gente começa a trabalhar com como se fosse etnografia. Para mim, é uma etnografia da ficção. Vamos no limite da ficção no sentido teórico. A gente conversa muito e, na hora da filmagem, ela é rapidamente etnográfica. Era uma equipe de quatro pessoas que acreditavam que dava para fazer 'Blade Runner' na Ceilândia".

"Juventude em risco" é o tema do próximo Na Real_Virtual, que dá a palavra à diretora Sandra Werneck, realizadora de "Meninas" (2006) que lançou este ano o delicioso "YouTubers", feito em parceria com o já citado Bebeto Abrantes. No frigir das inquietações documentais das Américas, o simpósio online Na Real_Virtual tem agendadas ainda conversas com Evaldo Mocarzel e Walter Salles. Esses papos rolam sempre às 19h, às segundas, quartas e sextas, e vão deixar imensas saudades quando terminarem.

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